Num momento em que o Presidente Paulo Inácio quer colocar estátua sobre o beija-mão a Inês morta, na Regeneração Urbana, na nova praça do município, nas comemorações dos 650 anos da transladação de Inês de Coimbra para Alcobaça...
Abril 2011 a Abril 2012...
Colocarei neste meu blogue todas as opiniões estruturantes (sem medo das polémicas) sobre estes assuntos centrais para Alcobaça:
Pedro e Inês, comemorações da transladação, estátua ao beija-mão...
Estou em reflexão...
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Tenho os artigos do Dr. Joaquim Loureiro relevando a importância para Alcobaça de fomentarmos "Pedro e Inês", digitalizados para quem solicitar...
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No ano ineseano, houve muitos eventos importantes, que vou trazer à colação....
Aqui fica o que + popular:
em 3 Julho de 2005 foi assim:
http://www.tintafresca.net/News/newsdetail.aspx?news=3e91cb37-5b73-42df-b6b7-c77d5be00e33&edition=56
Comemorações dos 650 Anos da Morte de Inês de Castro
Cortejo evocativo da trasladação de Inês de Castro percorre ruas de Alcobaça no dia 3 de Julho
No âmbito das Comemorações dos 650 anos da Morte de Inês de Castro, Alcobaça acolhe no dia 3 de Julho, o cortejo evocativo da trasladação de Inês de Castro de Santa Clara-a-Velha para o Mosteiro de Santa Maria. Não se trata de uma reconstituição, mas de uma recriação, com encenação de Carlos Avilez e concepção plástica do mestre José Rodrigues. O cortejo parte do MercoAlcobaça pelas 17h em direcção ao Mosteiro, passando por diversas ruas da cidade, engalanadas para o efeito. Na véspera, pelas 21h, terá lugar na escadaria do Mosteiro, uma vigília, momento marcado pela poesia, música e dança.
Apesar de ligado à data da morte, não se pretende fazer um cortejo fúnebre, antes uma celebração com base na obra de D. Francisco Manuel de Melo (1608-1666) "Doze Sonetos por Várias Acções. Na morte da Senhora Dona Inês de Castro mulher do Príncipe Dom Pedro de Portugal". Os diversos carros alegóricos com desenho do mestre José Rodrigues evocarão, assim, diversos momentos da história de Pedro e Inês, bem como alguns dos poetas que a cantaram e têm por temas, entre outros, Paixão, Saudações dos Campos do Mondego, Solidão em Coimbra, Fonte dos Amores e Matança e D. Pedro Dança com o Povo.
O cortejo, que foi realizado também em Coimbra e Montemor-o-Velho, será ainda preenchido com as variadas propostas que as associações e colectividades de cada um dos três concelhos apresentaram e que foram integradas na estrutura inicial. Embora estivesse previsto que o desfile contasse com músicas originais dos Gift - com letras da poetisa alcobacense Virgínia Vitorino (1895-1967) - apenas um dos grupos musicais convidados para integrar o cortejo interpretará temas do consagrado grupo pop de Alcobaça, dado que a entrega tardia dos originais não permitiu aos restantes grupos ensaiarem.
Segundo Carlos Avilez, o mote para este cortejo foi: "Se Inês viesse hoje visitar-nos, o que fariam para a receber?" e, a partir daqui, foi acolhido um variado leque de actividades e manifestações culturais. Pretende-se que "o resultado seja uma manifestação de homenagem da Cultura popular portuguesa a um dos maiores mitos da nossa Cultura, uma festa em que, sem perderem a identidade própria, as colectividades envolvidas possam fazer parte de um grande quadro".
Inês de Castro ( Diana Pereira)
com a actriz Eunice Munôz
Segundo Jorge Pereira de Sampaio, programador-geral do Ano Inesiano da Cultura, algumas das ruas estarão engalanadas com colchas de chita de Alcobaça e outros adereços, mormente, a Rua Frei Fortunato, no que se pretende seja um cortejo etnográfico e não apenas histórico. A fruta e a ginja tradicionais de Alcobaça também estarão presentes no desfile, devendo ser oferecidos à população presente.
Os papéis de Pedro e Inês estarão a cargo neste cortejo dos modelos José Fidalgo e Diana Pereira, estando prevista a colaboração especial dos actores do Teatro Experimental de Cascais Anna Paula, João Vasco, Santos Manuel, António Marques, Teresa Côrte-Real, Luiz Rizo, Sérgio Siilva e Renato Godinho e ainda de Mafalda Santos, Maria Camões, Daniel Alves, Diogo Mesquita e Marco Medeiros, além de um grupo de alunos da Escola Profissional de Teatro de Cascais.
O programa do Ano Inesiano da Cultura prossegue no dia 4 de Julho, em Coimbra, com a inauguração da exposição "O Nome que no Peito Escrito Tinhas, comissariada por Alexandre de Melo. As obras presentes nesta exposição têm autoria de Adriana Molder, Ana Vidigal, Catarina Campino, Costa Pinheiro, Joana Vasconcelos, João Pedro Vale e José de Guimarães. Brevemente será lançado o catálogo desta exposição, bem como o da exposição patente ao público recentemente na Ala Sul do Mosteiro de Alcobaça. Recorde-se que a mostra contou com obras de Julião Sarmento, Paula Rego, Pedro Proença, Rui Sanches e Vasco Araújo.
Itinerário e participantes do cortejo de Alcobaça
O cortejo sai do pavilhão MercoAlcobaça, percorre a Avenida Prof. Engº Joaquim Vieira Natividade, Av. Dr. João Lameiras Figueiredo, Paços do Concelho, Rua Manuel da Silva Carolino, Rua Dr. Brilhante, Rua Alexandre Herculano, Mosteiro, Rua Frei Estêvão Martins, Rua Miguel Bombarda, Rua Frei Fortunato, Rua Afonso Lopes Vieira regressando de novo ao MercoAlcobaça. Estão previstas paragens junto aos Paços do Concelho, Praça da República e largo do Mosteiro.
Grupos participantes:
Amigos dos carros 2 Cavalos.
Associação Hípica de Alcobaça.
Associação Recreativa CSS da Boavista -Equipa de ciclismo e fado.
Automóveis antigos- José Ferreira Tempero.
Banda de Alcobaça.
Casa da Cultura José Bento da Silva - S. Martinho do Porto Grupo de Cantares e Grupo de Teatro.
Centro Cénico da Cela - Escola de Música e Grupo Folclórico.
Escola Básica 2,3 Frei Estêvão Martins.
Fanfarra dos Bombeiros Voluntários de Alcobaça.
Grupo de Majoretes e Fanfarra de Alcobaça.
Grupo Regional de Folclore da Benedita.
Orquestra Juvenil da Freguesia da Cela.
Orquestra Juvenil da Junta de Freguesia de Alpedriz.
Orquestra Ligeira e Juvenil da Junta de Freguesia do Bárrio.
Rancho Folclórico de Acipreste.
Rancho Folclórico do Vimeiro.
Rancho Folclórico dos Moleanos.
Rancho Folclórico e Etnográfico Flores do Baça- Casais da Vestiaria.
Rancho Folclórico e Etnográfico Papoilas do Campo.
Sociedade Filarmónica Maiorguense - Banda e Escola de Música "As Notitas Saltitantes".
Sociedade Filarmónica Recreativa Pataiense.
Sociedade Filarmónica Turquelense.
União Colombófila Beneditense.
Mário Lopes
27-06-2005
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Artigo do Prof. Coordenador da ESAD, António Delgado:
Mitos, História e Violência de Género
Falar da história “Os amores de Pedro e Inês” é desvelar a mentalidade portuguesa num dos seus pilares estruturais – a mitogenia- que no dizer de Cunha Leão, “alastra Portugal de lés a lés”.
Parte do passado está contado por historiadores que, à falta de métodos de investigação, reproduzem o que não entendem. Aliás, a ciência neste meio é entendida por saber coisas: quando nasceu um rei, as amantes que teve, onde se casou, os filhos bastardos que gerou, as batalhas ganhas... Saberes equivalentes a bisbilhotices
Salvo raras excepções, a nossa historiografia está escrita e reescrita com base em mitos que reproduz como sinal de esterilidade intelectual e evasão pelo sonho. Chega-se a historiador abordando temas por clonagem e onirismo e, de palpite em palpite, escrevem-se livros perpetuando vacuidades. Com eles chega-se a catedrático e a presidente de academias. E num ápice, esta prosa faz-se “best-seller” para vender porta à porta por editoras que fazem dos leitores sócios.
A fábula de “Pedro e Inês”, passou para o imaginário colectivo como um mito de amor mas, em qualquer parte do mundo civilizado resume um crime e as prisões em Portugal estão repletas de casos “de amor” semelhantes.
O mito, longe de ser um fenómeno exclusivo da imaginação é também uma atitude intelectual que se desenrola no âmbito dos poderes factícios. E para sociedades tradicionais como a nossa não é apenas uma realidade objectiva. Este género de visão infantil ou pré-moderna é a única revelação válida da realidade.
Os mitos são como sonhos colectivos, neles fixam-se normas exemplares de procedimentos e actividades humanas significativas, equivalentes a esquemas mentais reais que sintetizam a ideologia e a cultura de um povo.
Não são explicações que satisfaçam uma curiosidade científica, mas relatos que revivem uma realidade original de aspirações morais. Vejamos este ponto: um homem casado pela igreja com uma mulher, assedia sexualmente outra praticando adultério. A assediada atraiçoa a patroa e tem filhos do patrão. Entretanto o pai do galante manda matar a amante do filho. O filho enraivecido lança o reino numa guerra civil, saqueia cidades e as terras dos assassinos, mata-os com requintes de sadismo, e arranca pelas costas o coração a um. Como não bastasse, desenterra anos depois a morta e obriga os súbditos a beijar a mão do cadáver putrefacto. Cenógrafa uma coroação digna de um filme de terror ou de práticas satânicas.
É isto uma história de amor? Adultério, traição, assassínios, mortes, violência, sadismo e práticas de necrofilia! É preciso ser-se inculto ou mentecapto para ver nestes actos modelos exemplares de moralidade e na memória de Pedro e Inês as virtudes que promovam uma terra, como se pretende com um logótipo.
E é curioso, segundo as leis de Deus, ver como as duas criaturas estando em pecado mortal se encontram num templo católico, junto do altar, a presidir aos actos religiosos.
Lamento como instituições de respeito como são a Igreja Católica, o Estado e as escolas perderam o sentido ético e estejam desnorteadas; senão não se via, por vezes, os estabelecimentos de ensino, em Alcobaça, a representar a cena satânica e necrófila do beija-mão e a Câmara a apoiar a iniciativa em nome da educação e da cultura, criando esta um logótipo como a sua imagem corporativa.
Conceber um logótipo sobre a ideia dum crime sexual medieval só mesmo de gente não evoluída ou mentalmente perturbada. Hoje promovem o logótipo; amanhã vêem-nos (com as falinhas gratuitas da «cidadania») condenar a violência entre os géneros, a segregação sexual e a violência doméstica.
O que é que tem o mito do Pedro/Inês para além dum acto de violência sexual? Um crime hediondo cometido pelo chefe da Nação! Confundir com amor o que fez o tal Pedro-o-Doido é um apelo ao crime. Pode um serviço público heroificar um criminoso seja ele um rei? Os que perpetuam essa selvajaria nas bandeiras duma Câmara, agência de turismo ou seja lá o que for como serviço público, são uns irresponsáveis. E não é para desculpar (ainda menos louvar) só porque é antigo, medieval, «romântico». Não era melhor condená-lo de uma vez para sempre? Perante quem concede foros de nobreza aos crimes sexuais, dá-me vontade de dizer, no caso de Alcobaça «Pobre terra que tais elites engendra!».
Percorram a Europa e vejam onde é que um serviço público faz uma coisa dessas!
E os párocos? Estão à espera de quê para se recusarem a celebrar missa diante da heroificação dum adúltero e dum criminoso sexual que foi Pedro-o-Doido?