respiguei de
http://www.aguas.ics.ul.pt/leiria_cos.html
[A bica da fonte encontra-se do lado direito, à esquerda os vários depósitos de água
(foto Cristiana Bastos)]
Indicações
Aparelho digestivo e rins (Contreiras 1951).
Segundo um informante, havia na aldeia umas idosas que atribuíam à água qualidades oftalmológicas, lavando os olhos com um pano humidificado na fonte, logo pela manhãzinha, o que aliás bate certo com as “curas milagrosas” ocorridas em 1890 e com o atributo terapêutico dado popularmente às águas férreas.
Tratamentos/ caracterização de utentes
"Vem muita gente da terra, mas só que agora vem tudo de carro, só as velhotas e que vêm todos os dias buscar a sua garrafinha. Agora com este calor, aos sábados e domingos é para aí uma romaria." (Sr.ª Lurdes, vizinha da fonte)
Instalações/ património construído e ambiental
“Fonte de Santa Margarida construída pelo povo e Câmara Municipal de Alcobaça e Junta de Freguesia a 15/8/1955”, pode ler-se no painel de azulejos, que comemora não a construção mas a renovação de uma fonte que aparece citada desde o século XVII. O tanque de banhos mencionado por Tavares e restaurado em 1890 já não existiria em 1955. Segundo a informante Lurdes, a bica corria no mesmo local, a um plano mais elevado em relação ao piso do átrio da fonte. Este plano deve corresponder ao tanque descrito, entulhado em data incerta.
As obras de 1955 consistiram no alargamento da escadaria descendente de acesso à fonte, que se encontra a cerca de 3,5 m abaixo do nível da rua, na limpeza e consolidação da mina de água e na construção de um tanque para armazenamento da água, com três torneiras de serventia.
Com esta obra pretendia-se fornecer água à povoação, à época sem água canalizada, pondo em funcionamento três bicas em vez de uma só existente até então:
Lurdes: "Eu ainda me lembro quando tinha só uma escadinha por aqui. Tu já não te lembras dessa? Aqueles depósitos não havia, a fonte corria no mesmo sítio em que está agora, mas as escadinhas eram só aqui deste lado, e as pessoas estavam aqui noites inteiras para encher. Então como a população começou a aumentar e estava-se muito tempo à espera, esse senhor que tinha esse terreno aí ofereceu-o para aumentarem a fonte, e foi então que a Junta fez esses depósitos, para as pessoas chegarem aqui e encherem. Mas quando o depósito estava cheio tinha ali uma biquinha, que deitava fora à mesma, agora já não corre para o depósito. Depois veio a água da rede, e as pessoas começaram a só encher na bica na boca da mina, então deixou de correr para o depósito."
Quanto à mina, a mesma senhora descreveu-a do seguinte modo: "Aquilo é muito giro lá dentro, divide-se em dois, a água não está logo aqui onde esta a bica, vem pelo meio de pedrinhas, de dois túneis que se juntam, é uma coisa bonita, muito limpinha, não há lixo que entre lá dentro. Eu nunca fui lá dentro, mas no tempo da minha mãe ela dizia que entravam lá dentro e ainda iam um grande bocado por ali a dentro. Vai fazer agora um ano em Agosto, estiveram a arranjar a mina, porque as águas estavam a perder-se pelas paredes. Ainda se vê de longe a água a vir, mas deve nascer aqui neste monte."
Fracamente mineralizada, ferruginosa (Contreiras, 1951).
Análise exposta em painel junto da nascente: "Delegação de Saúde Pública de Leiria – análise feita a 22 /10/ 2003 – Bacteriologicamente potável, temperatura 18º, incolor, inodora.
Historial
O milagre que está na origem do culto à Sra. da Luz de Alcobaça em Cós está registado com a data de Julho de 1601, quando a protagonista do milagre, Catarina Anes, foi visitada pelo Bispo de Leiria "e diante dele foi lavado um enfermo pela mesma Catarina, o qual ficou todo são. E dali por diante todos os enfermos que esta mulher lavava na fonte santa [...] ficavam sãos e livres dos males que padeciam" (Vasconcelos 1996: 227).
Catarina era já uma mulher idosa quando o milagre se deu. "Certo dia em que se encontrava no monte a recolher lenha", viu uma senhora muito bem vestida que se ofereceu para a ajudar. Catarina recusou. Noutro dia voltou a aparecer a mesma senhora, acompanhada por outra, que posteriormente seria identificada como Santa Marta. Convidada a segui-las, Catarina recusou novamente. No terceiro encontro a senhora deu a Catarina uma chave que esta tinha perdido no monte. Reconhecendo a Virgem Maria, Catarina seguiu-a até um local no sopé de um monte onde a senhora pediu que cavasse, surgindo ali uma nascente "que logo foi considerada milagrosa".
Foi construído um templo a 2 km da fonte e no local da nascente foi construído um tanque onde os romeiros de iam lavar. A prática dos banhos não parece ter sobrevivido à morte de Catarina Anes, pois em 1711 já a nascente se encontrava em ruínas. Em 1890, por iniciativa do pároco local, foi mandada limpar a nascente; um dos homens contratados para o trabalho, José Xavier, tinha um braço paralisado, mas logo que começou a desbravar o local da fonte achou-se curado.
Segundo o mesmo pároco, em consequência desta cura o número de peregrinos aumentou, e entre Maio e Junho desse ano foram registados 14 curas milagrosas, de dores reumáticas, nevralgias, paralisias, cutâneas e de visão (cit. Vasconcelos 1996)
No Aquilégio (1726) não é referenciado nenhum milagre, mas Henriques menciona as qualidades terapêuticas, de “particular virtude para os achaques de pedra, e areias, em que os médicos aplicam, e tem experiência de que as pessoas que a bebem, se preservam dos ditos males, que os moradores da vila nunca padecem.”
Tavares (1810) refere a nascente de Póvoa de Cós: “junto a uma pequena elevação nasce uma água clara sem cheiro; de sabor levissimamente feruginio, sobre fundo de areia limpa, e que na sua passagem deixa mui pouca ocra em depósito [...] tem um pequeno e pobre albergue de madeira, formado sobre restos e ruínas de muros, com que parece ter sido em outro tempo cercada a nascente, onde se tomam banhos”
Em 1819 Jacinto Costa, refere-se a estas águas na Farmacopea Naval e Castrense (cit. Acciaiuoli 1944, II: 121)
Lopes (1892) referiu que era usada, em “bebida e em banhos num pequeno e pobre albergue de madeira cercado de um antigo e arruinado muro”.
Acciaiuoli (1944) repete a notícia de Tavares e Lopes.
Em 1955 a câmara municipal e a junta de freguesia fizeram obras de ampliação do terreiro da fonte, instalado depósitos para onde o excesso de água corria, garantindo assim o fornecimento de água à aldeia.
"Dantes até diziam que se esta água fosse canalizada dava para a população toda, e dava antes de haver água da rede, toda a aldeia vinha aqui buscar água. Vem muita gente buscar água de longe da Benedita, do Turquel, do Alqueirão da Serra." (informante Sr.ª Lurdes)
Bibliografia
Acciaiuoli 1944, Acciaiuoli 1949-50, Brandt 1881, Contreiras1937, Contreiras 1951, Félix 1877, Henriques 1998, Lopes 1892, Tavares 1810, Vasconcelos 1996, Livro do 1º Congresso de Actividades do Distrito de Leiria 1944 ,Le Portugal Hidrologique e Climatique 1930-42