Nasceu a
e morreu a 11.11.2020...Hospital ST Maria/Lisboa
***
Rui Coelho confirmou que havia um esboço do Arquitecto para a Cova da Onça em Alcobaça: "
***
11.11.2020...morreu Gonçalo Ribeiro Teles...1 Vivaaaaaa ao antifascista, ao impulsionador de tantos jardins/paisagens...
https://www.facebook.com/rogerio.raimundo/posts/10221490638846813
**
AgenDAR ir às Cortes/Leiria
A arte de Gonçalo Ribeiro Telles pode ser visitada em Leiria, numa encosta da freguesia de Cortes. Oportunidade para passear na paisagem pensada pelo vencedor do Prémio Geoffrey Jallicoe, o equivalente ao Nobel da arquitetura paisagista.
A obra de um “Nobel” pode ser visitada 24 horas por dia nas Cortes, em Leiria. Gonçalo Ribeiro Telles, autor do jardim da Casa-Museu João Soares (CMJS), venceu o que é considerado o prémio Nobel da arquitetura paisagista, o Prémio Geoffrey Jallicoe.
É um espaço privilegiado. Com vista sobre a Senhora do Monte e Maúnça, está aberto a todos, convidando ao descanso ou ao passeio perfumado pelas flores e embalado pelo chilrear dos pássaros.
A amizade entre Mário Soares e Gonçalo Ribeiro Telles proporcionou a Leiria aquele que é o único projeto do arquiteto no concelho. Surgiu em 1996, com a Casa-Museu. Um pomar foi integrado no projeto pelo arquiteto, “assumindo a ruralidade da zona com a maioria das árvores que já existiam”, refere o diretor da CMJS. Jorge Estrela lembra a sensibilidade de Ribeiro Telles para “as paisagens pré-existentes”.
Em baixo, no estacionamento, repousa o carro que Mário Soares utilizou nas campanhas eleitorais pós-25 de Abril de 1974. Subindo, duas escadarias ladeiam as árvores de fruto – remessas de nectarinas e pêssegos chegam regularmente a Lisboa, à Fundação Mário Soares. Também há carvalhos, medronheiros, folhados, aroeiras…
https://www.regiaodeleiria.pt/2013/04/cortes-jardim/?fbclid=IwAR1LpwcdjOPHc-0IbrstJHnZwDA_v5g53OBlBfmJ2fhn2irxqLxV0MGupGc
**
Gonçalo Ribeiro Telles, arquiteto paisagista e figura central do movimento monárquico em Portugal, morreu esta quarta-feira na sua casa de Lisboa, aos 98 anos, confirmou o SAPO24.
Nascido em Lisboa, a 25 de maio de 1922, Gonçalo Ribeiro Telles foi um dos pioneiros da defesa do ambiente, em Portugal e foi um dos principais responsáveis pelo desenho das áreas verdes de Lisboa, de Monsanto às zonas ribeirinhas, oriental e ocidental, do Vale de Alcântara, ao Jardim Amália, no Parque Eduardo VII, sem esquecer o mais antigo Jardim da Fundação Calouste Gulbenkian, que fez em parceria com Viana Barreto, pelo qual recebeu o Prémio Valmor, em 1975, nem projetos noutras zonas do país, como o Vale das Abadias, na Figueira da Foz.
https://24.sapo.pt/atualidade/artigos/morreu-o-arquitecto-paisagista-goncalo-ribeiro-telles?utm_source=facebook_sharebutton&utm_medium=social&utm_campaign=social_sharebutton&fbclid=IwAR0Z5xY1mDNPiloKo3JVS02-9E7l7250mRG2bDEAgelvKLdCh2H2cDxyk4w
**
**
Via Ana Salgueiro: https://www.publico.pt/.../obras-goncalo-ribeiro-telles...
**
“Tive uma filha que morreu nova. Tinha pouco mais de 30 anos. Tudo isso ajuda a perceber onde estamos e as fragilidades que temos. Todos temos os mesmos problemas e as mesmas dificuldades. Talvez não as resolvam de igual maneira. Se podemos ser um exemplo, sem andar a chatear ninguém, ótimo”: há cerca de sete anos e meio, Gonçalo Ribeiro Telles concedeu ao Expresso uma longa entrevista que se torna tão curta quando se chega ao fim - entre revelações pessoais, uma magnífica descrição sobre o Douro e a história de como parte importante da sua aprendizagem advém de “um tio velhote que era coxo” https://expresso.pt/.../2020-11-11-Se-podemos-ser-um...
**
**
**
Ricardo Duarte:
Gonçalo Ribeiro Telles, o guerreiro incansável
O táxi desce em direção ao Vale de Santo António, em Lisboa, com Gonçalo Ribeiro Telles sentado no banco de trás. Estamos no verão de 2007. De repente, o arquiteto leva a palma da mão à testa com violência.
– Ai!
E abana a cabeça
– Olhem para isto!
O fim de uma curva revela um morro inteiro rasgado ao meio. Gruas enormes repousam no descampado em que o sopé se tornou. Duas cores monopolizam a paisagem: o amarelo torrado da terra seca e o cinzento do betão, usado para segurar o que resta do monte. Uma fila de prédios espreita do outro lado da estrada, como um espelho ameaçador a refletir o futuro. Ao fundo, muito ao fundo, o Tejo.
– De uma maravilha, faz-se isto. Para eles, a beleza dos sítios é um obstáculo ao desenvolvimento. É tramado, não é?
“Eles” são os empreiteiros e os políticos que autorizam construções como esta. A maravilha era ( já não é) um punhado de hortas urbanas, ilhas campestres, dentro da cidade, que davam a ilusão de nem tudo estar perdido para o cimento.
Ribeiro Telles não é um ambientalista como os outros.
– O que é isso de se ser ambientalista?, pergunta, com algum desdém.
Não faz considerações políticas vagas, não perde tempo com discursos teóricos, não se lhe ouvem dissertações sobre o aquecimento global. Tudo nele sai com uma naturalidade e uma simplicidade raras, mas as ideias estão revestidas de uma lógica insuperável e não se esgotam nelas próprias.
As nossas elites acham que ser-se agricultor é coisa de saloios. Essa cultura pseudourbana é que é saloia
Quando começa a falar de hortas em Lisboa, ou de corredores verdes, ou de quintas em redor da cidade, pode pensar-se que estes são pormenores, utopias de um intelectual, com pouca substância num país e num mundo com problemas ambientais tão graves. Onde entram as grandes questões, como a energia fóssil e os gases com efeito de estufa?
– Em 2015, dois terços da população mundial viverá em cidades. Portanto, tem de haver agricultura urbana. Não podemos continuar a gastar energia para transportar alfaces. E quando se acabar o petróleo? Não. A produção essencial tem de estar à porta.
É esta uma das suas maiores virtudes: fala do particular e depois desdobra-o uma vez, duas, três, até mostrar o real alcance das suas palavras. Bastam alguns minutos de conversa para Ribeiro Telles crescer acima do seu metro e 60 de altura e apresentar-se como o gigante do Ordenamento do Território que é. O homem que criou a Lei de Bases do Ambiente e as inéditas, a nível mundial, redes Ecológica e Agrícola Nacionais. O visionário que olhou na direção certa, quando todos estavam virados para o outro lado, e que manteve, teimosamente mas com a razão do seu lado, durante décadas, esse discurso ecológico incompreensível para a maior parte das pessoas. O arquiteto paisagista que foi muito além da sua profissão e plantou os princípios que hoje constituem os ideais dos ambientalistas. E que continua tão ativo (e politicamente incorreto) como sempre, na luta da sua vida: a harmonia entre o Homem e a Natureza.
À frente do seu tempo
Gonçalo Ribeiro Telles nasceu numa transversal da Avenida da Liberdade, em Lisboa, que, nesse ano de 1922, estava ainda muito longe de ser a artéria mais poluída do País.
– Aquilo era tudo hortas, à volta. Lembro-me de as vaquinhas virem à avenida, aos sábados.
Filho de um veterinário, oficial do Exército, Gonçalo passou a infância entre o centro da capital, a jogar à bola com os outros meninos, numa quinta enorme que se estendia até à Rua de S. José, e o Ribatejo (ainda hoje tem uma casa de família em Coruche). Esses anos haveriam de lhe ditar a carreira. No momento de escolher um curso, o lisboeta optou por Agronomia. Mas a outra hipótese, Arquitetura, ficou-lhe na cabeça. Em 1940, a meio do trajeto universitário, surgiu Arquitetura Paisagista, pelas mãos de Francisco Caldeira Cabral, o criador do Estádio Nacional. Não hesitou e tornou-se um dos primeiros cinco alunos a formar-se no novo curso.
As décadas seguintes veriam um Gonçalo Ribeiro Telles cada vez mais preocupado com o fosso crescente entre os polos urbanos e o mundo rural. Em 1960, publica, com o seu mentor Caldeira Cabral, o livro A Árvore em Portugal, que se transformou num tratado sobre a necessidade de segurar a agricultura, nas cidades, e a população no Interior. Teorias que seriam confirmadas muitos anos mais tarde. Não em Portugal…
– É o que se está a fazer noutros países. A palavra de ordem, nos EUA, é o regresso à agricultura tradicional. Em Chicago, abriram, agora, 26 mercados de frescos, para vender os produtos produzidos na própria cidade. E 30% dos ativos agrícolas para lá dos Pirenéus já são pessoas “mistas”, que têm empregos em centros urbanos e uma casa com quintal, nos arredores, onde trabalham a terra. Construir a cidade, hoje, é fazê-la voltar a isso. As nossas elites acham que ser-se agricultor é coisa de saloios. Essa cultura pseudourbana é que é saloia.
Durante a carreira, recheada de obras tão importantes como o Jardim da Gulbenkian e o Jardim Amália Rodrigues, no Alto do Parque Eduardo VII, os valores ecológicos de Ribeiro Telles amadureceram. Em viagens constantes, apreendeu tudo o que de melhor se estava a fazer lá fora. E importou muitas das ideias “ambientalistas” (vai entre aspas, porque Ribeiro Telles, lá está, não gosta de ser associado ao conceito) que despontavam numa Europa infinitamente mais civilizada do que o Portugal salazarista.
Palavrões estranhos, como biodiversidade, começavam a entrar no léxico nacional. Mas demasiado devagar. Até chegarem as tropas do movimento ambientalista moderno, o arquiteto sofreria, quase sozinho, com a transformação dos arredores de Lisboa em subúrbios caóticos e do Algarve num monstro descontrolado de betão, nos anos setenta e oitenta.
A grande herança
A oportunidade de passar das palavras aos atos aparece com a queda do Estado Novo, em 1974. Gonçalo Ribeiro Telles é convidado para integrar os governos provisórios como secretário de Estado do Ambiente e, em 1981, sobe a ministro de Estado e da Qualidade de Vida, no Executivo de Pinto Balsemão, cargo que ocupa até 1983. Durante este período, começa a desenhar a Lei de Bases do Ambiente e as Redes Ecológica (REN) e Agrícola que hoje ajudam a proteger entre 10% e 12% de Portugal.
A REN foi, provavelmente, o seu maior legado ao Ordenamento do Território. “É uma invenção nossa, não foi importada, e tem conseguido resistir todos estes anos, apesar dos ataques que sofre. E a Lei de Bases é o instrumento a partir do qual apareceram todas as normas do Ambiente”, explica Hélder Spínola, 34 anos, presidente da Quercus. “O arquiteto sempre foi um homem com visão e coragem, que merece, na história do ambientalismo em Portugal, um espaço de destaque fez a diferença, num momento em que poucos prestavam atenção a estes problemas.”
Amadora, Cacém, a Margem Sul: esses sítios já não são recuperáveis. Agora, avançam com Projetos de Interesse Nacional [imobiliários e turísticos] no Oeste, onde ficam as nossas melhores terras, e estão a entrar pelo Barrocal, no Algarve, depois de terem destruído a costa. É inacreditável!
Ribeiro Telles recusa carregar a honra sozinho. Prefere recordar que tudo resultou do trabalho em equipa (e acrescentar que a Lei de Bases do Ambiente foi, entretanto, traída pela do Ordenamento do Território). Aliás, se há coisa que odeia é falar de si próprio.
A única altura, durante a entrevista, no Alto do Parque Eduardo VII, em que o professor catedrático perde a eloquência é quando uma mulher se aproxima para lhe dizer o quanto o admira. Aí, sim, o seu discurso escorreito e seguro dá lugar a hesitações e a um desconforto óbvio.
– Obrigado… Julgava que eu era mais alto, não é? Obrigado…
No regresso ao seu habitat, talvez para esquecer rapidamente aquele momento, Gonçalo Ribeiro Telles apressa-se a apontar os maiores erros de ordenamento, em Portugal.
– Primeiro, foi o economicismo da industrialização da agricultura, como a Campanha do Trigo. Depois, tentou-se convencer que a floresta de pinheiro e eucalipto dava empregos no Interior, o que é uma burla. Por causa disso, a paisagem portuguesa foi destruída e a população fugiu para os centros urbanos. Tanta gente nas cidades, que só têm prédios? As pessoas vão morrer de fome. E de tédio.
As ‘suas’ hortas
Benfica, junto ao Centro Comercial Colombo. Uma zona de hortas surge como uma miragem surpreendente, rodeada de edifícios, em plena Lisboa. Aqui e ali, alguns agricultores (trabalhadores ou reformados de empresas citadinas, saudosistas das suas raízes no Interior) escavam a terra de enxada nas mãos. Ribeiro Telles entra por ali dentro como se estivesse em sua casa e sorri, enquanto inspira, profundamente, este ar campestre.
– Ah… Isto é que é cidade!
Os olhos brilham-lhe quando avista os pequenos campos cultivados com feijão, cebolas e couves. Três homens veem-no, interrompem a colheita de batatas e quase correm na sua direção.
“Senhor arquiteto! Como está? Venha, venha, temos aqui um queijinho de Castelo Branco”, convida um deles. Gonçalo Ribeiro Telles segue-os, com visível prazer, até um pequeno armazém, onde prova o queijo e molha os lábios num copo de tinto, despejado do garrafão. “O homem é uma maravilha”, confidencia, em surdina, Francisco Caio, 57 anos, reformado da PT. “Vem cá muitas vezes. Há muitos anos que ele defende isto”, garante, a apontar para o pedaço de campo, no meio da cidade. “O dia a dia é desgraçado, feito de correrias. Cultivar a terra é que nos dá qualidade de vida.” E é essa qualidade de vida que está sempre no centro das conversas de Ribeiro Telles, quando fala de Ambiente ou de Ordenamento.
Todos estes verdes têm uma lógica. Não são espaços que sobejam, abandonados. Sem eles, a cidade não existe para viver. Apenas para se passar.
O Plano Verde de Lisboa, uma rede de corredores ecológicos que projetou, é a solução para interromper o betão citadino, mantendo a biodiversidade e melhorando a circulação da água, dentro da capital.
– É uma nova estratégia para a cidade, que mexe com todos os municípios à volta. E metade podia fazer-se em ano e meio. Mas as hortas não dão dinheiro…
“As ideias que defende são contrárias aos interesses económicos”, diz Carlos Costa, 52 anos, presidente do Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA). “Hoje em dia, já ninguém se atreve a dizer que ele está errado. O problema é levar ao poder pessoas que consigam contornar os interesses instalados.”
Gonçalo Ribeiro Telles lamenta que a votação do projeto continue à espera de aprovação, na Assembleia Municipal. Na Câmara, só José Sá Fernandes defende publicamente o Plano, o que é suficiente para o monárquico (e presidente-honorário do Movimento Partido da Terra) estar ao lado do candidato do Bloco de Esquerda, na campanha autárquica. Mas não chega para garantir uma vitória da ecologia sobre as omnipresentes conveniências imobiliárias.
– A volumetria da construção é de uma insensibilidade… Amadora, Cacém, a Margem Sul: esses sítios já não são recuperáveis. Agora, avançam com Projetos de Interesse Nacional [imobiliários e turísticos] no Oeste, onde ficam as nossas melhores terras, e estão a entrar pelo Barrocal, no Algarve, depois de terem destruído a costa. É inacreditável!
Ribeiro Telles fala como um homem apaixonado, ainda que as suas palavras sejam de desilusão. Continua a sentir que rema contra a maré, sim, mas tem a convicção absoluta de que está certo.
Proteger o Ambiente não é salvar a Natureza é salvar o Homem.
– Um dia, vão dar-me razão.
(Reportagem publicada na VISÃO em 12 de julho de 2007)
https://l.facebook.com/l.php?u=https%3A%2F%2Fvisao.sapo.pt%2Fatualidade%2Fambiente%2F2020-11-11-goncalo-ribeiro-telles-o-guerreiro-incansavel%2F%3Ffbclid%3DIwAR0jhOAGt6OcORqslWFY_Jqwotb9zJ-xpKZHaubgW49dbWufPstjA27k8o0&h=AT1Kutg5x3k7OMhhbRE-kIolnjRfcQQGM03FkVWI3Vn1jCEHv4LiwWvpNby6PRgrH-K1hQxZdGCpDFmmTaZ9KccmQeR0PuZ-HixwyxQDa-Zd9MbNb6_CqgxxvNahBWp27AU1XuPCPlfyVw&__tn__=R]-R&c[0]=AT1fO_FgoD4fH2KX7-RuLirUPgyWK837_DmBxyS080rF701QdURVEf9BW48tmiGA_3eP0EqJmpoDGQAwRfwm9iGQ7ZqSB84tFCbDtLHKz3L96wkzwBMlU9Cqtifg_K5tojBEIelXFEh02Ob8FUvNK_9h_LAFXw7SKwM7PtkvA34wkdDTfwTA3dS0drreB6f_NaJ64_N0JlgtBjPH2w
**
Inês Silva fez peça para a RTP:
https://www.rtp.pt/noticias/cultura/morreu-o-arquiteto-goncalo-ribeiro-telles_v1274733?fbclid=IwAR1LpwcdjOPHc-0IbrstJHnZwDA_v5g53OBlBfmJ2fhn2irxqLxV0MGupGc
**
https://www.publico.pt/2020/11/11/culturaipsilon/noticia/goncalo-ribeiro-telles-19222020-cultivador-utopias-1938817?fbclid=IwAR2Vk4vI-55LCXXA9uD_N3En-YKXgZyLr-X4EVR3NrAaY_PyTfVZxIujDNQ