29/04/2020

7.796.(29abril2020.16.16) António Abreu escreve sobre a II GGuerra

Nasceu a
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Tenho a imagem dele e do Guterres a saltarem para cima de 2 mesas na cantina do Técnico, para anunciarem uma luta...
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Foi candidato a PRepública e teve um péssimo resultado
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Escreve para Abrilabril

António Abreu

António Abreu

Engenheiro químico Mais

Engenheiro químico, casado, com duas filhas e três netos. Filho de pais comunistas, aderiu ao PCP em 1969. Foi dirigente estudantil no Instituto Superior Técnico, entre 1966 e 1972, e activista da CDE, em 1969 e 1973, tendo neste ano sido candidato em Lisboa. Passou à clandestinidade em Janeiro de 1974, primeiro no Norte e depois na região de Lisboa. Foi vereador da Câmara Municipal de Lisboa, entre 1993 e 2005.
VI artigo e último
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V artigo
28ab2020

Crimes dos nazis, fascistas e militaristas japoneses na 2.ª Guerra Mundial




Prisioneiros em campo de concentração nazi

Prisioneiros em campo de concentração nazi Créditos / lasegundaguerramundialinformacion.blogspot.com
A Segunda Guerra Mundial despertou as mais horríveis ideias nos invasores e agressores. Os actos cometidos durante este período são, até hoje, alguns dos mais terríveis da história e, de alguma forma, grande parte deles conseguiu ficar escondida no tempo.
Sabemos que alguns métodos de tortura desumanos foram testados, assim como algumas experiências inimagináveis, mas muitas dessas histórias permanecem escondidas. Descobrir todas as atrocidades que foram cometidas pelos mais diversos países durante esta guerra mortal não tem sido tarefa fácil, mas é essencial para escrever a História.

Os crimes dos nazis

Os nazis foram responsáveis ​​pelo Holocausto que se traduziu no assassinato de cerca de seis milhões de judeus provenientes da Europa Central e Europa Oriental, prisioneiros de guerra soviéticos, ciganos e outras minorias para eles «indesejáveis».
A polícia secreta dos nazistas, a Gestapo, ficou mundialmente conhecida depois dos seus crimes contra a Humanidade.
Em 20 de julho de 1942, Willem Keitel, alto comandante das forças armadas nazis, assinou uma ordem determinando que os presos soviéticos de Auschwitz que persistissem em sobreviver deveriam ser marcados com um ferro em brasa e especificava: «A marca deverá ter a forma de um ângulo de cerca de 45º, cujo lado maior medirá um centímetro, voltado para cima e será gravado com um ferro em brasa na nádega esquerda (...)».
Um aspecto que durante muito tempo foi pouco conhecido, foi o das chamadas experiências «médicas». O grau de horror foi tal que apenas revistas profissionais puderam imprimir in extenso o que foi verbalmente exposto no Tribunal de Nuremberga.
A primeira série de experiências dizia respeito ao reaquecimento de aviadores caídos no mar. Consistia em mergulhar os prisioneiros com o seu equipamento de couro em piscinas de água gelada, uns até ao pescoço e outros até à altura do cabelo. A congelação progressiva era observada, medida e cronometrada. Na devida altura, interrompia-se o suplício para experimentar diversos métodos de reanimação.
Uma segunda série de experiências relacionava-se com os efeitos da compressão e descompressão no organismo humano. Eram pretensas investigações com interesse para os aviadores de grande altitude que tinham descido de para-quedas. Instalaram-se redomas experimentais no campo de Dachau e os médicos carrascos tiravam apontamentos enquanto as vítimas sofriam, em todas as células do corpo, a mais terrível das agonias.
Realizaram-se experiências de outros géneros em diversos campos, nomeadamente ferimentos com projectéis envenenados, experiências com gás asfixiante ou outros produtos tóxicos, inalações de micróbios (peste, lepra e outros), trabalhos de vivissecção, de enxertos ósseos e de esterilização.
A Bayer comprava em Auschwitz, para os seus laboratórios, mulheres a 200 marcos cada. Homens e mulheres cobaias eram queimados, golpeados, torturados, mutilados e lentamente assassinados.
A técnica do despovoamento consistia na «deslocação de unidades raciais inteiras» e na eliminação de «milhões de seres de raça inferior que se multiplicam como vermes».
Organizavam-se mercados de escravatura branca para os soldados alemães.
Heinrich Himmler, chefe das SS, a 4 de Outubro de 1942, perante a elite dos seus oficiais, justificava essa pilhagem biológica da seguinte maneira: «entre os produtos desses cruzamentos haverá certamente alguns tipos raciais bons. Acho, portanto, que temos o dever de tirar essas crianças do seu meio, de as roubar se for preciso, e de as levarmos connosco (…). Anexaremos o sangue de boa raça, e dar-lhe-emos o seu lugar no seio do nosso povo. O excedente será destruído».
E Himmler concluía a ideia: «devemos ser honestos, decentes, leais e bons camaradas, para com as pessoas do mesmo sangue que o nosso, mas só com elas. O que acontece aos russos e checos é-me completamente indiferente (…). O facto de as populações prosperarem ou morrerem apenas me interessa na medida em que possamos precisar delas como escravos da nossa Kultur».
Estes objectivos, transcritos dos dois discursos de Posen, em que advogava abertamente a «Solução Final», foi uma peça essencial para a acusação no Tribunal de Nuremberga.
R. Walther Darre, Ministro da Agricultura do Reich, em discurso reproduzido na revista Life de dezembro de 1940, anunciava também «devemos criar uma nova aristocracia de senhores alemães. Essa aristocracia deve possuir escravos, estes devem constituir propriedade dela, devem estar desvinculados da terra e não devem ser alemães».
Em 1943 havia cerca de dois milhões de escravos na Alemanha a trabalharem para os «senhores» alemães.
Os escravos eram mantidos nas mais deploráveis condições de miséria e sordidez. Morriam de fome e de doenças aos milhares, mas havia sempre novas remessas vindas das regiões ocupadas.
Nos dias de mercado, as donas de casa, os comerciantes e lavradores juntavam-se em grande número à volta dos redis de arame farpado, para apreciarem os recém-chegados. Os escravos eram retirados dos campos, acompanhados por guardas nazis, armados de pistolas e de chicotes, e levados aos locais de mercados.
Os compradores apalpavam os músculos dos escravos, homens e mulheres, faziam-lhes ressoar as caixas torácicas e examinavam-lhes os dentes. Por ordem governamental o preço de cada escravo, homem ou mulher, variava entre os dez e os quinze Reichmarks.
Os judeus, insistia Hitler, eram «meros parasitas». «Na Polónia, tal estado de coisas foi já resolvido no fundamental. Se os judeus não quiserem trabalhar são abatidos e se quiserem trabalhar sucumbirão ao trabalho». Explicava Hitler que «devem ser tratados como o bacilo da tuberculose que infecta um corpo saudável. Não se trata de uma crueldade, quando nos lembramos que até criaturas inocentes, como as lebres e os veados, são mortas embora não façam mal a ninguém». E Hitler advertia, «as Nações que não se livrarem dos judeus, estão condenadas a desaparecer».
Quando entraram em Auschwitz, as tropas soviéticas descobriram 648 cadáveres mais de sete mil sobreviventes esqueléticos e famintos. Em Auschwtiz-Birkenau estavam 5800 judeus. No campo principal de Auschwitz encontraram 1200 polacos. Em Monowitz depararam-se com 650 trabalhadores escravos de diversas nacionalidades. Descobriram também as ruínas de 29 enormes armazéns que as SS tinham incendiado antes da retirada.
No entanto, seis desses depósitos tinham escapado à destruição e no seu interior encontraram 836 258 vestidos de mulher, 348 mil fatos de homem e 38 mil pares de sapatos de homem.
Muitos milhares de pessoas foram mortas nas câmaras de gás. Este «trabalho» exigia um trabalho computorizado que a IBM assegurava com cartões perfurados…
As pessoas, nuas (os homens primeiro, depois as mulheres e por fim as crianças), eram dirigidas ou empurradas da casa de banho para dentro das escuras estruturas de cimento, nas quais se metiam 200 ou 250 pessoas em cada, e do tecto das quais, de 20 em 20 metros, saiam torneiras da parede.
Havia apenas uma pequena claraboia no tecto e um olho mágico na porta. Em vez do duche, começava então o processo de gazeamento. Em primeiro lugar, uma certa quantidade de ar quente era insuflada pelo tecto e, depois, caía uma chuva de cristais azul claros de cyclon que rapidamente se evaporavam em contacto com o ar quente. Num breve espaço de dois a dez minutos estavam todos mortos.
Para cada vítima, a fase derradeira era a dos fornos crematórios.
Ao lado, numas grandes mesas de operações, especialistas examinavam todos os corpos antes de serem introduzidos nos fornos, extraindo-lhes primeiro as obturações de ouro.
Mesmo depois de mortos os deportados eram ainda uma fonte de riqueza para as SS. O ouro dentário dos cadáveres enchia, às toneladas, o tesouro das SS. No decorrer do processo de Nuremberga avaliou-se em 60 toneladas o peso dos cabelos fornecidos pelo campo em Auschwitz. Parte dos cabelos era entregue a fábricas de feltro. Os ossos eram calcinados e vendidos ou moídos para o fabrico de superfosfatos.
A terrível frase que em todos os campos as SS se divertiam a repetir, à chegada de cada um dos comboios de prisioneiros, adquiria um significado tenebroso: «Aqui entra-se pela porta e sai-se pela chaminé.»

Os crimes dos imperialistas japoneses

Se os alemães mataram seis milhões de judeus e 20 milhões de cidadãos soviéticos, os japoneses assassinaram cerca de 30 milhões de filipinos, malaios, vietnamitas, cambojanos, indonésios e birmaneses e pelo menos 23 milhões de chineses étnicos.
Ambas as nações saquearam os países conquistados, numa escala monumental, embora os japoneses tenham pilhado mais, por um período mais longo, do que os nazis. Ambos escravizaram milhões de prisioneiros e exploraram como trabalhadores forçados – e, no caso dos japoneses, como prostitutas forçadas para tropas nas linhas de frente.
Os campos de prisioneiros de guerra do Japão, muitos dos quais foram utilizados como campos de trabalho, também tiveram altas taxas de mortalidade. O Tribunal Militar Internacional para o Extremo Oriente concluiu que a taxa de mortalidade de prisioneiros ocidentais foi de 27,1% (para os prisioneiros de guerra norte-americanos, 37%, sete vezes maior do que os prisioneiros de guerra dos alemães e italianos. Apesar de 37 583 prisioneiros do Reino Unido, 28 500 da Holanda e 14 473 dos EUA terem sido libertados após a rendição do Japão, o número de chineses foi de apenas 56!...
A taxa de mortalidade dos prisioneiros de guerra chineses era muito maior porque por orientação, ratificada em 5 de Agosto de 1937 pelo imperador Hirohito, foram retiradas restrições da lei internacional quanto ao tratamento daqueles prisioneiros

Os crimes dos japoneses contra o povo chinês

A Segunda Guerra sino-japonesa foi marcada, primeiramente, pela brutalidade do exército japonês em relação ao chinês, uma vez que o primeiro se voltava violenta e indiscriminadamente contra civis e militares. Além disso, uma segunda característica desse conflito foi a incapacidade dos exércitos chineses de organizar uma resistência eficaz contra os exércitos inimigos, o que teria irritado bastante os americanos ao entrarem no conflito em 1941.
Em 1937, o Japão avançou rapidamente sobre parte do litoral e garantiu o controle de Pequim e Nanquim, duas grandes cidades chinesas. Em Nanquim, aconteceu o incidente que ficou marcado pela brutalidade institucionalizada no exército japonês durante esse período de guerras: o estupro de Nanquim.
Os massacres e o estupro de Nanquim aconteceram entre 1937 e 1938 quando tropas japonesas invadiram a cidade de Nanquim e impuseram um verdadeiro massacre sobre a população local. Além disso, houve estupros em massa pela cidade – os historiadores calculam que cerca de 20 mil mulheres tenham sido estupradas, inclusive crianças. O massacre de civis em Nanquim pode ter chegado a 300 mil mortes.
A execução e o estupro indiscriminado de civis não ocorreram somente em Nanquim, mas foram uma prática comum do exército japonês em toda a guerra. Outra evidência da brutalidade japonesa foi a Unidade 731, unidade secreta criada com o intuito de fazer testes biológicos em prisioneiros chineses. Milhares de chineses capturados foram assassinados em testes feitos na base da unidade, perto de Harbin, muitos submetidos a vivissecção sem o benefício de anestésicos. Algumas vítimas eram amarradas em estacas para que bombas de antraz fossem detonadas à sua volta. Houve muitas mulheres infectadas com sífilis em laboratório. E os civis da região foram sequestrados e injetados com vírus fatais.
Muitos dos responsáveis por atrocidades na China foram julgados pelos Aliados no Tribunal Militar Internacional para o Extremo Oriente.
Os militares japoneses assassinaram cera de seis milhões de chineses, indonésios, coreanos, filipinos e indochineses, entre outros, incluindo prisioneiros de guerra ocidentais. Só na China, no período 1937-45, aproximadamente 3,9 milhões de chineses foram assassinados, principalmente civis, como resultado direto das operações japonesas e 10,2 milhões no curso da guerra.
Os prisioneiros de guerra eram enviados para campos de concentração (ou de trabalho) e passavam por situações deploráveis. A Kempeitai podia sujeitar seus presos a condições miseráveis, tortura e morte. Os presos eram obrigados a fazer trabalhos forçados e estavam constantemente a enfrentar a fome, doenças e condições climáticas.
Depois de invadirem e conquistarem Singapura, os japoneses iniciaram a operação Sook Ching. A Kempeitai considerou que todos os homens chineses de 15 a 50 anos representavam um perigo iminente e obrigou-os a passar por uma selecção. Aqueles que cumpriam esse pré-requisito, teriam que responder a alguns questionamentos que acabariam por decidir o seu futuro.
Aqueles que fossem considerados comunistas, nacionalistas ou membros de alguma sociedade secreta eram executados. O mesmo aconteceu aos que falassem inglês, tivessem alguma tatuagem, fossem funcionários públicos, professores, veteranos ou criminosos. Os outros eram marcados com a palavra «examinado» e eram libertados.
Durante as Guerras Sino-Japonesa e a Segunda Guerra Mundial, aproximadamente 200 mil mulheres foram obrigadas, pelos militares, a prostituírem-se com eles. Elas foram enviadas como escravas sexuais para todo o leste da Ásia e ficaram conhecidas como «mulheres de conforto». A maioria delas eram coreanas e algumas das jovens tinham apenas 16 anos. A violência sexual enfrentada por elas durou anos e acontecia diversas vezes consecutivas.
No ano de 2015, o primeiro ministro do Japão fez uma declaração oficial, desculpando-se pelo ocorrido. As 46 mulheres sobreviventes até aquele ano, receberam cerca de 200 mil dólares cada.
A unidade militar conhecida como Unidade 731 foi responsável por preparar armas químicas e matar milhares de pessoas. Um teste com «bombas de peste» foi feito na tentativa de descobrir se essas armas infectadas seriam capazes de causar um surto de doença no local em que fossem lançadas. A pesquisa surtiu o efeito imaginado e acabou por matar cerca de três mil civis chineses.
Outros testes absurdos foram feitos por eles e resultaram, no total, na morte de 300 mil pessoas. Dentre as atrocidades cometidas por eles estava a colocar pessoas em câmaras de pressão para ver quanto tempo o corpo humano suportava antes de explodir, infectar civis com doenças, dissecar pessoas doentes para examinar o efeito que era causado sobre elas e congelar prisioneiros até a morte para entender melhor o seu comportamento nessas condições.
A cidade chinesa de Xangai, foi ocupada pelos japoneses em 1937. E, desde então, aqueles que se opusessem ao comando japonês eram considerados anti-japoneses e, consequentemente, enviados para a Bridge House. O prédio, conhecido por esse nome, ficava na própria cidade e era comandado pelos Kempeitai. O local foi usado para execuções por decapitação e teve como um de seus alvos principais o editor de tabloides anti-japoneses, Cai Diaotu.
Segundo o historiador Zhifen Ju, pelo menos cinco milhões de civis chineses do norte da China e de Manchukuo foram escravizados pelo Conselho de Desenvolvimento da Ásia Oriental, ou Kōain, entre 1935 e 1941, para trabalhar nas minas e indústrias de guerra. Após 1942, esse número atingiu cerca de 10 milhões.
A Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos estima que, em Java, entre quatro e dez milhões de romushas (em japonês: «trabalhadores braçais») foram forçados a trabalhar pelos militares japoneses. Cerca de 270 000 destes trabalhadores javaneses foram enviados para outras áreas dominadas pelos japoneses no Sudeste Asiático e somente 52 000 foram repatriados para Java.

Crimes japoneses contra outros povos

Durante uma disputa na Índias Orientais Holandesas cerca de 200 militares britânicos se encontraram encurralados la ilha de Java. Mesmo tomados pelos japoneses os militares permaneceram lutando enquanto podiam. Mas, a Polícia Secreta do Japão, a Kempeitai, aprisionou-os dentro de gaiolas de bambu, que ficaram conhecidas como «cestas de porco». Depois de tudo isso, todos eles ainda foram executados de forma cruel. Eles foram jogados no oceano, fazendo com que uma parte deles acabasse morrendo afogada, enquanto a outra acabou sendo devorada, ainda viva, por tubarões.
Os japoneses usaram campos de trabalho ou de concentração, que, para além da China, também foram utilizados pelos japoneses em diversos pontos do leste da Ásia. Os prisioneiros de guerra eram enviados para o local e passavam por situações deploráveis. Eles eram controlados pela Kempeitai, que podia sujeitar os seus presos a condições miseráveis, tortura e morte. Os presos do local eram obrigados a fazer trabalhos forçados e estavam constantemente enfrentando a fome, doenças e as condições climáticas.
Uma das principais preocupações dos reclusos de regiões frias, como em Mukden, era a morte por congelamento. Enquanto, aqueles em áreas quentes, como Sandakan, temiam as doenças tropicais às quais estavam expostos.
Depois de invadirem e conquistarem Singapura, os japoneses iniciaram a operação Sook Ching. A Kempeitai considerou que todos os homens chineses de 15 a 50 anos representavam um perigo iminente e os obrigou a passar por uma selecção. Lá, todos aqueles que cumpriam esse pré-requisito, teriam que responder a alguns questionamentos que, consequentemente, decidiriam o seu futuro.
Aqueles que fossem considerados comunistas, nacionalistas ou membros de alguma sociedade secreta seriam executados. Assim como aqueles que falassem inglês, tivessem alguma tatuagem, fossem funcionários públicos, professores, veteranos ou criminosos. Os outros, que não apresentavam risco aparente, eram marcados com a palavra «examinado» e eram libertados.
Durante as Guerras Sino-Japonesas e a Segunda Guerra Mundial, aproximadamente 200 mil mulheres foram obrigadas, pelos militares, a prostituírem-se com eles. Elas foram enviadas como escravas sexuais para todo o leste da Ásia e ficaram conhecidas como «mulheres de conforto». A maioria delas eram coreanas e algumas tinham apenas 16 anos. A violência sexual enfrentada por elas durou anos e acontecia diversas vezes consecutivas.
No ano de 2015, o primeiro ministro do Japão fez uma declaração oficial desculpando-se pelo ocorrido. As 46 mulheres sobreviventes, até aquele ano, receberam cerca de 200 mil dólares cada uma.
A unidade militar conhecida como Unidade 731 foi responsável por pesquisar armas químicas e matar milhares de pessoas. Na busca por algumas respostas, o grupo acabou agindo de forma completamente desumana e aterrorizante. Um teste com «bombas de peste» foi feito na tentativa de descobrir se essas armas infectadas seriam capazes de causar um surto de doença no local em que seria laçada. A pesquisa surtiu o efeito imaginado e acabou matando cerca de 3000 civis chineses.
Outros testes criminosos foram feitos por eles e resultaram, no total, na morte de 300 mil pessoas. De entre as atrocidades cometidas estava a colocação de pessoas em câmaras de pressão para ver quanto tempo o corpo humano suportava antes de explodir, infectar civis com doenças, dissecar pessoas doentes para examinar o efeito que era causado sobre elas e congelar prisioneiros até a morte para entender melhor o facto.
A ilha Guam foi tomada pelos japoneses em 1944 e resultou em grandes desastres. Depois que eles começaram a perder o controlo sobre o local, a polícia secreta japonesa, a Kempeitai, acabou por agir de forma tresloucada. Começaram a torturar, estuprar, decapitar e disparar contra os civis da ilha. O acto atroz ficou bem conhecido depois do ocorrido.

Os crimes dos fascistas italianos

Em 1923, Benito Mussolini, iniciou uma campanha para consolidar o controle sobre o território italiano da Líbia e as forças italianas começaram a ocupar grandes áreas deste país para permitir o estabelecimento rápido por colonizadores italianos.
Foram recebidos com resistência pelos Senussi, que eram liderados por Omar Al-Mukhtar, um herói da resistência que viria a ser enforcado pelos fascistas. Os civis suspeitos de colaboração com os Senussi foram executados. Os refugiados do conflito foram objecto de bombardeamentos e metralhados por aviões italianos.
Em 1930, no Norte da Cirenaica, cerca de 20 mil Beduínos foram realocados e sua terra foi dada aos colonos italianos. Os Beduínos eram forçados em marcha através do deserto em campos de concentração. A fome e outras más condições nos campos eram predominantes, e os deslocados foram utilizados em trabalho forçado, o que acabou levando à morte de cerca de 4 mil internados até os campos serem encerrados em setembro de 1933. Mais de 80 mil habitantes da Cirenaica morreram durante o processo de Pacificação.
Durante a Segunda Guerra Ítalo-Etíope, existem provas documentais, de violações italianas das leis de guerra. Que incluíam a utilização de armas químicas, tais como o gás mostarda, o uso de campos de concentração e ataques a instalações da Cruz Vermelha.
De acordo com o governo da Etiópia, a invasão italiana provocou 382 800 mortes de civis: 17 800 mulheres e crianças mortas por bombardeios, cerca de 30 mil pessoas foram mortas no massacre de Fevereiro de 1937, cerca de 35 000 mil morreram em campos de concentração e cerca de 300 mil pessoas morreram de privações devido à destruição das suas aldeias e fazendas.
O governo Etíope também afirmou que os italianos destruíram cerca de 2000 igrejas e 525 mil casas, confiscaram ou abateram perto de seis milhões de bovinos, sete milhões de ovelhas e cabras e 1,7 milhões de cavalos, mulas e camelos.
Durante a ocupação italiana de 1936-1941, também ocorreram atrocidades, em Fevereiro de 1937. Nos massacres de Yekatit 12 (data do calendário etíope) cerca de 30 mil etíopes podem ter sido mortos e muitos mais presos como represália pela tentativa de assassinato do Vice-rei Rodolfo Graziani. Milhares de etíopes morreram também em campos de concentração, como Danane e Nocra.
Na Guerra Civil de Espanha, cerca de 75 mil soldados italianos do Corpo Truppe Volontarie lutaram ao lado dos fascistas espanhóis contra a República, assim como cerca de sete mil homens da Aviazione Legionaria. Esta bombardeou alvos militares, como as infra-estruturas ferroviárias de Xàtiva, e participou também em muitos bombardeamentos de alvos civis com o fim de «enfraquecer o moral dos Vermelhos». 
Um dos bombardeamentos mais trágicos foi o de Barcelona, em que cerca de 1300 civis foram mortos, e milhares ficaram feridos ou perderam as suas casas. Outras cidades submetidas ao terror de bombardeamentos Italianos foram Durango, Alicante, Granollers e Guernica.
Os governos britânico e americano, para conter ilegitimamente a grande influência do Partido Comunista Italiano no pós-guerra, prejudicaram efectivamente, a procura de justiça, ao tolerarem os esforços feitos por autoridades superiores italianas para impedirem de serem extraditados e levados a tribunal qualquer um dos supostos criminosos de guerra.
A negação dos crimes de guerra italianos foi fomentada pelo estado italiano, académicos e os meios de comunicação social, que tentaram apresentar a Itália como uma vítima do Nazismo Alemão.
Os suspeitos, que se sabe terem estado na lista de criminosos de guerra italianos, nunca viram nada parecido com o julgamento de Nuremberg, porque, com o início da Guerra Fria, o governo britânico viu em Pietro Badoglio, que também estava na lista, uma garantia de uma Itália anticomunista no pós-guerra. Ficaram sem resposta os pedidos de extradição feitos pela Jugoslávia, Grécia e Etiópia, no final da 2.ª Guerra Mundial.
Na ex-Jugoslávia, a Província de Ljubljana, na Eslovénia, viu a deportação de mais de 25 mil pessoas, o que equivalia a 7,5% do total de sua população. A operação, uma das mais drásticas na Europa, encheu-se de muitos campos de concentração italianos, tais como Rab, Gonars, Monigo, Renicci di Anghiari, Risiera di San Sabba e em outros lugares. Os sobreviventes não receberam nenhuma compensação do estado italiano no pós-guerra. Só na cidade de Rab, mais de 3500 pacientes internados morreram.
No início de Julho de 1942, tropas italianas relataram ter disparado sobre civis, assassinando 800 civis croatas e eslovenos e queimado 20 casas perto de Split, na costa da Dalmácia. Ainda naquele mês, a força aérea italiana relatou ter praticamente destruído quatro aldeias jugoslavas e matado centenas de civis, como vingança pelo ataque de uma guerrilha local de que resultou a morte de dois oficiais de alta patente.
Na segunda semana de Agosto de 1942, as tropas italianas relataram ter queimado seis aldeias croatas e morto a tiros mais de 200 civis em retaliação por ataques de guerrilha. Em Setembro de 1942, o exército italiano teria supostamente destruído cerca de 100 aldeias na Eslovénia e matado cerca de sete mil moradores em represália por ataques de guerrilhas locais.
Acontecimentos semelhante ocorreram na Grécia, nos primeiros anos do pós-guerra.
Integrada na ocupação do país pelas forças do Eixo, a ocupação italiana da Grécia foi brutal, resultando em represálias, como o massacre de Domenikon. O governo grego afirmou que as forças de ocupação italianas destruíram cerca de 110 mil edifícios e infligiram um dano económico de seis mil milhões de dólares (taxas de câmbio de 1938). Executaram cerca de 11 mil civis.
Os ataques originaram números quase idênticos aos atribuídos às forças de ocupação alemãs. Os italianos também provocaram a fome na Grécia ao mesmo tempo que ocupavam a maioria do país e, com os alemães, foram responsáveis por dar início a uma política de ampla escala de pilhagem de tudo o que tinha valor na Grécia, incluindo alimentos para as forças de ocupação.
Da Fome Grega resultou a morte de cerca de 300 mil civis gregos. As autoridades do Eixo na Grécia roubaram à população faminta toda a colheita de milho, uvas, azeitonas e passas. Até os vegetais, peixes, leite e manteiga foram apreendidos...
A repressão da memória levou ao revisionismo histórico na Itália. Até em 2003, os meios de comunicação italianos viriam a publicar a declaração de Sílvio Berlusconi, segundo a qual Benito Mussolini apenas «costumava enviar a pessoas para férias»…
A resistência italiana (os partiggiani), onde desempenhou papel fundamental o Partido Comunista Italiano, foram barbaramente tratados nas prisões fascistas ou fuzilados.
Depois da guerra, Mussolini foi fuzilado pelos resistentes italianos, mas só cinco altos quadros fascistas criminosos foram julgados por tribunais militares e executados, alguns dos quais por terem executado militares norte-americanos e britânicos.

Grupos e movimentos colaboracionistas noutros países

Outros exemplos de colaboracionismo ocorreram em maior ou menor grau na Polónia, Estados Unidos, Bélgica, Países Baixos, Croácia, Eslováquia, Hungria e especialmente na Noruega, onde Vidkun Quisling governou de forma totalmente favorável aos nazis. O termo «Quisling», em vários lugares da Europa, passou a ser sinónimo de colaboracionista com os nazis. Tito aplicou-o contra os fascistas croatas que apoiaram os nazis durante a invasão da Jugoslávia.
Há notícia também de colaboracionismo durante a Segunda Guerra Mundial em territórios soviéticos, onde nacionalistas bálticos e ucranianos colaboraram com as tropas de Adolf Hitler.
No caso da Ucrânia é particularmente chocante que Stephan Bandera ainda hoje seja visto como herói nacional e que tenha sido a figura histórica inspiradora do golpe fascista de Kiev, em 1914, que provocou os habitantes, de origem russa, da Crimeia, Donetsk e Luhansk, até aos dias de hoje. Limpeza étnica de dezenas de milhares de polacos na região ocidental da Ucrânia – algo que foi reconhecido pelo Parlamento da Polónia, em 2016, como um «genocídio».
Com esse objectivo, a Organização de Nacionalistas Ucranianos e a sua ala militar – o UPA – colaboraram com as forças nazis, lutando contra os polacos e contra o avanço do Exército Vermelho, na Segunda Guerra Mundial.
Membros do seu movimento são acusados de participar em massacres, nomeadamente de judeus, polacos, comunistas, e de participar na organização de campos de concentração nazis.
No final do conflito mundial, o UPA continuou activo, colaborando com os serviços secretos de vários países ocidentais em actividades contra a União Soviética e contra a Polónia socialista, cujo exército combateu.
No que respeita à Hungria, o regente do país nos anos 30, Miklós Horthy, estabeleceu aliança com a Alemanha nazi. Com o apoio do governante alemão Adolf Hitler, a Hungria foi capaz de recuperar terras húngaras perdidas. Nessa altura, a Hungria participou nas invasões da União Soviética e da Jugoslávia.
Ao longo dos anos, a contribuição com os esforços de guerra e a deportação de judeus húngaros é o que marca a sua governação, mesmo que se tenha retirado do Eixo em 1944, altura em que os alemães invadiram a Hungria.
Horthy, depois da derrota da República Soviética da Hungria em 1920, que tinha tido como presidente Bela Kun, por invasão do seu território por parte da Roménia, já tinha iniciado um período de «terror branco». O Terror Branco esteve ideologicamente enraizado na Szeged Idea, descrito por Randolph L. Braham como «um amálgama nebuloso de pontos de vista político-propagandísticos cujos temas centrais incluíram a luta contra o bolchevismo, a promoção do antissemitismo, o nacionalismo chauvinista e o revisionismo –uma ideia que antecedeu tanto o fascismo italiano como o nazismo alemão».
Na Polónia, o colaboracionismo existiu tal como existiu noutros países do Báltico. A Polícia Azul, tinha entre os seus deveres tarefas como manter a ordem e regular o trânsito, mas também assegurar que eram cumpridas as regras dos guetos de judeus, incluindo sujeitá-los a fome, e levando também a cabo execuções, algumas sob ordens directas dos alemães.
No livro Vizinhos (edição Pedra da Lua), o sociólogo americano de origem polaca, Jan Thomasz Gross, faz a reconstrução dum episódio em Jedwabne em que cerca de 1600 judeus (homens, mulheres, crianças) foram levados até um estábulo e mortos. Quem os levou e incendiou o estábulo foram outros polacos, seus vizinhos. A Polónia era um dos países com maior população judaica. Na ascensão dos nazis, nos anos trinta, viviam lá cerca de três milhões de judeus. Hoje viverão no país, quando muito, dez mil.
A Brigada das Montanhas da Cruz Sagrada das Forças Armadas Nacionais foi em 2018 recuperada e honrada em cerimónias promovidas pelo Estado. Este grupo paramilitar de extrema-direita, durante a 2.ª Guerra, combateu partisans soviéticos e comunistas polacos, e agora contaram com o apoio do presidente polaco, Andrzej Duda, e com a presença de representantes do partido no governo de então, que assim fizeram questão de sublinhar a «reabilitação» dos colaboracionistas com os nazis.
Ao mesmo tempo que este governo polaco promoveu a reabilitação das forças fascistas, anticomunistas e colaboracionistas com os nazis na Segunda Guerra Mundial, levou a cabo iniciativas com o objectivo de criminalizar a ideologia comunista e a interdição das actividades dos comunistas polacos.


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IV artigo

A guerra no Pacífico, a agressão à China e a capitulação do Japão

Um navio de guerra norte-americano afunda-se após ter sido atingido por bombas japonesas, durante o ataque à base naval de Pearl Harbor, no Hawai, EUA, a 7 de Dezembro de 1941, que marcou a entrada dos dois países na Segunda Guerra Mundial.

Um navio de guerra norte-americano afunda-se após ter sido atingido por bombas japonesas, durante o ataque à base naval de Pearl Harbor, no Hawai, EUA, a 7 de Dezembro de 1941, que marcou a entrada dos dois países na Segunda Guerra Mundial. CréditosEnciclopédia Britânica / National Archives

O ataque a Pearl Harbour

Às 7h55 da manhã do domingo de 7 de Dezembro de 1941 (hora de Hawai), 3670 bombardeiros e aviões de combate japoneses atacaram os navios de guerra norte-americanos fundeados em Pearl Harbour (Porto das Pérolas) e as respectivas bases, deixando 2330 americanos mortos ou moribundos.
Pouco antes de atacar os Estados Unidos, o Japão já havia garantido o controle sobre a Indochina Francesa numa invasão rápida, que contou com pouca resistência das tropas coloniais da França. Quando o ataque a Pearl Harbour aconteceu, o governo japonês apresentou-o à sua população e aos seus aliados do Eixo como uma grande conquista. Entretanto, alguns membros do exército japonês sabiam que as conquistas obtidas em Pearl Harbour eram mínimas.
No dia seguinte, a 8 de Dezembro, os EUA e o Reino Unido declararam guerra ao Japão. A 11, os EUA declaram guerra à Alemanha e Itália, as quais responderam com igual declaração. A Bulgária, Eslováquia e Croácia procederam da mesma maneira em relação aos EUA e Reino Unido. A Roménia, que estava em guerra com o Reino Unido, declarou-a também aos EUA.
A 11 de Dezembro ampliou-se o anterior pacto militar entre as potências do Eixo, em que a Inglaterra, Itália e Japão se comprometiam em ir juntas até ao fim das hostilidades, em assinarem armistício só com o acordo entre as três, e continuarem depois juntas na construção de uma nova ordem mundial.

A invasão da China e os crimes dos japoneses

Na China, em 1911, tinha sido proclamada a República da China, depois do derrube pelo movimento nacionalista do imperador da dinastia Quing. A também chamada Revolução de Xinhai foi dirigida por Sun Yat-sen, fundador do Kuomintang e primeiro presidente das Províncias Unidas da China, em que os comunistas participaram.
Durante a Segunda Guerra Mundial registou-se uma segunda guerra com o Japão quando este voltou a invadir o país, que nacionalistas e comunistas derrotaram. Depois da guerra uma deriva de submissão ao imperialismo ocidental do governo levaria à revolução comunista de 1949.
Em 1931, o Japão ocupa a Manchúria e no ano seguinte institui o Manchukuo como Estado fantoche, governado pelo Imperador Puyi, que abdicara em 1912. A actuação de Chiang Kai-shek, que não oferecera resistência ao invasor, faz crescer a vontade contrária, dos comunistas, que continuavam a ser militarmente combatidos pelo generalíssimo.
Enquanto isso, Mao Tse-tung promovia a distribuição de terras aos camponeses e animava a resistência contra o Japão, atraindo as simpatias dos chineses.
Em 1936, Chiang Kai-shek foi aprisionado em Xian, capital de Shaanxi, pelas tropas do General Zhang Xueliang, no conhecido Incidente de Xi’an. Negociações até hoje mal conhecidas estabelecem o acordo entre nacionalistas e comunistas, que se unem na luta contra o Japão, a esta época já senhor absoluto de quase todo o norte do país.
Os comunistas, liderados por Mao Tsé-Tung, e os nacionalistas, liderados por Chiang Kai-shek, assinam um acordo em 22 de Setembro de 1937, pelo qual os comunistas abandonam seu projecto de um governo revolucionário, renunciando a insurgir-se contra o governo de Chiang Kai-shek que, pelo seu lado, comprometeu-se a suspender as operações anticomunistas. Desta maneira forma-se a Segunda Frente Unida.
Apesar da aliança, as forças chinesas não são fortes o suficiente para lutar contra o Exército Imperial Japonês e sofrem uma série de desastres no início do conflito.
O massacre de Nanquim foi um dos actos mais bárbaros dos militares japoneses. 57 mil soldados e civis foram executados. Milhares de mulheres chinesas foram então violentadas e mortas a tiros ou a golpes de baionetas em caso de resistência.
O furor homicida da soldadesca adquirira uma dinâmica própria e o roteiro de roubos, saques, torturas, raptos e estupros seguidos de assassinatos teve continuidade ainda por seis semanas, estendendo-se de 13 de Dezembro de 1937 até os finais Fevereiro de 1938. Os japoneses, como se fossem uma matilha de lobos famintos e desordeiros, percorriam as ruelas e praças da cidade em bandos de seis a doze soldados, disparando ou trespassando a quem quisessem ou desejassem.
Em Julho de 1937, sem declaração de guerra, o Japão inicia as hostilidades. Em menos de noventa dias os japoneses ocuparam a parte oriental do país, sem que o governo nacionalista pudesse impedi-los. Pequim e Tientsin caem em poder dos nipónicos.
A invasão japonesa na China resultou na segunda guerra sino-japonesa (1937-1945), na qual o Japão cometeu inúmeras atrocidades contra a população civil chinesa. As atrocidades do exército japonês foram desde os estupros em massa cometidos contra mulheres chinesas ao uso de bombas biológicas em partes da China e contra pacientes de hospitais, mortos à baioneta nas suas camas.
Depois da queda de Hong Kong, no Natal de 1941, cenas similares ocorreram em Java e Sumatra, as maiores ilhas das Índias Orientais Holandesas. O exército japonês manteve nas suas novas conquistas a tradição de selvajaria, estabelecida na China, em que se destacou o já referido massacre de Nanquim.
Os comunistas estimulavam acções de guerrilha, especialmente no norte da China. Mao Tse-tung queria poupar as suas tropas, tanto quanto possível, e continuou a consolidar as suas forças, para se preparar para uma eventual nova guerra contra as tropas de Chiang Kai-shek, após a derrota japonesa.
A China contou com o apoio americano na guerra após os Estados Unidos serem atacados pelos japoneses em Pearl Harbour, em 1941. Os norte-americanos forneceram armas e suprimentos aos exércitos chineses, principalmente aos nacionalistas liderados por Chiang Kai-shek. A segunda guerra sino-japonesa só acabaria em 1945, quando o Japão se rendeu aos Aliados.
Antes do início da Segunda Guerra Mundial, o Japão, durante a década de 1930, defendia a sua expansão territorial, a partir da força dos seus exércitos, para que fosse desenvolvido um projecto de colonização em todo o Extremo Oriente.
Esse projecto tornou-se evidente com o nacionalismo imperialista japonês, que se desenvolveu a partir da reformulação do ensino durante a Restauração Meiji (1868). O imperialismo japonês manifestou-se antes da Segunda Guerra Mundial, na primeira guerra sino-japonesa (1894-1895) em que o Japão conquistou a península da Coreia, que então pertencia à China. Esse ímpeto imperialista prosseguiu com a conquista da Manchúria e Port Arthur após a guerra russo-japonesa (1904-1905).
A partir de 1933, o Japão invadiu a China com a intenção de anexar a Manchúria oficialmente ao Império do Japão.
Os japoneses acabaram por ser expulsos pela conjugação da acção dos nacionalistas conservadores do Kuomintang, então dirigido por Chiang Kai-Shek, com os comunistas liderados por Mao Tsé-Tung.

A guerra no Pacífico

Depois de Pearl Harbour, atacado em 8 de Dezembro, de 1941, três outras ilhas foram bombardeadas nesse dia, Guam, Wake e Midway, enquanto, nessa mesma manhã, do outro lado do Mar da China, a Segunda Esquadra japonesa escoltava um comboio de navios de transporte de tropas da Indochina para a península da Malásia. Ao mesmo tempo, Singapura era bombardeada pelos japoneses
No litoral da China, as tropas japonesas capturaram as guarnições americanas de Xangai e Tientsin.
As conquistas japonesas eram impressionantes. No dia 9 de Dezembro, o Japão ocupa Banguecoque e procederam a mais dois desembarques na Malásia, nas cidades costeiras de Singora e Patani. No meio do Pacífico, desembarcaram em Tarawa e Makin, nas Ilhas Gilbertas.
Ao fim de 3 dias de guerra, os japoneses tinham-se assenhoreado do sul do Mar da China e do Oceano Pacífico.
A 11 de Dezembro a Alemanha declarou guerra aos EUA. A 18 de Dezembro, a coberto de um intenso fogo de barragem, as tropas japonesas desembarcaram na ilha de Hong-Kong e no dia 20, desembarcaram na ilha de Mindanau, no arquipélago das Filipinas.
No início do conflito, o Japão conseguiu expandir o seu império de maneira avassaladora, derrotando sucessivamente tropas britânicas, americanas e holandesas instaladas no Sudeste Asiático. Conquistaram a Malásia, Birmânia, Singapura e Hong Kong aos britânicos, as Índias Orientais Holandesas aos holandeses, e as Filipinas aos americanos.
A expansão japonesa previa o confronto contra os Estados Unidos para os expulsar definitivamente da Ásia (os EUA possuíam bases e soldados instalados nas Filipinas). Isso garantiria ao Japão caminho livre para dominar o sudeste asiático e, assim, ter acesso aos recursos naturais dessas regiões.
Mas no ano seguinte, a 7 de agosto de 1942, os americanos lançaram a operação «Watchtower», a primeira contra-ofensiva aliada no Pacífico. A operação começou com o desembarque de 16 mil homens na ilha de Guadalcanal, das Ilhas Salomão. Fuzileiros norte-americanos travaram combates em terra em outras quatro ilhas mais pequenas.
Estalinegrado e Guadalcanal mostraram aos aliados que o Eixo podia ser batido nos campos de batalha.
Apesar das vitórias iniciais, a capacidade de guerra do Japão era muito inferior à capacidade americana. A economia norte-americana era muito superior à do Japão, e poderia financiar a guerra por muito mais tempo. Isso tornou-se claro a partir do segundo semestre, quando os Estados Unidos passaram a reconquistar todos os territórios ocupados pelo Japão entre 1940 e 1942.
Há historiadores que consideram a batalha naval de Midway o grande marco da viragem americana. Nessa batalha, a marinha americana afundou quatro porta-aviões japoneses e impôs outras pesadas perdas materiais à Marinha Imperial Japonesa. Nesse momento, o Japão perdeu boa parte da sua capacidade de guerra pelo mar e, diferentemente dos Estados Unidos após Pearl Harbour, não conseguiu recuperar-se.
O avanço americano, entretanto, aconteceu de maneira lenta. Cada reduto ocupado pelos japoneses era defendido de maneira obstinada, o que impunha pesadas perdas de soldados aos Estados Unidos. Apesar disso, novas vitórias aconteceram progressivamente nas batalhas de Guadalcanal, Tarawa, reconquista das Filipinas, Iwo Jiwa e Okinawa.
No Sudeste Asiático e no Pacífico os japoneses continuavam a dominar uma área enorme, das fronteiras da Índia às ilhas do Alasca: uma área de quase 4 milhões de quilómetros quadrados, com população de cerca de cerca de 150 milhões de pessoas, sem contar com os territórios anteriormente anexados.
Em 22 de Janeiro de 1943, porém, as tropas americanas e australianas desbarataram as últimas bolsas de resistência japonesas a oeste e a sul de Sanananda (Nova Guiné).
Exactamente na altura em que isto ocorria, os alemães eram pela primeira vez desalojados de uma das suas principais conquistas em terra firme no Norte de África. As forças alemãs e italianas do Norte de África foram afastadas de Tripoli e obrigadas a recuar para a Tunísia pela acção militar dirigida por Montgomery.
De 14 a 23 de Janeiro de 1943 realizou-se no norte de África a Conferência de Casablanca entre representantes dos EUA, com F. D. Roosevelt, e do Reino Unido, com Winston Churchill. Nela se decidiu o desembarque na Sicília, tendo-se considerado imprescindível que a União Soviética se incorporasse na luta contra o Japão, uma vez terminada a guerra na Europa. A Conferência concedeu plena responsabilidade política e militar ao Reino Unido nos Balcãs e Médio Oriente e aos Estados Unidos no Norte de África e no Extremo Oriente.
Em 28 de Março de 1943, o 8.º Exército inglês, que se encontrava perto da fronteira líbio-tunisina, renovou a ofensiva. Ao mesmo tempo, as tropas de Eisenhower empreenderam o ataque à parte ocidental de Tunes.
Em 12 de Maio, os soldados e oficiais alemães e italianos depuseram as armas, e com isso terminaram as operações do Norte de África.
Na Conferência de Teerão, realizada de 28 de Novembro a 1 de Dezembro de 1943, com a participação de Roosevelt, Churchill e Stalin, foi discutida a questão do timing das operações militares contra a Alemanha e a possibilidade de se negociar um acordo de paz. Foi também acordada nesta conferência a garantia da independência do Irão e o envio de ajudas económicas no período pós-guerra.
A partir do desembarque das tropas norte-americanas nas Filipinas, em Outubro de 1944, travaram-se as mais importantes batalhas navais da guerra. Os EUA acabaram por as vencer em Abril de 1945.
Aproveitando o momento favorável, o governo inglês apressou-se a desencadear, juntamente com o norte-americano, operações nas ilhas da Indonésia. Os ataques da aviação norte-americana tornaram-se sistemáticos desde Outubro de 1944 e atingiram grande envergadura na Primavera de 1945.
A última operação efectuada no teatro do Pacífico por forças dos Estados Unidos foi o desembarque de tropas norte-americanas em Okinawa em 25 de Março de 1945.
A derrota da Alemanha e a sua capitulação, foram um duro golpe para os nipónicos que viram condenados ao fracasso os seus planos anexionistas.
O governo japonês pensava que poderia manter a guerra durante muito tempo, chegando a tentar um novo conluio anti-soviético com os seus aliados.
O Japão possuía umas forças armadas descomunais. Os efectivos totais das suas tropas ultrapassava os cinco milhões de homens. Com o objectivo de defender as suas empresas dos ataques aéreos, os industriais nipónicos transferiram numerosas fábricas do Japão para a Manchúria, por eles ocupada desde 1932, e organizaram também a sua produção bélica, neste caso na Coreia, também ocupada.

As bombas atómicas

Em 1945, com o fim da guerra na Europa e com o Japão cercado pelas forças americanas, os Aliados reuniram-se em Ialta para debater o mapa da Europa no pós-guerra e os termos da rendição japonesa.
Diziam os representantes dos EUA que a invasão territorial do Japão resultaria em grandes perdas de vidas, mesmo maiores do que as que se tinham verificado na invasão da Normandia, no Dia D.
O Japão estava a ser castigado pelos bombardeamentos americanos sobre as grandes cidades, e estava com a economia falida. Apesar disso, recusou render-se. Os kamikazes lançavam-se sobre objectivos militares dos EUA.
2525 pilotos kamikaze morreram nesses ataques, causando a morte de cerca de 7 000 soldados aliados e deixando mais de 4 mil feridos. O número de navios afundados é controverso. A propaganda japonesa da época divulgou que os ataques teriam conseguido afundar 81 navios e danificar outros 195.
Apesar de, em desespero, os japoneses terem recorrido aos kamikazes, a deflagração de duas bombas atómicas contra seres humanos constituíram um grave crime contra a Humanidade.
Os EUA não queriam ir acabar a guerra no terreno, como defenderam em Ialta, para poupar a vida aos seus militares. Optaram, unilateralmente, por lançar as bombas atómicas sobre Hiroshima, provocando cerca de 247 mil mortos, e sobre Nagasaki, três dias depois, provocando cerca de 200 mil mortos e feridos, na sua grande parte civis. Pouparam em vidas militares, optaram por matar os civis.
Claro que essa horrível decisão dos EUA precipitou a rendição japonesa, mas a decisão americana de lançar bombas atómicas sobre civis foi considerada um crime de guerra e a anterior «confidência» de Truman, a Staline, de que os EUA dispunham «de uma nova arma com uma invulgar força destrutiva», serviu também para tentar assustar a URSS e conter a progressão das forças de esquerda nos territórios libertados no Ocidente e no Leste europeus. Antes disto, Churchill, conhecido pelas suas atitudes racistas, consideraria a possibilidade de utilizar gás venenoso em civis alemães, depois dos bombardeamentos a Londres pelo Terceiro Reich, contrariando as regras internacionais da guerra nessa altura.
Após o fim da guerra, o comando-geral do Japão foi entregue ao general americano Douglas MacArthur, e o território japonês foi ocupado pelos Estados Unidos até 1952.
Os Aliados também organizaram o Tribunal Militar Internacional para o Extremo Oriente, no qual juristas de diferentes nações aliadas julgaram os crimes de guerra cometidos por decisão das lideranças japonesas.
Conferência de Ialta e a possibilidade de uma nova ordem de paz no pós-Guerra na Europa
Como referimos, quando a vitória na Segunda Guerra Mundial já parecia certa, os Aliados reuniram-se de 4 a 11 de Fevereiro de 1945 em Ialta, na Crimeia. Churchill, Roosevelt e Stalin decidiram sobre fronteiras e esboçaram uma nova ordem de paz no pós-Guerra.
Foi aprovada uma declaração sobre a Europa libertada e discutiram-se várias questões, cuja solução não poderia ignorar que os soviéticos estavam às margens do rio Oder, no Leste alemão, e os americanos, na fronteira oeste da Alemanha.
Praticamente ocupada, a Alemanha já não estava em condições de resistir por muitas semanas. A Itália rendera-se, mas o Japão ainda resistia.
A Conferência de Ialta, nas margens do Mar Negro, foi uma das três grandes conferências que determinaram o futuro da Europa e do mundo no pós-Guerra (além da de Teerão, em 1943, e da de Potsdam, em meados de 1945).
Apesar da influência da URSS na viragem da guerra, a Guerra Fria já começara e a questão da Polónia viria a ser motivo de acesa discussão na conferência. Depois da libertação pelos soviéticos, na Polónia já tinha sido constituído um governo que Roosevelt e Churchill queriam ignorar para impor um processo eleitoral. Acabaram por decidir que fossem incluídos no governo já formado alguns membros apontados por ambos.
Em relação à Organização das Nações Unidas, que viria a ser criada, decidiu-se a composição de um Conselho de Segurança com direito de veto. Quanto à Alemanha, as potências aliadas resolveram exigir a «capitulação incondicional» e o país ficou dividido em zonas de ocupação. A conferência decidiu sobre reparações e a desmontagem das instalações industriais do país. E foi consagrada a deslocação da fronteira soviética para ocidente, ficando a fronteira oriental da Alemanha ao longo dos rios Oder e Neisse.
A nova linha divisória viria a delimitar o que mais tarde foi designado em 1946 como Cortina de Ferro por Churchill que justificou, com essa linguagem, a divisão do mundo, transformando as relações futuras que deveriam ser pacíficas em quase 50 anos de Guerra Fria.
«De Sczecin, no Mar Báltico, até Trieste, no Mar Adriático, transcorre uma cortina de ferro pelo continente. Por trás desta linha estão todas as capitais da Europa Central e do Leste Europeu. Todas as cidades e suas populações estão sob influência soviética. Os acertos feitos em Ialta foram vantajosos demais para os soviéticos».
Entretanto ainda se realizaria a Conferência de Potsdam, de 17 de Julho a 2 de Agosto de 1945, em que participaram o norte americano Harry S. Truman, que sucedera a T.D. Roosevelt por morte deste, José Stalin e o britânico Clement Attlee, que derrotara Churchill em eleições. A conferência esteve virada para o período do pós-guerra, decidindo:
1. as indemnizações a pagar pela Alemanha às potências vencedoras;
2. a reversão das anexações realizadas pela Alemanha desde antes da guerra;
3. os objectivos comuns imediatos das potências ocupantes da Alemanha (desmilitarização, desnazificação, democratização e descartelização);
4. a divisão da Alemanha e da Áustria em zonas de ocupação, como anteriormente decidido na Conferência de Ialta, e idêntica divisão de Berlim e Viena em quatro zonas (americana, britânica, francesa e soviética). Posteriormente, em 1961, a zona aliada (americana, britânica, francesa) em Berlim seria isolada do resto da Alemanha Oriental, na sequência de incidentes contra a parte sob a administração da URSS, pelo Muro de Berlim, que completou a fronteira interna alemã;
5. o julgamento dos criminosos de guerra nazis em Nuremberg;
6. o estabelecimento da fronteira da Alemanha com a Polónia nos rios Oder e Neisse lLinha Oder-Neisse);
7. os termos da futura rendição do Japão.

A capitulação do Japão

A 9 de Agosto de 1945 o governo soviético, cumprindo os seus deveres de aliado, assumido na conferência de Ialta, na Crimeia, de Fevereiro de 1945, declarou guerra ao Japão e iniciou contra este uma operação em todas as frentes.
O exército soviético desembarcou nas ilhas Curilhas, entrou nas cidades de Harbin, Kirin, Chang-chung, Mukden, no Porto Artur e em Daire.
Na Manchúria as tropas japonesas entregaram-se e em duas semanas mais seriam libertados a Manchúria no seu todo, o norte da Coreia, o sul da ilha de Sacalina e as ilhas Curilhas.
Num mês, as forças armadas soviéticas aniquilaram o Exército de Kuangtung, a base das forças armadas do Japão.
Em 28 de Agosto começou o desembarque das tropas americanas no Japão.
Em 2 de Setembro de 1945, às 10h30, a bordo do navio de guerra norte-americano Missouri, fundeado na barra de Tóquio, foi assinada a acta de capitulação incondicional do Japão.
Este facto assinalava o fim da Segunda Guerra Mundial.
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III artigo

Da supremacia soviética ao fim da guerra na Europa


Em dois anos e à custa de milhões de vidas, entre militares e civis, a URSS concluiu uma viragem radical no curso da guerra. As consequências internacionais desta viragem da guerra foram importantíssimas.
Tratar de forma isolada a guerra na Rússia é obrigatório por diversas razões históricas. O seu desfecho teve um papel determinante para o curso da guerra. Nenhuma cedência quanto a esta verdade, feita de milhões de vidas, deve ser feita perante os falsificadores da História.
Em Estalinegrado, ao fim de sangrentos combates, as tropas nazis foram cercadas, derrotadas e capitularam.
A Alemanha nazi e os seus aliados perderam 1,5 milhões de soldados e oficiais, um quarto do total das forças armadas e do material de guerra concentrado na fronteira germano-soviética.
Em Kursk deu-se o maior combate de tanques da Segunda Guerra Mundial, envolvendo das duas partes 4 milhões de combatentes. Ao fim de 50 dias de combates, as tropas nazis perderam meio milhão de homens, cerca de 1500 tanques e mais de 3700 aviões!
Em dois anos (Junho de 1941 a Agosto de 1943), e à custa de milhões de vidas, entre militares e civis, as forças armadas soviéticas concluíram a viragem radical no curso da guerra. No Inverno de 1943 e nos primeiros meses de 1944 os soviéticos libertaram todo o seu território nas mãos do agressor e atingiram as fronteiras com a Polónia, Checoslováquia e Roménia, infligindo novas e pesadas derrotas aos nazis.
As consequências internacionais desta viragem da guerra foram importantíssimas.
Entre 28 de Novembro e 1 de Dezembro de 1943 reuniu-se em Teerão a primeira das três cimeiras que foram realizadas entre a URSS, a Inglaterra e os EUA. Esta reunião decidiu, ao fim de mais de dois anos de hesitações e adiamentos por parte dos governos dos EUA e do Reino Unido, a abertura de uma segunda frente de combate contra a Alemanha nazi, na Europa Ocidental, para Maio de 1944.
Na sua mensagem de 6 de Janeiro de 1945 ao Congresso dos EUA, Franklin D. Roosevelt lembrou: «Nós não podemos esquecer-nos da heróica defesa de Moscovo, de Leninegrado e Estalinegrado, e das gigantescas proporções das operações ofensivas russas em 1943 e 1944, em consequência das quais foram aniquilados os enormes exércitos germânicos.»
Por sua vez Charles de Gaulle salientou, em Dezembro de 1944: «Os franceses sabem o que a Rússia Soviética fez por eles e sabem também que foi precisamente a Rússia soviética quem desempenhou o principal papel na sua libertação.»
Finalmente, Winston Churchill, em mensagem a Estaline, em Fevereiro de 1945, escreveu: «As futuras gerações reconhecerão a sua dívida ao Exército Vermelho sem quaisquer reservas.»
A partir da abertura da segunda frente, no Verão de 1944, com o desembarque na Normandia, a cooperação militar entre os exércitos aliados deu uma importante contribuição para a rápida derrota e capitulação da Alemanha nazi e criou novas condições para que, nos países ocupados, se desenvolvessem os respectivos movimentos de resistência que contribuíram para a libertação desses países.
Politicamente, a coligação anti-hitleriana dos estados, por um lado, viabilizou um forte pólo de atracção e unidade da opinião pública anti-nazi e, por outro, mostrou que era possível estados com regimes políticos e sociais diferentes, puderem cooperar estreitamente na luta pela paz, pela democracia e pela independência nacional de países e povos.

O dia D, a tomada de Berlim e o fim da guerra na Europa

À medida que os alemães eram obrigados a recuos sucessivos nas zonas de guerra, na Hungria e noutras regiões da Europa Central, na Itália, na Holanda e na Grécia, Hitler apressou-se na «solução final» do problema judeu, o que fez deportando massivamente judeus para Auschwitz e outros campos de morte. Já em 31 de Julho de 1941 o líder nazi Hermann Goering tinha autorizado ao general das SS Reinhard Heydrich o início das preparações necessárias para a implementação da «solução final» para a questão judaica.
Em 1944 os aliados ocidentais, que estavam em vésperas de iniciarem a sua invasão do Norte da França através do Canal da Mancha (os desembarques na Normandia foram adiados de 2 para 5 de Junho por causa do mau tempo), encontravam-se também às portas de Roma e bombardeavam os centros industriais e as fábricas de guerra dos alemães, sem lhes darem um dia de tréguas.
Na noite de dia 5, mais de mil bombardeiros britânicos atacaram as dez baterias mais importantes na zona da invasão, largando cinco mil toneladas de bombas. Nessa mesma noite mais de 3 mil navios britânicos, norte-americanos, polacos, holandeses, noruegueses, franceses e gregos, no quadro da «Operação Neptuno», começaram a atravessar o Canal da Mancha. À medida que esta grande armada se aproximava das praias da Normandia, foi lançada uma série de manobras de diversão que iam sugerindo serem outros os pontos de desembarque. Às 11h55 da noite desse mesmo dia os primeiros soldados da infantaria britânicos da 6.ª Divisão Aerotransportada, pisavam solo francês na aldeia de Bénouville, seis milhas a norte de Caen. A «Operação Overlord» começara.
Na madrugada do dia seguinte, dia 6, conhecido como Dia D, dezoito mil paraquedistas ingleses e norte-americanos foram largados na Normandia para ocuparem pontes decisivas e as linhas de comunicação alemãs. Às 6h30 dessa manhã desembarcaram, na praia de «Utah», as primeiras tropas de tanques anfíbios. Menos de uma hora depois, os primeiros soldados britânicos chegavam às praias «Bold» e «Sword», seguidos na praia «Juno» por 2400 canadianos em 76 tanques anfíbios.
À meia-noite de dia 6 já tinham desembarcado 155 mil homens das tropas aliadas.
Hitler, que desconfiava não ser este ataque a «verdadeira» segunda frente, hesitou em envolver todas as suas forças na contenção da invasão. As baixas dos aliados foram grandes, mas relativamente reduzidas para a dimensão de operação. Morreram em combate 355 canadianos e os americanos e britânicos perderam menos de mil homens neste primeiro dia de combate.
Esta invasão beneficiou de importantes acções da resistência francesa contra os ocupantes alemães. Os franco-atiradores e guerrilheiros, dirigidos essencialmente pelos comunistas, libertaram 42 cidades e centenas de povoações, contribuindo assim para que as forças desembarcadas pudessem ampliar a base de operações conquistada. Eisenhower reconheceu os méritos dos patriotas franceses, quando disse: «Em toda a França os franceses livres prestaram-nos um inestimável serviço durante a campanha. Deram mostras de particular actividade na Bretanha, mas também nos diversos sectores da frente recebemos também ajuda nas mais diversas formas. Sem a sua grande ajuda, a libertação da França e a derrota do inimigo no Oeste da Europa teriam demorado muito mais tempo e feito mais vítimas.»
Em 10 de Junho os aliados ocidentais mantinham activas cinco frentes de batalha: Normandia, Itália, Nova Guiné, Birmânia e China.
Por volta da meia-noite de 20 de Junho, mais de meio milhão de soldados aliados tinham desembarcado na Normandia.
Nas duas primeiras semanas de combate os aliados perderam 40 569 homens.
Na Grã-Bretanha, mais de 1600 tinham já morrido por efeito das bombas voadoras (um avião sem piloto com cargas explosivas que explodiam quando o aparelho embatia em algum obstáculo). Mais de seis milhões de civis londrinos foram evacuados.
Em Agosto e Setembro de 1944, o exército soviético realizou grandes ofensivas contra a ala meridional das tropas alemãs, tendo daí resultado a libertação da Moldávia soviética, da Roménia e da Bulgária. Em cooperação com os movimentos de resistência desses países, os soviéticos contribuíram para a libertação da Jugoslávia, da Bulgária, da Checoslováquia e, por fim, da Hungria, e cortaram as comunicações das tropas alemãs que conduziam à Albânia e à Grécia, obrigando o comando alemão a retirar à pressa as suas tropas destes dois países.
Depois de apoiarem a progressão das tropas aliadas desembarcadas na Normandia, os patriotas franceses tomaram nas suas mãos a causa da libertação. Apesar de deficientemente armados, mal vestidos e esfomeados, derrotaram os ocupantes e libertaram grandes centros do país. Após 6 de Junho assistiu-se a um levantamento em massa desde a Bretanha até aos Alpes, e dos Pirenéus até ao Jura.
A 14 de Agosto de 1944, a classe operária de Paris começou a declarar grandes greves contra os ocupantes alemães. Foi declarada a insurreição armada por todo o povo da capital, dirigida pelo Comité de Libertação de Paris.
O general Leclerc juntara-se a Charles de Gaulle e comandava então a 2.ª divisão blindada francesa, que avançou rapidamente para Paris, a partir de 23 de Agosto de 1944. Já no dia seguinte, companhias aliadas estavam nos subúrbios ocidentais da capital. Na tarde de 25 de Agosto, o general Leclerc e o coronel Rol (nome de guerra de Henry Tanguy, dirigente comunista da resistência), receberam a capitulação do general Von Choltitz, no departamento de polícia da capital francesa. Este tinha desrespeitado as ordens de Hitler de combaterem até ao fim e de destruírem Paris.
No dia 26 de Agosto de 1944, o General De Gaulle encabeçou a marcha do triunfo nos Campos Elísios (Les Champs Elysées).
No mesmo dia, atravessando o Sena pela testa da ponte de Vernon, tropas canadianas e britânicas marcharam rapidamente na direcção de Calais e Bruxelas.
As forças aliadas avançavam por todos os lados na libertação da Europa, sem dar tréguas aos alemães para se recomporem, embora ainda então Hitler continuasse a acreditar na vitória alemã.
Em Moscovo, a 13 de Outubro, Estaline comunicou a Churchill que a União Soviética entraria em guerra com o Japão, assim que a Alemanha estivesse derrotada.
Na Itália, no dia 28 de Abril de 1945, terminou o regime fascista, que tinha sido instaurado havia 23 anos. Nesse dia, na aldeia de Dongo, Mussolini foi fuzilado pelos resistentes italianos.
E, após tudo isto, tinha chegado o momento da mais importante operação estratégica da Segunda Guerra Mundial – Berlim.
A operação de Berlim começou a 16 de Abril, tendo Hitler decidido assumir pessoalmente o comando da defesa da capital no dia 23.
As tropas britânicas e americanas aproximaram-se de Berlim, a partir da frente ocidental, desde o Mar do Norte até à fronteira suíça.
A 30 de Abril as tropas soviéticas ocuparam Berlim, onde tomaram de assalto o Reichstag no qual hastearam a bandeira vermelha da vitória.
Hitler estava no seu bunker onde, tendo perdido todas as esperanças numa reviravolta na guerra, se suicidou.
Às três da tarde de 3 de Maio, as tropas nazis cessaram toda a resistência na capital.
Na noite de 8 para 9 de maio foi assinada em Berlim a Acta de Capitulação Incondicional da Alemanha. Terminava assim a guerra na Europa.
Dias antes, em 25 de Abril de 1945, quando se travavam os últimos combates, começou em São Francisco, nos EUA, uma conferência de 46 países, a Conferência das Nações Unidas, que encerrou no dia 26 de Junho desse ano com a aprovação por unanimidade da Carta das Nações Unidas (ONU).
Em 17 de Junho teve início a Conferência de Potsdam com José Estaline, Harry Truman e Winston Churchill. Truman revelou a Estaline que os EUA dispunham da bomba atómica.
Na conferência abordou-se em particular a questão alemã, tendo todos os participantes chegado a um acordo sobre os princípios que deveriam nortear a política em relação à Alemanha. Na declaração assinada por todos expressou-se a necessidade de completo desarmamento da Alemanha, da extinção do regime nazi e a reestruturação da vida política em bases democráticas. Para julgar os principais criminosos de guerra alemães foi instituído um Tribunal Militar Internacional. Decidiu-se ainda entregar à URSS a parte litoral da Prússia Oriental, inclusive a cidade de Konigsberg (depois Kaliningrado). O resto da Prússia Oriental e o território da antiga cidade livre de Dantzig (Gdansk) foram entregues à Polónia.
A fronteira ocidental da Polónia passou ao longo dos rios Oder e Neise ocidental. A conferência decidiu ainda transferir para a Alemanha a população alemã residente na Polónia, Checoslováquia e Hungria.
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II artigo

As agressões nazis, da ocupação da Renânia à batalha de Moscovo






Até à invasão da URSS a Alemanha de Hitler parecia invencível e a supremacia nazi ameaçava a Europa e o Mundo. No fim da batalha por Moscovo esse mito estava abalado e a esperança dos povos renascia.


«Guernica», de Pablo Picasso. Fotografia de Dora Maar

O bombardeamento pelos nazis da pacífica cidade basca de Guernica, durante a Guerra de Espanha, tornou-se um símbolo da barbárie naziCréditosDora Maar

As agressões dos nazis alemães

Em 7 de Março de 1936 a Alemanha de Hitler invadiu, com um exército de 30 mil homens, a zona desmilitarizada do Reno, sem qualquer resposta das potências ocidentais, apesar da enorme superioridade militar destas.
A França, o país mais directamente visado pela provocação e, então, potência mais forte da Europa, não se opôs à aventura, considerando que a remilitarização e fortificação da zona do Reno seriam utilizados pela Alemanha «para fixar a sua atenção no Sul e no Leste, na Áustria, na Checoslováquia, Polónia e URSS».
De facto, ingleses e franceses, em vez de combaterem a política agressiva da Alemanha nazi, preferiam entender-se e negociar com ela, manifestando a disposição de rever os Tratados de Locarno e retirar a cláusula de desmilitarização do Reno, estudando a devolução à Alemanha das suas antigas colónias, em troca da entrada daquela na Sociedade das Nações.
Entre 1936 e 1939, a Alemanha nazi e a Itália fascista intervieram directamente ao lado dos fascistas espanhóis na guerra civil de Espanha, sob o silêncio cúmplice das potências Ocidentais, que definiram uma «política de não intervenção». Salazar cooperou activamente com os fascistas espanhóis.
De 11 a 13 de Março de 1938, a Alemanha nazi deu mais um passo na agressão, anexando a Áustria (Anschluss). A resposta a Ocidente foi a mesma de sempre: silêncio e cumplicidade.
Entretanto multiplicavam-se os contactos e negociações entre os primeiros-ministros da França e do Reino Unido, respectivamente Daladier e Chamberlain, e Hitler a propósito dos territórios dos Sudetas pertencentes à Checoslováquia. Hitler acelerava os preparativos militares para invadir a Checoslováquia e pressionava os governos húngaro e polaco para intensificarem as suas reivindicações territoriais em relação àquele país.
Em 29 e 30 de Setembro de 1938 tiveram lugar a Conferência e o Pacto de Munique entre Hitler, Mussolini, Chamberlain e Daladier dos quais os governos checoslovacos e soviético foram excluídos.
A região dos Sudetas – pertencentes à Checoslováquia – foi cedida à Alemanha nazi que, alguns meses depois (14-16 Março de 1939), invadiu e ocupou a Boémia e a Morávia perante, uma vez mais, a passividade das potências ocidentais.




Mulheres entre as ruínas de prédios civis bombardeados pela aviação fascista, em Madrid, durante a Guerra Civil de Espanha (1936-1939) Crédito
A Checoslováquia foi arruinada. Sem perder uma única vida, Hitler conseguira adicionar à Alemanha a Áustria e os Sudetas (mais de dez milhões de pessoas) e um vasto território estratégico.
O objectivo velado dos governantes ocidentais, que procuravam «acalmar» os nazis a ocidente à custa de cedências e abdicações sucessivas, consistiu em virar a agressão nazi contra a URSS.
A Conferência de Munique foi página pouco honrosa da história do Reino Unido e da França neste conflito.
Ao longo de todo este período, o governo soviético desenvolveu esforços no sentido da unificação de acções de todos os que se opunham à ameaça nazi-fascista.
Em 1933 o governo soviético propusera a criação de um sistema de segurança colectiva na Europa, o que conduziu à assinatura dos tratados soviético-checoslovaco (16 de maio de 1935) e soviético-francês (2 de maio de 1935), destinados a prevenir a agressão alemã.
Em 1936, ao abrigo deste tratado, a URSS manifestou a sua disponibilidade para ajudar a França, quando Hitler invadiu as zonas desmilitarizadas do Reno (1936), o que não foi aceite pelo governo francês.
Antes da assinatura do Pacto de Munique, a URSS declarava-se pronta a prestar ajuda à Checoslováquia, a pedido do respectivo governo, face à agressão da Alemanha, cumprindo o tratado de 1935.
A 16 de Abril do mesmo ano, Maxim Litvinov, Comissário dos Negócios Estrangeiros, propôs ao embaixador britânico em Moscovo, a realização de um Pacto de Assistência Mútua entre a URSS, a Inglaterra e a França, reforçado por uma convenção militar entre os três Estados, os quais garantiam auxílio a todos os Estados da Europa Central e Oriental que se sentissem ameaçados pela Alemanha. Não tendo havido qualquer resposta concreta, a proposta foi retomada a 30 de Maio.
Quer a Polónia quer a Roménia, assim como os Estados Bálticos e a Finlândia, recusaram qualquer garantia por parte da URSS.
Por seu turno, a Polónia e a Roménia excluíram qualquer possibilidade de as tropas soviéticas cruzarem os seus territórios para enfrentarem uma eventual agressão alemã.
Também as negociações da URSS com os governos inglês e francês se arrastavam penosamente enquanto decorriam contactos entre enviados secretos ingleses com os nazis.




Soldados alemães derrubam a barreira da fronteira germano-polaca, a 1 de Setembro de 1939. A Segunda Guerra Mundial começou nesse dia, com a invasão da Polónia pela Alemanha nazi. 


Hitler tornava claro o propósito de invadir a Polónia. Se tal acontecesse, as tropas alemãs estacionariam nas imediações das cidades de Minsk e Vitebsk, que constituíam o «tampão» estratégico de acesso a Moscovo. Nessa situação a URSS ficaria numa posição extremamente perigosa no plano militar.
Simultaneamente, no Extremo Oriente, o Japão invadia a Mongólia e desencadeava hostilidades não só contra o exército mongol como contra o Exército Vermelho.
A URSS corria o grave risco de, a curto prazo, ter de sustentar a guerra em duas frentes contra dois poderosos inimigos: a Alemanha e o Japão. Estava completamente isolada, pois as negociações militares com o Reino Unido e a França não sofriam progressos significativos.
Em meados de Agosto os alemães, na sequência de propostas anteriores, de «normalização de relações», propuseram à URSS a realização de um tratado de não-agressão.
O governo soviético só respondeu quando perdeu as esperanças de chegar a um acordo com o Reino Unido e a França.
Os nazis fizeram esta proposta de tratado por duas razões principais: a primeira é a de que temiam que o confronto com a URSS fosse demasiado oneroso, preferindo adiá-lo para uma altura em que o seu potencial fosse aumentado à custa de outros países europeus; a segunda razão consistia na necessidade que tinham de certas matérias primas que só a URSS estava em condições de fornecer, residindo aí o seu interesse num acordo comercial.
A 23 de Agosto de 1939, a URSS assinava o Tratado de Não-Agressão com a Alemanha, cedendo territórios que administravam.
Em Setembro de 1939 os alemães invadiram a Polónia, o que provocou a declaração de guerra à Alemanha pela Inglaterra e a França.
Os soviéticos ocuparam então a Ucrânia Ocidental e a Bielorrússia, territórios que lhe haviam sido retirados pelo tratado Brest-Litovsk, em 1918.
O Tratado de Não-Agressão permitiu à URSS preparar-se melhor no plano militar durante quase dois anos.
A cumplicidade e a política de «apaziguamento» dos primeiros-ministros inglês e francês conduziram a França e a Inglaterra à derrota nos dois primeiros anos da guerra. Estes fracassos, de consequências dramáticas para esses países, determinaram, posteriormente, alterações importantes na política e nos políticos ocidentais.



Um leiteiro prossegue a distribuição ao domícilio, no meio de Londres destruída sob as bombas germânicas, em 1940. A imagem tornou-se um símbolo da resiliência britânica, durante o período em que o Reich nazi se encontrava vencedor no continente europeu. CréditosFred Morley / Rare Historical Photos
Foi precisa a derrota aliada no continente europeu e a verificação da capacidade de resistência da União Soviética à Alemanha Nazi, quando invadida por esta em Junho 1941, para que no Reino Unido, nos EUA e na Resistência francesa não-comunista ganhassem força as posições que defendiam uma política de cooperação e coligação de todos os Estados vítimas da agressão nazi, incluindo a União Soviética. Esta coligação anti-hitleriana de Estados e Povos viria a desenvolver-se e consolidar-se na luta pela liquidação da Alemanha nazi.

O início da guerra

Quando em 1 de Setembro de 1939 a Alemanha nazi atacou e invadiu a Polónia, desencadeou-se a Segunda Guerra Mundial. Dois dias depois a França e a Inglaterra declararam guerra à Alemanha. Os Estados Unidos da América declararam a sua neutralidade.
Apesar da declaração de guerra à Alemanha nazi, os exércitos francês e britânico não empreenderam qualquer acção ofensiva não contra ela nem efectuaram preparativos militares sérios. Os governos de ambos os países limitaram-se a fazer, desde então e até Maio de 1940, a então chamada «guerra estranha», que se caracterizou pela mais absoluta inactividade militar.
Este facto era tanto mais absurdo quanto se sabia que, à data do início da agressão nazi contra a Polónia, a correlação das forças militares era claramente favorável à coligação anglo-francesa e até esmagadora na fronteira entre a França e a Alemanha, até pela massiva deslocação de tropas e material de guerra nazis para Leste, com vistas ao desencadear da agressão à Polónia e sua ocupação. Apesar da declaração de guerra, os governos de ambos os países mantiveram todo o grande potencial militar anglo-francês literalmente parado durante nove meses. E, quando a Alemanha iniciou a sua «campanha a ocidente», todo esse potencial militar foi desbaratado ou empurrado até ao mar nas costas atlânticas da França.
Este absurdo militar foi reconhecido depois da guerra pelos próprios chefes militares nazis.
Foi o que afirmou o general Nikolaus von Vormann num dos seus dois livros: «Se as forças de que a Inglaterra e a França dispunham a Ocidente, em grande superioridade, se tivessem movimentado, a guerra teria terminado inevitavelmente. Na Polónia ter-se-iam interrompido as acções de combate. No máximo dentro de uma semana estariam perdidas as minas do Sarre e a região do Ruhr».


A antiga fortaleza de Brest-Litovsk,um simples posto na fronteira germano-soviética, sem grandes condições defensivas, foi atacada a 22 de Junho de 1941 pelo exército nazi, que previa a sua ocupação em poucas horas. Os soviéticos bateram-se primeiro à superfície e depois nos subterrâneos. Os últimos preferiram morrer combatendo a render-se, no final de Julho. Os nazis recebiam um primeiro sinal de que a guerra contra a URSS não seria um passeio. Créditos
No decurso do julgamento de Nuremberga, o general Alfred Jodl, declarou: «Se nós não fomos derrotados na Polónia em 1939, isso deveu-se apenas a que no Ocidente, no período da campanha polaca, 1210 divisões francesas e inglesas se opunham em completa inacção a 25 divisões alemãs».
É fundada convicção, apoiada nestes e noutros factos, que os governos da França e Inglaterra apostaram na consolidação da ocupação nazi da Polónia, que tinha longa fronteira com a URSS, para estimular Hitler a iniciar a agressão contra a URSS.
Esta orientação por parte dos dois governos aliados viria a ter consequências calamitosas para os respectivos países e povos. Hitler, em vez de rumar imediatamente à URSS, desencadeou vitoriosamente a agressão contra a Dinamarca, a Holanda, a Bélgica, o Luxemburgo e, por fim, a própria França, ocupando-as em apenas algumas semanas – a chamada guerra-relâmpago (blietzkrieg).
Os representantes do governo francês acabariam por assinar a capitulação, em 14 de junho de 1940.
Pelos termos desta, cederam dois terços do seu território para a administração do exército ocupante, comprometeram-se a pagar todas as despesas de manutenção das tropas de ocupação alemãs e aceitaram a desmobilização e desarmamento das forças armadas francesas, tendo Paris sido declarada «cidade aberta» para facilitar o trânsito das tropas nazis.
A parte da França não administrada directamente pelos alemães, a sul, passou a ter um governo colaboracionista – governo de Vichy, assim chamado a partir do nome da cidade onde ficou estabelecido. Depois de o chefe de Estado Alberto Lebrun ter nomeado Philippe Pétain como primeiro-ministro, Pierre Laval, simpatizante dos nazis – mais tarde viria a ser também primeiro-ministro de Vichy – conseguiu que a Assembleia Nacional revisse a Constituição, nela consagrando a atribuição do «poder constituinte ao governo da República sob a autoridade e assinatura do marechal Pétain». Este e Laval instituíram um regime de natureza fascista.
Entretanto, os cerca de 340 mil militares ingleses, que estavam estacionados em França em apoio ao exército francês, receberam ordens para regressarem – evacuação de Dunquerque 1.



A primeira execução pública de resistentes aos nazis, comprovada documentalmente, deu-se a 26 de Outubro de 1941 em Minsk, capital da Bielorússia. Doze combatentes clandestinos foram sucessivamente enforcados pelos nazis alemães e lituanos, acusados de ajudarem à fuga de soldados do Exército Vermelho do campo em que se encontravam prisioneiros. Na foto, o carrasco prepara o nó para Vladimir Shcherbatsevich, o segundo a morrer. Ao lado, já enforcada, Maria Bruskina, de 17 anos de idade, que conseguiu voltar as costas ao fotógrafo no momento da execução. 
Ao regime de Vichy, opuseram-se as associações de resistentes, que vieram a ser ilegalizadas. Um sector de resistentes era apoiado pelo Partido Comunista Francês (PCF) e um outro era dirigido, a partir de Londres, pelo general Charles de Gaulle.
Agindo clandestinamente até à libertação, a resistência causou grandes perdas aos alemães e ao regime, que prendeu torturou, assassinou, perseguiu os judeus e deportou centenas de milhares de franceses para a Alemanha para fazerem trabalho escravo nas fábricas que apoiavam o esforço de guerra dos nazis. Entretanto, intermináveis combóios transportavam as suas riquezas nacionais para a Alemanha.
Mas a resistência viria a libertar a França, com apoio de tropas americanas. Pétain e Laval iriam ser presos e condenados à morte. Ao contrário de Laval, Pétain viu comutada essa pena e morreu na prisão, devido em respeito pelo seu papel na Primeira Guerra Mundial.

A batalha de Inglaterra

O «Dia da Águia» (Adlertag), a 13 de Agosto de 1940, marcou o início da campanha militar da Alemanha contra Inglaterra. Ao contrário das anteriores, foi uma batalha desencadeada exclusivamente pela aviação alemã (Luftwaffe).
Logo no primeiro dia, os alemães ficaram surpreendidos com a perícia dos pilotos britânicos que os enfrentaram (RAF).
Enquanto a batalha prosseguia nos céus do Sul de Inglaterra, os dirigentes políticos britânicos tiveram oportunidade de saberem exactamente o que estava em jogo nesta batalha, pois no dia seguinte, depois de um exame atento das mensagens «Enigma»2 da Luftwaffe, a Comissão Conjunta dos Serviços de Informações concluiu, sem grande margem para dúvida, que as autoridades alemãs não tinham tomado, nem tomariam, uma decisão definitiva sobre a invasão da ilha «enquanto não se conhecesse o resultado da presente luta pela supremacia aérea».
Quando chegou o final de Agosto a batalha aérea sobre o país já durava há duas semanas e meia, continuando a constituir o principal foco das preocupações da opinião pública britânica e das esperanças entusiasmadas dos alemães.

Um tanque panzer (Pz. Kpfw. III) e um blindado Sd. Kfz. 251, numa aldeia nos arredores de Moscovo, durante a Batalha de Moscovo, em finais de 1941. CréditosHugo Tannenberg / Voennie Albom
Mas Hitler não tinha qualquer intenção de levar a cabo o desembarque se o risco da operação fosse, como se estava a constatar, demasiado grande para a sua passada, após os êxitos no continente europeu. Depois de, em mais de três semanas, a aviação alemã ter bombardeado bases aéreas e postos de comando britânicos, Hitler ordenou uma série de bombardeamentos aéreos que tiveram como alvo a cidade de Londres.
Não foi apenas o porto de Londres, mas também os de Liverpool, Swansea e Bristol, que foram bombardeados na noite de 12 de Setembro. Nos primeiros 40 dias foram lançados sobre a Grã-Bretanha 15 mil toneladas de bombas. Na semana terminada em 26 desse mês, o Blitz – como ficou designado pelos ingleses, como abreviatura da Blitzkriege, já referida acima – prosseguiu, apesar das pesadas baixas infligidas à Luftwaffe, causando a morte a mais de 1500 civis britânicos, 1300 dos quais na cidade de Londres. No dia 1 de Outubro o total de baixas civis passou a ascender a 6954.
O povo inglês teve um desempenho heróico, mas muito sofrido.
A 17 de Setembro, Hitler tinha decidido adiar «para mais tarde» a invasão da Grã-Bretanha, dizendo ao seu ajudante de campo da Marinha de Guerra (Kriegsmarine), tenente Karl von Puttkammer, «Conquistámos a França à custa de 30 mil baixas. Na noite da travessia do Canal da Mancha, poderíamos perder muitos mais homens sem garantir sucesso».
O Blitz ia prosseguir, mas a batalha da Inglaterra estava perdida para os nazis.
Os britânicos não sucumbiriam e não ouviriam na sua terra o bramido dos Panzers alemães, o silvo dos bombardeiros de mergulho, as marchas dos soldados alemães que levaram os horrores da conquista e o flagelo da ocupação a grande parte da Europa.




Veículos militares alemães destruídos e abandonados, presumivelmente durante a Batalha de Moscovo, em 1941-1942. No final da contra-ofensiva soviética iniciada em Dezembro de 1941, a linha da frente, que chegara a estar às portas de Moscovo, foi afastada para 150-300 quilómetros da cidade. Os alemães sofreram cerca de 900 mil baixas e severas perdas de material. Os soviéticos reconheceram mais de 500 mil baixas. 

A agressão à URSS

Quando em 22 de Junho de 1941, os exércitos hitlerianos atacaram de surpresa toda a fronteira ocidental da União Soviética, já 10 países europeus tinham sido derrotados e ocupados em cerca de dois anos: Áustria, Checoslováquia, Polónia, Dinamarca, Noruega, Holanda, Luxemburgo, Bélgica, França e Jugoslávia. A Inglaterra, apesar dos combates aéreos perdidos pela Alemanha, ficou sitiada e sujeita a um bloqueio marítimo pelos nazis.
A Alemanha tinha chegado aqui, depois de ter conduzido à capitulação poderosos exércitos de milhões de homens, tendo nas suas mãos, entre países ocupados e países de governos cúmplices, praticamente todo o território da Europa à excepção da URSS – um enorme potencial humano, económico e militar.
As Wehrmacht (designação dos três ramos das forças alemãs) tinham até então criado o mito de que a Alemanha e a sua estratégia de blitzkrieg eram invencíveis.
Foi baseado nessa estratégia que o comando alemão elaborou o Plano Barbarossa3, cuja concretização deveria conduzir à destruição do exército soviético e à ocupação dos principais centros políticos e económicos num prazo de oito a 10 semanas.
Para a concretização deste plano de guerra relâmpago, a Alemanha nazi contava com uma efectiva superioridade militar sobre a URSS e atacou com forças cinco a seis vezes superiores. Uma tal superioridade, associada à surpresa do ataque, deu aos nazis uma grande vantagem inicial, conduzindo à desorganização da defesa e a recuos do Exército Vermelho. Nos primeiros cinco meses, entre Junho e Outubro, os exércitos nazis cercaram Leninegrado, aproximando-se até poucos quilómetros de Moscovo. Ocuparam e tiranizaram vastos territórios da Rússia, da Bielorrússia, da Ucrânia e da Crimeia, apesar da luta sem quartel dos combatentes soviéticos.



Tropas soviéticas desfilam na Praça Vermelha, em Moscovo, a 7 de Novembro de 1941, para celebrar o aniversário da Revolução de Outubro. Estava-se no auge da Batalha de Moscovo e os soldados, a seguir à parada, seguiram para a linha da frente, a fim de travarem a ofensiva dos exércitos da Alemanha nazi. Créditos


  • Fruto desta heróica resistência, apesar das condições militares muito desfavoráveis, o exército e o povo soviético viriam a alcançar um primeiro êxito. No final das tais 8 a 10 semanas que Hitler tinha fixado para derrotar a URSS, ele e os seus generais foram obrigados a reconhecer que o projecto de guerra-relâmpago tinha fracassado a Leste. O alto comando nazi redefiniu projectos e decidiu investir todos os seus meio humanos e militares para a conquista de Moscovo.
    Na batalha de Moscovo, iniciada em 30 de Setembro, participaram de ambos os lados mais de três milhões de homens. As tropas nazis dispunham, no início, uma superioridade de 1,4 vezes em efectivos, 1,7 em artilharia e tanques e de mais do dobro de aviões. Mas, mesmo assim, as tropas soviéticas defenderam a cidade e passaram à contra-ofensiva.
    Estava a quebrar-se o mito da invencibilidade da Wehrmacht.
    A guerra adquiriu a partir dessa altura um carácter prolongado. Entre Junho de 1941 e Abril de 1942, quando terminou a batalha de Moscovo, a Alemanha tinha perdido na URSS 1,5 milhões de homens, cinco vezes mais do que todas as perdas sofridas quando da conquista de onze países da Europa.
    Tornou-se a partir de então possível um funcionamento mais seguro e eficaz da economia soviética, uma «economia de guerra», com a transferência das 1360 fábricas das regiões ocidentais para os Urais e para a Sibéria.
    No plano internacional, as repercussões foram muito grandes.
    A Turquia e o Japão desistiram de declarar guerra à União Soviética, os povos cujos territórios tinham sido ocupados redobraram os esforços para a luta e a resistência antifascista intensificou-se. Começaram a ser criadas condições para dar corpo a uma coligação anti-hitleriana entre vários países.
    E criaram-se bases sólidas para uma viragem radical na guerra, sobretudo após as batalhas de Estalinegrado (Setembro de 1942 a Fevereiro de 1943) e da batalha de Kursk (a maior batalha de tanques da história, de Julho a Agosto de 1943).
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    I artigo

    A ascensão do nazismo aos ombros do capital





    A ascensão de Hitler foi lenta, mas consolidou-se ao longo dos anos à custa de grandes apoios financeiros, provenientes de industriais que apreciavam a forma como se opunha aos sindicatos e aos marxistas.


    Um lojista faz-se retratar junto a uma montra com preços hiper inflacionados e um molho de notas. República de Weimar, Alemanha, anos 20.


    Um lojista faz-se retratar junto a uma montra com preços hiper inflacionados e um molho de notas. República de Weimar, Alemanha, anos 20.Créditos / HistoryOx

    Esta revisitação dos factos essenciais pretende, por um lado, contribuir para impedir que os que querem reescrever a História fiquem sozinhos eliminando a nossa memória colectiva e, por outro, contribuir para o entendimento das causas da Segunda Guerra Mundial, de como ela se desenrolou, quem foram os principais protagonistas da contenção da agressão e do volte-face até à derrota dos nazi-fascistas, da Alemanha e de outros países europeus, e dos militaristas japoneses.
    Por isso começamos por sustentar que os crimes nazis não foram apenas actos de tresloucados. Eles foram essencialmente uma expressão do extremo a que podem ir os interesses de classes dominantes, o fanatismo político que alimentaram, que tiveram várias expressões como o anticomunismo ou a falta de respeito dos direitos das minorias, fossem elas étnicas, religiosas ou nacionais.
    Os nazis chegaram ao poder na década de 1930, numa situação de crise económica e social que o grande capital alemão usou contra o movimento sindical, os comunistas e os judeus.
    No plano externo elegeu a URSS como o grande inimigo a abater e grande território a conquistar para expansão do mercado alemão.
    A vitória democrática de 8 de Maio de 1945 custou perdas humanas e materiais terríveis, mas o nazi-fascismo e o militarismo foram derrotados.
    Durante as quatro décadas seguintes ao final do conflito, a humanidade viveu um equilíbrio precário, baseado na corrida aos armamentos, mas foi nesses anos que, simultaneamente: progrediram as bases técnicas e cientificas do desenvolvimento; os direitos dos trabalhadores e uma maior efectividade no exercício dos direitos humanos; se contiveram disputas nacionais; se ensaiaram soluções de respeito pelos direitos das minorias; e foi praticamente eliminado o colonialismo, com a consequente proclamação de independência de muitos novos países.
    Depois da derrota do campo socialista a «nova ordem» internacional, hoje, é bem mais perigosa. Ao desenvolvimento das posições da extrema direita, somam-se fundamentalismos diversos resultantes de longos processos colonialistas e de humilhação nacional, as grandes potencias intervêm militarmente como entendem, os trabalhadores perdem direitos fundamentais, o controlo mediático dos comportamentos atinge níveis preocupantes, a violência é banalizada, a insegurança cresce nas cidades, as políticas antissociais e a corrupção nas camadas dirigentes afastam muitos cidadãos da vida política, desenvolvem-se fenómenos de indiferença.
    Por isso, nos 75 anos depois da Vitória, importa continuar a dar força ao sentido de dignidade do Homem, lutando contra a exploração, por melhores condições de vida, de educação e saúde, pela cultura, pelos sentimentos humanistas, pela participação dos cidadãos para que a democracia não regrida e, pelo contrário, se amplie e aprofunde.

    As origens do conflito

    Nos finais do século XIX o mundo estava divido. A política colonial então levada a cabo completou a tomada das terras não ocupadas no nosso planeta. No futuro só seriam possíveis transferências de um «dono» para outro.
    A primeira guerra de repartição começou em 1914 e chegou ao fim com os tratados de paz de 1918 e 1919.
    Opuseram-se a Tríplice Entente (Reino Unido, França, Sérvia e Império Russo) e os Impérios Centrais, (Alemanha e Áustria-Hungria). No final da guerra, a Tríplice Entente sai vitoriosa, e as potências centrais foram derrotadas e tiveram de pagar por todos os prejuízos da guerra, na chamada «Paz dos Vencedores». Na Conferência de Paz de Paris foi assinado o Tratado de Versalhes, que obrigou as nações derrotadas, principalmente a recém-formada República de Weimar, alemã, a arcar com pesadas indemnizações, o que contribuiu para provocar uma séria crise económica e política interna.





    Fábrica de grandes dimensões da IG Farben junto ao rio Reno, em Ludwigshafen, no princípio da década de 1930





  • A área de rivalidade principal e mais aguda situava-se no Sudeste da Europa e no Próximo Oriente, incluindo o Mediterrâneo Oriental, criando problemas e ambições internacionais que envolveram todas as potências europeias.
    Por outro lado, existiam as aspirações das nacionalidades oprimidas da região balcânica, que desejavam independência nacional e criação de novos Estados.
    As duas maiores potências não europeias, os Estados Unidos e Japão, também foram arrastadas na voragem da guerra, que só chegou ao fim com o colapso da resistência austro-húngara e alemã.
    A Rússia soviética decretou a paz, depois do envolvimento do Império Russo com a parte dos contendores que viriam a ser vitoriosos. Significativo foi o primeiro decreto soviético ter sido o Decreto da Paz. Os seus soldados, tendo passado longo sofrimento, regressariam às suas famílias, às suas terras.
    O tratado de paz de Versalhes foi dominado pela Inglaterra e pela França. A sua criação residiu na vontade dos países vencedores da Primeira Guerra Mundial refazerem o mapa da Europa, obterem novos mercados e novas fontes de matérias primas, novas possessões e colónias e pretenderem, também, alargar as suas esferas de influência.
    Importantes áreas produtoras de matérias primas, a leste e oeste da Alemanha, foram dadas a uma Polónia restabelecida, à França e à Bélgica. A Alemanha renunciou a todas as suas colónias, que seriam administradas por potências indicadas pela Sociedade das Nações.
    As forças armadas alemãs ficaram reduzidas a um exército profissional de 100 mil homens.
    A Alemanha comprometeu-se a reparar os danos entregando aos aliados, entre outras coisas, quase toda a sua frota comercial e perdendo a sua armada.
    O Império Austro-Húngaro foi reduzido a um anel de novos Estados, estabelecidos no Sudeste e Leste da Europa, para isolar a União Soviética e agir como contrapeso de um possível ressurgimento alemão.
    A Alemanha perdeu a Alsácia-Lorena, Poznam, a Prússia Ocidental e Memel. O Schleswig, a Prússia Polaca e a Alta Silésia veriam a sua sorte decidida por via plebiscitária.
    O Sarre ficou sobre administração da Sociedade das Nações durante 15 anos e as suas minas de carvão tornaram-se propriedade francesa.
    Os EUA e o Reino Unido garantiram assistência à França em caso de agressão.
    Em 1919 e 1920 vários tratados complementares do Tratado de Versalhes foram assinados, concretizando a supremacia aliada sobre a Áustria, a Hungria, a Bulgária e a Turquia, através do desmembramento dos impérios turco e austro-húngaro.
    Do ponto de vista da estrutura política mundial, os resultados da Primeira Grande Guerra de partilha podem ser resumidos da seguinte forma: 1) o poderio germânico foi temporariamente esmagado e o seu império colonial tomado pelas nações vitoriosas, principalmente Inglaterra e França; 2) a Áustria-Hungria foi eliminada do cenário político 3) Os Estados Unidos surgiram como a nação do mundo mais forte economicamente; 4) a Itália e o Japão, embora do lado dos vencedores, viram as suas ambições imperiais frustradas; 5) a Rússia deu inicio à sua tentativa de construir a primeira sociedade socialista do mundo.
    A formação da Sociedade das Nações era uma das propostas do documento dos «14 pontos», apresentado pelo presidente dos EUA, Woodrow Wilson, em Janeiro de 1918. Previa nomeadamente o direito dos povos à autodeterminação, a renúncia à diplomacia secreta e à guerra para resolver os problemas entre Estados, a limitação dos armamentos, a liberdade dos mares e da economia mundial, limitações às reivindicações coloniais e a criação de novas fronteiras na Europa, que se revelaram dificilmente conciliáveis com o carácter de rapina dos acordos resultantes da Primeira Grande Guerra Mundial.
    No período em que a Sociedade das Nações efectivamente funcionou (de 1920 a 1938), apesar de coleccionar alguns êxitos – nomeadamente o Pacto Briand-Kellog de Agosto de 1928 no qual 15 nações, entre elas a Alemanha, renunciaram à guerra como forma de solução para os conflitos internacionais –, acabou por falhar rotundamente a sua acção pela paz e pelo desarmamento, assistindo impotente às agressões japonesa na Manchúria (1931) e italiana na Abissínia (1935), à intervenção fascista em Espanha e às acções nazis preparatórias da Segunda Guerra Mundial. A Sociedade das Nações seria dissolvida em 1947, depois da sua acção ter sido confiada à Organização das Nações Unidas (ONU) no ano anterior.





    Diplomatas alemãs condecoram o magnata Henry Ford com a mais alta condecoração do Reich nazi, a Grã-cruz da Águia Alemã, em Detroit, a 30 de Julho de 1938. 
    Em 1921 e 1922, os Acordos de Washington completaram a partilha do mundo estabelecendo a divisão da zona do Pacífico, através de convenções como:
    1. a convenção naval: fixação da importância naval das cinco potências, EUA, Reino Unido, Japão, França e Itália;
    2. a convenção das quatro potências: EUA, Reino Unido, França e Japão, que estabeleceram a repartição do Pacífico;
    3. a convenção das nove potências: garantida independência da China.
    4. O tratado de Chang-Tong, pelo qual o Japão devolveu à China os territórios por si ocupados e retirou as suas tropas da Sibéria.
    A disposição básica da segunda guerra de repartição já era perceptível nos resultados da primeira. As nações que tinham ficado de fora da primeira partilha (casos da Alemanha, da Itália e do Japão) começaram a preparar-se para uma segunda.
    A campanha começou realmente com a invasão da Manchúria pelo Japão, em 1931, e continuou com a absorção da Etiópia pela Itália (1935), com a guerra civil espanhola (1936), a continuação da invasão da China pelo Japão (1937) e, finalmente, a série de agressões alemãs directas no continente europeu, iniciada com a ocupação da Áustria em 1938.

    A ascensão dos nazis

    Ninguém diria a 1 de Abril de 1920, data em que foi formado o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães1, que este minúsculo partido viria a governar a Alemanha e que o seu líder, Adolfo Hitler, viria a tornar-se o ditador mais sangrento da história contemporânea.
    O Partido Nazi, como ficou conhecido, foi no início apenas mais um partido cujos objectivos consistiam na recusa do Tratado de Versalhes e na vingança pela humilhação sofrida pela Alemanha após a derrota na primeira Guerra Mundial. O seu discurso ideológico era uma miscelânea de nacionalismo exacerbado e de anti-comunismo visceral. Outra característica que o Partido Nazi evidenciou foi a militarização de grande parte da sua organização, que se agrupava nas chamadas secções de Assalto (SA), grupos de arruaceiros que, além de garantirem a segurança dos comícios nazis, intervinham violentamente contra os comícios de outros partidos, nomeadamente do partido comunista.
    O símbolo adoptado pelo novo partido foi a cruz suástica, que viria a transformar-se no sinal da opressão e terror nazis.
    A ascensão de Hitler foi lenta, mas consolidou-se ao longo dos anos, à custa de grandes apoios financeiros à sua causa.
    Em Novembro de 1923, Hitler, cujo partido crescera entretanto, ensaiou um golpe na Baviera que ficou conhecido como o «Putsch da Cervejaria». Embora tendo falhado o golpe que o levou à prisão, foi libertado ao fim de nove meses, acto que confirmou as simpatias e conivências que já existiam, a alto nível no estado, com o futuro ditador.
    Na prisão, Hitler escreveu parte daquele que viria a ser o livro-base do pensamento nazi: Mein Kampf (A Minha Luta).
    Nesse livro Hitler explanou as teses que viriam a transformar-se na filosofia de acção do Estado nazi. Todas essas teses seriam postas em prática com impressionante rigor durante o período em que os nazis dominaram grande parte da Europa.
    Ao aproximar-se o final da década de 20, o dinheiro começou a afluir ao Partido nazi, proveniente de alguns industriais bávaros e renanos que apreciavam a forma contundente como Hitler se opunha aos sindicatos e aos marxistas. Contudo, apesar desses apoios, os nazis sofreram um revés eleitoral em 1928.
    Com a grande depressão económica, a produção alemã caiu 50% entre 1929 e 1932. As falências das empresas sucederam-se aos milhares e os desempregados atingiram os seis milhões nos finais de 1930. A miséria e a fome grassavam na Alemanha.
    Nas eleições de 1930 Hitler conseguiu um resultado completamente inesperado, que transformou os nazis em segunda força política na Alemanha.
    Os apoios à causa nazi aumentaram.





    Imagem da conferência de Acção Antifascista (Antifaschistische Aktion), em 1932, na Alemanha, uma organização operária de auto-defesa promovida pelo Partido Comunista Alemão (KPD) para enfrentar os Guardas de Assalto nazis. 
    Nas eleições presidenciais de 1932, à segunda volta, o marechal Hindenburgo, símbolo vivo da moribunda república de Weimar, venceu Hitler que duplicara a sua votação em dois anos.
    A 31 de Julho de 1932, os cidadãos da Alemanha foram chamados às urnas para a eleição dos membros do parlamento alemão, o Reichstag. Tratavam-se de eleições antecipadas, convocadas pelo presidente Hindenburgo para resolver a crise política então existente, que resultava de um impasse no parlamento que impedia a formação de uma maioria e, por consequência, de um governo estável. O governo em funções caiu, precisamente, por não ter apoio parlamentar. A composição do Reichtag reflectia o crescimento das duas grandes forças antagónicas nos extremos do espectro político, o partido nazi e o partido comunista. O principal resultado destas eleições foi a vitória expressiva do Partido Nazi, que duplicou a sua base de apoio, passando de 18 para 37% dos votos e de 107 para 230 deputados, em relação às eleições anteriores de 1930. Era agora o maior partido na Alemanha, mas não dispunha de maioria absoluta.
    Neste período, além dos apoios de capitalistas alemães, Hitler passou a beneficiar do apoio de várias multinacionais. Quando Hitler subiu ao poder, «os industriais não falavam uma língua só», diz Jonathan Wiesen. Mas a maioria estava feliz de apoiar nazistas em vez de comunistas, e de dar suporte a um movimento político que prometia limitar, senão esmagar, o crescente poder dos trabalhadores organizados.
    A pequena e média burguesia tinham-se passado em massa para os nazis.
    Goering, o mais próximo colaborador de Hitler, foi eleito presidente do Reichstag. Hitler exigia a chefia do governo e criava um ambiente de terror e de pró-guerra civil com as suas Secções de Assalto.
    Hindenburgo negava todo o poder a Hitler e aconselhava-o a formar um governo de coligação, que ele recusou. Perante o impasse foram convocadas novas eleições em Novembro, que redundaram num recuo dos nazis. Os comunistas continuaram a subir e os sociais-democratas a baixar, mas estes recusaram qualquer entendimento com os comunistas para deterem os nazis.
    Em 30 de Janeiro de 1933, Hindenburgo acabou por nomear Hitler como Chanceler, iniciando-se assim o período mais negro da história da Alemanha.
    Os nazis incendiaram o Reichstag para disso acusarem os comunistas e justificarem a feroz repressão que se seguiu.
    A nível mundial davam-se os primeiros indícios da repartição do mundo.
    O Japão foi a primeira potência a lançar-se no caminho de revisão do sistema de Versalhes – Washington. Em 1936 Japão e Alemanha firmaram o Pacto Anti-Komintern, a que a Itália fascista aderiu um ano mais tarde. Em 1937 os japoneses lançaram-se abertamente na tentativa de dominar completamente a China.
    A conquista da Etiópia pela Itália, em 3 de Outubro de 1935, foi consequência directa da política de conivência com o agressor por parte do Reino Unido, da França e dos EUA.
    Assim, em 7 de Janeiro de 1935, era assinado em Roma, entre o primeiro ministro francês Pierre Laval e Mussolini, o acordo franco-italiano de partilha de esferas de influência em África, que deixava aos fascistas italiano mãos livres para a invasão da Etiópia.
    Em 31 de Agosto, a Câmara dos Representantes e o Senado norte-americanos aprovaram a célebre «política de neutralidade» que, proibindo o fornecimento de armas a países beligerantes, de facto privou a Etiópia de se defender, enquanto a Itália continuava a fornecer-se no mercado norte-americano.
    Embora a URSS tivesse apelado para medidas especiais que impedissem a agressão, tal foi recusado pela França, Reino Unido e outros Membros da Sociedade das Nações.
    A «política de apaziguamento» da França e do Reino Unido, em relação à Alemanha nazi, consistiu numa série de cedências e falta de resposta militar às escaladas de sucessivas agressões e provocações expansionistas do nazismo alemão, nos anos imediatamente anteriores ao desencadear da Segunda Guerra Mundial (1936-1939).





    Milhares de guardas de assalto nazis junto à sede central do Partido Comunista Alemão (KPD), em Berlim, a 30 de Janeiro de 1933, após chegarem ao poder. A ilegalização do KPD, o seu mais forte opositor, marcou o início da repressão, extendida depois a toda a população. Créditos

    O apoio aos nazis de grandes empresas e multinacionais

    Algumas das mais importantes empresas, alemãs e multinacionais, que apoiaram os nazis:
    IG Farben - A empresa gigante envolveu-se fortemente com os nazis e inventou o Zyklon-B, o gás usado nos campos da morte. A IG Farben constituiu-se num grupo que incluía a BASF, a Bayer e a Hoescht.
    BASF - Aproveitamento dos prisioneiros dos campos de concentração como mão-de-obra escrava nas suas fábricas de tintas.
    Bayer - A multinacional farmacêutica beneficiou voluntariamente do nazismo e dos campos de concentração para testar os seus medicamentos. No início dos anos 30, doou 400 mil marcos a Adolf Hitler e ao Partido Nazi.
    IBM - Com o apoio da IBM e das suas filiais, os nazis exploraram a tecnologia de cartões perfurados para gerir a sua máquina de guerra e para identificar, localizar e destruir todos os que se lhe opunham, incluindo na «gestão» automatizada para acelerar as seis fases dos 12 anos de Holocausto, e a rapidez e eficácia da blitzkrieg.
    Krupp - No Tribunal de Nuremberg, 12 pessoas foram condenadas, inclusive Alfred Krupp. Em 1999, a empresa fundiu-se com a outra grande siderúrgica alemã, formando a ThyssenKrupp. Nos anos 2010, a Siemens começou a pagar indenizações às famílias de seus operários escravizados.
    General Electric - Em colaboração com a Krupp, alemã, a americana General Electric, de forma intencionada e artificial, subiu o preço do carbeto de tungstênio, um material de vital importância para os metais das máquinas necessárias para a guerra. Ainda que só lhe tenha sido aplicada, depois da guerra, uma multa de 36 mil dólares no total, a General Electric ganhou cerca de 1,5 milhões de dólares com essa fraude só em 1936, dificultando o esforço para ganhar a guerra e aumentando o custo para derrotar os nazis.
    Coca-Cola - Do gosto dos alemães nas décadas anteriores ao conflito, a Coca-Cola da Alemanha, durante a guerra, não conseguia importar os ingredientes necessários para a produzir. E então decidiram fabricar um novo refrigerante com o que tinham à mão. Assim nasceu a Fanta.
    Nestlé – Fornecimento de chocolates para os militares alemães, com milhares de escravos nas suas linhas de produção
    Dr. Oetkmer - Participou no fundo de compensação por trabalho forçado, uma organização de empresas alemãs que assumiu a responsabilidade por trabalhos forçados durante a Segunda Guerra Mundial, e roubou muitas peças de arte valiosas.
    Ford - Henry Ford era bem conhecido pela sua luta antissemita e anticomunista. A fábrica alemã da Ford produziu um terço dos camiões militares utilizados pelo exército alemão durante a guerra, realizando muito do trabalho com prisioneiros. O que resulta ainda mais surpreendente é que a Ford forçou o trabalho de mão-de-obra em 1940, quando o braço americano da companhia ainda tinha pleno controlo das instalações na Alemanha.
    BMW – Usou 30 mil trabalhadores, prisioneiros de guerra, trabalhadores escravos e presos dos campos de concentração, na produção dos motores para a Luftwaffe. A BMW, centrada unicamente nos aviões e motocicletas durante a guerra, trabalhava apenas como fornecedora da maquinaria de guerra dos nazis.
    Volkswagen - Com a guerra, a produção de carros civis deixou de ser uma prioridade da Volkswagen e dedicou-se ao fabrico de armamentos também. Em 1940, chegaram 300 polacas, as primeiras trabalhadoras forçadas do local. E a Volkswagen passou a basear grande parte de sua mão-de-obra no trabalho forçado, entre prisioneiros de guerra, civis estrangeiros e prisioneiros dos campos de concentração. Em 1944, 11 334 das 17 365 pessoas que trabalhavam na fábrica eram trabalhadores forçados de diferentes nacionalidades.





    Prisioneiros do campo de concentração de Dachau como mão-de-obra escrava numa fábrica de munições nazi, durante a Segunda Guerra Mundial Créditos
    Daimler-Benz - Desde 1937, a Daimler-Benz AG produziu cada vez mais peças de armamento, como o camião LG 3000 e motores de aeronaves, como o DB 600 e DB 601. Para criar capacidade adicional para a produção de motores de aviões, além da fábrica de Marienfelde, foi construída a fábrica de Genshagen em localização florestal bem escondida a sul de Berlim, em 1936. Trabalhadores da Europa Oriental e prisioneiros de guerra foram internados em acampamentos. Os detidos dos campos de concentração foram forçados pelas SS a condições desumanas. Foram «emprestados» a empresas em troca de dinheiro. Em 1944, cerca de metade dos quase 64 mil trabalhadores da Daimler Benz eram trabalhadores forçados civis, prisioneiros de guerra ou detidos em campos de concentração.
    Estúdios de Hollywood - Para continuar a fazer negócios na Alemanha após a ascensão de Hitler ao poder, os estúdios de Hollywood concordaram em não fazer filmes que atacassem os nazis ou que condenassem a perseguição aos judeus na Alemanha. Foram figuras deste negócio Joseph Goebbels e o patrão da Metro Goldween Mayer (MGM).
    Hugo Boss - Desenhou os intimidantes uniformes das SS assim como as camisas castanhas das SA e das juventudes hitlerianas.
    Chase Bank - A contribuição do Chase Bank (agora J.P. Morgan Chase) com os nazis não é muito surpreendente, já que um dos seus acionistas mais importantes, J. D. Rockefeller, financiou directamente as experiências eugénicas antes da guerra. Entre 1936 e 1941, o Chase e outros bancos estadunidenses ajudaram os alemães com a recolha de recursos que chegaram a atingir mais de 20 milhões de dólares.
    Deutsch Bank - começou por demitir os seus funcionários judeus, passando depois para a «arianização» da empresa (363 processos), ou seja, a passagem do controlo accionista para quem não fosse judeu, segundo a própria empresa. Essa expulsão da população judaica dos negócios do país chegou ao seu auge em 1938, quando, após uma série de leis e decretos, os judeus foram proibidos de participar em qualquer actividade económica. Em 1938, o governo nazi começou a monitorizar e congelar bens de judeus sistematicamente, afectando clientes do Deutsche Bank e de outros bancos. Até ao final da guerra, quase todos os bens e depósitos de clientes judeus tinham sido transferidos para o Reich, de acordo com o banco. O Deutsche Bank também se envolveu no comércio de ouro entre 1942 e 1944. Neste período, o banco comprou 4 446 quilos de ouro do banco central alemão e vendeu-o em Istambul, capital da Turquia, país que ficou «neutral» durante a guerra, mas onde o Deutsche Bank tinha uma filial…
    Aliam - Fundada na Alemanha em 1890, não foi surpreendente que fosse a maior seguradora alemã quando os nazis chegaram ao poder. Como tal, em seguida se envolveu no regime nazista. O seu conselheiro delegado, Kurt Schmidt, também era o Ministro da Economia de Hitler, e a companhia assegurou as instalações e pessoal de Auschwitz. O director-geral assegurou o pagamento ao Estado nazi, em vez de aos beneficiários judeus afectados pela «Noite de Cristal». Além disto, a empresa trabalhou estreitamente com o governo nazi para localizar as apólices de seguro dos judeus alemães enviados para os campos de morte e, durante a guerra, assegurou a transferência para o regime nazi das propriedades de que foram privados esses mesmos judeus.
    Kodak - Usou mão-de-obra escrava na filial alemã da empresa durante a guerra. As filiais da Kodak nos países europeus «neutrais» fizeram grandes negócios com os nazis, proporcionado mercado para seus produtos, mas também permitindo a valiosa divisa estrangeira. A filial portuguesa inclusive enviou seus benefícios para Haia, que estava ocupada pelos nazistas naquele momento. Esta empresa não produzia apenas as câmaras. Diversificaram o negócio e produziram gatilhos, detonadores e outros artigos militares para os alemães.
    Novartis - As empresas químicas suíças Ciba e Sandoz fundiram-se para constituir a Novartis, mais conhecida pelo seu famoso remédio, Ritalin. Em 1933, a filial berlinense da Ciba despediu todo o conselho de administração e o substituiu por um grupo de pessoas arianas mais «aceitáveis». Entretanto, a Sandoz estava ocupada a fazer o mesmo com o seu presidente. As empresas produziram tintas, remédios e produtos químicos para os nazis durante a guerra.
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