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20mAIo2019
Maria Teresa Mascarenhas Horta (Lisboa, 20 de Maio de 1937) escritora, jornalista e poetisa.
Parabéns Teresa Horta. Quanta admiração!!
Acrílico s/pacote leitehttps://www.facebook.com/photo.php?fbid=10210864004955456&set=a.3447227798735&type=3&theater
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Morrer de amor
ao pé da tua boca
Morrer de amor
ao pé da tua boca
Desfalecer
à pele
do sorriso
à pele
do sorriso
Sufocar
de prazer
com o teu corpo
de prazer
com o teu corpo
Trocar tudo por ti
se for preciso
se for preciso
Maria Teresa Horta – Carta Última para Maria Isabel Barreno (1.ª Parte)
“Escrevo, Isabel,
carta última,
tal como fizemos ao terminar Novas Cartas Portuguesas, num
recolhimento que repito, num
impulso, num sobressalto diante
do fim da tua vida; pois escrever
junto, à nossa maneira a três,
Isabel
é pacto de sangue – corte muito
fino no pulso da escrita – lembro-me
de vos ter dito diante do vosso silêncio
cúmplice. E este é o meu modo de-
sarmado de recusar a tua perda, creio,
sem conseguir aceitar que passes a
ser sobretudo memória, por certo
cada vez mais longínqua, recordação
dia após dia a tornar-se brumosa,
distanciada e difusa.
Saudade a resguardar-se de si
própria.
Tão sozinha, tu no abandono de ti
mesma, em inexistentes horas, sem
outra qualquer forma de existires
senão pelo teu lado de total negrume,
aquele que absurdamente é hoje o teu
nada
mais absoluto.
Escrevo, Isabel,
carta última
a querer recordar como se deu o
exato começo de Novas Cartas, por
entre palavras e ideais, exigência de
liberdade e repúdio dos tantos medos,
modos e meios que o fascismo tinha
de nos censurar a escrita, ideias e
princípios, livros, itinerários, projetos
literários, romances e poesia, textos e
versos no seu próprio reverso de luz;
e igualmente na ensombrada som-
bra, então, dos nossos dias.
Escrevo, Isabel,
carta última
como se ainda fôssemos tateando
devagar a vida, repensando as tantas
diferenças de escrita, a tentarmos
divisar essa outra diversidade,
feminina
tão ancestral quanto castrada,
abafada e discriminada,
Isabel…
E assim foi nessa pressa, nesse
entusiasmo, que ao longo de meses
nos tornámos amigas, quer num so-
bressalto súbito de tropel e inesperada
corrida ao modo do meu alvoroço,
quer da tua quietude, tranquilidade
à flor do sorriso, como se afinal nada
nos estivesse a acontecer,
ilusória maneira de tomarmos voo
de asa enquanto companheiras em
convivência de vida e escrita, por entre
agressões, tentativas de humilhação e
de proibições políticas.
Na realidade falávamos de liber-
dade e de literatura ao longo de tardes
fingidoras de tempo que simulava
deixar-se agarrar, numa mistura de
conversas que sempre se demoravam
em cumplicidades múltiplos, por en-
tre páginas, obras literárias sobretudo
de autoras de quem amávamos a
poesia, a ficção, a filosofia,
conscientes de ser urgente deso-
bedecer, transgredir, aprendendo
a confrontarmos quem nos queria
censurar a vida e a escrita.
Escrevo, Isabel,
carta última
sem tentar iludir certezas e dúvi-
das, em horas de descoberta e rompi-
mentos; enquanto íamos imaginando
e escrevendo,
contos e poemas, ensaios e versos,
cartas…
Tantas cartas, e tantas personagens,
Marias, Mainas e Marianas…
com as quais fizemos uma roda,
juntas na escrita de um livro que em
quase tudo acabaria por mudar para
sempre as nossas vidas. (…)”
In JL, 14 a 27 de setembro de 2016
(continua)
Nota: Faz hoje sete mês que Maria Isabel Barreno faleceu.
Maria Teresa Horta (Lisboa, 20/5/1937)
Poetisa, colaboradora de diversos jornais e revistas, pertenceu ao grupo Poesia 61 e aos movimentos cineclubista e feminista, co-autora do livro: Novas Cartas Portuguesas (1972) com Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa, tendo ficado conhecidas internacionalmente por: “As Três Marias”.
Maria Isabel Barreno (Lisboa, 10/7/1939 – 03/09/2016)
Romancista, novelista, contista, ensaísta, autora de trabalhos sociológicos e de guiões para a televisão e cinema, colaboradora de jornais e revistas, integrou o Movimento Feminista de Portugal com as escritoras: Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, com as quais é co-autora de: Novas Cartas Portuguesas, tendo ficado conhecidas internacionalmente por: “As Três Marias”, licenciada em Ciências Histórico-Filosóficas.
Maria Velho da Costa (Lisboa, 26/6/1938)
Romancista, contista, ensaísta, galardoada com vários prémios literários, nomeadamente o Prémio Camões em 2002, co-autora do livro: Novas Cartas Portuguesas (1972) com Maria Isabel Barreno e Maria Teresa Horta, tendo ficado conhecidas internacionalmente por: “As Três Marias”, licenciada em Filologia Germânica, professora do ensino secundário.
https://lusografias.wordpress.com/2017/04/03/maria-teresa-horta-carta-ultima-para-maria-isabel-barreno-1-a-parte/
*** https://www.facebook.com/163002943815613/photos/a.181572488625325.37677.163002943815613/888186347963932/?type=3&theater
UM NOVO ANO
Conduz-nos o tempo
devagar
até um novo ano
por entre paixões
esperanças e ruínas
Conduz-nos o tempo
no seu extremo engano
ano, após ano, após ano
por entre dores
júbilos e vertigens
Conduz-nos o tempo
mudando
até um novo ano
por entre o sonho
princípios e ideais
A levar-nos voando
num segundo
até ao cabo do mundo
Lisboa, 27/28 de Dezembro de 2015-12-29
Na foto: uma cópia de «Voar», de Marc Chagall
da
Página no face
https://www.facebook.com/pages/Maria-Teresa-Horta-P%C3%A1gina-Oficial/163002943815613?hc_location=timeline
***
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VINTE E CINCO DE ABRIL
Este é um poema
com saudade da festa
Dias de vermelho
de damasco e de riso
Das horas de alegria
e de bandeiras,
de cravos rubros postos no vestido
Este é um poema
feito de memória
De pressa incontida
no passo corrido
De fala crescida
de prisões abertas
De escrita liberta
retomando o sentido
Este é um poema recordando
a mudança, da esperança
e do sonho acontecido
Com palavras
do corpo e de lembrança
Exigindo o futuro
a promessa e o grito
Este é um poema
cantando a liberdade
De lágrimas costuradas
suturando o sorriso
Ousando dizer da ambiguidade
da estranheza do novo
misturado ao antigo
Este é um poema
torneando o avesso
Da luz da madrugada
de uma noz de vidro
Do voo das gaivotas
junto à pele das águas
fazendo do Tejo o seu precipício
Este é um poema
de visitar a História
Da revolução o ganho
e também o perdido
Da viagem e do mar
da língua portuguesa
onde na paixão me encontro comigo
22/04/14
***
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SOMOS DEUSES
Queria dizer-te simplesmente
somos deuses meu amor
os outros não nos ferem
*
e se de ti me chega
o riso ardente
eu vou a correr na floresta
*
esquecendo que à hora
do poente
o som se afoga a ocidente
Escultura: Lovers, de Camille Claudel
*(LT)
***
LEVEMOS PARA A RUA A LIBERDADE
Levemos
para a rua a liberdade
de vermelho
Corpo de cravo
encarnado
de ilusão e devaneio
Num Portugal
maltratado por quem
lhe destrói o sonho
A promessa e o anseio
de luzeiro e de archote
a iluminar-lhe os princípios
No cumprir do passo alado
da amargura o contrário
no prosseguir libertário
de ideário e enredo
Levemos
para a rua a igualdade
com a raiz do feminino
A palavra e a poesia
de invenção e desígnio
no seu próprio labirinto
Aviso de sobressalto
entre a quimera e o perene
o quebrado e o unido
01 Maio 2014
(gravura reproduzida, com a devida vénia, de
***
https://www.facebook.com/andante.associacao.artistica/photos/a.813019032085331.1073741828.132465900140651/877699158950651/?type=1&theater
Fulgor
Tacteio à minha
volta
e é só fulgor
Tento deslumbrar
o sol que cega
Demoro-me demasiado
no calor
Para a minha sede
nenhuma água chega
A ilustradora: https://www.facebook.com/
***
https://www.facebook.com/ALuaVoa/photos/a.746679182114157.1073741828.746659858782756/771819646266777/?type=1&theater
DE AMOR
Falar da paixão
mais do que o sangue
*
Mais do que fogo
trazido ao coração
*
Mais do que a rosa acesa
só por dentro
revolvendo no peito
a ponta de um arpão
*
Falar da febre sem fé
do animal feroz
*
Dos líquenes abertos
e dos lírios
*
Falar desassossego sem razão
uma raiva que silva
no delírio
*
Contar quanto dói a dor
no peito
Quanto é contraditória
esta prisão
que me faz ficar livre no que sinto
e logo envenenada à tua mão
*
("Destino")
***
https://www.facebook.com/349094905211303/photos/a.349115855209208.1073741828.349094905211303/612551532198971/?type=1&theater
Eis como o verão
se abre de manhã
a começar nas pedras e nas algas
Morno
flexível
um círculo aberto
na palma
de mão fechada
Sintoma branco de espuma
a predizer sob
um barco
horizontes de silêncio
em rua
desencontrada
Mulher deitada
num quarto
presença sombra desordem
ou árvore a vigiar
no começo
de uma estrada
Dentro da luz que suspende
na lâmpada
o espaço intacto
Verão de tacto na cidade
ao nível de uma
casa
Terra nome
ajoelhada
terra dor
ou terra margem
no início foi a porta
dum templo disseminado
(...)
em "Poesia Reunida"
***
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in INQUIETUDE (Quasi Edições, 2006)
AUTO-RETRATO
Eu sou outra em mim mesma
e sou aquela
Sou esta
dançando sobre as lágrimas
Sou o gozo
no gosto de ser espelho
e me faz multiplicar em todo o lado
Eu sou múltipla
veneno em minha veia
Estrangeira
rasgando o seu passado
Sou cruel
dúplice e sedenta
mil vezes morri no desamparo
Eu sou esta que nego
e a outra onde me afirmo
faço nela e naquela o meu retrato
E se na história desta me confirmo
na vida da outra não me traio
Feita de ambas à beira do abismo
sou a mesma mulher nascida em Maio
Técnica mista, por ©Lena Gal
***
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=823844070962009&set=a.462529847093435.111436.462489187097501&type=1&theater
Um outro tanto
Não sei como consigo
amar-te tanto
se querer-te assim na minha fantasia
é amar-te em mim
e não saber já quando
de querer-te mais eu vou morrer um dia
perseguir a paixão até ao fim é pouco
exijo tudo até perder-me
enquanto, e de um jeito tal que desconhecia
poder amar-te ainda
um outro tanto
in "Inquietude" quasi (06
***
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=865399426803446&set=a.187217524621643.47461.100000001913337&type=1&theater
NASCIMENTO DA ESCRITA
Como nasce a escrita?
Pelo cimo?
pelo livro folheado
à beira gosto?
Pelo caminho das pedras
ou pelas asas
do sonho?
Como nasce a escrita?
Pelo abismo do corpo,
na brevidade do espinho
ou da rosa
o seu desgosto?
Como nasce a escrita?
Pelo trilho
que nos leva da alma ao coração
Ou pelo desassossego
entre o verso
e a paixão?
Onde invento, crio e escrevo
Ou pelo seu lado inverso
onde a escrita é já o excesso
entre o papel e a mão?
(inédito)
Arte: Yevgenia Nayberg
Como nasce a escrita?
Pelo cimo?
pelo livro folheado
à beira gosto?
Pelo caminho das pedras
ou pelas asas
do sonho?
Como nasce a escrita?
Pelo abismo do corpo,
na brevidade do espinho
ou da rosa
o seu desgosto?
Como nasce a escrita?
Pelo trilho
que nos leva da alma ao coração
Ou pelo desassossego
entre o verso
e a paixão?
Onde invento, crio e escrevo
Ou pelo seu lado inverso
onde a escrita é já o excesso
entre o papel e a mão?
(inédito)
Arte: Yevgenia Nayberg
***
Escreveu
**
Via: http://www.novascartasnovas.com/images/other_media/doc/Horta_Web.pdf
Obras Publicadas
- Espelho Inicial (Faro: Edição do autor, 1960)
- Cidadelas Submersas (Covilhã: Pedras Brancas, 1961)
- Tatuagem (Faro: Edição do autor, 1961)
- Verão Coincidente (Lisboa: Guimarães Editores, 1962)
- Amor Habitado (Lisboa: Guimarães Editores, 1963)
- Candelabro (Lisboa: Guimarães Editores, 1964)
- Jardim de Inverno (Lisboa: Guimarães Editores, 1966)
- Cronista Não é Recado (Lisboa: Guimarães Editores, 1967)
- Minha Senhora de Mim (Lisboa: D. Quixote, 1967)
- Ambas as Mãos sobre o Corpo (Mem-Martins: Europa-América, 1970)
**
PAÍS FERIDO
Portugal anda aturdido
numa tristeza absorta
Até quando deixaremos
que lhe entreteçam a sombra?
Portugal anda sangrando
num estertor de país ferido
pelas armas do negrume
Via Deonilde Rocha
INSUBMISSÃO
Somos corsárias
febris
por areias dos desertos
Seguimos estrelas cadentes
e montando os nossos sonhos
cumprimos roteiros incertos
Vamos atrás das paixões
com o faim à cintura
e a pena no coração
Para escrevermos poesia
invertendo o cantochão
Com a arte da insídia
olhamos o horizonte alucinando
os oásis, abismando sortilégios
Escutamos os clamores
os oceanos celestes
nos silêncios dos desertos
Buscamos os infiéis
com olhos de expiação
Somos hábeis e seguras
ambíguas, doces, cruéis
nós partimos sem regresso
Ora flibusteiras
em horas de cerração
entre a paixão e o inverso
Ora piratas do limbo
abandonando os arquétipos
A cimitarra à cintura
e o júbilo no coração
pelo avesso dos versos
Somos a rosa e o espinho
a sombra no seu desvão
Entre o fuso e o enigma
a navalha entreaberta
e os nevoeiros secretos
Somos corsárias
sonhando
nas areias dos desertos
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=432113616870993&set=a.531054650310222.1073741825.100002170750922&type=3&theater
***
https://www.youtube.com/watch?v=uthqZdPzJkA
Luís Cília e Lia Gama cantam
SegredoNão contes do meu
vestido
que tiro pela cabeça
nem que corro os
cortinados
para uma sombra mais espessa
Deixa que feche o
anel
em redor do teu pescoço
com as minhas longas
pernas
e a sombra do meu poço
Não contes do meu
novelo
nem da roca de fiar
nem o que faço
com eles
a fim de te ouvir gritar
in “Poesia Completa”***
http://observador.pt/especiais/os-melhores-poemas-de-amor-da-lingua-portuguesa-para-nove-escritores/
Morrer de amor
ao pé da tua boca
ao pé da tua boca
Desfalecer
à pele
do sorriso
à pele
do sorriso
Sufocar
de prazer
com o teu corpo
de prazer
com o teu corpo
Trocar tudo por ti
se for preciso
se for preciso
in Destino