02/11/2014

9.004.(2nov2014.11h) Teixeira de Pascoaes

Nasceu a 2nov1877
e morreu a
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Nasce em Gatão, Amarante, de nome: Joaquim Pereira Teixeira de Vasconcelos, autor de "Sempre".
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"Andamos e não chegamos. O andar é tudo, princípio e fim".
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 “O homem não vive. Nasce e morre”.
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Via Citador
Teixeira Pascoaes
"O amor é fome de outra vida, desejo de transitar. Quando dois amantes de abraçam e beijam, entredevoram-se, morrem um no outro, de algum modo, e transitam para um novo ser. A vida não pode ficar em nós, a repetir-se, que repetir é estar parado, é ocupar o mesmo lugar."
"O homem é um castelo feito no ar. O que ele tem de não existente, é que lhe dá existência. O engano em que ele vive, é que lhe dá vida. Toda a realidade do seu corpo se firma na mentira da sua alma.""A ciência desenha a onda; a poesia enche-a de água.""O infinito é ele menos o metro em que avultamos; a eternidade é ela menos a hora em que vivemos.""O Português é indeciso e inquieto, como as nuvens em que as suas montanhas se continuam e as ondas em que as suas campinas se prolongam.""O homem, antes de tudo, é poeta, por mais gordo ou adaptado à rotundidade planetária; e depois é pedagogo, aferidor de pesos e medidas, engenheiro, deputado e outras deformidades sociais.""Os animais são pessoas, como nós somos animais.""O que não aconteceu, nunca esteve para acontecer, e o que aconteceu, nunca esteve para não acontecer.""Existir não é pensar: é ser lembrado.""A corrupção favorece as ideias novas.""O homem só é verdadeiro quando se julga incógnito. Se tem de representar a sua pessoa, a arte absorve-o e desvia-o do seu próprio ser."falta 3 pág de citações

Elegia do AmorLembras-te, meu amor, 
Das tardes outonais, 
Em que íamos os dois, 
Sozinhos, passear, 
Para fora do povo 
Alegre e dos casais, 
Onde só Deus pudesse 
Ouvir-nos conversar? 
Tu levavas, na mão, 
Um lírio enamorado, 
E davas-me o teu braço; 
E eu, triste, meditava 
Na vida, em Deus, em ti... 
E, além, o sol doirado 
Morria, conhecendo 
A noite que deixava. 
Harmonias astrais 
Beijavam teus ouvidos; 
Um crepúsculo terno 
E doce diluía, 
Na sombra, o teu perfil 
E os montes doloridos... 
Erravam, pelo Azul, 
Canções do fim do dia. 
Canções que, de tão longe, 
O vento vagabundo 
Trazia, na memória... 
Assim o que partiu 
Em frágil caravela, 
E andou por todo o mundo, 
Traz, no seu coração, 
A imagem do que viu. 

Olhavas para mim, 
Às vezes, distraída, 
Como quem olha o mar, 
À tarde, dos rochedos... 
E eu ficava a sonhar, 
Qual névoa adormecida, 
Quando o vento também 
Dorme nos arvoredos. 
Olhavas para mim... 
Meu corpo rude e bruto 
Vibrava, como a onda 
A alar-se em nevoeiro. 
Olhavas, descuidada 
E triste... Ainda hoje escuto 
A música ideal 
Do teu olhar primeiro! 
Ouço bem tua voz, 
Vejo melhor teu rosto 
No silêncio sem fim, 
Na escuridão completa! 
Ouço-te em minha dor. 
Ouço-te em meu desgosto 
E na minha esperança 
Eterna de poeta! 
O sol morria, ao longe; 
E a sombra da tristeza 
Velava, com amor, 
Nossas doridas frontes. 
Hora em que a flor medita 
E a pedra chora e reza, 
E desmaiam de mágoa 
As cristalinas fontes. 
Hora santa e perfeita, 
Em que íamos, sozinhos, 
Felizes, através 
Da aldeia muda e calma, 

Mãos dadas, a sonhar, 
Ao longo dos caminhos... 
Tudo, em volta de nós, 
Tinha um aspecto de alma. 
Tudo era sentimento, 
Amor e piedade. 
A folha que tombava 
Era alma que subia... 
E, sob os nossos pés, 
A terra era saudade, 
A pedra comoção 
E o pó melancolia. 
Falavas duma estrela 
E deste bosque em flor; 
Dos ceguinhos sem pão, 
Dos pobres sem um manto. 
Em cada tua palavra, 
Havia etérea dor; 
Por isso, a tua voz 
Me impressionava tanto! 
E punha-me a cismar 
Que eras tão boa e pura, 
Que, muito em breve — sim! 
Te chamaria o céu! 
E soluçava, ao ver-te 
Alguma sombra escura, 
Na fronte, que o luar 
Cobria, como um véu. 
A tua palidez 
Que medo me causava! 
Teu corpo era tão fino 
E leve (oh meu desgosto!) 
Que eu tremia, ao sentir 
O vento que passava! 
Caía-me, na alma, 
A neve do teu rosto. 

Como eu ficava mudo 
E triste, sobre a terra! 
E uma vez, quando a noite 
amortalhava a aldeia, 
Tu gritaste, de susto, 
Olhando para a serra: 
— Que incêndio! — E eu, a rir, 
Disse-te — É a lua cheia!... 
E sorriste também 
Do teu engano. A lua 
Ergueu a branca fronte, 
Acima dos pinhais, 
Tão ébria de esplendor, 
Tão casta e irmã da tua, 
Que eu beijei sem querer, 
Seus raios virginais. 
E a lua, para nós, 
Os braços estendeu. 
Uniu-nos num abraço, 
Espiritual, profundo, 
E levou-nos assim, 
Com ela, até ao céu 
Mas, ai, tu não voltaste 
E eu regressei ao mundo. 

 in 'Prosa e Poesia'
**TristêzaO sol do outomno, as folhas a cair, 
A minha voz baixinho soluçando, 
Os meus olhos, em lagrimas, beijando 
A terra, e o meu espirito a sorrir... 

Eis como a minha vida vae passando 
Em frente ao seu Phantasma... E fico a ouvir 
Silencios da minh'alma e o resurgir 
De mortos que me fôram sepultando... 

E fico mudo, extatico, parado 
E quasi sem sentidos, mergulhando 
Na minha viva e funda intimidade... 

Só a longinqua estrela em mim actua... 
Sou rocha harmoniosa á luz da lua, 
Petreficada esphinge de saudade... 

in 'Elegias'
**EncantamentoQuantas vezes, ficava a olhar, a olhar 
A tua dôce e angelica Figura, 
Esquecido, embebido num luar, 
Num enlêvo perfeito e graça pura! 

E á força de sorrir, de me encantar, 
Deante de ti, mimosa Creatura, 
Suavemente sentia-me apagar... 
E eu era sombra apenas e ternura. 

Que inocencia! que aurora! que alegria! 
Tua figura de Anjo radiava! 
Sob os teus pés a terra florescia, 

E até meu proprio espirito cantava! 
Nessas horas divinas, quem diria 
A sorte que já Deus te destinava! 

in 'Elegias'
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Via Maria Elisa Ribeiro
A Mentira é a Base da Civilização Moderna
É na faculdade de mentir, que caracteriza a maior parte dos homens actuais, que se baseia a civilização moderna. Ela firma-se, como tão claramente demonstrou Nordau, na mentira religiosa, na mentira política, na mentira económica, na mentira matrimonial, etc... A mentira formou este ser, único em todo o Universo: o homem antipático.
Actualmente, a mentira chama-se utilitarismo, ordem social, senso prático; disfarçou-se nestes nomes, julgando assim passar incógnita. A máscara deu-lhe prestígio, tornando-a misteriosa, e portanto, respeitada. De forma que a mentira, como ordem social, pode praticar impunemente, todos os assassinatos; como utilitarismo, todos os roubos; como senso prático, todas as tolices e loucuras.
A mentira reina sobre o mundo! Quase todos os homens são súbditos desta omnipotente Majestade. Derrubá-la do trono; arrancar-lhe das mãos o ceptro ensaguentado, é a obra bendita que o Povo, virgem de corpo e alma, vai realizando dia a dia, sob a direcção dos grandes mestres de obras, que se chamam Jesus, Buda, Pascal, Spartacus, Voltaire, Rousseau, Hugo, Zola, Tolstoi, Reclus, Bakounine, etc. etc. ...
E os operários que têm trabalhado na obra da Justiça e do Bem, foram os párias da Índia, os escravos de Roma, os miseráveis do bairro de Santo António, os Gavroches, e os moujiks da Rússia nos tempos de hoje. Porque é que só a gente sincera, inculta e bárbara sabe realizar a obra que o génio anuncia? Que intimidade existirá entre Jesus e os rudes pescadores da Galileia? Entre S. Paulo e os escravos de Roma? Entre Danton e os famintos do bairro de Santo António? Entre os párias e Buda? Entre Tolstoi e os selvagens moujiks? A enxada será irmã da pena? A fome de pão paracer-se-à com a fome de luz?...

Teixeira de Pascoaes, in "A Saudade e o Saudosismo"
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*** Via:http://observador.pt/especiais/os-melhores-poemas-de-amor-da-lingua-portuguesa-para-nove-escritores/