e nasceu a 16mar1825
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Estátua no Porto
do escultor Francisco Simões
https://www.facebook.com/210721155646326/photos/t.1714825673/487719881279784/?type=3&theater
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http://www.publico.pt/portugal/noticia/o-amor-de-perdicao-tem-codigo-postal-1676891
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Ana Plácido
Mulheres na História (LXXXII) Ana Plácido, a "mulher fatal" de Camilo Castelo Branco
Ana Augusta Plácido é a «amante querida» de Camilo, a sua mulher fatal, a quem este atribui o criptónimo de Raquel. Nasceu no dia 27 de Setembro de 1831 e, apenas com dezanove anos de idade, consorciou-se com o capitalista Manuel Pinheiro Alves, de quarenta e três anos. Filha de António José Plácido Braga e de Ana Augusta Vieira, em 1856, enamorou-se de Camilo Castelo Branco. Uma paixão que lhe trouxe problemas a tal ponto que o marido enganado a colocou no Convento da Conceição, de Braga. Consta-se que Manuel Plácido, filho de Ana e - legalmente - do capitalista, tenha Camilo como progenitor. Manuel Plácido nasceu em 1858, altura em que Ana Plácido afirmava ao marido amar Camilo e ser este o único homem capaz de fazê-la feliz. Desesperado com a insistência de Ana em permanecer na companhia do amante, Pinheiro Alves instaurou um processo de adultério em 1860.
Como resultado, Ana foi presa a 6 de Junho na Cadeia da Relação do Porto, entregando-se o amante a 1 de Outubro. A absolvição dos réus data de 16 de Outubro de 1861. O casal instala-se em Lisboa, mas separa-se por razões financeiras. Em 1863 estão juntos de novo, nascendo o filho de ambos Jorge Camilo Castelo Branco. Com a morte de Manuel Pinheiro Alves é Ana quem administra a fortuna que o seu filho Manuel herdou do pai legal. Assim, a família muda-se, primeiro, para o Porto; depois, para a quinta de São Miguel de Ceide, pertença do falecido, onde nasce o último filho do casal, Nuno Plácido Castelo Branco. Na relação de Camilo e Ana foi esta a que se empenhou mais. Ana Plácido dedicou-se à literatura, influenciada por Camilo. Colaborou em diversas publicações, fez traduções, ajudou Camilo em alguns textos e dedicou-se, também, à poesia. No decurso da sua carreira literária assinou algumas vezes com pseudónimos. Ana ainda assistiu à morte de Camilo, morrendo depois em 20 de Setembro de 1895.
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Amor de Perdição
https://www.youtube.com/watch?v=fCeKehNnVR0&feature=share
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11jan2017
a Tertúlia das Terças
em 7fev2017...18h
no mUseu da Cerâmica
vai conversar sobre:
"No grupo de leitura Tertúlias às terças, no dia 7 de Fevereiro, vamos conversar sobre o livro de Camilo Castelo Branco, O Retrato de Ricardina.
Apareçam!"
https://www.facebook.com/179364048936647/photos/pb.179364048936647.-2207520000.1484217884./566042996935415/?type=3&theater
*
Maria Sobral Velez:
"Porquê ler Camilo Castelo Branco? Para salvar palavras do esquecimento.
Para que a língua portuguesa não se torne um cemitério de objetos inúteis, que poucos amam e muito poucos usam: abacial, alcova, arrebol, aura, dllúculo, labutar, lhanheza, liniamento, lucilar, minudenciosa, opróbrio, pundonor, rópia, serpe, soledade, trilo...e tantas, tantas outras..."
*http://www.prof2000.pt/users/histesfa/ricardina.htm
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http://www.livros-digitais.com/camilo-castelo-branco/o-retrato-de-ricardina/sinopse
O «Retrato de Ricardina» é uma Novela sentimental de Camilo Castelo Branco, cuja intriga atribulada e inverosímil ("esta novela parece querer demonstrar que sucedem casos incríveis") gira em torno dos amores infelizes entre Ricardina Pimentel, filha do orgulhoso abade de Espinho, e Bernardo Moniz, estudante de Direito, cujas peripécias se arrastam por mais de vinte anos. O motivo da paixão contrariada pela oposição paterna, a omnipresença da fatalidade ("Pois a desgraça não estará cansada? - Que pergunta! A desgraça cansada! Teria ela começado?") e o sentimento da honra (que assume contornos diversos no pundonor de Leonardo e no heroísmo moral de Bernardo, recusando-se a cometer um crime) são tópicos recorrentes na ficção camiliana.
Curiosidades:
Esta obra de Camilo Castelo Branco foi, juntamente com «A Brasileira de Prazins», a base para a adaptação da série televisiva portuguesa «Ricardina e Marta» produzida pela RTP.
Esta obra de Camilo Castelo Branco foi, juntamente com «A Brasileira de Prazins», a base para a adaptação da série televisiva portuguesa «Ricardina e Marta» produzida pela RTP.
Excerto:
«Assim que as filhas perfizeram a idade perigosa, o abade entrou-se do capricho de as casar com primos, sobrinhos de Clementina. Lisonjeava-o entrar com as filhas na casa de onde fugira a mãe, quinze anos antes. »
*«Assim que as filhas perfizeram a idade perigosa, o abade entrou-se do capricho de as casar com primos, sobrinhos de Clementina. Lisonjeava-o entrar com as filhas na casa de onde fugira a mãe, quinze anos antes. »
https://www.luso-livros.net/Livro/o-retrato-de-ricardina/
Bernardo, um jovem humilde, que na infância era pastor e aprendiz de pintor, fica subitamente rico com uma herança que recebe. Após formar-se em Coimbra e voltar à sua terra, na freguesia de Espinho, apaixona-se pela bela Ricardina, filha do Abade da região, um homem poderoso, influente e vingativo que recusa que a filha se relacione com alguém das suas origens. Os dois fogem, sempre perseguidos pelos capangas do pai da rapariga.
Um romance de fuga, vingança e desencontros, numa história de amor que percorre continentes e onde o retrato de Ricardina – um pequeno medalhão que Bernardo pintara com a imagem da amada – serve como ponto fulcral para o desfecho da história.
Mas — audaz pastorinho — que doida inocência foi essa a tua de levares retratada no coração a peregrina imagem da menina tão distante do teu mesquinho nascimento, e das palhas onde pequenino choravas, sem mimos que te acalentassem?
Obra típica da criação camiliana, cujo herói da história é sempre o amor. É pautado por uma intriga atribulada, aparentemente inverosímil, mas que o autor diz ser baseada em factos verídicos, logo no prefácio, com esta afirmação:
“Esta novela parece querer demonstrar que sucedem casos incríveis. O autor conheceu alguns personagens e soube como se passaram as coisas aqui referidas. Pois, assim mesmo, tão incongruentes lhe pareceram que ficou muito tempo indeciso se lhe seria melhor inventá-las para saírem mais verossímeis do que as verdadeiras.”
Na verdade, tais palavras constituem parte da ficção. Não é por acaso que tal prefácio não é assinado, deixando no ar a ideia de ter sido um testemunho incógnito, dirigido “a quem ler”. No entanto a obra não é totalmente desprovida de ligações com factos verídicos pois contém elementos inspirados na própria vida de Camilo.
A obra foi escrita em plena guerrilha literária, que opôs os escritores românticos da velha guarda, aos jovens estudantes de Coimbra, que defendiam um novo tipo de literatura na chamada “Questão Coimbrã”. Curiosamente, Camilo escreveu este romance com o intuito de parodiar os movimentos literários do Realismo e do Naturalismo, mas o resultado foi uma obra que faz um fresco da condição da mulher da época, com poucos direito e sem grandes liberdades. Camilo aperceberia-se do valor literário desse facto mais tarde e tentaria inserir algumas das características do Realismo nas suas obras posteriores, sem nunca perder, claro os preceitos e a estética Romântica que o definiram com escritor.
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http://oimaginariodoslivros.blogspot.pt/2013/01/amor-de-perdicao-de-camilo-castelo.html
Sinopse:
"Amor de Perdição" é uma história que nos relata
o choque romântico entre os representantes de duas famílias,
através de duas gerações, a dos pais que se odeiam -
Tadeu de Albuquerque e Domingos Botelho - e se orgulham
dos títulos de fidalguia; e a do jovem casal - Teresa e Simão
- que apenas aspira aceder às asas de liberdade da arrebatadora
paixão que os une. Perante a oposição paterna, toda a história
do casal de "desgraçados" é uma luta tenaz e sem tréguas.
A trama desta história de amor desfecha-se de forma trágica, bem ao estilo «shakesperiano» de Romeu e Julieta.
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http://www.notapositiva.com/pt/trbestbs/historia/camiloc_branco_amor_perdicao_d.htm
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https://www.facebook.com/photo.php?fbid=574165682692449&set=a.127113680730987.23322.100002970679053&type=1&theater
“Em cada mulher, quatro mulheres incompreensíveis, pensando alternadamente como se hão de desmentir umas às outras.”
Amor de perdição, 1862.
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01 de Junho de 1890: Suicídio do escritor Camilo Castelo Branco, em São Miguel de Seide
https://estoriasdahistoria12.blogspot.com/2019/06/01-de-junho-de-1890-suicidio-do.html?spref=fb&fbclid=IwAR1XlZ6H4lCf_lyHirbM4YcHJpHu_7XGkVEQtQXP6BvSHgua9CYjuRd6AbU*
16 de Março de 1825: Nasce Camilo Castelo Branco, em Lisboa, autor de "Amor de Perdição", "A Queda de Um Anjo"
Novelista entre
os anos 50 e 80 do século XIX e um dos grandes génios da Literatura Portuguesa, Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco nasceu a 16 de Março de 1825, em Lisboa, e suicidou-se a 1 de Junho de 1890 em S. Miguel de Seide, Famalicão. Órfão de mãe aos dois anos e de pai aos nove, passou, a partir desta idade, a viver em Vila Real com uma tia paterna. Aos 16 anos, casou-se com Joaquina Pereira, em Friúme, Ribeira de Pena. Em 1844, instalou-se no Porto com o intuito de cursar Medicina, acabando por não passar do 2.o ano. Em 1845, estreou-se na poesia e no ano seguinte no teatro e também no jornalismo - actividade, aliás, que nunca abandonaria. Viúvo desde 1847, fixou-se definitivamente no Porto a partir de 1848 (onde, em 1846, já estivera preso por ter raptado Patrícia Emília, um dos seus tumultuosos amores, de quem teria uma filha). De 1849 a 1851 consolidou a sua actividade jornalística, retomou o teatro, estreou-se no romance com Anátema (1851), conheceu a alta-roda portuense bem como os meios boémios e foi protagonista de aventuras romanescas.
Em 1853, abandonou o curso de Teologia no Seminário Episcopal, fundou vários jornais e em 1855 tornou-se o redactor principal de O Porto e de Carta. Nessa altura, o seu nome começava a soar nos meios jornalísticos e literários do Porto e de Lisboa: já alimentara várias polémicas e publicara alguns romances. Mas foi a partir de 1856 que atingiu a maturidade literária (no domínio dos processos de escrita) com o romance (por alguns autores considerado novela) Onde Está a Felicidade?. Foi ainda neste ano que iniciou o relacionamento amoroso com Ana Plácido, casada desde 1850 com Manuel Pinheiro Alves.
Por proposta
de Alexandre Herculano, foi eleito sócio da Academia Real das Ciências de Lisboa em 1858 - ano em que nasceu Manuel Plácido, filho de Camilo e de Ana Plácido. Em 1860, Manuel Pinheiro Alves desencadeou o processo de adultério: em Junho foi presa a mulher e a 1 de Outubro Camilo entregou-se na cadeia da Relação do Porto. D. Pedro V visitou-o, em 1861, na cadeia, e a 16 de Outubro desse ano os réus foram absolvidos. Era intensa a actividade literária de Camilo (não sendo a esse facto de todo alheias as dificuldades económicas): entre 1862 e 1863, o escritor publicou onze novelas e romances atingindo uma notoriedade dificilmente igualável. Em 1864, fixou-se na quinta de S. Miguel de Seide (propriedade de Manuel Pinheiro Alves que, entretanto, falecera em 1863) e nasceu-lhe o terceiro filho, Nuno. Quatro anos depois, dirigiu a Gazeta Literária do Porto; em 1870 iniciou o processo do viscondado (o título ser-lhe-ia atribuído em 1885) e, em 1876, tomou consciência da loucura do segundo filho, Jorge. No ano seguinte morreu Manuel Plácido. A partir de 1881, agravaram-se os padecimentos, incluindo a doença dos olhos que o afectava. Em 1889, por ocasião do seu aniversário, foi objecto de calorosa homenagem de escritores, artistas e estudantes, promovida por João de Deus. No ano seguinte, já cego, impossibilitado de escrever (a escrita foi, no fim de contas, a sua grande paixão), suicidou-se com um tiro de revólver. A casa de Seide é hoje o museu do escritor e na sua vizinhança foram inauguradas, a 1 de Junho de 2005, as novas instalações do Centro de Estudos Camilianos.
Camilo foi
o primeiro escritor profissional entre nós. Dotado de uma capacidade prodigiosa para efabular narrativas, conhecedor profundo do idioma, observador, ora complacente ora sarcástico, da sociedade (sobretudo da aristocracia decadente e da burguesia boçal e endinheirada), inclinado (por gosto, por temperamento e formação) para a intriga e análise passionais (muitas vezes atingindo o sublime da tragédia, como no Amor de Perdição), este genial autor romântico deixou-nos uma obra incontornável (apesar de irregular) na evolução da prosa literária portuguesa. De facto, foi na novela passional e no "romance de costumes" que Camilo se notabilizou, legando-nos uma série de personagens ainda hoje inesquecíveis, quadros e situações que valem pela espontaneidade narrativa, pelo ritmo avassalador da ação, pela sugestão realista e ainda pela novidade temática, como em A Queda dum Anjo. A sua versatilidade literária e criadora (aliada à necessidade de não perder o público com a progressiva influência de Eça e de Teixeira de Queirós) levaram-no a assimilar (depois de ter parodiado) a atitude estética e os processos de escrita do Realismo e do Naturalismo, visíveis nesse notável livro que é A Brasileira de Prazins e em certa medida já iniciados com Novelas do Minho.
A sua arte de narrar constituiu, a par da de Eça de Queirós, um modelo literário para muitos escritores, principalmente até meados do século XX.
As suas obras principais são: A Filha do Arcediago, 1855; Onde está a Felicidade?, 1856; Vingança, 1858; O Romance dum Homem Rico, 1861; Amor de Perdição, 1862; Memórias do Cárcere, 1862; O Bem e o Mal, 1863; Vinte Horas de Liteira, 1864; A Queda dum Anjo, 1865; O Retrato de Ricardina, 1868; A Mulher Fatal, 1870; O Regicida, 1874; Novelas do Minho, 1875-1877; Eusébio Macário, 1879; A Brasileira de Prazins, 1882.
Além destas
obras em prosa narrativa, assinale-se ainda os outros géneros (ou domínios) pelos quais se repartiu o labor de Camilo: poesia, teatro (de que se devem destacar O Morgado de Fafe em Lisboa, 1861, e O Morgado de Fafe Amoroso, 1865), dezenas de traduções (do francês e do inglês), polémica, prefácios, biografia, história, crítica literária, jornalismo e epistolografia (compreendendo mais de duas mil cartas).
Camilo Castelo Branco. In
Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013.
wikipedia (Imagem)
Camilo Castelo
Branco, gravura de Francisco Pastor
Amor de Perdição
Novela composta em 1861, por Camilo Castelo Branco, durante o tempo em que o autor esteve preso por adultério na cadeia da Relação do Porto. Foi baseada num episódio real da vida de um tio seu, Simão Botelho, que lhe teria sido contado por uma tia, e cujo registo o autor teria encontrado nos livros de assentamentos da cadeia. No entanto, a manipulação e a ficção, por parte de Camilo, são de tal forma livres, que o converteu na novela sentimental mais famosa do Romantismo português.
O enredo é ultra romântico: os protagonistas, Simão e Teresa, filhos de
duas famílias inimigas de Viseu, os Botelhos e os Albuquerques,
apaixonam-se. A conselho de Baltasar Coutinho, primo e prometido de
Teresa, despeitado pelo ciúme, Tadeu de Albuquerque decide encerrar a
filha no convento de Monchique, no Porto. Simão espera-os à saída de
Viseu, trava-se de razões com Baltasar e mata-o a tiro, entregando-se
logo à justiça. Preso na cadeia da Relação do Porto, é condenado ao
degredo. Ao embarcar para a Índia, Simão ainda consegue avistar o vulto
da sua amada, que se despede dele, já moribunda, esgotada pela desgraça.
Horas depois, Simão toma conhecimento da morte de Teresa e morre
também. A personagem mais verdadeira da novela, e que rompe com o
convencionalismo romântico, é, contudo, Mariana, uma rapariga do povo,
boa e abnegada, que, sentindo por Simão um amor absoluto e sem
esperança, serve de intermediária entre Simão e Teresa, decidindo depois
acompanhá-lo no exílio e suicidar-se após a morte dele, abraçando-se ao
seu cadáver atirado ao mar.
À narrativa passional e trágica, onde o amor, o ódio e a vingança, nos seus múltiplos cambiantes surgem extremados, estaria também subjacente, segundo alguns estudiosos da obra camiliana, uma intenção de crítica social, pretendendo Camilo denunciar a obediência cega da sociedade ao preconceito obsoleto da honra familiar.
Amor de Perdição. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013
https://www.youtube.com/watch?v=fCeKehNnVR0&feature=share
https://estoriasdahistoria12.blogspot.com/2019/03/16-de-marco-de-1825-nasce-camilo.html?spref=fb&fbclid=IwAR2flh25yfnELwrY_9QMs_mELLtpa567oxQDmoiLxco1-4dEYJtoPpPLjSgÀ narrativa passional e trágica, onde o amor, o ódio e a vingança, nos seus múltiplos cambiantes surgem extremados, estaria também subjacente, segundo alguns estudiosos da obra camiliana, uma intenção de crítica social, pretendendo Camilo denunciar a obediência cega da sociedade ao preconceito obsoleto da honra familiar.
Amor de Perdição. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013
https://www.youtube.com/watch?v=fCeKehNnVR0&feature=share
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*
A Maior Dor Humana
Que immensas agonias se formaram
Sob os olhos de Deus! Sinistra hora
Em que o homem surgiu! Que negra aurora,
Que amargas condições o escravisaram!
As mãos, que um filho amado amortalharam,
Erguidas buscam Deus. A Fé implora.
E o céo que respondeu? As mãos baixaram
Para abraçar a filha morta agora.
Depois, um pai que em trevas vai sonhando,
E apalpa as sombras d’elles onde os viu
Nascer, florir, morrer!…
Desastre infando!
Ao teu abysmo, pai, não vão confortos,
És coração que a dor impedreniu,
Sepulchro vivo de dois filhos mortos.
(NOTA: PORTUGUÊS do século XIX)
S. Miguel de Seide , 27 de junho de 1887.
*
"A Decadência do Coração nos Tempos Modernos
Nestes ruins tempos de material e nauseante industrialismo, a fase do coração é curta, o amor vem temporão, e como que apodrece antes de sazonado. De toda a parte, aos ouvidos do mancebo vem a soada do martelar da indústria. A sociedade, aparelhada em oficina, não dá por ele, se o não vê a labutar e mourejar no veio da riqueza. Títulos, glória, homenagens, regalos, as feições todas da festejada máscara, com que por aqui nos andamos entrudando uns aos outros, só pode ser afivelada com broches de ouro. Dislates do amor empecem o ir direito ao fim. O coração é víscera que derranca o sangue, se com as muitas vertigens o vascoleja demais. Faz-se mister abafar-lhe as válvulas e exercitar o cérebro, onde demora a bossa do cálculo, da empresa, da sordícia gananciosa, e outras muitas bossas filiadas ao estômago, o qual é, sem debate, a víscera por excelência, o luzeiro perene entre as trevas que ofuscam as almas."
in 'Doze Casamentos Felizes (1861)'
***
https://www.facebook.com/611718658881014/photos/a.618734534846093.1073741828.611718658881014/803863212999890/?type=1&theater
"O homem que ama é um tolo sublime"
***
Via Citador

*
"O amor é uma luz que não deixa escurecer a vida."
"Um verdadeiro amor é segunda inocência."
"O amor, que vem procurado como sensação necessária à felicidade da vida, perde dois terços da sua embriagante doçura; porém, o amor inesperado, impetuoso e fulminante, esse é um abrir-se o céu a verter no peito do homem todas as delícias puras que não correm perigos de empestarem-se em contacto com as da terra."
"Amigos verdadeiros são os que nos acodem inopinados com valedora mão nas tormentas desfeitas."
"Os dias prósperos não vêm por acaso. Nascem de muita fadiga e muitos intervalos de desalento."
"O inferno é cá neste mundo: não ter que comer, que beber, nem umas palhas em que deitar-se."
"A verdade é expansiva; a mentira retrai-se, esconde-se até aos olhos dos depravados."
"O que tem feito mal a muita gente não é a mentira; é o invólucro de palavras artificiosas com que se doira a algema que as verdades lançam ao pulso do homem."
"O ciúme vê com lentes, que fazem grandes as coisas pequenas, gigantes os anões, verdades as suspeitas."
"O homem traído uma vez pode ouvir dos lábios da mulher um juramento de alma, animado com a santa inocência de um anjo, mas nunca mais lhe franqueará o coração, onde goteja sangue, uma chaga incurável."
"Os estúpidos guerreiam barbaramente o talento: são os vândalos do mundo espiritual."







A Decadência do Coração nos Tempos ModernosNestes ruins tempos de material e nauseante industrialismo, a fase do coração é curta, o amor vem temporão, e como que apodrece antes de sazonado. De toda a parte, aos ouvidos do mancebo vem a soada do martelar da indústria. A sociedade, aparelhada em oficina, não dá por ele, se o não vê a labutar e mourejar no veio da riqueza. Títulos, glória, homenagens, regalos, as feições todas da festejada máscara, com que por aqui nos andamos entrudando uns aos outros, só pode ser afivelada com broches de ouro. Dislates do amor empecem o ir direito ao fim. O coração é víscera que derranca o sangue, se com as muitas vertigens o vascoleja demais. Faz-se mister abafar-lhe as válvulas e exercitar o cérebro, onde demora a bossa do cálculo, da empresa, da sordícia gananciosa, e outras muitas bossas filiadas ao estômago, o qual é, sem debate, a víscera por excelência, o luzeiro perene entre as trevas que ofuscam as almas.
in 'Doze Casamentos Felizes (1861)'Se Queres Ser Feliz Abdica da InteligênciaOs tolos são felizes; eu se fosse casado eliminava os tolos da minha casa. Cada cidadão, que me fosse apresentado, não poderia sê-lo, sem exibir o diploma de sócio da academia real das ciências. Olha, criança, decora estas duas verdades que o Balzac não menciona na «Fisiologia do Casamento». Um erudito, ao pé da tua mulher, fala-lhe na civilização grega, na decadência do império romano, em economia politica, em direito publico, e até em química aplicada ao extracto do espírito de rosas. Confessa que tudo isto o maior mal que pode fazer à tua mulher é adormecê-la. O tolo não é assim. Como ignora e desdenha a ciência, dispara à queima roupa na tua pobre mulher quantos galanteios importou de Paris, que são originais em Portugal, porque são ditos num idioma que não é francês nem português.
Tua mulher, se tem a infelicidade de não ter em ti um marido doce e meigo, começa a comparar-te com o tolo, que a lisonjeia, e acha que o tolo tem muito juízo. Concedido juízo ao tolo, concede-se-lhe razão; concedida a razão, concede-se-lhe tudo. Ora aí tens porque eu antes queria ao pé de minha mulher o padre José Agostinho de Macedo, em cuecas, do que o barão de Sá coberto com a capa daquele grande piegas José do Egipto.
Ris-te?... Se queres ser feliz abdica da inteligência, convence-te, e convence os outras de que és um pária do senso commum, entra nesses camarotes, e diz que a letra do «Barbeiro de Sevilha» é de Voltaire, e a composição do maestro Spinosa; vira-te para a vítima predestinada, e diz-lhe que a música é a voz mística dos anjos confidentes das paixões delirantes, que dos olhos dela deviam partir as inspirações que arrebataram Raphael d'Urbino, que farás autor da «Norma». Se ouvires uma gargalhada insofrida, deixa-os rir; continua; faz-te vítima interessante, acolhe-te à piedade da dama, e fala-me depois...
in 'Mistérios de Lisboa (1853)'Viver sem SofrimentoOs prazeres ardentes são momentâneos, e custam graves inconvenientes. O que devemos cobiçar é viver sem sofrer muito. Aquele que sofre foge-Ihe uma parte da existência. O mal é nocivo à plenitude da vida por que é sempre causa do aniquilamento. Quando o sofrimento nos ameaça, e receamos que as forças defensivas nos faleçam, suspendem-se os outros movimentos do nosso coração, e então pouco há que esperar de nós, por que se torna incerto o nosso destino. O bem-estar de grande numero de individuos, que vivem retirados das agitações, depende mais da sua disposição habitual de pensamento que da influência de causas exteriores. A crise moral pode surpreendê-los e magoá-los momentaneamente; mas a força dos acontecimentos é meramente relativa. Os sofrimentos são mais ou menos intensos, conforme a época em que nos oprimem. O que ontem poderia aniquilar-me, levemente me incomoda hoje. Cinco minutos de reflexão me bastam. A maior parte dos objectos encerram e presentam, indirectamente pelo menos, as propriedades oportunas. Pô-las em acção é no que assenta a industria da felicidade. Ha aí que farte instrumentos fecundos de prazeres úteis; ponto é saber meneá-los. Quem não sabe trabalhar com eles, fere-se. Discernir, isto é, reflectir é o que mais importa...
in 'Cenas Inocentes da Comédia Humana (1863)'A Seriedade é uma DoençaA seriedade é uma doença, e o mais sério dos animais é o burro. Ninguém lhe tira, nem com afagos nem com a chibata aquele semblante cabido de mágoas recônditas que o ralam no seu peito. Há nele a linha, o perfil do sábio refugado no concurso ao magistério, do candidato á camara baixa bigodeado pela perfídia de eleitores que, saturados de genebra e Carta constitucional, desde a taberna até à urna, fermentaram a crisálida de consciências novas. O burro é assim triste por fora; mas é feliz por dentro, e riria dos seus homónimos, se pudesse igualá-os na faculdade de rir, que é exclusiva do homem e da hiena, a qual ri com umas exultações ferozes tão autênticas como as lágrimas insidiosas do crocodilo.
in 'Cancioneiro Alegre (1879)'