http://www.oesteonline.pt/noticias/noticia.asp?nid=23053
Joana Fialho coloca de novo o dedo na ferida
Joana Fialho // Edição de 11-11-2010
Alcobaça
CeDeCe enche Cine-Teatro na despedida como companhia residente na cidade
No seu último espectáculo como companhia residente em Alcobaça, a CeDeCe recuperou bailados dos seus 18 anos de existência
Uma sala cheia e uma plateia que não poupou aplausos. Foi assim que a CeDeCe – Companhia de Dança Contemporânea apresentou no passado dia 30 de Outubro o seu último espectáculo como companhia residente de Alcobaça. No próximo dia 31 de Dezembro, termina o protocolo entre a Câmara Municipal de Alcobaça e a companhia de dança, nascida em Setúbal em 1992.
Há seis anos, com o executivo camarário liderado por Gonçalves Sapinho, a companhia de dança fixou residência no celeiro do Mosteiro de Alcobaça, apresentando-se regularmente no Cine-Teatro da cidade. Com a subida de Paulo Inácio ao poder, a continuação da CeDeCe em Alcobaça foi posta em causa.
A directora artística e mentora da companhia, Maria Bessa, diz que a rescisão de contrato já tinha sido proposta à companhia pela Câmara Municipal em Novembro do ano passado, pouco tempo depois da tomada de posse do actual presidente. “Eu entendi que este seria um bom ano para a autarquia avaliar a manutenção, ou não, da companhia em Alcobaça”, diz a directora, acrescentando que “a avaliação que a Câmara terá ou não feito, nunca nos foi comunicada”. Mas este ano a autarquia voltou a manifestar a sua intenção de rescindir o protocolo.
Apontando que “é muito difícil trabalhar fora de Lisboa”, Maria Bessa diz que foi “com muito gosto” que a companhia trabalhou em Alcobaça nos últimos seis anos. E garante que “até aqui o protocolo tem sido cumprido” por ambas as partes. Mais do que isso: “a companhia tem feito em Alcobaça muito mais do que está acordado”.
Contactada pelo nosso jornal, a vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Alcobaça, Mónica Baptista, apresenta uma versão diferente para a saída da CeDeCe de Alcobaça, uma decisão que diz ter sido tomada por mútuao acordo. “A própria CeDeCe manifestou-nos o desejo de voltar a Setúbal”, diz a vereadora, ao mesmo tempo que não esconde que a necessidade de contenção orçamental por parte da autarquia foi também determinante para a rescisão do protocolo. Mas acrescenta: “algumas questões protocolares não têm estado a ser respeitadas, nomeadamente as estreias anuais, que a companhia não tem conseguido fazer, também por falta de meios”. Uma versão desmentida pela responsável pela companhia.
O financiamento da Câmara de Alcobaça era feito anualmente por duodécimos, numa média de cerca de 38 mil euros por ano. Já da Direcção-Geral das Artes a CeDeCe recebia anualmente 130 mil euros. Ao montante junta-se ainda a receita de bilheteira dos diversos espectáculos que apresenta por todo o país. “É preciso dinheiro para trabalhar, mas não é o dinheiro que nos prende”, garante Maria Bessa. E acrescenta: “temos ideias muito claras do que deve ser uma programação cultural. Não somos de nenhum partido político”.
Ainda que em Alcobaça muita gente continue, ao fim de seis anos, a não saber o que é a CeDeCe, muitos são aqueles que acompanharam o trabalho da companhia desde que esta fixou residência na cidade. E assim que se soube do fim do protocolo com a autarquia, não faltaram manifestações de apoio aos bailarinos, e críticas ao executivo camarário eleito há um ano e às suas opções em termos de programação cultural, divulgadas sobretudo através da Internet.
No ano em que comemora o seu 18º aniversário, a CeDeCe tem um futuro incerto. “Vamos suspender a actividade da companhia, avaliarmos e ponderarmos o nosso futuro”, aponta Maria Bessa. Mas a directora artística não está preocupada com o futuro dos oito bailarinos que neste momento integram a CeDeCe. “Todos os bailarinos desta companhia têm prática suficiente e talento suficiente para continuarem se esta companhia não continuar. O futuro deles não me preocupa”, garante.
Joana Fialho