09/02/2010

2046.Na reunião de câmara d'ontem (8 Fevereiro) intervim sobre a ocupação do Claustro Rachadoiro

O Sr. Presidente da Câmara disse-me que está a reunir informação sobre o que foi colocado no Claustro do Rachadoiro...Acho muito bem que se documente antes de fazer declarações públicas...
Mas nós na CDU não podemos, desde já, deixar passar em claro esta afronta para Alcobaça.
Faz este mês 8 anos que o Lar Residencial deixou de ocupar aquele espaço e o Ministério da Cultura assumiu a responsabilidade de o gerir.
É muito ano!
Recordo que não somos só nós que defendemos ser vital para a cidade e para a região a ocupação, com vida, com desenvolvimento, daquele imenso e histórico espaço não medieval do Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça.
Em 2004, a empresa SaeR escrevia nas páginas 85 e 86, o seguinte:
..."A destruição da Biblioteca terá sido, de entre as expressões da revolta popular, a queaparece, na perspectiva do presente, como menos desculpável. Teria sido uma atitude derejeição da cultura, uma forma de violência contra a inteligência que tinha conseguidoproduzir projectos configurantes para uma vasta zona, um acto de destruição que faziadesaparecer o que seria necessário para o futuro. Talvez tivesse sido tudo isso, mas também terá havido uma razão instrumental mais importante do que a atitude em relação aos objectos da cultura. Na Biblioteca do Mosteiro estavam também os registos administrativos, o deve e o haver da contabilidade, mas também as informações sobrecada um dos habitantes dos coutos – famílias cujo passado certamente teriam os traçosdo que levou muitos a acolherem-se às terras de Alcobaça, procurando refúgio dajustiça real. Como também estariam os registos de propriedade das terras que tinhamsido atribuídas pelos monges aos que a trabalhavam. A destruição da Biblioteca não terá sido apenas a manifestação da rejeição de objectos da cultura e do conhecimento,também terá sido a tentativa de fazer desaparecer o que se queria esquecer do passado. Neste sentido, há uma diferença entre os saques do passado, designadamente os que foram praticados durante as invasões francesas, e o saque e as destruições praticados pela população local contra o Mosteiro de que viviam. Nos primeiros casos, houve um ataque ao poder, eram operações com uma finalidade estratégica accionadas por quem pretendia ocupar o poder ou, se não o conseguisse, diminuir esse poder destruindo os seus instrumentos ou os seus símbolos. No segundo caso, há uma dissolução do poder,estrutura-se o vazio onde antes havia um centro de decisão. O que foi depois distribuído tinha, certamente, valor patrimonial, para o Estado que o vendeu e para os particulares que o adquiriram e puderam formalizar justamente porque compraram ao Estado, o intermediário que legalizou a operação. Mas já não podia ser um centro de decisão depois da fragmentação do património de Alcobaça.Perdida a unidade estruturada, desaparecida a capacidade para adaptar os equipamentos e as funções à evolução dos tempos e das coisas – a perspectiva dos monges era de longo prazo e de continuidade, pelo que os trabalhos de manutenção e de adaptação eram vistos como investimentos nessa continuidade, uma atitude muito diferente da que terão os proprietários individuais que precisam de resultados a curto prazo para justificarem o investimento feito na aquisição –, o que fica é uma multiplicidade de actividades de pequena dimensão, nenhuma delas com dimensão para poder ser uma base de projectos configurantes. Há uma estrutura resultante deste processo de esvaziamento do Mosteiro e ela subsiste no tempo, mas num equilíbrio instável situado num baixo nível de modernização e de complexidade das suas articulações, sempre próximo dos valores da inviabilização. Éuma estrutura vulnerável a variações conjunturais dos mercados e é incapaz de assegurar a sua reprodução, o que só aconteceria se houvesse um grau de inovação local que permitisse acompanhar a evolução competitiva. Não há um modelo dedesenvolvimento, apenas há actividades de subsistência ou iniciativas isoladas que exploram uma qualquer oportunidade local, sem garantia de continuidade entre gerações e sem uma concepção ou uma vontade de articulação entre diversos sectores de actividade económica. Alcobaça tem, assim, um vazio no seu centro. A distribuição do património do Mosteiro não originou novos centros de decisão. Não foi encontrada função para o Mosteiro, mas reconheceu-se a existência do vazio, procurando-se responder-lhe com a sua ocupação para actividades desconexas que, pela sua natureza, não poderiam revitalizar este espaço construído: instalações militares, hospital, hospício têm de comum o facto de estarem tuteladas pelo Estado como proprietário do edifício – que, como se compreende, não encontraria comprador. Quando se consegue libertar o Mosteiro destas funções“oportunistas”, não se resolve o vazio, pois a passagem do Mosteiro para o estatuto de monumento – mesmo que integrado no património mundial – mais não é do que o reconhecimento de que é uma construção vazia. Enquanto este vazio não for preenchido, é nele que se encontra a maior ameaça a Alcobaça e o maior obstáculo à identificação e à exploração das suas oportunidades."
Não podemos tolerar de novo "actividades desconexas", "funcões oportunistas"...
Não interessa à CDU se o que foi colocado no Claustro Rachadoiro é valioso e se veio do Museu dos Coches ou de um armazém qualquer do Ministério da Cultura.
Nós estamos indignados! Queremos vida onde estão ratos e abandono. Queremos vida onde agora o IGESPAR/Ministério da Cultura ocupou, com pouco ou muito tempo, como armazém o que deve ter vida e desenvolvimento!!!