In “Jornal do Centro“ – Edição de 28 de Maio de 2010
O meu camarada António Vilarigues escreveu (muito bem):
"Há quem pense que devem ser os trabalhadores e o povo a pagar a crise. Crise, em relação à qual, sublinhe-se, não têm qualquer responsabilidade.
As direcções do PS e do PPD/PSD, José Sócrates e Pedro Passos Coelho, querem fazer deste país, um país do «come e cala». Um Portugal onde o povo estivesse disposto a aceitar tudo, resignado, sem protesto, sem luta e sem esperança.
Em 2008 o défice estava em 2,8% e hoje está em 9,3%. Porque é que aumentou tão rapidamente o défice do Estado? Será que o Estado resolveu aumentar exponencialmente as despesas nos serviços públicos? Será que os trabalhadores da Função Pública foram substancialmente aumentados? Será que houve uma política audaciosa de investimento?
Não. A realidade foi que o Estado e a banca pública tiveram de ir em socorro do sistema financeiro. Na altura o PCP advertiu: não venham depois apresentar a factura do regabofe do BPP, do BPN e do BCP aos mesmos do costume. Contraíram a economia, caiu o PIB, cortaram as receitas, aumentou o desemprego, aumentaram os gastos com a subida do desemprego e com as ajudas aos banqueiros. E, cereja em cima do bolo, mantiveram-se as célebres derrapagens das contas públicas.
Porque será que agora já ninguém fala no BCP, no BPP e no BPN, nem nas dificuldades de outros Bancos no auge da crise financeira? Sejamos claros: os défices públicos aumentaram não pelos desmandos do sector público, mas sim pelos desmandos do sector privado, designadamente do sector financeiro.
O mundo não mudou nos últimos quinze dias. A realidade é que temos uma governação ao sabor das circunstâncias. E um poder político que assume ser um instrumento nas mãos dos grandes monopólios financeiros, dos grandes grupos económicos e dos interesses das grandes potências europeias. Quanto engano, quanta falsidade, quanta mentira estava patente no discurso das promessas de um mundo melhor dos partidos que têm estado no governo em todos estes anos.
Por isso estaremos sábado, dia 29, em Lisboa, a demonstrar que não nos calamos!"