e morreu a 30maio1778
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Via Graça Silva:
https://www.facebook.com/nossafilosofia/photos/a.283087748466807.61171.283078521801063/498072213635025/?type=3&theater
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https://www.facebook.com/MinhaTerraMeuChao/photos/a.1393838497496687.1073741828.1393828550831015/1689057864641414/?type=3&theater
"Todo o homem é culpado do bem que não fez."
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A Clementina Henriques é que recolheu este "recadinho":
"Nem sempre podemos agradar, mas podemos falar sempre agradavelmente”
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16 de Maio de 1717: Voltaire é preso na Bastilha
François-Marie
Arouet, mais conhecido como Voltaire, cujos escritos satíricos faziam
chacota da vida íntima de Filipe de Orleães, é enviado aos 23 anos para a
Bastilha no dia 16 de Maio de 1717, por ultraje ao príncipe-regente.
Ali permaneceria 11 meses, quando escreveu Oedipus e adoptou o
pseudónimo de Voltaire, um anagrama do seu nome Arouet LJ (Le Jeune – o
jovem). O U e o V, o J e o I confundiam-se à época.
A sombra de Voltaire plana sobre o século XVIII. Filósofo, dramaturgo, poeta, historiador, ele encarnava o “espírito francês’ dessa época. O seu talento de escritor permitia-lhe percorrer quase todos os géneros literários. Humanista convicto, lutou em defesa dos direitos do homem e contra o fanatismo religioso. Quando jovem, matriculou-se no colégio dos Jesuítas Louis-le-Grand, mostrando ser um aluno brilhante em retórica e filosofia. Voltou-se rapidamente para uma carreira literária contra a vontade do seu pai.
Em 1726, é novamente enviado à Bastilha após uma altercação com o Cavaleiro de Rohan. É libertado com a promessa de se exilar em Inglaterra. Lá, toma conhecimento das teorias de Isaac Newton e a filosofia de John Locke, que o influenciariam consideravelmente. O francês fica marcado pela ampla liberdade de opinião de que gozavam os ingleses. Fez votos de tudo fazer para reformar a sociedade francesa.
De retorno a Paris, em 1729, encena duas tragédias Brutus (1730) e Zaire (1732), que obtêm grande êxito. Aos 40 anos, Voltaire conquista um enorme prestígio e acumula fortuna graças à amizade com banqueiros que o ensinam a investir e especular.
Em 1734 é obrigado a deixar Paris logo depois da publicação, sem autorização da censura, das “Cartas Filosóficas”. Esta sátira dos modos e das instituições francesas provocou escândalo. Refugiou-se na Lorena em casa da marquesa de Châtelet. A sua relação durou15 anos. Ao longo da sua vida, devido à censura, Voltaire publicou dezenas de textos anonimamente.
Voltaire concorreu a um prémio da Academia de Ciências e em 1738 dedicou-se a divulgar os “Elementos da Filosofia” de Newton. Ele, que queria entrar na Academia Francesa de Letras, é eleito imortal em 1746. As intrigas da corte inspiram-lhe “Memnon, história oriental” (1747). Contudo, a sua ironia mordaz e a sua imprudência fazem-no cair em desgraça.
Em 1750, Voltaire viaja até Berlim e lá permaneceu durante três anos, recebendo uma pensão do rei Frederico II. As ceias entre o rei e o filósofo tornaram-se célebres. Uma querela com Maupertuis, presidente da Academia de Berlim, obriga-o a deixar a corte e a instalar-se na Suíça com a sua amante, Madame Denis. Tinha então 60 anos.
Os combates contra toda a restrição à liberdade individual conferem-lhe uma imensa popularidade. É dele a frase que atravessa os séculos: “Não concordo sequer com uma palavra que dizeis, mas defenderei até à morte o vosso direito de dizê-lo”.
Voltaire morre em 30 de Maio de 1778 em Paris. O vigário de Saint Sulpice recusou-se a inumá-lo e o corpo de Voltaire foi levado para o túmulo na Abadia de Scellières, perto de Troyes. As suas cinzas foram transferidas para o Panthéon em 11 de Julho de 1791, após uma grande cerimónia sem a participação do clero.
A sombra de Voltaire plana sobre o século XVIII. Filósofo, dramaturgo, poeta, historiador, ele encarnava o “espírito francês’ dessa época. O seu talento de escritor permitia-lhe percorrer quase todos os géneros literários. Humanista convicto, lutou em defesa dos direitos do homem e contra o fanatismo religioso. Quando jovem, matriculou-se no colégio dos Jesuítas Louis-le-Grand, mostrando ser um aluno brilhante em retórica e filosofia. Voltou-se rapidamente para uma carreira literária contra a vontade do seu pai.
Em 1726, é novamente enviado à Bastilha após uma altercação com o Cavaleiro de Rohan. É libertado com a promessa de se exilar em Inglaterra. Lá, toma conhecimento das teorias de Isaac Newton e a filosofia de John Locke, que o influenciariam consideravelmente. O francês fica marcado pela ampla liberdade de opinião de que gozavam os ingleses. Fez votos de tudo fazer para reformar a sociedade francesa.
De retorno a Paris, em 1729, encena duas tragédias Brutus (1730) e Zaire (1732), que obtêm grande êxito. Aos 40 anos, Voltaire conquista um enorme prestígio e acumula fortuna graças à amizade com banqueiros que o ensinam a investir e especular.
Em 1734 é obrigado a deixar Paris logo depois da publicação, sem autorização da censura, das “Cartas Filosóficas”. Esta sátira dos modos e das instituições francesas provocou escândalo. Refugiou-se na Lorena em casa da marquesa de Châtelet. A sua relação durou15 anos. Ao longo da sua vida, devido à censura, Voltaire publicou dezenas de textos anonimamente.
Voltaire concorreu a um prémio da Academia de Ciências e em 1738 dedicou-se a divulgar os “Elementos da Filosofia” de Newton. Ele, que queria entrar na Academia Francesa de Letras, é eleito imortal em 1746. As intrigas da corte inspiram-lhe “Memnon, história oriental” (1747). Contudo, a sua ironia mordaz e a sua imprudência fazem-no cair em desgraça.
Em 1750, Voltaire viaja até Berlim e lá permaneceu durante três anos, recebendo uma pensão do rei Frederico II. As ceias entre o rei e o filósofo tornaram-se célebres. Uma querela com Maupertuis, presidente da Academia de Berlim, obriga-o a deixar a corte e a instalar-se na Suíça com a sua amante, Madame Denis. Tinha então 60 anos.
Os combates contra toda a restrição à liberdade individual conferem-lhe uma imensa popularidade. É dele a frase que atravessa os séculos: “Não concordo sequer com uma palavra que dizeis, mas defenderei até à morte o vosso direito de dizê-lo”.
Voltaire morre em 30 de Maio de 1778 em Paris. O vigário de Saint Sulpice recusou-se a inumá-lo e o corpo de Voltaire foi levado para o túmulo na Abadia de Scellières, perto de Troyes. As suas cinzas foram transferidas para o Panthéon em 11 de Julho de 1791, após uma grande cerimónia sem a participação do clero.
Fontes: Opera Mundi
wikipedia (imagens)
Obra de Adolph Menzel, convidados de Frederico, o Grande, em Sanssouci. Voltaire é o terceiro a contar da esquerda
*
21 de Novembro de 1694: Nasce François Marie Arouet, mais conhecido como Voltaire
Escritor francês, nascido a 21 de novembro de 1694, em Paris, e falecido na mesma cidade a 30 de maio de 1778, ano em que tinha ido à capital francesa e se tinha filiado na maçonaria. François Marie Arouet, que passou à posteridade com o nome de Voltaire, era filho de François Arouet, notário, e de Marie Marguerite Daumart. Estudou a partir de 1704 no colégio jesuíta Louis-le-Grand e em 1713 tornou-se secretário
da embaixada francesa
em Haia. Ao longo da sua vida exerceu diversas profissões, como as de relojoeiro, de arquiteto e de agricultor. Escreveu versos
críticos sobre Filipe
II de Orleães, então regente do trono francês, que ao serem publicados em panfletos fizeram com que fosse preso na Bastilha durante quase um ano. Neste período de tempo dedicou-se a escrever um poema sobre Henrique IV (publicado em Genebra em 1723 com o nome de Poème de la ligue) e a tragédia
Édipo, esta última estreada no Théatre Français em 1718, data em que adotou o pseudónimo de Voltaire. Em 1726 seria de novo encarcerado na Bastilha devido a um desentendimento com o Cavaleiro de Rohan, e quando saiu passou três anos em Inglaterra. A partir de 1750 passou a frequentar a corte prussiana de Frederico II, e quando saiu desta, em 1753, foi para a de Catarina II da Rússia. Em 1746 foi admitido na Academia Francesa e a partir de 1755 viveu na Suíça, perto de Genebra, dedicando-se a redigir uma obra literária e filosófica centrada nas leis sociais, que deveriam basear-se numa conceção de justiça universal. A ideia de justiça, de paz e de tolerância perpassou toda a sua produção, tanto no que diz respeito às relações inter-religiosas como aos
demais âmbitos da vida humana.
Voltaire, um teísta - não sendo ateu, não acredita porém no providencialismo, como se vê na sua obra Cândido, mas reconhece a existência de um "geómetra" do universo -, atacou diversas vezes a Igreja Católica. Defensor da tolerância religiosa, não deixou de se fazer notar pela sua escrita crítica, satírica até, atenta ao mundo, mas acreditando na plenitude do Homem e nas suas capacidades. Temos assim Voltaire como um dos expoentes máximos do Iluminismo, um dos pensadores que mais acreditaram na Razão e na Liberdade.
Algumas das suas obras são: Édipo (1718), História de Carlos XII (1730), Brutus (1730), O templo do gosto (1733), Cartas inglesas ou Cartas filosóficas (1734), Adelaide du Guesclin (1734), Epístola sobre Newton (1736), Tratado de metafísica (1736), O século de Luís XIV (1751), Poema sobre o desastre de Lisboa (1756), Estudo dos hábitos e do espírito das nações (1756), Cândido ou o otimismo (1759), Tratado sobre a tolerância (1767), A princesa da Babilónia (1768) e Da alma ( 1777)
Voltaire. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013.
wikipedia (Imagens)
Voltaire, um teísta - não sendo ateu, não acredita porém no providencialismo, como se vê na sua obra Cândido, mas reconhece a existência de um "geómetra" do universo -, atacou diversas vezes a Igreja Católica. Defensor da tolerância religiosa, não deixou de se fazer notar pela sua escrita crítica, satírica até, atenta ao mundo, mas acreditando na plenitude do Homem e nas suas capacidades. Temos assim Voltaire como um dos expoentes máximos do Iluminismo, um dos pensadores que mais acreditaram na Razão e na Liberdade.
Algumas das suas obras são: Édipo (1718), História de Carlos XII (1730), Brutus (1730), O templo do gosto (1733), Cartas inglesas ou Cartas filosóficas (1734), Adelaide du Guesclin (1734), Epístola sobre Newton (1736), Tratado de metafísica (1736), O século de Luís XIV (1751), Poema sobre o desastre de Lisboa (1756), Estudo dos hábitos e do espírito das nações (1756), Cândido ou o otimismo (1759), Tratado sobre a tolerância (1767), A princesa da Babilónia (1768) e Da alma ( 1777)
Voltaire. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013.
wikipedia (Imagens)
Retrato de Voltaire - Atelier de Nicolas de
Largillière
Voltaire com 41 anos - Quentin de La Tour
Convidados de Frederico II da Prússia. Voltaire é o
terceiro do lado esquerdo. Obra de Adolph
Menzel
https://estoriasdahistoria12.blogspot.com/2018/11/21-de-novembro-de-1694-nasce-francois.html?fbclid=IwAR3wJ0RpX_pucfWa-dz5AEnGTR2KoaGdPodb3jb2pEh1t-US4Mzmykuwp20***
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VIA CITADOR

1694 // 1778
Filósofo/Escritor/Poeta/Dramaturgo/Historiador
França
"Todas as riquezas do mundo não valem um bom amigo."
"Nem sempre podemos agradar, mas podemos falar sempre agradavelmente."
"O maior problema e o único que nos deve preocupar é vivermos felizes."
"Esta vida é um perpétuo combate e a filosofia o único emplastro que podemos pôr nas feridas que recebemos de todos os lados."
"Aquilo a que chamamos acaso não é, não pode deixar de ser, senão a causa ignorada de um efeito conhecido."
"Aproximo-me suavemente do momento em que os filósofos e os imbecis têm o mesmo destino."
"Encontrou-se, em boa política, o segredo de fazer morrer de fome aqueles que, cultivando a terra, fazem viver os outros."
"Não estou de acordo com aquilo que dizeis, mas lutarei até ao fim para que vos seja possível dizê-lo."
"Acontece com os livros o mesmo que com os homens, um pequeno grupo, desempenha um grande papel."
"A política tem a sua fonte na perversidade e não na grandeza do espírito humano."
"A vida é uma criança que é preciso embalar até que adormeça."
"Uma discussão prolongada significa que ambas as partes estão erradas."
"Todo o homem é culpado do bem que não fez."
"Não prestamos para nada se só formos bons para nós próprios."
"É melhor correr o risco de salvar um homem culpado do que condenar um inocente."
Amor ComparadoQueres ter uma ideia do amor, vê os pardais do teu jardim; vê os teus pombos; contempla o touro que se leva à tua vitela; olha esse orgulhoso cavalo que dois valetes teus conduzem à égua em paz que o espera, e que desvia a cauda para recebê-lo; vê como os seus olhos cintilam; ouve os seus relinchos; contempla os seus saltos, camabalhotas, orelhas eriçadas, boca que se abre com pequenas convulsões, narinas que se inflam, sopro inflamado que delas sai, crinas que se revolvem e flutuam, movimento imperioso com o qual o cavalo se lança para o objecto que a natureza lhe destinou; mas não tenhas inveja, e pensa nas vantagens da espécie humana: elas compensam com amor todas as que a natureza deu aos animais, força, beleza, ligeireza, rapidez. Há até mesmo animais que não sabem o que é o gozo. Os peixes escamados são privados dessa doçura: a fêmea lança no lodo milhões de ovos; o macho que os encontra passa sobre eles e fecunda-os com a sua semente, sem saber a que fêmea eles pertencem. A maior parte dos animais que copulam só têm prazer por um sentido; e, assim que esse apetite é satisfeito, tudo se extingue. Nenhum animal, com excepção de ti, conhece os entrelaçamentos; todo o teu corpo é sensível; os teus lábios, sobretudo, gozam de uma volúpia que nada cansa, e esse prazer só pertence à tua espécie; enfim, tu podes a qualquer tempo entregares-te ao amor, os animais têm o seu tempo específico. (...) Por isso, estás acima dos animais; mas, se gozas de tantos prazeres que eles ignoram, em compensação quantas tristezas os animais não fazem ideia!
in 'Dicionário FilosóficoDa LiberdadeA: Eis uma bateria de canhões que atira junto aos nossos ouvidos; tendes a liberdade de ouvi-la e de a não ouvir?
B: É claro que não posso evitar ouvi-la.
A: Desejaríeis que esse canhão decepasse a vossa cabeça e as da vossa mulher e da vossa filha que estivessem convosco?
B: Que espécie de proposição me fazeis? Eu jamais poderia, no meu são juízo, desejar semelhante coisa. Isso é-me impossível.
A: Muito bem; ouvis necessariamente esse canhão e, também necessariamente, não quereis morrer, vós e a vossa família, de um tiro de canhão; não tendes nem o poder de não o ouvir nem o poder de querer permanecer aqui.
B: Isso é evidente.
A: Em consequência, destes uma trintena de passos a fim de vos colocardes ao abrigo do canhão: tivestes o poder de caminhar comigo estes poucos passos?
B: Nada mais verdadeiro.
A: E se fôsseis paralítico? Não teríeis podido evitar ficar exposto a essa bateria; não teríeis o poder de estar onde agora estais: teríeis então necessariamente ouvido e recebido um tiro de canhão e necessariamente estaríeis morto?
B: Nada mais claro.
A: Em que consiste, pois, a vossa liberdade, se não está no poder exercido pelo vosso indivíduo de fazer o que a vossa vontade exigia com absoluta necessidade?
B: Embaraçais-me; então a liberdade é apenas o poder de fazer o que bem entendo?
A: Reflecti um pouco. Vede se a liberdade pode ser outra coisa.
B: Neste caso o meu cão de caça é tão livre como eu; ele tem necessariamente a vontade de correr quando vê uma lebre e o poder de correr se não estiver doente das pernas. Eu nada tenho, pois, mais do que meu cão: reduzis-me ao estado das bestas.
A: Eis uma série de pobres sofismas dos pobres sofistas que vos instruíram. Eis que estais despeitado por não serdes livre como o vosso cão. Ora, não vos pareceis com ele em mil coisas? A fome, a sede, o velar, o dormir, os cinco sentidos, não são em vós como nele? Pretenderíeis cheirar com outro qualquer órgão além do nariz? Por que quereis uma liberdade diferente da que ele tem?
B: Porém eu tenho uma alma que raciocina muito bem, e o meu cão não pensa em coisa alguma. Ele apenas tem idéias simples, enquanto eu tenho mil idéias metafísicas.
A: Pois muito bem! Sois mil vezes mais livre do que ele, isto é, tendes mil vezes mais poder de pensar do que ele; porém a vossa liberdade é perfeitamente igual à dele.
B: Como? Eu não tenho a liberdade de querer o que desejo?
A: Que entendeis com isso?
B: O que toda gente entende. Não se diz diariamente: "As vontades são livres"?
A: Um provérbio não é uma razão; explicai-vos melhor.
B: Penso que sou livre de querer como melhor me agradar.
A: Com vossa licença, isso não tem o mínimo sentido; não percebeis que é ridículo dizer: "Eu quero querer"? Necessariamente, vós desejais em consequência das idéias que se vos apresentam. Quereis
casar, sim ou não?
B: Mas e se eu vos disser que não quero nem uma nem outra coisa?
A: Responderíeis como aquele que disse: "Uns pensam que o cardeal Mazarino está morto; outros, que está vivo; eu não creio nem numa coisa nem noutra".
B: Pois bem, quero casar-me.
A: Isto é responder! Por que quereis casar?
B: Porque estou apaixonado por uma bela rapariga, bem educada, muito rica, que canta muito bem, filha de pais honestos e que me ama, assim como sua família.
A: Eis uma razão. Vedes, pois, que não podeis querer sem razão. Declaro-vos que tendes a liberdade de vos casar: isto é, que tendes o poder de assinar o contrato.
B: Como! Eu não posso querer sem motivo? Que sucede então a este outro provérbio: Sit pro ratione voluntas: a minha vontade é a minha razão, eu quero porque quero?
A: Isso é absurdo, meu caro amigo, pois haveria em vós um efeito sem causa.
B: Que? Quando jogo par ou ímpar tenho então um motivo para escolher par em vez de ímpar?
A: Sim, sem nenhuma dúvida.
B: E qual é essa razão, por obséquio?
A: É que a ideia de par se apresentou ao vosso espírito mais do que a ideia oposta. Seria muito cómico que nalguns casos desejásseis por existir uma razão para o vosso desejo e que noutros desejásseis sem motivo. Quando vos quereis casar, sentis a razão dominante, evidentemente; não a sentis quando jogais par ou ímpar, e contudo é mister que exista uma.
B: Mas, uma vez ainda: sou ou não sou livre?
A: A vossa vontade não é livre mas as vossas ações o são. Tendes a liberdade de fazer quando tendes o poder de fazer.
B: Mas, todos os livros que li sobre a liberdade de indiferença...
A: São tolices: não existe liberdade de indiferença; é um termo destituído de senso, inventado por pessoas que o não possuem.
in 'Dicionário Filosófico'A Dependência é a Raiz de Todos os MalesO que deve um cão a um cão, um cavalo a um cavalo? Nada. Nenhum animal depende do seu semelhante. Tendo porém o homem recebido o raio da Divindade a que se chama razão, qual foi o resultado? Ser escravo em quase toda a terra. Se o mundo fosse o que parece dever ser, isto é, se em toda parte os homens encontrassem subsistência fácil e certa e clima apropriado à sua natureza, impossível teria sido a um homem servir-se de outro. Cobrisse-se o mundo de frutos salutares. Não fosse veículo de doenças e morte o ar que contribui para a existência humana. Prescindisse o homem de outra morada e de outro leito além do dos gansos e cabras monteses, não teriam os Gengis Cãs e Tamerlões vassalos senão os próprios filhos, os quais seriam bastante virtuosos para auxiliá-los na velhice.
No estado natural de que gozam os quadrúpedes, aves e répteis, tão feliz como eles seria o homem, e a dominação, quimera, absurdo em que ninguém pensaria: para quê servidores se não tivésseis necessidade de nenhum serviço? Ainda que passasse pelo espírito de algum indivíduo de bofes tirânicos e braços impacientes por submeter o seu vizinho menos forte que ele, a coisa seria impossível: antes que o opressor tivesse tomado as suas medidas o oprimido estaria a cem léguas de distância. Todos os homens seriam necessariamente iguais, se não tivessem necessidades. A miséria que avassala a nossa espécie subordina o homem ao homem - o verdadeiro mal não é a desigualdade: é a dependência.
Pouco importa chamar-se tal homem Sua Alteza, tal outro Sua Santidade. Duro porém é um servir o outro. Uma família numerosa cultivou um bom terreno. Duas famílias vizinhas têm campos ingratos e rebeldes: impõe-se-lhes servir ou eliminar a família opulenta. Uma das duas famílias indigentes vai oferecer os seus braços à rica para ter pão. A outra vai atacá-la e é derrotada. A família servente é fonte de criados e operários. A família subjugada é fonte de escravos. Impossível, neste mundo miserável, que a sociedade humana não seja dividida em duas classes, uma de opressores, outra de oprimidos. Essas duas classes subdividem-se em mil outras, essas outras num sem número de cambiantes diferentes. Nem todos os oprimidos são absolutamente desgraçados. A maior parte nasce nesse estado, e o trabalho contínuo impede-os de sentir toda a miséria da sua própria situação. Quando a sentem, porém, são guerras, como a do partido popular contra o partido do senado em Roma, as dos camponeses na Alemanha, Inglaterra, França. Mais cedo ou mais tarde todas essas guerras terminam com a submissão do povo, porque os poderosos têm dinheiro e o dinheiro tudo pode no Estado. Digo no Estado, porque o mesmo não se dá de nação para nação. A nação que melhor se servir do ferro sempre subjugará a que, embora mais rica, tiver menos coragem.
Todo o homem nasce com forte inclinação para o domínio, a riqueza, os prazeres e sobretudo para a indolência. Todo o homem portanto quereria estar de posse do dinheiro e das mulheres ou das filhas dos outros, ser-lhes senhor, sujeitá-los a todos os seus caprichos e nada fazer ou pelo menos só fazer coisas muito agradáveis. Vedes que com estas excelentes disposições é tão difícil aos homens ser iguais quanto a dois pregadores ou professores de teologia não se invejarem. Tal como é, é impossível o género humano subsistir, a menos que haja uma infinidade de homens úteis que nada possuam. Porque, claro é que um homem satisfeito não deixará a sua terra para vir lavrar a vossa. E se tiverdes necessidade de um par de sapatos, não será um referendário que vo-lo fará. Igualdade é pois a coisa mais natural e ao mesmo tempo a mais quimérica.
Como se excedem em tudo que deles dependa, os homens exageraram essa desigualdade. Pretendeu-se em muitos países proibir aos cidadãos sair do lugar em que a ventura os fizera nascer. O sentido dessa lei é visivelmente: este pais é tão mau e tão mal governado que vedamos a todo o indivíduo dele sair, por temor que todos o desertem. Fazei melhor: infundi em todos os vossos súbditos o desejo de permanecer no vosso Estado, e aos estrangeiros o desejo de para aí vir. Nos íntimos refolhos do coração todo o homem tem o direito de crer-se de todo o ponto de vista igual aos outros homens. Daí não segue dever o cozinheiro de um cardeal ordenar ao seu senhor que lhe faça o jantar; pode todavia dizer: "Sou tão homem como o meu amo; nasci como ele a chorar; como eu ele morrerá nas mesmas angústias e com as mesmas cerimónias. Temos ambos as mesmas funções animais. Se os turcos se apoderarem de Roma e eu me tornar cardeal e o meu senhor cozinheiro, tomá-lo-ei a meu serviço". Tudo isso é razoável e justo. Mas, enquanto o grão turco não se assenhorear de Roma, o cozinheiro precisa de cumprir as suas obrigações, ou toda a humanidade se perverteria.
Um homem que não seja cozinheiro de cardeal nem ocupe nenhum cargo no Estado; um particular que nada tenha de seu mas a quem repugne o ser em toda a parte recebido com ar de proteção ou desprezo; um homem que veja que muitos monsignori não têm mais ciência, nem mais espírito, nem mais virtude que ele, e que se enfade de esperar nas suas antecâmaras, que partido deve tomar? O da morte.
in 'Dicionário Filosófico'