26/12/2010

3.931. 3 exposições no Armazém das Artes para rever +1x...tintafresca.net fez reportagem de qualidade

Até final de Fevereiro
Rogério Ribeiro, Alberto Carneiro e J. Aurélio preenchem programa do Armazém das Artes

Painéis de armário de loja, da autoria de Rogério Ribeiro
O Armazém das Artes tem patente ao público, até 27 de Fevereiro, 4 novas exposições: Pintura e Desenho, de Rogério Ribeiro, Escultura e Desenho, de Alberto Carneiro, Siglas do Mosteiro de Alcobaça, de José Aurélio, e tornos do acervo do Armazém das Artes. Rogério Ribeiro (1930-2008) nasceu em Extremoz e foi Professor da Escola Superior de Belas Artes. Uma das suas obras mais conhecidas é a da ilustração do romance «Até Amanhã Camaradas», de Manuel Tiago/Álvaro Cunhal. Foi também autor do projecto museológico da Fortaleza de Peniche (1987). Por sua vez, Alberto Carneiro, Professor na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, nasceu em 1937, na Trofa. Os seus trabalhos, independentemente dos materiais que usa, são sempre uma reflexão sobre a Natureza, que surge como uma entidade viva e não como paisagem.
A inauguração teve lugar no dia 27 de Novembro, contando com a “concorrência”, que já vem sendo recorrente, de outra exposição à mesma hora, na Galeria de Exposições Temporárias do Mosteiro de Alcobaça, que contou com a presença da Primeira-Dama, Maria Cavaco Silva. Contudo, o público fiel do Armazém das Artes não deixou de marcar presença nesta mostra de grande qualidade artística, só possível em Alcobaça devido aos afectos que unem o anfitrião aos artistas convidados, um dos quais - Rogério Ribeiro - recentemente desaparecido.
Rogério Ribeiro
Quadro de Rogério Ribeiro
Rogério Ribeiro (1930-2008) nasceu em Extremoz, tendo-se licenciado na Escola Superior de Belas Artes, faculdade onde foi professor e, em 1974, coordenou o grupo de trabalho de reestruturação do currículo escolar na área do Design. No domínio da ilustração de livros, uma das suas obras mais conhecidas é a da ilustração da edição do romance «Até Amanhã Camaradas», de Manuel Tiago/Álvaro Cunhal. Foi também autor do projecto museológico da Fortaleza de Peniche 1987).
José Aurélio reconhece que esta ainda não é a grande exposição antológica de Rogério Ribeiro, que gostaria de organizar no Armazém das artes, mas “foi a exposição possível, dados os fracos recursos que nós temos e hoje fazer uma grande exposição custa muito dinheiro e nós vamos fazendo aquilo que podemos.”
No entanto, como normalmente é apanágio do Armazém, esta é também uma exposição de afectos, construída com base em obras cedidas pelos amigos e camaradas das artes de José Aurélio. “O Rogério foi o meu grande amigo durante toda a vida, foi um homem que conheci logo que cheguei a Lisboa e que sempre me acompanhou toda a vida, era um homem fora de série. Nesta altura, só foi possível fazer esta exposição, que é de facto uma boa exposição, não quero que se pense que os condicionamentos que impendem sobre a nossa capacidade de realização tenham a ver com falta de qualidade, antes pelo contrário, aquela é uma boa exposição do Rogério, mas que foi feita fundamentalmente com a prata da casa”, adiantou o escultor ao Tinta Fresca.
Para além de um núcleo central de 14 obras do Armazém das Artes e de José Aurélio, estão representadas três obras propriedade do historiador António Borges Coelho, “ que era muito amigo dele”, obras cedidas pela galeria Cordeiros, a galeria com quem Rogério Ribeiro trabalhava e que se quis associar a esta exposição enviando “duas peças belíssimas”, além de obras propriedade dos filhos e da companheira do pintor. Portanto, “são quadros quase íntimos, que pertencem às pessoas e que têm muita qualidade porque foram oferecidas às pessoas mais próximas do pintor e formam um conjunto que, embora muito heterogéneo, tem a particularidade de ter representadas todas as fases da vida dele. Ele teve várias fases, como qualquer artista, e há uma ou duas peças de cada fase. Assim, é significativo que embora a exposição não seja exaustiva é, pelo menos, muito representativa de todo o trabalho dele”, explicou José Aurélio.
Além dos quadros e desenhos, “há umas peças muito curiosas e que é uma memória importante de uma loja que houve em Alcobaça, a Raimundo Ferreira Daniel, onde esteve instalada a Fetal, antes do edifício ruir: são, as portas de uns armários pintados, a meu pedido, pelo Rogério Ribeiro. Tem o sentido de amizade que a exposição tem, são coisas muito importantes para mim porque sou muito afectivo. Também é curioso que muita gente de Alcobaça se lembre dessas duas peças, mas não sabiam delas nem se ainda existiam e são dois painéis belíssimos do Rogério”, frisou.
Alberto Carneiro
Exposição de Alberto Carneiro
Alberto Carneiro nasceu em 1937, tendo estudado Escultura na Escola Superior de Belas-Artes do Porto e em Saint Martin's School de Londres. É Professor na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto e os seus trabalhos, independentemente dos materiais que usa, madeira, pedra, metal, vidro ou elementos vegetais, espigas de milho, folhas, etc., são sempre uma reflexão sobre a Natureza, que surge como uma entidade viva e não como paisagem.
José Aurélio considera que as obras expostas de Alberto Carneiro são também “uma belíssima exposição, representativa do percurso artístico do escultor. Tem desenhos belíssimos, principalmente, o grupo dos ventos. É uma tentativa de apanhar o movimento das folhas agitadas pelo vento, aqueles remoinhos que se formam quando o vento sopra com uma certa intensidade. Ele vive no campo, tem uma floresta junto à sua casa e é um espectáculo a que ele assiste com muita frequência agora no Outono. Sente-se que há nos seus quadros uma pesquisa desse trabalho, aliás, ele é um homem muito virado para a pesquisa das forças que se geram na Natureza. São peças extremamente coerentes com toda uma forma de estar e de fazer arte, o que o torna uma das figuras proeminentes da escultura a nível nacional e internacionalmente é também um artista extremamente cotado, representado em vários museus pelo mundo fora.”
As Siglas do Mosteiro de Alcobaça
Siglas do Mosteiro de Alcobaça são a marca dos canteiros que construiram o monumento
José Aurélio volta a expor um conjunto de peças produzidas há 26 anos para uma exposição no Mosteiro de Alcobaça. O escultor recordou que, na altura,a exposição foi pouco visitada e, por isso, achou que devia aproveitar a oportunidade para "trazer o Mosteiro de Alcobaça para dentro do Armazém das Artes." As siglas, identificadoras dos canteiros que trabalharam no monumento Património Mundial, vieram agora "criar esse abraço entre as duas instituições." Da colecção original apenas faltam 5 peças que, ou foram oferecidas, ou vendidas. Réplicas das peças originais, criadas propositadamente para esta exposição, encontram-se também colocadas na parede do piso inferior do Armazém das Artes.
26-12-2010