Jerónimo de Sousa nas Caldas da Rainha
“Se o PS continuar com esta política, daqui a três anos o País estará inevitavelmente pior”
O líder do PCP, Jerónimo de Sousa, duvida que as medidas de austeridade consigam inverter as previsões de que Portugal permanecerá em recessão até 2012 e acredita que dentro de três anos o País estará inevitavelmente pior. “Se o PS continuar com esta política e com estas orientações, daqui a três anos o país estará inevitavelmente pior”, disse no final de um comício do partido que se realizou nas Caldas, no dia 24 de Junho e que teve a presença de cerca de duas centenas de pessoas. Apesar de defender que “Portugal não é um País pobre”, mas apenas “empobrecido com esta política”, o secretário-geral do PCP duvida que a medidas preconizadas no PEC (Programa de Estabilidade e Crescimento) sejam suficientes para o País sair da recessão.
“Não encontramos naquele PEC, nas chamadas medidas adicionais, nem uma medida com uma ideia, um pensamento estratégico, com um plano de industrialização, de defesa da agricultura, das nossas pescas, uma ideia que leve ao crescimento e à defesa do nosso aparelho produtivo e da nossa produção nacional”, critica.
Para Jerónimo de Sousa, “só com uma defesa do nosso aparelho produtivo e da nossa produção nacional nós criaríamos mais riqueza e naturalmente combateríamos os tais défices que, não só das contas públicas, mas os défices estruturantes que Portugal tem neste momento”. O problema, “é que destruíram a nossa frota pesqueira, a nossa marinha mercante, a nossa indústria naval”.
Já durante o seu discurso para uma entusiástica plateia, Jerónimo Sousa falou dos temas da actualidade e desafiou os comunistas a comemorarem no dia 25 de Abril e no dia 1 de Maio os feriados.
“Não deixa de ser significativo e ideologicamente marcante que venha do PS a iniciativa em relação aos feriados, admitindo alterar inclusive os feriados do 25 de Abril e do 1º de Maio. Trata-se de retirar sentido, significado e alcance a tão marcantes datas da nossa história contemporânea e que jamais poderemos admitir desvalorizar”, disse.
Já no âmbito local e regional o secretário-geral não deixou de dizer que “a palavra de José Sócrates já vimos que não é garantia nenhuma. Não o foi quando prometeu mais investimento público e mais emprego, mas sete meses passados deste segundo Governo do PS, nem mais emprego, nem mais investimento. Veja-se o andamento dos investimentos prometidos aos concelhos do Oeste, como contrapartidas à Ota. Prometem muito mas cumprem pouco. Prometeram um novo Hospital, mas tal como prometeram, assim o tiraram”.
Quanto ao desemprego, o líder dos comunistas também falou das Caldas, adiantando que a falta de trabalho é preocupante. “Em vez de investimento, o que cresceu foi o desemprego e a demagogia à volta da criação de emprego. Temos hoje uma taxa gravíssima de 10,8% e um governo a dourar a pílula e a limpar os ficheiros para enganar os portugueses. Mas há zonas, como aqui nas Caldas das Rainha onde o desemprego é muito superior e ainda mais preocupante”, sublinhou.
Jerónimo Sousa explicou aos presentes que o PCP propôs a criação de um novo imposto sobre as transacções e transferências financeiras, que taxa em 0,1% todas as operações realizadas nos mercados da Euronext Lisboa e 20% nas transferências financeiras para paraísos fiscais em vez do aumento do IVA, do IRS e do IRC.
“Isto significaria 2.300 milhões de euros de receita fiscal adicional, tendo como referencia o ano de 2009. Tal como propusemos que o sector bancário e os grandes grupos económicos passassem a ser efectivamente tributados em IRC com a taxa de 25%, deixando de poder deduzir qualquer tipo de benefício fiscal até ao final de 2013. Ao acabar com a offshore da Madeira e a aplicação de uma taxa extraordinária de IRC a empresas que tenham mais de 50 milhões de euros de lucro. São medidas, que juntamente com a tributação extraordinária, como se devia impor nos patrimónios mais elevados, durante os anos de aplicação do PEC, significaria cerca de 2.900 milhões de euros de receita adicional, libertando os trabalhadores e o povo de novos sacrifícios. É uma verba três vezes mais do que o PS e PSD pretendem cobrar adicionalmente com as medidas contra o investimento, os salários, as reformas e os preços dos bens essenciais”, apresentou.
Para Jerónimo Sousa, a opção do Governo “é carregar em cima de quem trabalha e de quem tem um pequeno rendimento das suas actividades, sejam agrícolas, industriais ou das pescas. É por isto que a luta não pode parar. É preciso dar-lhe força, valorizá-la e alargá-la, porque é urgente travar o passo a esta política que afunda o País e degrada e destrói a vida dos portugueses”, frisou.
Neste comício nas Caldas da Rainha falou também Vítor Fernandes, que destacou a questão do desemprego nas Caldas da Rainha e na região, enumerando algumas empresas que fecharam portas. “No distrito, o desemprego atinge números preocupantes. Mais de 20 mil trabalhadores estão inscritos no Instituto de Emprego e Formação Profissional, havendo mesmo concelhos com números muito elevados, como Figueiró dos Vinhos, Nazaré, Castanheira de Pêra e Peniche. Aqui nas Caldas da Rainha este flagelo atinge quase três mil trabalhadores, cerca de 13% o que é um número superior à taxa nacional. Na região, os trabalhadores confrontam-se ainda com a fraca qualidade do emprego, a precariedade, os baixos salários, os encerramentos fraudulentos, a contratação a prazo ilegal, os salários em atraso onde estão cerca de quatro mil pessoas e até o pagamento de salários com cheques sem cobertura”, revelou.
Nota final para a ausência notada de eleitos do PCP de Alcobaça e Peniche, porque além de terem obtido resultados significativos para o partido, são peças importantes num distrito que esteve praticamente representado nas Caldas da Rainha, com a excepção destes dois municípios.
Carlos Barroso 01-07-2010