"O CHON não trouxe melhores cuidados de saúde para o utente"
Rejeita as politiquices, porque diz estar na política pela questão social. A par da saúde, que é a sua área profissional, o maior carinho no discurso de Isabel Granada está nas causas que abraça em regime de voluntariado. As pessoas carenciadas e os menores são as lutas que abraçou mais recentemente. “Há muitos casos de pobreza no concelho de Alcobaça”, diz, sem hesitar.
REGIÃO DE CISTER (RC); É enfermeira no Hospital de Alcobaça. Têm vindo a público algumas informações de que a qualidade do atendimento no serviço de urgência tem vindo a decair. É assim?
ISABEL GRANADA (IG); Pela união dos três hospitais, há uma mobilização muito maior de doentes que eram escoados para Leiria, por não termos aqui especialidades, e que ficavam lá e agora não. Vão a Caldas, alguns vão a Lisboa e depois voltam para Alcobaça. Há um número muito grande de utentes a frequentarem os nossos serviços e daí haver esse mal estar e essas horas de espera. Como estou num serviço de cirurgia e afastada das urgências, há coisas que me escapam, mas o mal estar pode ter também a ver com o facto de falarmos de médicos contratados, que não têm nada a ver com o nosso concelho.
RC; O facto de os médicos do antigo Centro de Saúde, que faziam serviço permanente na urgência do Hospital, terem deixado de fazer por integrarem a unidade de saúde familiar influencia o serviço que é prestado?
IG; É a política de saúde. Os médicos deixaram de fazer as horas que faziam gratuitamente para as passarem a fazer nas Unidades de Saúde de Familiar para que os utentes não afluam às urgências. O que é um facto é que isso não acontece. Os cuidados primários, por enquanto, ainda não funcionam muito bem. Há muitos médicos em Alcobaça quase na reforma e, quando isso acontecer, não sei muito bem o que vai acontecer.
RC; Está preocupada com a falta de médicos?
IG; Estou preocupada com a falta de diálogo. Criou-se um centro hospitalar e não se ouvem todas as partes. São três hospitais e três realidades diferentes... O motor está em Caldas da Rainha. Não nos pareceu bem não haver um único clínico de Alcobaça na administração. Não há diálogo. Para que as coisas corram bem o diálogo é fundamental.
RC; Alcobaça preferia estar sozinha, como acontecia antes da criação do Centro Hospitalar Oeste Norte. Na realidade o CHON é o quê?
IG; É a tentativa de poupar, de criar uma rede de três hospitais, que sejam geridos todos da mesma maneira para tentar rentabilizar melhor os recursos.
RC; E para o utente, o que significa?
IG; O Chon não trouxe melhores cuidados de saúde para o utente. Caldas não aumentou a capacidade. Tem uma urgência pequena, os mesmos médicos e enfermeiros e vêem-se com aquilo completamente cheio. Não se consegue trabalhar assim... Em Alcobaça é a mesma coisa. Talvez Peniche não esteja a sentir isto por estar mais distante... Para o utente é pior. Ainda há pouco tempo aconteceu: um doente chegou ao meu serviço, eram 10:30 horas da noite, e já tinha andado de lá para cá, e, quando chegou ao quarto, viu a cama e disse que ia dormir numa cama de casal.... Claro que a cama não era de casal, mas o utente tinha estado duas noites numa maca pequeníssima. Estou a falar de um homem forte com 50 e tal anos... Como é que se consegue ter qualidade?
RC; Este hospital ainda reúne condições físicas? É favorável a um novo hospital na cidade?
IG; Sou favorável, mas não creio que isso vá acontecer. O que eu mais temo é que a população não tenha consciência de que estamos a ser despojados de muitas coisas - primeiro foram as associações de bombeiros que deixaram de fazer transportes, e alguns ficaram em situações financeiras muito difíceis, agora já se fala no laboratório... Alcobaça está a ser despojada lentamente. As chefias dizem que isto não vai terminar, mas o facto é que na gestão há aqui um mal estar muito grande que eu nem sei definir muito bem... O nosso medo é que Alcobaça fique reduzida a serviços mínimos. Não me parece que vá haver condições económicas para construir um novo hospital. E um novo hospital com o mesmo número de camas, também não vale a pena. Este é um hospital velho, que tem cumprido bastante bem. É mais fácil as pessoas estarem aqui do que irem para as Caldas, mas a população tem de acordar e tem de se mobilizar. Juntos conseguimos fazer grandes coisas.
RC; Que análise faz a este executivo?
IG; Eu estou na política por uma consciência mais social e por sentir que enquanto estou cá tenho de fazer alguma coisa pelos outros. Mas há outras áreas que me escapam. Não sou economista, nem dada a leis. Há outras pessoas na nossa bancada que complementam isso. O que me parece é que há muita megalomania e muita necessidade de fazer obras para cativar votos, mas continua a não haver diálogo também na política. O Rogério Raimundo já lá está há uma série de anos e parece que fala com paredes. Ele tenta envolver a população, mas esta é uma Câmara que continua a ser surda para as vozes e a não deixar que as coisas se modifiquem. Há coisas que nos marcam. Há um ano falei nesta questão na Assembleia: estão dois ciganos deficientes mentais ao pé do antigo Slat. Alguma coisa pode ser feita... O doutor Sapinho era um presidente mais prepotente e muito mais arrogante do que o doutor Paulo Inácio, mas a direcção que estão a tomar é a mesma.
texto/fotos Luci Pais e Ana Ferraz Pereira