14/11/2020

3.272.(14noVEMbro2020.15.15') Gonçalo Ribeiro Teles

 Nasceu a 

e morreu a 11.11.2020...Hospital ST Maria/Lisboa

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Rui Coelho confirmou que havia um esboço  do Arquitecto para a Cova da Onça em Alcobaça: "

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11.11.2020...morreu Gonçalo Ribeiro Teles...1 Vivaaaaaa ao antifascista, ao impulsionador de tantos jardins/paisagens...

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GONÇALO RIBEIRO TELLES (1922 - 2020)
Arquitecto paisagista, esteve presente na Resistência ao fascismo, desde jovem. Monárquico católico com quem republicanos e agnósticos ou ateus dialogaram sempre amistosamente, na luta contra a ditadura. Cidadão muito respeitado pela sua seriedade, é conhecido pela cordialidade, pelo entusiasmo e pelo rigor científico, com que se envolve nas causas e iniciativas ligadas ao meio ambiente, pela forma como exerceu a profissão, mas também pela sua dimensão humanista e disponibilidade para partilhar conhecimentos.
Foi o grande mentor ideológico de uma política de paisagem, que se desenvolveu em Portugal na década de 60 [ainda antes de outros países], procurando uma relação íntima entre a Cultura e a Natureza. Deixa uma marca não só ao nível da arquitectura paisagista (o Parque Gulbenkian é o exemplo mais conhecido entre inúmeros outros), como na política do ambiente em Portugal. Figura notável das questões do ordenamento do território, introduziu em Portugal a Ecologia, conceitos como biodiversidade, multifuncionalidade, equilíbrio, dinâmica e a noção de recurso finito. Devemos-lhe jardins urbanos aprazíveis, as hortas urbanas, a protecção legal da reserva natural e dos parques naturais, e também a frontal denúncia dos empórios do betão, da celulose e da energia.
1. Gonçalo Pereira Ribeiro Telles nasceu em Lisboa, em 25 de Maio de 1922. Licenciou-se em Engenharia Agrónoma e terminou o Curso Livre de Arquitectura Paisagista no Instituto Superior de Agronomia. Iniciou a sua vida profissional como assistente deste instituto e, mais tarde, foi professor convidado da Universidade de Évora, onde criou as licenciaturas em Arquitectura Paisagista e em Engenharia Biofísica. Na sua carreira universitária foi também professor convidado do curso de Planeamento Regional e Urbano e Engenharia Sanitária da Universidade Técnica de Lisboa (1973-1975). Foi catedrático da Universidade de Évora, entre 1976 e 1992, ano em que se jubilou. A sua actividade profissional abrangeu principalmente as áreas do planeamento regional e urbano, do ordenamento rural, da paisagem industrial (Siderurgia) e do enquadramento e valorização dos jardins, destacando-se a que é talvez a sua obra mais conhecida: os jardins da sede da Fundação Gulbenkian, em Lisboa. No início da sua vida profissional, trabalhou na Câmara Municipal de Lisboa (1951-1960).
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2. Iniciou a intervenção pública como membro da Juventude Agrária e Rural Católica (JAC), de que foi um dos fundadores e seu presidente (1).
Em 1957, fundou o Movimento dos Monárquicos Independentes (MMI), que se propunha concorrer às eleições legislativas desse ano, chegando a publicar um manifesto eleitoral. Quando começaram a verificar-se divisões internas no MMI, fundou, com outros monárquicos [entre os quais Francisco Sousa Tavares e João Camossa], o Movimento dos Monárquicos Populares (MMP), claramente oposicionista. Em 1959, esteve implicado na denominada Revolta da Sé [mas não foi descoberto] e, no mesmo ano, subscreveu, com mais quatro dezenas de católicos – entre os quais Francisco Sousa Tavares, João Bénard da Costa, Nuno Teotónio Pereira e Sophia de Mello Breyner Andresen –, uma carta dirigida ao Presidente do Conselho, Salazar, na qual se denunciavam os métodos da PIDE. Foi também um dos signatários do manifesto católico de apoio às posições da oposição democrática que ficou conhecido por «Manifesto dos 101».
Em 1958 manifestou o seu apoio à candidatura presidencial de Humberto Delgado. Em 1967, por ocasião das cheias de Lisboa, manifestou-se publicamente contra as políticas de urbanização vigentes, responsáveis pela dimensão da tragédia.
Foi candidato na Lista Monárquica (Lisboa) em 1961 e em 1969 concorreu à Assembleia Nacional numa lista da Comissão Eleitoral de Unidade Democrática (CEUD). (2).
Em 1970 ajudou a fundar o movimento Convergência Monárquica, um movimento de monárquicos oposicionistas ao Estado Novo que reunia o Movimento dos Monárquicos Populares (que fundara em 1957), a Renovação Portuguesa, de Henrique Barrilaro Ruas, fundada em Maio de 1962, e uma facção da Liga Popular Monárquica, de João Vaz de Serra e Moura, nascida em 1964 [Iria ser a base do Partido Popular Monárquico surgido em 1974].
Participou no III Congresso da Oposição Democrática, realizado em Aveiro de 4 a 8 de Abril de 1973, apresentando uma tese intitulada «O Problema dos Espaços Verdes Urbanos». (3)
Da extensa obra de projecto e de planeamento que desenvolveu, salienta-se, nos anos que precederam o 25 de Abril, em 1970, o projecto de estrutura verde para a cidade de Nova Lisboa, em Angola, cujo plano director entregou no ano seguinte; em 1971, o plano de urbanização do Vale das Abadias e do Galante, na Figueira da Foz, em colaboração com o arquitecto Alberto Pessoa, e, nesse mesmo ano, o planeamento da zona de Quarteira-Albufeira e da ilha de Armona, ambos no Algarve, em colaboração com o arquitecto Frederico George.
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3. Após o 25 de Abril, Ribeiro Telles, fundou o Partido Popular Monárquico (PPM), a cujo Directório presidiu. Foi Subsecretário de Estado do Ambiente nos Governos Provisórios I (A. Palma Carlos), II e III (Vasco Gonçalves) e Secretário de Estado da mesma pasta, no I Governo Constitucional. Em 1979 integrou a Aliança Democrática. Deputado à Assembleia da República, em 1980, eleito na lista de Lisboa do Partido Socialista. Em 1983/ 1985 integrou o VIII Governo Constitucional, como Ministro de Estado e da Qualidade de Vida. Durante esse período criou as zonas protegidas da Reserva Agrícola Nacional, da Reserva Ecológica Nacional e lançou as bases do Plano Director Municipal. Em 1984 fundou o Movimento Alfacinha, com o qual se apresentou candidato à Câmara Municipal de Lisboa, tendo sido eleito vereador. Posteriormente fundou o Movimento o Partido da Terra, de que é presidente honorário, desde 2007.
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4. Entre os seus projectos referenciam-se os jardins da Fundação Calouste Gulbenkian, (que assinou com António Viana Barreto), um projecto com o qual recebeu, ex aequo, o Prémio Valmor de 1975. Projectou também o Jardim Amália Rodrigues, junto ao Parque Eduardo VII, em 1996. De 1998 a 2002, por iniciativa da presidência da Câmara Municipal de Lisboa, coordenou uma equipa técnica responsável por um conjunto muito vasto de projectos [em Lisboa e na Área Metropolitana], relativos às estruturas verdes principal e secundária, tais como o Vale de Alcântara e a Radial de Benfica, o Vale de Chelas, o Parque Periférico, o Corredor Verde de Monsanto e a Integração na Estrutura Verde Principal de Lisboa, da Zona Ribeirinha Oriental e Ocidental. Da sua vida profissional destaca-se ainda o estabelecimento das zonas protegidas da Reserva Agrícola Nacional, da Reserva Ecológica Nacional e as bases do Plano Director Municipal.
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Colaborou com numerosos jornais e revistas e publicou vários livros sobre assuntos da sua especialidade, sozinho ou em colaboração, e tem vastíssima obra de projecto e planeamento.
É autor de alguns trabalhos de carácter técnico, como Administração Pública e Ordenamento Territorial (Lisboa, 1980); Lisboa: Entre o Passado e o Futuro (Monte da Caparica, 1987); Reforma Agrária: o Homem e a Terra (Lisboa, 1976); Um Novo Conceito de Cidade: a Paisagem Global (Matosinhos, 1996).
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Em 1994 recebeu do então Presidente da República, Mário Soares, a Grã-Cruz da Ordem de Cristo.
Em 2011, aos 89 anos, Gonçalo Ribeiro Telles, foi homenageado na Universidade de Évora e na Fundação Calouste Gulbenkian.
Em Abril de 2013 foi galardoado com o Prémio Sir Geoffrey Jellicoe, a mais importante distinção internacional no âmbito da arquitectura paisagista, prémio que, segundo a Associação Portuguesa dos Arquitectos Paisagistas (APAP), "representa a maior honra que a Federação Internacional dos Arquitectos Paisagistas (IFLA) pode conceder; e reconhece um arquitecto paisagista, cuja obra e contribuições ao longo da vida tenham tido um impacto incomparável e duradoiro no bem-estar da sociedade e do ambiente e na promoção da profissão de Arquitectura Paisagista”.
A 10 de junho de 1990, recebeu do Presidente Mário Soares, a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade. e a 25 de maio de 2017, do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique.
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Notas:
(1) A JAC, com ligações ao “Movimento dos católicos progressistas”, atingiu o auge de implantação e participação na década de 60, acentuando a sua oposição ao regime nas sessões do Centro Nacional de Cultura.
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(2) Neste ano, foi constituída a Comissão Eleitoral Monárquica (CEM), com o objectivo de concorrer às eleições legislativas, e Henrique Barrilaro Ruas convidou-o para fazer parte da lista, mas recusou por já se ter comprometido com a CEUD. Garantiu, porém, que se a CEM chegasse às urnas e fosse qual fosse o resultado, o MMP aderiria a uma Convergência Monárquica [o que efectivamente veio a acontecer logo a seguir às eleições].
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(3) Convidado, com outros monárquicos, a participar no III Congresso Republicano de Aveiro começou por recusar, por se tratar de um congresso republicano, mas a denominação passou a ser III Congresso da Oposição Democrática – por sugestão do governador civil de Aveiro, Vale Guimarães, que argumentava não estar em causa a questão do regime – o que afastou o obstáculo à participação de monárquicos.
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Biografia da autoria de Helena Pato

https://www.facebook.com/rogerio.raimundo/posts/10221490638846813

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AgenDAR ir às Cortes/Leiria

A arte de Gonçalo Ribeiro Telles pode ser visitada em Leiria, numa encosta da freguesia de Cortes. Oportunidade para passear na paisagem pensada pelo vencedor do Prémio Geoffrey Jallicoe, o equivalente ao Nobel da arquitetura paisagista.

A obra de um “Nobel” pode ser visitada 24 horas por dia nas Cortes, em Leiria. Gonçalo Ribeiro Telles, autor do jardim da Casa-Museu João Soares (CMJS), venceu o que é considerado o prémio Nobel da arquitetura paisagista, o Prémio Geoffrey Jallicoe.

É um espaço privilegiado. Com vista sobre a Senhora do Monte e Maúnça, está aberto a todos, convidando ao descanso ou ao passeio perfumado pelas flores e embalado pelo chilrear dos pássaros.

A amizade entre Mário Soares e Gonçalo Ribeiro Telles proporcionou a Leiria aquele que é o único projeto do arquiteto no concelho. Surgiu em 1996, com a Casa-Museu. Um pomar foi integrado no projeto pelo arquiteto, “assumindo a ruralidade da zona com a maioria das árvores que já existiam”, refere o diretor da CMJS. Jorge Estrela lembra a sensibilidade de Ribeiro Telles para “as paisagens pré-existentes”.

Em baixo, no estacionamento, repousa o carro que Mário Soares utilizou nas campanhas eleitorais pós-25 de Abril de 1974. Subindo, duas escadarias ladeiam as árvores de fruto – remessas de nectarinas e pêssegos chegam regularmente a Lisboa, à Fundação Mário Soares. Também há carvalhos, medronheiros, folhados, aroeiras…

 https://www.regiaodeleiria.pt/2013/04/cortes-jardim/?fbclid=IwAR1LpwcdjOPHc-0IbrstJHnZwDA_v5g53OBlBfmJ2fhn2irxqLxV0MGupGc

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Gonçalo Ribeiro Telles, arquiteto paisagista e figura central do movimento monárquico em Portugal, morreu esta quarta-feira na sua casa de Lisboa, aos 98 anos, confirmou o SAPO24.

Nascido em Lisboa, a 25 de maio de 1922, Gonçalo Ribeiro Telles foi um dos pioneiros da defesa do ambiente, em Portugal e foi um dos principais responsáveis pelo desenho das áreas verdes de Lisboa, de Monsanto às zonas ribeirinhas, oriental e ocidental, do Vale de Alcântara, ao Jardim Amália, no Parque Eduardo VII, sem esquecer o mais antigo Jardim da Fundação Calouste Gulbenkian, que fez em parceria com Viana Barreto, pelo qual recebeu o Prémio Valmor, em 1975, nem projetos noutras zonas do país, como o Vale das Abadias, na Figueira da Foz.

 https://24.sapo.pt/atualidade/artigos/morreu-o-arquitecto-paisagista-goncalo-ribeiro-telles?utm_source=facebook_sharebutton&utm_medium=social&utm_campaign=social_sharebutton&fbclid=IwAR0Z5xY1mDNPiloKo3JVS02-9E7l7250mRG2bDEAgelvKLdCh2H2cDxyk4w

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Luís Osório: POSTAL DO DIA
Gonçalo, um homem bom
1.
Estive algumas vezes com Gonçalo Ribeiro Telles.
Não muitas, talvez se possam contar utilizando os dedos de uma só mão.
Um dia passeámos pelos seus jardins da Gulbenkian. Passeámos em silêncio, um silêncio que apenas interrompia para fazer um ou outro comentário sobre a vida que ali existia, a vida das crianças que riam, a vida dos pássaros, a vida das árvores e de todos os personagens invisíveis que caminhavam naquelas pequenas bifurcações e caminhos que um dia abandonaram o seu caderno para se tornarem nossos.
2.
Um dia almoçámos… na companhia de Helena Vaz da Silva e João Bénard da Costa pudemos conversar longamente.
Não me recordo onde nos juntámos ou o que comemos. Mas lembro-me bem que trocámos impressões sobre este mundo e o outro – o mundo daqui de baixo e o mundo lá de cima.
3.
Na altura eu era diretor de um jornal diário.
Um jovem diretor de jornal que ideologicamente se posicionava à esquerda.
O arquiteto Gonçalo Ribeiro Telles não se importava nada com isso. Gostava de estar com pessoas diferentes, estimulava-se com opiniões diversas, adorava juntar ideias como as crianças juntam peças de puzzle. Isso apenas se fazia na diferença, na construção de plataformas de entendimento.
Essa é a história da sua vida.
E é também por isso que a única tristeza nesta partida seja a constatação de que se despediu com o mundo dividido e todos os dias mais intolerante.
4.
Gonçalo foi um ambientalista antes do ambientalismo.
Gonçalo nasceu numa família nobre e privilegiada, mas nunca se cristalizou no que já tinha como garantido.
Gonçalo tinha tudo para ser um homem do Estado Novo, mas não o foi. Por isso foi proscrito longos anos do ensino e ostracizado por Salazar que não lhe perdoou a escrita de uma carta a denunciar a existência de presos políticos.
Gonçalo era um homem de direita, mas integrou as listas da CEUD e colaborou com Mário Soares em muitas ações antes do 25 de Abril.
Gonçalo fundou o PPM e abandonou o PPM quando concluiu que a maioria dos militantes desejava coisas diferentes de si.
Gonçalo esteve em quase todos os governos provisórios. Era o único que conversava com Sá Carneiro e trocava desenhos e rabiscos com Álvaro Cunhal sem que parecesse forçado nesse ecletismo.
Gonçalo esteve na génese da AD. Com Francisco Sá Carneiro e Freitas do Amaral foi um dos mentores da primeira “geringonça” da nossa história democrática. Vejam a diferença para a possibilidade desta AD de que se fala – desta vez com Rui Rio, Francisco Rodrigues dos Santos e André Ventura.
Gonçalo era o único dos três fundadores da AD que fora abertamente contra o salazarismo. Mas com Sá Carneiro e Freitas do Amaral contribuiu para um apaziguamento do regime que (até aí) era crispado e polarizado numa guerra civil que existia sem existir.
Gonçalo era um idealista.
Saiu do PPM desiludido com a política, mas continuou a querer fazer parte. Aceitou o convite de Mário Soares para ser deputado pelo PS. Fundou depois o Partido da Terra e saiu do Partido da Terra.
Ficou a certa altura como vereador da Câmara de Lisboa e fez com o Partido Comunista oposição a Krus Abecassis durante todo o mandato. Uma relação de respeito com os comunistas que foi várias vezes por si confirmada.
Gonçalo esteve na fundação da Universidade de Évora e inventou o curso de Arquitetura Paisagística.
Gonçalo lutou até ao fim por uma cidade humana. Uma cidade em que pudéssemos ser urbanos sem perder a noção da terra. Falou mais do que todos sobre a importância das hortas nas grandes cidades.
5.
Gonçalo foi um grande homem.
Um dos maiores dos últimos 50 anos.
E no final da sua vida, nos últimos longos anos, reconhecendo que o mundo mudara soube fazer silêncio e sair de cena. Sem um queixume, sem uma crítica, sem um sinal de tristeza.
Saiu apenas.
Para agora nos voltar com a sua força tranquila, com a força do seu exemplo.
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 Via Ana Salgueiro: https://www.publico.pt/.../obras-goncalo-ribeiro-telles...

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 “Tive uma filha que morreu nova. Tinha pouco mais de 30 anos. Tudo isso ajuda a perceber onde estamos e as fragilidades que temos. Todos temos os mesmos problemas e as mesmas dificuldades. Talvez não as resolvam de igual maneira. Se podemos ser um exemplo, sem andar a chatear ninguém, ótimo”: há cerca de sete anos e meio, Gonçalo Ribeiro Telles concedeu ao Expresso uma longa entrevista que se torna tão curta quando se chega ao fim - entre revelações pessoais, uma magnífica descrição sobre o Douro e a história de como parte importante da sua aprendizagem advém de “um tio velhote que era coxo” https://expresso.pt/.../2020-11-11-Se-podemos-ser-um...

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Via Júlio Isidro: A NATUREZA DO ARQUITECTO.
Sabia como ninguém qual o papel do homem na natureza.
Sabia que as suas leis não se podiam ou deviam violar.
Não acusava a natureza porque ela faz apenas a parte que lhe compete. A outra é a nossa e o nosso suicídio.
Ninguém gostava mais desta terra do que o arquitecto.
Ninguém se bateu tanto por um Portugal mais saudável, na terra e nas pessoas.
Era único na percepção do que poderia ter sido este jardim à beira-mar plantado.
Consumiu a sua vida, tantas vezes a pregar para o deserto, dos interesses, das glórias efémeras e das conquistas destrutivas.
A natureza do arquitecto era o verde da esperança e o azul do céu para onde agora partiu.
Não o podemos esquecer e ao seu legado, senhor arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles.

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Via vida breve: GONÇALO RIBEIRO TELLES (Lisboa, 25 de Maio de 1922 — 11 de Novembro de 2020), arquitecto, paisagista e ecologista.
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Com António Viana Barreto, projectou os jardins da Fundação Calouste Gulbenkian (Prémio Valmor de 1975). Que bom é passear nesses jardins, com a sua flora e fauna, em qualquer altura do ano e, ainda mais, quando está calor. Uma manta e um livro também dão uma tarde bem passada.
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Conheça os percursos que Gonçalo Ribeiro Telles sugeria, em gulbenkian.pt/jardim/percursos/percursos-no-jardim.

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Ricardo Duarte:

Gonçalo Ribeiro Telles, o guerreiro incansável

JOSE CARLOS CARVALHO
O arquiteto paisagista passou uma (longa) vida a lutar pelos valores ecológicos em Portugal, quase sempre contra tudo e contra todos. Sem ele, o País seria muito pior. Recorde Gonçalo Ribeiro Telles na primeira pessoa, numa viagem guiada pela "sua" Lisboa, em 2007, numa reportagem da VISÃO

O táxi desce em direção ao Vale de Santo António, em Lisboa, com Gonçalo Ribeiro Telles sentado no banco de trás. Estamos no verão de 2007. De repente, o arquiteto leva a palma da mão à testa com violência.

– Ai!

E abana a cabeça

– Olhem para isto!

O fim de uma curva revela um morro inteiro rasgado ao meio. Gruas enormes repousam no descampado em que o sopé se tornou. Duas cores monopolizam a paisagem: o amarelo torrado da terra seca e o cinzento do betão, usado para segurar o que resta do monte. Uma fila de prédios espreita do outro lado da estrada, como um espelho ameaçador a refletir o futuro. Ao fundo, muito ao fundo, o Tejo.

– De uma maravilha, faz-se isto. Para eles, a beleza dos sítios é um obstáculo ao desenvolvimento. É tramado, não é?

“Eles” são os empreiteiros e os políticos que autorizam construções como esta. A maravilha era ( já não é) um punhado de hortas urbanas, ilhas campestres, dentro da cidade, que davam a ilusão de nem tudo estar perdido para o cimento.

Ribeiro Telles não é um ambientalista como os outros.

– O que é isso de se ser ambientalista?, pergunta, com algum desdém.

Não faz considerações políticas vagas, não perde tempo com discursos teóricos, não se lhe ouvem dissertações sobre o aquecimento global. Tudo nele sai com uma naturalidade e uma simplicidade raras, mas as ideias estão revestidas de uma lógica insuperável e não se esgotam nelas próprias.

As nossas elites acham que ser-se agricultor é coisa de saloios. Essa cultura pseudourbana é que é saloia

Quando começa a falar de hortas em Lisboa, ou de corredores verdes, ou de quintas em redor da cidade, pode pensar-se que estes são pormenores, utopias de um intelectual, com pouca substância num país e num mundo com problemas ambientais tão graves. Onde entram as grandes questões, como a energia fóssil e os gases com efeito de estufa?

– Em 2015, dois terços da população mundial viverá em cidades. Portanto, tem de haver agricultura urbana. Não podemos continuar a gastar energia para transportar alfaces. E quando se acabar o petróleo? Não. A produção essencial tem de estar à porta.

É esta uma das suas maiores virtudes: fala do particular e depois desdobra-o uma vez, duas, três, até mostrar o real alcance das suas palavras. Bastam alguns minutos de conversa para Ribeiro Telles crescer acima do seu metro e 60 de altura e apresentar-se como o gigante do Ordenamento do Território que é. O homem que criou a Lei de Bases do Ambiente e as inéditas, a nível mundial, redes Ecológica e Agrícola Nacionais. O visionário que olhou na direção certa, quando todos estavam virados para o outro lado, e que manteve, teimosamente mas com a razão do seu lado, durante décadas, esse discurso ecológico incompreensível para a maior parte das pessoas. O arquiteto paisagista que foi muito além da sua profissão e plantou os princípios que hoje constituem os ideais dos ambientalistas. E que continua tão ativo (e politicamente incorreto) como sempre, na luta da sua vida: a harmonia entre o Homem e a Natureza.

À frente do seu tempo

Gonçalo Ribeiro Telles nasceu numa transversal da Avenida da Liberdade, em Lisboa, que, nesse ano de 1922, estava ainda muito longe de ser a artéria mais poluída do País.

– Aquilo era tudo hortas, à volta. Lembro-me de as vaquinhas virem à avenida, aos sábados.

Filho de um veterinário, oficial do Exército, Gonçalo passou a infância entre o centro da capital, a jogar à bola com os outros meninos, numa quinta enorme que se estendia até à Rua de S. José, e o Ribatejo (ainda hoje tem uma casa de família em Coruche). Esses anos haveriam de lhe ditar a carreira. No momento de escolher um curso, o lisboeta optou por Agronomia. Mas a outra hipótese, Arquitetura, ficou-lhe na cabeça. Em 1940, a meio do trajeto universitário, surgiu Arquitetura Paisagista, pelas mãos de Francisco Caldeira Cabral, o criador do Estádio Nacional. Não hesitou e tornou-se um dos primeiros cinco alunos a formar-se no novo curso.

As décadas seguintes veriam um Gonçalo Ribeiro Telles cada vez mais preocupado com o fosso crescente entre os polos urbanos e o mundo rural. Em 1960, publica, com o seu mentor Caldeira Cabral, o livro A Árvore em Portugal, que se transformou num tratado sobre a necessidade de segurar a agricultura, nas cidades, e a população no Interior. Teorias que seriam confirmadas muitos anos mais tarde. Não em Portugal…

– É o que se está a fazer noutros países. A palavra de ordem, nos EUA, é o regresso à agricultura tradicional. Em Chicago, abriram, agora, 26 mercados de frescos, para vender os produtos produzidos na própria cidade. E 30% dos ativos agrícolas para lá dos Pirenéus já são pessoas “mistas”, que têm empregos em centros urbanos e uma casa com quintal, nos arredores, onde trabalham a terra. Construir a cidade, hoje, é fazê-la voltar a isso. As nossas elites acham que ser-se agricultor é coisa de saloios. Essa cultura pseudourbana é que é saloia.

Durante a carreira, recheada de obras tão importantes como o Jardim da Gulbenkian e o Jardim Amália Rodrigues, no Alto do Parque Eduardo VII, os valores ecológicos de Ribeiro Telles amadureceram. Em viagens constantes, apreendeu tudo o que de melhor se estava a fazer lá fora. E importou muitas das ideias “ambientalistas” (vai entre aspas, porque Ribeiro Telles, lá está, não gosta de ser associado ao conceito) que despontavam numa Europa infinitamente mais civilizada do que o Portugal salazarista.

Palavrões estranhos, como biodiversidade, começavam a entrar no léxico nacional. Mas demasiado devagar. Até chegarem as tropas do movimento ambientalista moderno, o arquiteto sofreria, quase sozinho, com a transformação dos arredores de Lisboa em subúrbios caóticos e do Algarve num monstro descontrolado de betão, nos anos setenta e oitenta.

A grande herança

A oportunidade de passar das palavras aos atos aparece com a queda do Estado Novo, em 1974. Gonçalo Ribeiro Telles é convidado para integrar os governos provisórios como secretário de Estado do Ambiente e, em 1981, sobe a ministro de Estado e da Qualidade de Vida, no Executivo de Pinto Balsemão, cargo que ocupa até 1983. Durante este período, começa a desenhar a Lei de Bases do Ambiente e as Redes Ecológica (REN) e Agrícola que hoje ajudam a proteger entre 10% e 12% de Portugal.

A REN foi, provavelmente, o seu maior legado ao Ordenamento do Território. “É uma invenção nossa, não foi importada, e tem conseguido resistir todos estes anos, apesar dos ataques que sofre. E a Lei de Bases é o instrumento a partir do qual apareceram todas as normas do Ambiente”, explica Hélder Spínola, 34 anos, presidente da Quercus. “O arquiteto sempre foi um homem com visão e coragem, que merece, na história do ambientalismo em Portugal, um espaço de destaque fez a diferença, num momento em que poucos prestavam atenção a estes problemas.”

Amadora, Cacém, a Margem Sul: esses sítios já não são recuperáveis. Agora, avançam com Projetos de Interesse Nacional [imobiliários e turísticos] no Oeste, onde ficam as nossas melhores terras, e estão a entrar pelo Barrocal, no Algarve, depois de terem destruído a costa. É inacreditável!

Ribeiro Telles recusa carregar a honra sozinho. Prefere recordar que tudo resultou do trabalho em equipa (e acrescentar que a Lei de Bases do Ambiente foi, entretanto, traída pela do Ordenamento do Território). Aliás, se há coisa que odeia é falar de si próprio.

A única altura, durante a entrevista, no Alto do Parque Eduardo VII, em que o professor catedrático perde a eloquência é quando uma mulher se aproxima para lhe dizer o quanto o admira. Aí, sim, o seu discurso escorreito e seguro dá lugar a hesitações e a um desconforto óbvio.

– Obrigado… Julgava que eu era mais alto, não é? Obrigado…

No regresso ao seu habitat, talvez para esquecer rapidamente aquele momento, Gonçalo Ribeiro Telles apressa-se a apontar os maiores erros de ordenamento, em Portugal.

– Primeiro, foi o economicismo da industrialização da agricultura, como a Campanha do Trigo. Depois, tentou-se convencer que a floresta de pinheiro e eucalipto dava empregos no Interior, o que é uma burla. Por causa disso, a paisagem portuguesa foi destruída e a população fugiu para os centros urbanos. Tanta gente nas cidades, que só têm prédios? As pessoas vão morrer de fome. E de tédio.

As ‘suas’ hortas

Benfica, junto ao Centro Comercial Colombo. Uma zona de hortas surge como uma miragem surpreendente, rodeada de edifícios, em plena Lisboa. Aqui e ali, alguns agricultores (trabalhadores ou reformados de empresas citadinas, saudosistas das suas raízes no Interior) escavam a terra de enxada nas mãos. Ribeiro Telles entra por ali dentro como se estivesse em sua casa e sorri, enquanto inspira, profundamente, este ar campestre.

– Ah… Isto é que é cidade!

Os olhos brilham-lhe quando avista os pequenos campos cultivados com feijão, cebolas e couves. Três homens veem-no, interrompem a colheita de batatas e quase correm na sua direção.

“Senhor arquiteto! Como está? Venha, venha, temos aqui um queijinho de Castelo Branco”, convida um deles. Gonçalo Ribeiro Telles segue-os, com visível prazer, até um pequeno armazém, onde prova o queijo e molha os lábios num copo de tinto, despejado do garrafão. “O homem é uma maravilha”, confidencia, em surdina, Francisco Caio, 57 anos, reformado da PT. “Vem cá muitas vezes. Há muitos anos que ele defende isto”, garante, a apontar para o pedaço de campo, no meio da cidade. “O dia a dia é desgraçado, feito de correrias. Cultivar a terra é que nos dá qualidade de vida.” E é essa qualidade de vida que está sempre no centro das conversas de Ribeiro Telles, quando fala de Ambiente ou de Ordenamento.

Todos estes verdes têm uma lógica. Não são espaços que sobejam, abandonados. Sem eles, a cidade não existe para viver. Apenas para se passar.

O Plano Verde de Lisboa, uma rede de corredores ecológicos que projetou, é a solução para interromper o betão citadino, mantendo a biodiversidade e melhorando a circulação da água, dentro da capital.

– É uma nova estratégia para a cidade, que mexe com todos os municípios à volta. E metade podia fazer-se em ano e meio. Mas as hortas não dão dinheiro…

“As ideias que defende são contrárias aos interesses económicos”, diz Carlos Costa, 52 anos, presidente do Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA). “Hoje em dia, já ninguém se atreve a dizer que ele está errado. O problema é levar ao poder pessoas que consigam contornar os interesses instalados.”

Gonçalo Ribeiro Telles lamenta que a votação do projeto continue à espera de aprovação, na Assembleia Municipal. Na Câmara, só José Sá Fernandes defende publicamente o Plano, o que é suficiente para o monárquico (e presidente-honorário do Movimento Partido da Terra) estar ao lado do candidato do Bloco de Esquerda, na campanha autárquica. Mas não chega para garantir uma vitória da ecologia sobre as omnipresentes conveniências imobiliárias.

– A volumetria da construção é de uma insensibilidade… Amadora, Cacém, a Margem Sul: esses sítios já não são recuperáveis. Agora, avançam com Projetos de Interesse Nacional [imobiliários e turísticos] no Oeste, onde ficam as nossas melhores terras, e estão a entrar pelo Barrocal, no Algarve, depois de terem destruído a costa. É inacreditável!

Ribeiro Telles fala como um homem apaixonado, ainda que as suas palavras sejam de desilusão. Continua a sentir que rema contra a maré, sim, mas tem a convicção absoluta de que está certo.

Proteger o Ambiente não é salvar a Natureza é salvar o Homem.

– Um dia, vão dar-me razão.

(Reportagem publicada na VISÃO em 12 de julho de 2007)

https://l.facebook.com/l.php?u=https%3A%2F%2Fvisao.sapo.pt%2Fatualidade%2Fambiente%2F2020-11-11-goncalo-ribeiro-telles-o-guerreiro-incansavel%2F%3Ffbclid%3DIwAR0jhOAGt6OcORqslWFY_Jqwotb9zJ-xpKZHaubgW49dbWufPstjA27k8o0&h=AT1Kutg5x3k7OMhhbRE-kIolnjRfcQQGM03FkVWI3Vn1jCEHv4LiwWvpNby6PRgrH-K1hQxZdGCpDFmmTaZ9KccmQeR0PuZ-HixwyxQDa-Zd9MbNb6_CqgxxvNahBWp27AU1XuPCPlfyVw&__tn__=R]-R&c[0]=AT1fO_FgoD4fH2KX7-RuLirUPgyWK837_DmBxyS080rF701QdURVEf9BW48tmiGA_3eP0EqJmpoDGQAwRfwm9iGQ7ZqSB84tFCbDtLHKz3L96wkzwBMlU9Cqtifg_K5tojBEIelXFEh02Ob8FUvNK_9h_LAFXw7SKwM7PtkvA34wkdDTfwTA3dS0drreB6f_NaJ64_N0JlgtBjPH2w
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Inês Silva fez peça para a RTP:

 https://www.rtp.pt/noticias/cultura/morreu-o-arquiteto-goncalo-ribeiro-telles_v1274733?fbclid=IwAR1LpwcdjOPHc-0IbrstJHnZwDA_v5g53OBlBfmJ2fhn2irxqLxV0MGupGc

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https://www.publico.pt/2020/11/11/culturaipsilon/noticia/goncalo-ribeiro-telles-19222020-cultivador-utopias-1938817?fbclid=IwAR2Vk4vI-55LCXXA9uD_N3En-YKXgZyLr-X4EVR3NrAaY_PyTfVZxIujDNQ