15/12/2014

9.231.(15dez2014.8.55') OIT alerta para crescente risco de pobreza entre as crianças... Presidente da Cáritas faz 1 importante entrevista...


Mia Couto resume muito bem:
A maior desgraça de uma nação pobre
é que em vez de produzir riqueza,
produz ricos!
Digo eu: 
Enquanto a super-maioria dos 99% 
do povo não perceber
que são mais
que têm mais força 
que os 1%
continuam a ter medo
e a eleger 
quem os lixa!!!

***
28feVER2018
a Cáritas d' Alcobaça e o anDANÇAS proMOVEM
uma caminhada solidária:
21h.hj o anDANÇAS tem caminhada solidária/Caritas...em Alcobaça que vos abRRaça
Foto de Cáritas Paroquial de Alcobaça.
https://www.facebook.com/caritasalcobaca/photos/gm.1841107206187811/648232532235157/?type=3&theater
*
Foto de AbrilAbril.
https://www.facebook.com/abrilabrilpt/photos/pb.135016033577220.-2207520000.1519810490./399803997098421/?type=3&theater
***


OIT alerta para crescente risco de pobreza entre as crianças


Em Portugal, os menores são o grupo etário mais afectado pela crise. Na União Europeia, austeridade levou 800 mil crianças à pobreza. Padre Jardim Moreira assegura que a pobreza vai para além do material.
A pobreza infantil tem vindo a aumentar com a crise económica e as políticas de austeridade, de acordo com um relatório publicado terça-feira pela Organização Internacional do Trabalho. Em Portugal, uma em cada quatro crianças corre o risco de pobreza.
A taxa de risco de pobreza para menores de 18 anos foi de 24,4%, em 2012. A conclusão é do Inquérito às Condições de Vida e Rendimento, realizado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). Esta taxa tem vindo a crescer e faz das crianças e dos jovens portugueses o grupo com maior risco de pobreza.

Investigador do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do ISCTE, Renato Carmo relaciona a pobreza infantil com a pobreza familiar e destaca os três perfis familiares com taxas de risco de pobreza mais elevados: famílias monoparentais (com uma taxa de risco de pobreza de 33,6%), famílias numerosas (40,4%) e famílias com pais no desemprego.
Os dados do INE referem que a taxa de risco de pobreza das famílias com crianças dependentes foi de 22,2%, em 2012, o que representa um aumento da “desvantagem relativa face ao valor para o total da população residente”, que foi de 18,7%.

Para Eugénio Fonseca, presidente da Cáritas Portuguesa, estes valores não são uma novidade: “Temos vindo a afirmar o crescimento e agravamento da pobreza junto das crianças portuguesas”, relembra.
 
O padre Jardim Moreira também não se deixa surpreender com os dados estatísticos. Diariamente, convive com casos de pobreza infantil no Centro Social e Paroquial de Nossa Senhora da Vitória, no Porto, que acolhe cerca de 140 crianças, a maioria sem família ou com famílias instáveis e com problemas económicos. Jardim Moreira afirma que “estas crianças têm a pobreza como herança, nascem e vivem sem grandes horizontes” e explica que muitas destas subsistem apenas com o que comem nas escolas e cantinas.
Perante este panorama, a Cáritas criou o programa “Prioridade às Crianças”. Eugénio Fonseca explica ao PÚBLICO: “Constatamos que as crianças que só fazem uma refeição ficam mais vulneráveis a doenças e mais condicionadas em termos cognitivos, o que se vai reflectir no seu rendimento escolar”.

O investigador Renato Carmo realça as consequências da pobreza a médio e a longo prazo: “O insucesso escolar conduz ao abandono escolar, que, por sua vez, dificulta o acesso ao mercado de trabalho.” Segundo estatísticas da Pordata, em 2012, o abandono escolar entre os 18 e os 24 anos ainda era de 19,2%.
O padre Jardim Moreira assegura que a pobreza vai para além do material: “Vive-se também uma pobreza de afectos, cultural e espiritual.”
“Em Portugal, a pobreza costumava estar associada à população idosa, mas um conjunto de políticas públicas muito positivas reduziu a pobreza entre os mais velhos”, explica Renato Carmo. A situação inverteu-se e agora são os mais novos que estão mais susceptíveis a situações de pobreza e exclusão social. “Se houve políticas para os mais velhos que foram bem-sucedidas, agora essas políticas devem ser pensadas para os mais jovens”, defende.
Jardim Moreira afirma que as medidas de austeridade têm levado a cortes nos apoios à população infantil, nomeadamente nos abonos de família, e “a protecção do Governo fica-se pelas cantinas, o que é redutor”. O padre considera uma injustiça “continuar a dar por esmola aquilo que as crianças deviam ter acesso por direito”.
Renato Carmo defende o investimento em novas formas de protecção social para crianças e jovens — “devia ser preparado um plano integrado, de vários organismos e ministérios, com componentes monetárias, educativas, de saúde.”

Por sua vez, Eugénio Fonseca defende que “o Estado, juntamente com instituições de caridade e de apoio social, devia dar prioridade à alimentação de crianças” e propõe uma rede de segurança alimentar acessível às famílias. “O apoio podia passar pela entrega de alimentos ou pela entrega de subsídios pecuniários que representasse o custo real de alimentação de uma criança”, esclarece.
Intervenção da política
O presidente da Cáritas Portuguesa reclama uma maior intervenção política: “Acima do pagamento da dívida soberana, estão as pessoas, nomeadamente as mais frágeis, como as crianças.”

O impacto das políticas de austeridade nas crianças faz-se notar também noutros países da União Europeia (UE). De acordo com o Relatório sobre Protecção Social no Mundo 2014/2015, publicado na terça-feira pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), entre 2007 e 2012, a pobreza infantil aumentou em 19 dos 28 países da UE.

No documento, pode ler-se que “as medidas de consolidação e ajustamento fiscal nos países de rendimentos mais elevados ameaçam o progresso na segurança de renda das crianças e suas famílias”. Essas medidas foram tomadas na sequência da crise financeira e económica de 2008. Em média, os governos da Europa Ocidental atribuem 2,2% do PIB a benefícios para crianças e famílias.

Em 2012, havia cerca de mais 800 mil crianças na pobreza do que em 2008. Segundo o relatório, o aumento da pobreza e da desigualdade resultou não apenas da recessão global, “mas também de decisões políticas específicas de redução das transferências sociais e de limitação do acesso a serviços públicos de qualidade”, que se juntam “ao desemprego persistente, salários baixos e impostos mais altos”.

A nível mundial, morrem diariamente cerca de 18 mil crianças devido a causas passíveis de prevenção através de uma protecção social adequada.
***
Eugénio da Fonseca
Presidente da Cáritas:
“O sistema capitalista tem tido um mérito muito grande.” Um mérito que joga a favor do próprio sistema, “claro”. E que mérito é esse? “Põe os pobres contra os pobres. É o povo que aponta o dedo. E os mais populistas aproveitam esta forma de estar...”

"Se as crianças são menos saudáveis vamos ter mais encargos com saúde, se são mais revoltadas, vão ser mais anti-sociais, e isso paga-se... Há muitos anos, um economista calculou o que um jovem gastou ao Estado numa só noite, a partir de um assalto que fez. Gastou mais nessa noite ao Estado do que se se tivesse investido na sua educação, nos primeiros anos de vida. Gastou no carro que assaltou, na montra que partiu, na fuga, no atropelamento que fez e, eventualmente, por ter ficado ferido com danos irremediáveis que o tornaram para sempre um dependente da sociedade... Esta sociedade capitalista quer resultados, quer os máximos resultados num curto prazo, e não previne."

 "A Europa hoje traiu o ideal dos seus fundadores, é comandada por dois ou três países economicamente mais seguros — até ver —, e não tem sido nada solidária com os países periféricos. A crise bateu forte nestes países, nalguns, é verdade, por governação desgovernada — porque não foram todos responsáveis pela crise, não digam que foram todos porque não foram!"
Quando se diz que a culpa é de todos, não é verdade!

"Essa ideia vem geralmente acompanhada de outra: a de que o país tinha todo que empobrecer um bocadinho...
Ideia perversa. Não foi isso que aconteceu com esta crise. A riqueza de alguns continuou a aumentar, continuou a aumentar o número de ricos."

"Eu compreendo que a dívida tem que ser aliviada. Agora, primeiro que a dívida estão as pessoas. Quando veio o memorando e se percebeu que ele foi construído com bases não realistas (porque uma parte da dívida não estava identificada), este Governo devia ter imposto à troika uma revisão imediata... O memorando devia ter sido revisto, a dívida deveria ser paga num maior espaço de tempo e com taxas solidárias — porque estas taxas impostas pelo Banco Central Europeu são altamente injustas, não estão a baixar a dívida, estão a aumentar a dívida."
***
Via Público




“Estigmatizamos os pobres em vez de

 estigmatizarmos a pobreza”


O pretexto era mais uma campanha de venda de velas, neste Natal, para angariar fundos. Mas Eugénio Fonseca, presidente da Cáritas Portuguesa, falou sobretudo do país, da pobreza infantil, daquilo onde, na sua opinião, nunca se devia cortar. “As crianças e os mais velhos não dão lucro. Na óptica desta economia são despesa.”

http://www.publico.pt/sociedade/noticia/estigmatizamos-os-pobres-em-vez-de-estigmatizarmos-a-pobreza-1679100
“Se as crianças são menos saudáveis, vamos ter mais encargos com saúde; se são mais revoltadas, vão ser mais anti-sociais” ENRIC VIVES-RUBIO
Ironiza um pouco: “O sistema capitalista tem tido um mérito muito grande.” Um mérito que joga a favor do próprio sistema, “claro”. E que mérito é esse? “Põe os pobres contra os pobres. É o povo que aponta o dedo. E os mais populistas aproveitam esta forma de estar...” A entrevista a Eugénio Fonseca, presidente da Cáritas Portuguesa, acontece no mês do Natal, quando nas mesas da sede da Cáritas, em Lisboa, se multiplicam velinhas de todas as cores — destinadas a serem vendidas em mais uma campanha de angariação de fundos, num ano em que a pobreza infantil está em destaque em muitas das iniciativas típicas da época. Uma em cada três crianças portuguesas está em risco de pobreza ou exclusão social.

O que é ser uma criança pobre em Portugal?
É não ter possibilidade de fazer o número de refeições que se considera que são necessários. Temos crianças que, se não fosse a escola ou alguma Instituição Particular de Solidariedade Social em que estão, não teriam acesso a uma refeição digna. Para muitas, a única completa do ponto de vista dos nutrientes é a que recebem na escola ou na instituição. Depois, é não ter acesso a cuidados de saúde que são determinantes para superar doenças que se podem tornar crónicas. E não ter acesso a todos os recursos educativos que a generalidade das crianças têm. Quando digo recursos digo material escolar, apoio escolar para reforço das aprendizagens. Porque uma criança se não é bem alimentada, se dorme em condições precárias, tem um risco acrescido de contrair doenças e de insucesso escolar. Outro risco ainda é um que não estamos a acautelar devidamente e que está a tomar proporções próximas daquelas que existiam antes do 25 de Abril: o abandono escolar.

Acha que está a aumentar?
Está a aumentar. Por causa das carências económicas, da falta de recursos, mas também devido ao paradigma com que as crianças se confrontam: estar numa turma, perguntarem-lhes se trouxeram o computador, a maior parte levantar o braço e haver dois ou três que não levantam... Para esses dois ou três isto não cria vontade de ir à escola. Por outro lado, há crianças que já trazem consigo uma história, de pobreza geracional, e a escola não tem conseguido saber ser um espaço de integração. Pelo contrário, é um espaço de competição. E estas crianças são resilientes a muitas coisas, mas não são resilientes a uma competição que apela a um esforço cognitivo, que envolve também num esforço emotivo... a nossa escola não está projectada para atender personalizadamente a cada um destes casos.

O ambiente é hoje mais desfavorável para as crianças?
Não é hoje. É há muito. Simplesmente agora veio ao de cima porque o que tem fomentado isso colapsou. O sistema económico e financeiro que nos orienta só valoriza o que dá lucro, põe em primeiro lugar o que tem preço. E as crianças e os mais velhos não dão lucro. Na óptica desta economia são despesa. Aliás, na óptica de muitos governos, os investimentos que se fazem na educação, na saúde, na segurança social são despesa. E não se consegue ter o alcance político de perceber que podendo ser despesa num tempo concreto, vão ser, no futuro — e usando a mesma linguagem capitalista —, lucro.

Se as crianças são menos saudáveis vamos ter mais encargos com saúde, se são mais revoltadas, vão ser mais anti-sociais, e isso paga-se... Há muitos anos, um economista calculou o que um jovem gastou ao Estado numa só noite, a partir de um assalto que fez. Gastou mais nessa noite ao Estado do que se se tivesse investido na sua educação, nos primeiros anos de vida. Gastou no carro que assaltou, na montra que partiu, na fuga, no atropelamento que fez e, eventualmente, por ter ficado ferido com danos irremediáveis que o tornaram para sempre um dependente da sociedade... Esta sociedade capitalista quer resultados, quer os máximos resultados num curto prazo, e não previne.

Nos últimos três anos tem havido cortes significativos...
Há uma parte que compõe a troika, a dos nossos parceiros europeus, que é a mais inflexível. A Europa hoje traiu o ideal dos seus fundadores, é comandada por dois ou três países economicamente mais seguros — até ver —, e não tem sido nada solidária com os países periféricos. A crise bateu forte nestes países, nalguns, é verdade, por governação desgovernada — porque não foram todos responsáveis pela crise, não digam que foram todos porque não foram!

Todos os cidadãos?
Sim. Quando se diz que a culpa é de todos, não é verdade!

Essa ideia vem geralmente acompanhada de outra: a de que o país tinha todo que empobrecer um bocadinho...
Ideia perversa. Não foi isso que aconteceu com esta crise. A riqueza de alguns continuou a aumentar, continuou a aumentar o número de ricos.

Eu compreendo que a dívida tem que ser aliviada. Agora, primeiro que a dívida estão as pessoas. Quando veio o memorando e se percebeu que ele foi construído com bases não realistas (porque uma parte da dívida não estava identificada), este Governo devia ter imposto à troika uma revisão imediata... O memorando devia ter sido revisto, a dívida deveria ser paga num maior espaço de tempo e com taxas solidárias — porque estas taxas impostas pelo Banco Central Europeu são altamente injustas, não estão a baixar a dívida, estão a aumentar a dívida. E, pelos vistos, não estão satisfeitos porque querem exigir que países como a Grécia e Portugal cumpram mais medidas de reajustamento económico. A Grécia já reagiu — foi sempre mais indisciplinada e com isso teve sempre mais benesses. Espero que Portugal não ceda. Porque o orçamento que está previsto para 2015 já é bastante penoso. Numa altura de crise, de fragilidade como a que estamos a viver, nunca se deve mexer naquilo que pode criar alguns equilíbrios. Ter reduzido as prestações sociais...