20/10/2010

3.576. sábado.23 Out.18h.Tese de Mestrado da Profª Antonieta Sousa vai ser conferência no Armazém das Artes

tintafresca.net em 2.11.2010
Alcobaça










Colégio de Nossa Senhora da Conceição: a história de um mosteiro dentro do Mosteiro







Amílcar Coelho, Antonieta Sousa e Rui Rasquilho
Antonieta Sousa apresentou, no dia 23 de Outubro, no Armazém das Artes, a sua tese de mestrado “O Colégio de Nossa Senhora da Conceição de Alcobaça – 1648-1833”. A professora da Escola Secundária D. Inês de Castro de Alcobaça revelou que o Colégio era, na verdade, um mosteiro independente da filiação de Alcobaça, que começou por funcionar a Sul do templo e fora do Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça, mas que, após o terramoto de 1755, passou a funcionar contíguo ao alçado Sul da nave colateral Sul do templo do Mosteiro. A investigadora defende que houve uma tentativa dos poderes instituídos, incluindo a casa-mãe de apagar o Colégio da memória colectiva, sobretudo, após o Marquês de Pombal ter interferido na instituição, de forma a torná-la uma instituição de ensino superior secular.
Amílcar Coelho, director do Centro de Formação do Agrupamento de Escolas de Alcobaça e Nazaré disse Amílcar Coelho, director do Centro de Formação do Agrupamento de Escolas de Alcobaça e Nazaré, enfatizou a importância da memória colectiva na construção do futuro colectivo, frisando que sem memória não há identidade e sem identidade não é possível saber onde estamos nem para onde devemos caminhar.
Por sua vez, Rui Rasquilho, presidente da direcção da Associação dos Amigos do Mosteiro de Alcobaça, contextualizou o trabalho de Antonieta Sousa, referindo que a Ordem de Cister começa a entrar em decadência no final da Idade Média, entre 1350 e 1450, surgindo então os colégios como resposta à crise cisterciense. Contudo, como em muitas outras actividades, também os colégios surgiram tarde em Portugal e o Colégio de Nossa Senhora da Conceição não foi excepção. Rui Rasquilho anunciou ainda que a AMA irá patrocinar brevemente a edição da tese de Antonieta Sousa em livro.
Antonieta Sousa lembrou que o Mosteiro de Alcobaça foi um dos quatro mosteiros existentes no concelho de Alcobaça, a par do Colégio de Nossa Senhora da Conceição, do Convento de Santa Madalena dos Capuchos e do Convento de Santa Maria de Cós. A investigação descobriu que o Colégio de Nossa Senhora da Conceição foi um mosteiro independente do Mosteiro de Alcobaça, o que não surpreende pois na época todos os colégios de ensino superior da Ordem de Cister eram mosteiros, no sentido pleno do termo.

Fotografia das ruínas do Colégio
A historiadora baseou-se em manuscritos da época, nomeada- mente, de Frei Manuel de Figueiredo, cronista da Ordem de Cister, uma fonte que lhe pareceu fidedigna, uma vez que cita as suas fontes e já havia sido referenciado por outro historiador cisterciense contemporâneo, D. Maur Cocheril. Contudo, manifestou reservas quanto à credibilidade da maior parte das fontes oficiais, uma vez que estas tendem a fazer uma leitura parcial dos acontecimentos, de forma a beneficiar a imagem da instituição a que pertencem.
Surpreendentemente, Antonieta Sousa só encontrou um único documento escrito no Arquivo Nacional da Torre do Tombo do próprio Colégio de Nossa Senhora da Conceição: um livro de contabilidade, com o registo de sete triénios de actividade da instituição. A escassez de documentos do Colégio foi, contudo, compensada com um fundo de grande relevância, encontrado no Arquivo Distrital de Leiria e na Secção de Reservados da Biblioteca Nacional de Portugal.
O Colégio de Nossa Senhora da Conceição de Alcobaça teve duas localizações: até ao terramoto de 1755, esteve sedeado num edifício a sul do Mosteiro de Alcobaça, separado deste apenas por uma rua. O terramoto acabou por deixar o edifício em ruínas e após a sua reedificação, o novo desenho de implantação ficou contíguo ao templo do Mosteiro de Alcobaça, sendo o corpo poente do Colégio a actual Ala Sul.
O primeiro reitor do Colégio, oriundo da Universidade de Coimbra e do Colégio Espírito Santo de Coimbra, foi Frei Bento da Purificação. Na primeira fundação, até ao terramoto, foram eleitos 39 abades reitores, todos figuras de grande prestígio. No período pré-pombalino, o Curso de Artes possuía a duração de seis anos, conferindo os graus de bacharel ou licenciado, sendo reconhecido como o curso preparatório dos cursos superiores.
O período áureo do Colégio foi pombalino, no pós-terramoto de 1755, mas também correspondeu à subordinação da instituição ao despotismo iluminado do Marquês de Pombal. Após o terramoto, já na segunda fundação, o Marquês de Pombal mandou extinguir cinco mosteiros espalhados pelo País, alegadamente mal geridos e com grandes dívidas, tendo-os incorporado no património do Colégio de Nossa Senhora da Conceição de Alcobaça, que assim ganhou poder e prestígio na Ordem de Cister.
Contudo, com a queda de Pombal, após a morte de D. José e a subida ao trono de D. Maria I, Frei Manuel de Mendonça foi substituído no cargo e a Ordem de Cister voltou a restaurar os 5 mosteiros extintos. O rancor dos monges a este abade geral da Congregação Cisterciense (que introduziu o Curso de Filosofia Natural, precursor das ciências naturais) era tão grande que não permitiram sequer que fosse enterrado na Sala do Capítulo, como era hábito à época. Francis Bacon, René Descartes e John Locke foram as figuras inspiradoras deste curso, para grande constrangimento dos monges.
Facto é que a memória do Colégio não se perpetuou na memória colectiva até aos dias de hoje, um fenómeno explicado pela investigadora com a tentativa de manipulação da memória perpetrada pelos monges do Mosteiro de Alcobaça que amaldiçoaram o pendor secular da instituição dirigida por Frei Manuel de Mendonça, familiar do Marquês de Pombal, durante nove anos (1668-1777).
Segundo a professora da Escola Secundária D. Inês de Castro, nada resta hoje que testemunhe a presença do Colégio de Nossa Senhora da Conceição, uma vez que alguns edifícios contíguos ao alçado sul da Igreja do Mosteiro, já em muito mau estado, foram demolidos pela Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN) aquando da visita da Rainha Isabel II a Portugal, em 1957. Também os dormitórios e salas de aulas existentes neste Colégio, convertidos em habitações no século XIX e XX, foram demolidos nesta ocasião pela DGEMN, depois de indemnizados os proprietários aí residentes.
Mário Lopes 02-11-2010

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regiaodecister  escreveu na sua edição de 28.Out 2010:
Colégio Nossa Senhora da Conceição era independente do Mosteiro

Todos os documentos conhecidos até ao momento associavam o Colégio de Nossa Senhora da Conceição ao Mosteiro de Santa Maria, assumindo aquela instituição como parte do monumento. No entanto, e depois da divulgação da tese de mestrado de Antonieta de Sousa, no passado sábado, essas informações revelaram-se erradas.
"O que consegui demonstrar foi que o Mosteiro e o Colégio são dois monumentos que funcionaram de forma independente um do outro", clarificou a professora da ESDICA, durante a apresentação "Colégio de Nossa Senhora da Conceição de Alcobaça - 1648-1833", que decorreu no auditório do Armazém da Artes.
Localizado desde a primeira fundação a sul do Mosteiro, o Colégio de Nossa Senhora da Conceição começou a funcionar em 1648 e passou por duas grandes fundações. Durante a primeira, a instituição não era contígua ao monumento, existindo estradas públicas entre as duas casas monásticas que as separavam, como foi possível verificar em algumas cartografias recolhidas.
"A decisão de fundar o Colégio foi feita numa reunião geral trienal da Ordem de Cister e a decisão foi tomada por votação secreta dos vogais" recorda Antonieta de Sousa, acrescentando que a escola já apresentava "excelentes condições para a época, com um claustro e uma galeria sobre o terreiro".
Teologia e Artes eram os cursos leccionados na instituição alcobacense, tendo este último a duração de seis anos, permitindo o grau de licenciado e o acesso aos estudos maiores à vertente de Teologia. Durante a primeira fundação foram eleitos 39 abades reitores, o que serviu para demonstrar a existência do colégio, mas também "todo o seu poder dentro da Ordem".
Outros documentos comprovam, também, que o estabelecimento continha "vários imóveis e rendas, um grande número de quintas como a da Algaraminha, fronteira ao Colégio, e que confrontava com a tapada da família Silva da Fonseca". Para resgatar a instituição como casa senhorial, foi determinante um livro de contas encontrado Torre do Tombo, em Lisboa, que demonstrava claramente o seu funcionamento de "forma independente da gestão económica de Mosteiro" como esclarece Antonieta de Sousa. A primeira fundação acabou por chegar ao fim com o terramoto de 1755. Apesar da catástrofe, o Colégio reabriu logo no ano seguinte, chegando a receber até a comitiva da rainha D. Maria I, que se instalou nos dormitórios e nas celas dos abades-reitores do Colégio.
Mas foi a partir de 1775 que o estabelecimento de ensino superior começou a demonstrar toda a sua grandeza: nesse mesmo ano foram extintos cinco mosteiros da Ordem de Cister e os seus bens integrados no estabelecimento alcobacense.
"Com uma política activa de aquisições e os rendimentos dos outros mosteiros extintos assistiu-se a um engrandecimento económico do colégio" revelou a licenciada em História, acrescentando que esta mudança tentou dar uma maior "dignidade à Ordem, pois tratava-se de um mosteiro mais consentâneo com as novas necessidades daquela união e, para isso, confiaram naquela nova casa monástica".
O número de dependências não deixava dúvidas quanto à grandeza da instituição naquela época: cozinha, celeiro, casa da lavoura, abegoaria, refeitório e livraria, entre outras.
Quanto aos cursos, durante a segunda fundação, as diferenças eram muitas, comparado com a fase anterior, leccionando agora as disciplinas de Teologia, Artes e Filosofia natural. "Estes cursos eram uma clara tentativa de colocar Portugal a nível do conhecimento europeu, permitindo o progresso da civilização material no quadro da reforma Pombalina do ensino superior. Aqui, segundo o regulamento, o ensino tinha que ser experimental e racionalista ao contrário do que acontecia até à data, afastando-se em definitivo da escolástica", justifica a professora.
O Colégio, instrumentalizado pelo Marquês de Pombal, mostrava-se cada vez mais independente da Ordem de Cister, pois "estas medidas de dirigismo político não eram aceites pela Ordem", alega Antonieta de Sousa, aproveitando para sublinhar que o Colégio "crescia do ponto de vista material, constrangindo a casa-mãe".
Após a queda política do Marquês de Pombal, a instituição alcobacense perde algum poder no seio da Ordem, passando a aceitar a hegemonia da casa-mãe, o Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça.
Com o passar dos anos, algumas memórias físicas do Colégio foram apagadas, muito por culpa da longa e asfixiante ocupação leiga e, por fim, da política nacionalista do Estado Novo, que só valorizava como suporte material e simbólico da identidade cisterciense os monumentos fundacionistas, como o caso do mosteiro de Alcobaça.
Apesar do trabalho concluído, Antonieta de Sousa deixa um recado para quem quiser aprofundar mais o tema: "este trabalho deve ser visto como um ponto de partida e nunca como um ponto de chegada, pois ainda tem muitas lacunas e poderá ser enriquecido com outras pesquisas".

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cister.fm divulgou assim:
em 2010-10-27
Mosteiro de Alcobaça era "uma espécie de Faculdade de Artes"
Foram reveladas, no passado sábado, algumas pistas sobre o Colégio de Nossa Senhora da Conceição, que funcionou em Alcobaça durante vários anos.
A investigadora de Património histórico, Antonieta Sousa, referiu que hoje pouco se sabe sobre um colégio que tinha um edifício contíguo ao mosteiro de Alcobaça e que era "uma espécie de Faculdade de Artes", um período preparatório para se "ingressar na Faculdade de Teologia, Direito ou Medicina".
No período pós-pombalino, o colégio de NS Conceição fundou um novo curso, "que era de filosofia natural".
O colégio, fundado já no período pós-restauração, era "um outro mosteiro que existia, contíguo ao Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça" e que "não teve capacidade para se perpetuar na memória colectiva", refere a historiadora para desta forma justificar o facto de hoje em dia "nada sabermos", disse.
A conferência decorreu no Armazém das Artes, no âmbito das actividades de investigação do Centro de Formação dos Professores e Educadores dos Concelhos de Alcobaça e Nazaré. A investigação sobre o colégio surgiu no âmbito de uma tese de mestrado.


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e divulgou antes
2010-10-18 17:24:00

Colégio N S Conceição é tema de palestra
O Armazém das Artes, Fundação Cultural, vai ser palco de uma conferência sobre o Colégio de Nossa Senhora da Conceição no próximo sábado, dia 23, pelas 18h00.
A palestrante será a professora Antonieta Sousa, que concluiu o seu mestrado com uma tese sobre este estabelecimento de ensino, que existiu em Alcobaça entre 1648 e 1833.
Esta conferência está inserida nas Actividades de Investigação do Centro de Formação dos Professores e educadores dos concelhos de Alcobaça e Nazaré.
O Colégio de N. S. Conceição foi, de resto, um dos temas da educação bastante falados durante os mandatos de Gonçalves Sapinho, à frente da Câmara Municipal de Alcobaça, com intuito de “restaurar” o nome e importância daquele estabelecimento de ensino para os objectivos do ex-executivo camarário para a reinstalação do Ensino Superior em Alcobaça.