25/05/2009

7.601.(25maio2009.19.10') Edgar Morin





***
nasceu a 8jul1921




***
Via Citador

http://www.citador.pt/textos/a/edgar-morin

 **


in 'Pode Haver uma Sabedoria Moderna ? (Conferência)' 

O Amor da Sabedoria Tem Falta de Amor


A sabedoria deve saber que traz em si uma contradição: é louco viver muito sabiamente. Devemos reconhecer que, na loucura que é o amor, há a sabedoria do amor. O amor da sabedoria - ou filosofia - tem falta de amor. O importante, na vida, é o amor. Com todos os perigos que carrega.
Isto não é suficiente. Se o mal de que sofremos e fazemos sofrer é a incompreensão de outrem, a autojustificação, a mentira de si próprio (self-deception), então a via da ética - e é aí que introduzirei a sabedoria - está no esforço de compreensão e não na condenação - no auto-exame que comporta a autocrítica e que se esforça por reconhecer a mentira de si próprio. 
**

in 'Os Meus Demónios'


O Limite do Conhecimento


Não há conhecimento «espelho» do mundo objectivo. O conhecimento é sempre tradução e construção. Resulta daí que todas as observações e todas as concepções devem incluir o conhecimento do observador-conceptualizador. Não ao conhecimento sem autoconhecimento.
Todo o conhecimento supõe ao mesmo tempo separação e comunicação. Assim, as possibilidades e os limites do conhecimento relevam do mesmo princípio: o que permite o nosso conhecimento limita o nosso conhecimento, e o que limita o nosso conhecimento permite o nosso conhecimento.
O conhecimento do conhecimento permite reconhecer as origens da incerteza do conhecimento e os limites da lógica dedutiva-identitária. O aparecimento de contradições e de antinomias num desenvolvimento racional assinala-nos os estratos profundos do real. 
*

O Intelectual


Que é um intelectual? Quando é que uma pessoa se torna intelectual? Quer se seja escritor, universitário, cientista, artista ou advogado, só se passa a ser intelectual, no meu sentido, quando se trata, por meio de ensaio, de texto de revista, de artigo de jornal, de forma especializada e para além do campo profissional estrito, dos problemas humanos, morais, filosóficos e políticos. É então que o escritor, o filósofo, o cientista se auto-instituem intelectuais.
O termo intelectual tem um significado missionário, divulgador, eventualmente militante. Assim, a qualidade de intelectual não é determinada pela pertença profissional à intelligentsia, antes vem do uso ou da superação da profissão, nas e pelas ideias. Assim Sartre é um intelectual quando escreve L'Existencialisme Est un Humanisme e anima a revista Les Temps Modernes. Camus é um intelectual quando escreveL'Homme Revolté e faz editoriais em Combat. Aron é um intelectual quando participa no comité pela liberdade da cultura e publica as suas análises no Le Figaro. Na frente dos intelectuais há a raça bastarda dos escritores/escreventes (como mais ou menos dizia Barthes, o escritor escreve para a escrita, o escrevente escreve para as ideias). E o seu meio de expressão mais adequado é o ensaio, género híbrido entre a filosofia, a literatura o jornalismo e a sociologia. 
*

O Intelectual e o Meio


Ser intelectual e fazer parte dos intelectuais são duas coisas que simultaneamente se identificam e opõem. Há um determinismo de colectividade; assim, os gafanhotos isolados são insectos amáveis, cada um devotado aos seus pequenos assuntos, tendo cada um o seu comportamento. Mas a partir de uma certa densidade, de resto demasiado fraca, tornam-se uma turba onde as individualidades desaparecem, perdem a sua cor esverdeada em troca de um uniforme e padronizado amarelo-acizentado, adquirem um comportamento estereotipado e transformam-se em impiedosos devoradores, destruindo tudo o que for obstáculo ao seu frenesim. Da mesma forma, os intelectuais são, isoladamente, simpáticos indivíduos, cada um dedicado à sua obra, mas a sua reunião em sociedade faz deles monstros. 
*

Singularidade(s)


Quem sou eu? A minha singularidade dissolve-se quando a examino e, por fim, fico convencido de que a minha singularidade vem de uma ausência de singularidade. Tenho mesmo em mim algo de mimético que me impele a ser como os outros. Em Itália sinto-me italiano e gostaria que os italianos me sentissem como participante na sua italianidade. Outro dia, ao falar a um auditório da Champanha senti-me champanhizado. Ah sim, gostaria de ser como eles. Adoro ser integrado e, contudo, não sou inteiramente de uns e dos outros. Poderia ser de todo o lado, mas nem por isso me sinto de alguma parte, estou enraizado assim.
Não é o exercício de um talento singular nem a posse de uma admirável verdade que me distinguem. Se me distingo é pelo uso não inibido ou cristalizado de uma máquina cerebral comum e pela minha preocupação permanente em obedecer às regras primeiras desta máquina cognitiva: ligar todo o conhecimento separado, contextualizá-lo, situar todas as verdades parciais no conjunto de que fazem parte. 
*

A Realidade Humana


O conhecimento do conhecimento ensina-nos que apenas conhecemos uma pequena película da realidade. A única realidade que é cognoscível é co-produzida pelo espírito humano, com a ajuda do imaginário. O real e o imaginário estão entretecidos e formam o complexo dos nossos seres e das nossas vidas. A realidade humana em si mesma é semi-imaginária. A realidade é apenas humana, e apenas parcialmente real. 
*

Personalidades Potenciais

Trazemos connosco personalidades potenciais que acontecimentos ou acidentes podem potencializar. Assim, a Revolução fez surgir o génio político ou militar nos jovens destinados a uma carreira medíocre numa época normal; a guerra provoca o advento de heróis e de carrascos; a ditadura totalitária transformou seres pálidos em monstros. O exercício incontrolado do poder pode «tornar o sábio louco» (Alain) mas pode tornar sábio o louco, e dar génio ao medíocre, como no caso de Hitler e Estaline. E também as possibilidades de génio ou de demência, de crueldade ou de bondade, de santidade ou de monstruosidade, virtuais em todos os seres, podem desenvolver-se em circunstâncias excepcionais.
Inversamente, estas possibilidades nunca chegarão à luz do dia na chamada vida normal: nos nossos dias, César seria funcionário da CEE, Alexandre teria escrito uma vida de Aristóteles para uma colecção de divulgação, Robespierre seria adjunto de Pierre Mauroy na Câmara de Arras, e Bonaparte seria do séquito de Pascua. 
*

Crueldade e Sofrimento

A crueldade é constitutiva do universo, é o preço a pagar pela grande solidariedade da biosfera, é ineliminável da vida humana. Nascemos na crueldade do mundo e da vida, a que acrescentámos a crueldade do ser humano e a crueldade da sociedade humana. Os recém-nascidos nascem com gritos de dor. Os animais dotados de sistemas nervosos sofrem, talvez os vegetais também, mas foram os humanos que adquiriram as maiores aptidões para o sofrimento ao adquirirem as maiores aptidões para a fruição. A crueldade do mundo é sentida mais vivamente e mais violentamente pelas criaturas de carne, alma e espírito, que podem sofrer ao mesmo tempo com o sofrimento carnal, com o sofrimento da alma e com o sofrimento do espírito, e que, pelo espírito, podem conceber a crueldade do mundo e horrorizar-se com ela.
A crueldade entre homens, indivíduos, grupos, etnias, religiões, raças é aterradora. O ser humano contém em si um ruído de monstros que liberta em todas as ocasiões favoráveis. O ódio desencadeia-se por um pequeno nada, por um esquecimento, pela sorte de outrem, por um favor que se julga perdido. O ódio abstracto por uma ideia ou uma religião transforma-se em ódio concreto por um indivíduo ou um grupo; o ódio demente desencadeia-se por um erro de percepção ou de interpretação. O egoísmo, o desprezo, a indiferença, a desatenção agravam por todo o lado e sem tréguas a crueldade do mundo humano. E no subsolo das sociedades civilizadas torturam-se animais para o matadouro ou a experimentação. Por saturação, o excesso de crueldade alimenta a indiferença e a desatenção, e de resto ninguém poderia suportar a vida se não conservasse em si um calo de indiferença. 
***
Via face Mary Bento

O caminho: para o futuro da humanidade

Edgar Morin, sociólogo francês, discute o que chama de “crise geral da humanidade” em sua conferência ao Fronteiras do Pensamento 2011. Segundo Morin, a base para compreender a série de crises que estamos vivendo é a ambiguidade da globalização: por um lado, se os problemas contemporâneos agora são globais, por outro, as nações nunca antes foram tão interligadas em uma mesma “comunidade de destino”. 

De acordo com o sociólogo, para encontrar respostas aos problemas atuais, é preciso abraçar o que ele considera o maior desafio atual: globalizar e desglobalizar ao mesmo tempo. 

Para estimular a possibilidade de coexistência destas facetas aparentemente opostas, Edgar Morin passa por inúmeros campos da vida contemporânea, analisando problemas e oportunidades e conclui: diante de tantas incertezas, devem surgir novas apostas e estratégias que reconheçam os erros do caminho e que tentem abordagens inovadoras em direção a um mundo não perfeito, mas melhor.

Fronteiras do Pensamento | Produção Telos Cultural | Conferência Edgar Morin | Edição Alexandre Fernandez | Finalização Marcelo Allgayer | Tradução Francesco Settineri e Marina Waquil
https://www.youtube.com/watch?v=V3t7UFTpDHE&feature=share
***
Via face Eulália Valentim
“Para mim o problema da felicidade é subordinado àquilo que chamo de ‘o problema da poesia da vida’. Ou seja, a vida, a meu ver, é polarizada entre a prosa – as coisas que fazermos por obrigação e não nos interessam para sobreviver -. E a poesia – o que nos faz florescer, o que nos faz amar, comunicar. E é isso que é importante. Então, eu digo que o verdadeiro problema não é a felicidade. Porque a felicidade é algo que depende de uma multiplicidade de condições e eu diria mesmo o que causa a felicidade é frágil, porque, por exemplo, no amor de uma pessoa, se essa pessoa morre ou vai embora, cai-se da felicidade à infelicidade."

“Se Você Viver Poeticamente Encontrará Felicidade”


http://www.portalraizes.com/2106-2/
Pai da teoria da complexidade, Edgar Morin defende a interligação de todos os conhecimentos, combate o reducionismo, valoriza o complexo e ama viver poeticamente.
“Para mim o problema da felicidade é subordinado àquilo que chamo de  ‘o problema da poesia da vida’. Ou seja, a vida, a meu ver, é polarizada entre a prosa – as coisas que fazermos por obrigação e não nos interessam para sobreviver -. E  a poesia – o que nos faz florescer, o que nos faz amar, comunicar. E é isso que é importante. Então, eu digo que o verdadeiro problema  não é a felicidade. Porque a felicidade é algo que depende de uma multiplicidade de condições e eu diria mesmo o que causa a felicidade é frágil, porque, por exemplo, no amor de uma pessoa, se essa pessoa morre ou vai embora, cai-se da felicidade à infelicidade.
Em outras palavras, não se pode sonhar com uma felicidade contínua para a humanidade. É impossível porque a felicidade, repito, depende de uma soma de condições. Então, pelo outro lado, o que se pode dizer, pode se tentar favoritar tudo que pode permitir a cada um viver poeticamente sua vida e, se você vive poeticamente você encontra momentos de felicidades, momentos de êxtase, momento de alegria e, na minha opinião, é isso: ,”. 
https://www.youtube.com/watch?v=Y21B_vFhLbE
... graduou-se em Economia Política, História, Geografia e Direito. Publicou, em 1977, o primeiro livro da série O Método, no qual inicia sua explanação sobre a teoria da complexidade. Em 1999, lançou A Cabeça Bem-Feita (Ed. Bertrand Brasil) e Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro (Ed. Cortez), além de outros três títulos sobre educação
O que ele diz: defende a incorporação dos problemas cotidianos ao currículo e a interligação dos saberes. Critica o ensino fragmentado.
Um alerta: sem uma reforma do pensamento, é impossível aplicar suas idéias. O ser humano é reducionista por natureza e, por isso, é preciso esforçar-se para compreender a complexidade e combater a simplificação.

***
via diário de viseu

25maio2009

Sociólogo defende menor desenvolvimento industrial e retorno ao mundo rural Os 30 anos do Instituto Piaget foram assinalados com um colóquio onde esteve presente Edgar Morin, um dos maiores pensadores vivos. Aos 88 anos, o sociólogo francês diz que as desigualdades entre os homens "são cada vez maiores". E é necessário combatê-las. Um dos caminhos que aponta é a redução do desenvolvimento industrial e o retorno às quintas e à agricultura.
Os políticos e os economistas vêem o "mundo humano como máquinas artificiais", lamentou o sociólogo francês Edgar Morin. Um dos maiores pensadores vivos esteve em Viseu, na sexta-feira, para participar num colóquio promovido pelo Instituto Piaget, que está a assinalar os 30 anos de existência.O sociólogo, durante a sua intervenção, mostrou-se um defensor da transdisciplinariedade como forma de dar dignidade humana, afirmando a necessidade de combater as desigualdades económicas."Nos últimos 20 anos houve um desenvolvimento das desiguldades", alertou, defendendo que, neste âmbito, "deve em cada nação instalar-se um observatório das desigualdades, para reduzir as diferenças entre os de cima e os de baixo".
Edgar Morin apontou vias para viver essa mesma transdisciplinariedade, entre elas, a preocupação de "reduzir o desenvolvimento industrial" e de "retornar às quintas, às pequenas empresas e à agricultura biológica". "Devemos, em todos os campos, desenvolver uma multiplicidade económica para os problemas humanos", frisou.
Modelo de ensino deve ser repensado. Na sua opinião, há um "montão de reformas" que são necessárias fazer "para mudar de caminho", reiterando a ideia de que uma delas deve ser o modelo de ensino das universidades. Considera que as universidades deveriam destinar um ano aos "problemas de cultura geral", ou seja, aqueles que "não se podem ensinar sobre a natureza humana". Defendeu ainda que no ensino devem-se desenvolver "ciências multidisciplinares como a ecologia, as ciências da terra e a cosmologia para fazer uma nova mentalidade, para fazer a fecundidade do saber disciplinar", sublinhou.O sociólogo disse ter consciência de que este não é um caminho fácil. "É necessário pelo menos uma minoria de professores que sinta a necessidade de fazer a reforma e inicie o movimento", admitindo que "as mentes e as instituições não estão preparadas".Edgar Morin foi um dos convidados para participar na festa dos 30 anos do Instituto Piaget no ensino em Portugal. O sociólogo é autor de cerca de três dezenas de livros, entre os quais "O Método". Aos 88 anos, o pensador continua "em busca do verdadeiro sentido da vida, avaliando de forma crítica os actuais sistemas sociais, principalmente em França, onde reside, e o papel do homem enquanto impulsionador da ciência e destruidor dos equilíbrios do mundo".

Sandra Rodrigues