31/08/2009

Como o tinta fresca fez a reportagem d'ontem























Início da tournée do grupo começou "em casa"


"Amália Hoje" arrasta maior multidão de sempre ao Rossio de Alcobaça

Sónia TavaresO projecto “Amália Hoje” estreou-se, no dia 30 de Agosto, com a maior enchente de sempre num concerto em Alcobaça, estimada em 25 mil pessoas. Uma fórmula de sucesso (o disco está prestes a atingir a dupla platina) explicada não só pelo prestígio da maior fadista de todos os tempos, mas também pelas personalidades singulares que são Nuno Gonçalves (teclas e voz), Sónia Tavares (voz), Fernando Ribeiro (voz) e Paulo Praça (voz e guitarra). O hit “A Gaivota”, cantada a meias com o público em êxtase e “Formiga Bossa Nova “, popularizada na voz de Adriana Calcanhoto, tiveram direito a repetição no encore, num concerto que, segundo Nuno Gonçalves, mentor do projecto, seria um motivo de orgulho para a própria Amália Rodrigues, se fosse viva. “Fado Português”, “Nome de Rua”, “Medo”, “Abandono”, “L'Important C'est La Rose”, “Foi Deus” e “Grito” foram as restantes canções do álbum interpretadas nesta noite quente de Verão, tendo a última uma dedicatória especial. Paulo Praça revelou em palco que a avó de Nuno Gonçalves faleceu no dia em que o músico chegou a Alcobaça para gravar as vozes do disco. Contudo, o músico e compositor optou por iniciar a gravação do disco logo no dia seguinte, em jeito de terapia para vencer a dor da perda. Paulo Praça pediu então ao público para ligar os seus telemóveis, de forma a lembrar as estrelas mencionadas na terceira estrofe de “Grito”, e o público correspondeu levantando milhares de telemóveis, que, com a sua luz, iluminou todo o Rossio de Alcobaça.
Fernando Ribeiro, Sónia Tavares e Paulo PraçaNão se pediu “silêncio, vai cantar-se o fado”, antes pediu-se a colaboração do público a marcar o ritmo com palmas ou mesmo co-interpretando as canções, em especial “A Gaivota”, tema que se tornou o cartão de visita deste álbum, que pretende assinalar, de forma diferente, os 10 anos da morte da fadista. Afinal, a noite era de pop e a época de uma sociedade de consumo marcada por sons permanentes, gadjets e mensagens instantâneas. Definitivamente, o mundo mudou.A jogar “em casa”, Nuno e Sónia não se cansam de o sublinhar e mesmo Fernando Ribeiro, vocalista dos Moonspell e Paulo Praça se afirmam já alcobacenses adoptivos, correspondendo assim à forma hospitaleira como foram recebidos na cidade. Sónia não esquece o pai, que a transporta para todo o lado, e pergunta, no final de uma canção, se ele também se emocionou. Mais adiante, Fernando Ribeiro homenageará também o patriarca da família Tavares, envergando um cachecol azul do seu clube de coração, o Ginásio Clube de Alcobaça.
Nuno GonçalvesNo final, numa improvisada conferência de imprensa, Nuno Gonçalves revelou que “Amália Hoje” foi um projecto em que se envolveu muito emocional- mente, pois viveu um turbilhão de emoções aquando da morte da avó, pelo que “o disco tem uma carga simbólica muito grande.” A viver actualmente em Madrid, o músico viveu o concerto “com um espírito emigrante, pois “voltar a casa e ser assim recebido é maravilhoso, foi emocionante, foi de arrepiar, foi de ir às lágrimas, foi de ir aos sorrisos”, exaltou. “Senti-me um bocadinho como se fosse ver a Amália ao vivo, do choro e da lágrima profunda ao riso mais rasgado, num ápice de segundos”, sublinhou o músico. “Foi tudo muito bonito, acho que as pessoas perceberam que estávamos a fazer aquilo que mais gostávamos. Este disco vai ficar na história da música portuguesa como as vendas o mostram, como a febre que sentimos nos concertos ao vivo, sentimos que este projecto é cada vez mais parte da vida das pessoas. O disco saiu no dia 17 de Abril, está apenas a mil exemplares da dupla platina e só saiu 4 semanas de nº1 do top. Faz parte das emoções das pessoas, sentimos isso nos comentários e-mails que nos chegam e sentimo-nos muito contentes com isso”, confessou.
Fernando Ribeiro e Sónia TavaresO principal objectivo era que “a nova geração passasse a ouvir fado, sentisse orgulho em Amália Rodrigues e nos poetas e compositores que escreveram para ela e, de alguma forma, que os mais puristas do fado não vejam a nova geração como os papões que vêm destruir a música antiga. Este projecto é claramente ganhar balanço atrás, para olhar melhor em frente”, sublinha. Nuno Gonçalves acredita que este “é um disco que representa uma viragem de mentalidades, da nova geração para a antiga e vice-versa. Nós não temos muito a tradição em remexer no que é dos outros, os brasileiros têm muito essa facilidade e esse à vontade. Este projecto pode ser o início de as pessoas perderem um pouco o medo de arriscar mais.”
Público contribuiu para o êxito do concerto“Quando comecei precisamente há um ano a preparar o disco, fiz uma pesquisa imensa sobre a Amália, li relatos, privei com pessoas que gravaram com ela – felizmente ainda há pessoas vivas que conviveram com ela diariamente - e todas me disseram que a Amália ia ficar encantada com o disco. Se a Amália viesse hoje a Alcobaça ver este concerto, tenho a certeza absolutíssima que ele ia considerar esta emoção como uma das emoções da sua vida. È a minha opinião, mas também ela já não está cá para poder desmentir, infelizmente”, ressalva Segundo Nuno Gonçalves, o projecto é para continuar até Outubro, mês em que atravessam uma fase muito importante, pois irão tocar nos Coliseus de Lisboa e Porto, além actuarem na Figueira da Foz e Vila do Conde. “Este é um projecto feliz que tem início e final marcado. Sempre dissemos que este era um projecto de uma vida, mas que iria terminar. Queremos que fique com as pessoas, mas temos as nossas carreiras, nos Moonspell, nos Gift e o Paulo Praça também já tem um disco para fazer”, concluiu.
Conferência de imprensa ao ar livreSónia Tavares também se pronunciou sobre este novo projecto. “Eu não aceitaria vestir outra pele que não fosse a Sónia Tavares, não me atreveria a tentar cantar fado nem sequer a tentar imitar o inimitável, neste caso, a Amália. O meu contributo é o de uma cantora pop, que o Nuno já conhece há mais de 20 anos e, por isso, ele me convidou. Era uma responsabilidade, até porque a primeira canção a chegar às pessoas foi “A Gaivota”, que tinha a minha voz e era um cartão de visita deste disco. A partir do momento em que esqueci que isto era um disco de fado, mas sim um disco de pop, os medos dissiparam-se e aquilo que dei foi aquilo que sei fazer”, revelou.Nuno Gonçalves encontra-se actualmente em Madrid a começar a compor as novas canções e por isso, este ano decidiram fazer apenas meia dúzia de concertos, como foi o caso do grande festival do Crato e algumas cidades internacionais. De qualquer forma, como o último disco dos Gift data de Maio de 2006, considera que “já teve o seu prazo e queremos mostrar coisas novas às pessoas. Trataremos disso no próximo ano”, concluiu.






Mário Lopes
31-08-2009