Nasceu a 4fev1799
e morreu a 9dez1854
***
a actualíssima frase de gaRRett (no início do Levantado do Chão de JOSé saraMAGO):
"E eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas, se já calcularam o n.º de indivíduos que é forçoso condenar à miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infância, a ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir 1 rico?"
***
27ab2019...incêndio na casa onde viveu Almeida Garret
onde ia ser construído o Museu do Liberalismo
Câmara tinha intenção de a comprar...
https://observador.pt/2019/04/27/casa-de-almeida-garrett-que-ardeu-no-porto-ia-ser-museu-do-liberalismo/?fbclid=IwAR1oWDkLJYUWY8X35S_1LRW7CpkkarqXpBJPEPaLbdpdg3s4Z4S6o-KlCVM
***
Via Eulália Valentim
GARRET SEDUTOR:
A vida de Garrett foi tão apaixonante quanto a sua obra. Revolucionário nos anos 20 e 30, distinguiu-se posteriormente sobretudo como o tipo perfeito do dândi, ou janota, tornando-se árbitro de elegâncias e príncipe dos salões mundanos. Foi um homem de muitos amores, uma espécie de homem fatal.................................. Separado da ESPOSA, LUISA MIDOSI, com quem se casou, em 1822, quando esta tinha 15 anos de idade, passa a viver em mancebia com ADELAIDE PASTOR até a morte desta, em 1841.....................................................
A partir de 1846, a sua musa é a VISCONDESSA DA LUZ , ROSA MONTUFAR INFANTE, andaluza casada, desde 1837, com o oficial do exército português Joaquim António Velez Barreiros, inspiradora dos arroubos românticos da obra "FOLHAS CAÍDAS"... Wikipédia
*
1.ª mulher: LUISA MIDOSI
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1984077874952917&set=p.1984077874952917&type=3&theater
*
Depois da separação de L M ( 1835)... conheceu Adelaide Pastor Deville,
filha de um negociante e então com 18 anos, viveram os dois até à morte
de Adelaide Tiveram uma filha- Maria Adelaide.
*
ROSA MONTUFAR INFANTE- VISCONDESSA DA LUZ, a musa inspiradora
das Folhas Caídas - foram amantes desde 1846 até ao fim da vida de
Almeida Garret-1854. ...
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1984085354952169&set=p.1984085354952169&type=3&theater
*
Prof. José Hermano Saraiva Horizontes da Memória, O Romantismo de Almeida Garrett - 1999
https://www.youtube.com/watch?v=KdkD5ScTusw&feature=youtu.be
***
Via Cristina Franco
Por teus olhos negros, negros,
Trago eu negro o coração,
De tanto pedir-lhe amores...
E eles a dizer que não.
E mais não quero outros olhos,
Negros, negros como são;
Que os azuis dão muita esperança
Mas fiar-me eu neles, não.
Só negros, negros os quero;
Que, em lhes chegando a paixão,
Se um dia disserem sim...
Nunca mais dizem que não.
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1856935621359&set=a.1810471299780.106001.1179915335&type=3&theater
*
"Este inferno de amar, como eu amo!"
04 de Fevereiro de 1799: Nasce o escritor e político português ALMEIDA GARRETT, defensor do Liberalismo, promotor da reforma do ensino artístico, fundador do futuro Teatro Nacional D. Maria II.
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1856937781413&set=a.1810471299780.106001.1179915335&type=3&theater
***
Almeida Garret, enquanto voluntário do Batalhão Académico, de sentinela ao Convento dos Grilos durante o Cerco do Porto.
https://estoriasdahistoria12.blogspot.com/2018/12/09-de-dezembro-de-1854-morre-o-escritor_9.html?fbclid=IwAR3cnJew-pcn4HXeYhS1KXIVzpCrVcAWLdbZvCbyAP3Loee64wezP7TDyro
*
***
Via Biblioteca nacional
http://purl.pt/96/1/
***
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=695956243824593&set=pcb.695956273824590&type=1&theater
***
«E eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar a miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico?...»
***
Via Citador:
Este é o Verdadeiro Amor de que Tanto se FalaEstranho e inexplicável sentimento este! Que quando sinto transbordar-me do coração toda esta imensa ventura, acomete-me então um terror grande - parece-me que é impossível ser tão feliz - que o Mundo não comporta esta ventura celeste, e que chegado ao ápice de todas as felicidades já será forçoso declinar. (...) Sucede-te isto também a ti, esposa querida do meu coração? Conheces tu também este tormento, anjo divino?
Ai, Rosa, minha doce Rosa, este que nós sentimos, este é o verdadeiro amor de que tanto se fala, e tão pouco se sabe o que é. São regiões pouco conhecidas em que a cada passo se encontram belezas nunca sonhadas, terrores inexplicáveis, felicidades sem par e tristezas que não têm nome.
(...) Oh! Como se riria de mim quem lesse esta carta, Rosa! - De mim que eles julgam um incrédulo, um céptico, e cujas palavras sarcásticas no Mundo não significam senão a mais perfeita indiferença por tudo! Há dois homens em mim, vida desta alma; um é o que vêem todos, o que fez a experiência, a sociedade e o conhecimento de suas misérias e nulidades - o outro é o que tu fizeste, é a criação do teu amor, a tua obra, e este vale muito decerto, porque é feito à tua imagem.
in 'Carta a Rosa Barreiras'
Possuir-te é Gozar de um Tesouro InfinitoQue suprema felicidade foi hoje a minha, querida desta alma! Como tu estavas, linda, terna, amante, encantadora! Nunca te vi assim, nunca me pareceste tão bela! Que deliciosa variedade há em ti, minha Rosa adorada! Possuir-te é gozar de um tesouro infinito, inesgotável. Juro-te que já não tenho mérito em te ser fiel, em te protestar e guardar esta lealdade exclusiva que te hei-de consagrar até ao último instante da minha vida: não tenho mérito algum nisso. Depois de ti, toda a mulher é impossível para mim, que antes de ti não conheci nenhuma que me pudesse fixar.
E o que eu te estimo e aprecio além disso. A ternura de alma verdadeira que tenho por ti. Onde estavam no meu coração estes afectos que nunca senti, que só tu despertaste e que dão à minha alma um bem-estar tão suave? Realmente que te devo muito, que me fizeste melhor, outro do que nunca fui. O que sinto por ti é inexplicável. Bem me dizias tu que em te conhecendo te havia de adorar deveras. É certo, assim foi, e estou agora seguro deste amor, porque repousa em bases tão sólidas que já nada creio que o possa destruir. Deixaste-me hoje num estado de felicidade tal, com tanta serenidade no coração, que não creio em toda a minha vida que ainda tivesse um dia assim. A minha imaginação foi exaltada, tão difícil, nunca foi além das doces realidades que tu me fazes experimentar.
Tinha desesperado de encontrar a mulher que Deus formara à minha semelhança - achei-a em ti, e já não desejo a vida senão para gozar contigo e para me arrepender a teus pés do mal que fiz, do tempo que perdi, do que te roubei da minha existência para o mal empregar nas misérias de que me tenho querido ocupar. Digo - que me tenho querido, porque não consegui nunca: o meu espírito rebelava-se, o meu coração ficava indiferente, nunca foram de ninguém senão teus. Não penses que exagero: por Deus te juro que assim é, e que me podes crer: eu a ninguém amei, a ninguém hei-de amar senão a ti.
in 'Carta a Rosa Barreiras'
O Homem Deformado pela SociedadeFormou Deus o homem, e o pôs num paraíso de delícias; tornou a formá-lo a sociedade, e o pôs num inferno de tolices. O homem — não o homem que Deus fez, mas o homem que a sociedade tem contrafeito, apertando e forçando em seus moldes de ferro aquela pasta de limo que no paraíso terreal se afeiçoara à imagem da divindade — o homem assim aleijado como nós o conhecemos, é o animal mais absurdo, o mais disparatado e incongruente que habita na terra.
Rei nascido de todo o criado, perdeu a realeza: príncipe deserdado e proscrito, hoje vaga foragido no meio de seus antigos estados, altivo ainda e soberbo com as recordações do passado, baixo, vil e miserável pela desgraça do presente.
Destas duas tão apostas actuações constantes, que já per si sós o tornariam ridículo, formou a sociedade, em sua vã sabedoria, um sistema quimérico, desarrazoado e impossível, complicado de regras a qual mais desvairada, encontrado de repugnâncias a qual mais aposta. E vazado este perfeito modelo de sua arte pretensiosa, meteu dentro dele o homem, desfigurou-o, contorceu-o, fê-lo o tal ente absurdo e disparatado, doente, fraco, raquítico; colocou-o no meio do Éden fantástico de sua criação — verdadeiro inferno de tolices — e disse-lhe, invertendo com blasfemo arremedo as palavras de Deus Criador:
- De nenhuma árvore da horta comendo comerás:
- Porém da árvore da ciência do bem e do mal dela só comerás se quiseres viver.
Indigestão de ciência que não comutou seu mau estômago, presunção e vaidade que dela se originaram — tal foi o resultado daquele preceito a que o homem não desobedeceu como ao outro: tal é o seu estado habitual.
E quando as memórias da primeira existência lhe fazem nascer o desejo de sair desta outra, lhe influem alguma aspiração de voltar à natureza e a Deus, a sociedade, armada de suas barras de ferro, vem sobre ele, e o prende, e o esmaga, e o contorce de novo, e o aperta no ecúleo doloroso de suas formas,
Ou há de morrer ou ficar monstruoso e aleijão.
in 'Viagens na minha Terra'Mais umas poucas Dúzias de Homens RicosNão: plantai batatas, ó geração de vapor e de pó de pedra, macadamizai estradas, fazeis caminhos de ferro, construí passarolas de Ícaro, para andar a qual mais depressa, estas horas contadas de uma vida toda material, maçuda e grossa como tendes feito esta que Deus nos deu tão diferente do que a que hoje vivemos. Andai, ganha-pães, andai; reduzi tudo a cifras, todas as considerações deste mundo a equações de interesse corporal, comprai, vendei, agiotai. No fim de tudo isto, o que lucrou a espécie humana? Que há mais umas poucas dúzias de homens ricos. E eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar a miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico? - Que lho digam no Parlamento inglês, onde, depois de tantas comissões de inquérito, já devia andar orçado o número de almas que é preciso vender ao diabo, número de corpos que se tem de entregar antes do tempo ao cemitério para fazer um tecelão rico e fidalgo como Sir Roberto Peel, um mineiro, um banqueiro, um granjeeiro, seja o que for: cada homem rico, abastado, custa centos de infelizes, de miseráveis.
in 'Viagens na minha Terra'
**
POEMAS
Este Inferno de AmarEste inferno de amar - como eu amo! -
Quem mo pôs aqui n'alma... quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
Que é a vida - e que a vida destrói -
Como é que se veio a atear,
Quando - ai quando se há-de ela apagar?
Eu não sei, não me lembra: o passado,
A outra vida que dantes vivi
Era um sonho talvez... - foi um sonho -
Em que paz tão serena a dormi!
Oh! que doce era aquele sonhar...
Quem me veio, ai de mim! despertar?
Só me lembra que um dia formoso
Eu passei... dava o sol tanta luz!
E os meus olhos, que vagos giravam,
Em seus olhos ardentes os pus.
Que fez ela? eu que fiz? - Não no sei;
Mas nessa hora a viver comecei...
in 'Folhas Caídas'
Quando Eu SonhavaQuando eu sonhava, era assim
Que nos meus sonhos a via;
E era assim que me fugia,
Apenas eu despertava,
Essa imagem fugidia
Que nunca pude alcançar.
Agora, que estou desperto,
Agora a vejo fixar...
Para quê? - Quando era vaga,
Uma ideia, um pensamento,
Um raio de estrela incerto
No imenso firmamento,
Uma quimera, um vão sonho,
Eu sonhava - mas vivia:
Prazer não sabia o que era,
Mas dor, não na conhecia ...
in 'Folhas Caídas'
Seus OlhosSeus olhos - que eu sei pintar
O que os meus olhos cegou –
Não tinham luz de brilhar,
Era chama de queimar;
E o fogo que a ateou
Vivaz, eterno, divino,
Como facho do Destino.
Divino, eterno! - e suave
Ao mesmo tempo: mas grave
E de tão fatal poder,
Que, um só momento que a vi,
Queimar toda a alma senti...
Nem ficou mais de meu ser,
Senão a cinza em que ardi.
in 'Folhas Caídas'
Não te AmoNão te amo, quero-te: o amar vem d’alma.
E eu n’alma - tenho a calma,
A calma - do jazigo.
Ai! não te amo, não.
Não te amo, quero-te: o amor é vida.
E a vida - nem sentida
A trago eu já comigo.
Ai, não te amo, não!
Ai! não te amo, não; e só te quero
De um querer bruto e fero
Que o sangue me devora,
Não chega ao coração.
Não te amo. És bela; e eu não te amo, ó bela.
Quem ama a aziaga estrela
Que lhe luz na má hora
Da sua perdição?
E quero-te, e não te amo, que é forçado,
De mau, feitiço azado
Este indigno furor.
Mas oh! não te amo, não.
E infame sou, porque te quero; e tanto
Que de mim tenho espanto,
De ti medo e terror...
Mas amar!... não te amo, não.
in 'Folhas Caídas'Os Cinco SentidosSão belas - bem o sei, essas estrelas,
Mil cores - divinais têm essas flores;
Mas eu não tenho, amor, olhos para elas:
Em toda a natureza
Não vejo outra beleza
Senão a ti - a ti!
Divina - ai! sim, será a voz que afina
Saudosa - na ramagem densa, umbrosa.
será; mas eu do rouxinol que trina
Não oiço a melodia,
Nem sinto outra harmonia
Senão a ti - a ti!
Respira - n'aura que entre as flores gira,
Celeste - incenso de perfume agreste,
Sei... não sinto: minha alma não aspira,
Não percebe, não toma
Senão o doce aroma
Que vem de ti - de ti!
Formosos - são os pomos saborosos,
É um mimo - de néctar o racimo:
E eu tenho fome e sede... sequiosos,
Famintos meus desejos
Estão... mas é de beijos,
É só de ti - de ti!
Macia - deve a relva luzidia
Do leito - ser por certo em que me deito.
Mas quem, ao pé de ti, quem poderia
Sentir outras carícias,
Tocar noutras delícias
Senão em ti! - em ti!
A ti! ai, a ti só os meus sentidos
Todos num confundidos,
Sentem, ouvem, respiram;
Em ti, por ti deliram.
Em ti a minha sorte,
A minha vida em ti;
E quando venha a morte,
Será morrer por ti.
in 'Folhas Caídas'
e morreu a 9dez1854
***
a actualíssima frase de gaRRett (no início do Levantado do Chão de JOSé saraMAGO):
"E eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas, se já calcularam o n.º de indivíduos que é forçoso condenar à miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infância, a ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir 1 rico?"
***
27ab2019...incêndio na casa onde viveu Almeida Garret
onde ia ser construído o Museu do Liberalismo
Câmara tinha intenção de a comprar...
https://observador.pt/2019/04/27/casa-de-almeida-garrett-que-ardeu-no-porto-ia-ser-museu-do-liberalismo/?fbclid=IwAR1oWDkLJYUWY8X35S_1LRW7CpkkarqXpBJPEPaLbdpdg3s4Z4S6o-KlCVM
***
Via Eulália Valentim
ALMEIDA GARRETT, escultura em bronze de Salvador Carvão da Silva D`Eça Barata Feyo ( 1954 ) - Porto
***
João Batista da Silva Leitão de Almeida, nome completo do escritor, nasceu no Porto em 1799 e faleceu em Lisboa em 1854. O apelido irlandês está na genealogia da família: Garrett é o nome da sua avó paterna, que veio para Portugal no séquito de uma princesa.
***
João Batista da Silva Leitão de Almeida, nome completo do escritor, nasceu no Porto em 1799 e faleceu em Lisboa em 1854. O apelido irlandês está na genealogia da família: Garrett é o nome da sua avó paterna, que veio para Portugal no séquito de uma princesa.
Em 1809, a família Garrett refugiou-se na ilha Terceira, com receio das invasões francesas. A educação do Autor foi confiada a dois tios, o Dr.João Carlos Leitão e D. Frei Alexandre da Sagrada Família, bispo de Angra a partir de 1812.
Almeida Garrett foi estudar para a Universidade de Coimbra em 1816, frequentando o Curso de Direito. As suas influências liberais datam dessa época, no contacto com outros universitários.
Em 1821 edita a sua primeira obra, um poema intitulado "O Retrato de Vénus", em que celebrava a Pintura. O texto foi considerado ultrajante pela Censura da época e o autor foi obrigado a comparecer no tribunal, onde demonstrou as suas qualidades de tribuno, sendo absolvido.
Foi também no ano de 1821 que subiu ao palco a sua tragédia "Catão", drama construído à maneira clássica.
Apaixona-se, nessa altura por Luisa Midosi, uma jovem com 14 anos de idade. O casamento celebrou-se onze meses depois, já Garrett tinha concluído a licenciatura em Direito.
Apaixona-se, nessa altura por Luisa Midosi, uma jovem com 14 anos de idade. O casamento celebrou-se onze meses depois, já Garrett tinha concluído a licenciatura em Direito.
Dadas as suas ideias liberais conheceu o exílio em 1823, após a Vilafrancada, que marcou o triunfo das ideias absolutistas de D. Miguel. Garrett, acompanhado pela mulher, procurou abrigo na Inglaterra onde uma família inglesa, os Hadley, os recebeu numa casa de campo, em Edgbaston.
Foi durante o período de exílio que o Autor descobriu o Movimento Romântico. Estuda a obra de Byron e Walter Scott, nomes consagrados do romantismo inglês, e adere à escola literária de que viria a ser em Portugal um dos maiores representantes.
A dureza do exílio, associada à necessidade de ganhar a vida, leva-o a muda de país para trabalhar em França, no Havre, como correspondente de uma filial da casa Laffite.
Garrett conjuga a actividade comercial com a literatura e escreve "Camões" (1825) e "Dona Branca" (1826) primeiras obras da nova escola romântica portuguesa.
Regressa do exílio em 1826 e volta a deixar o país em 1828 porque o absolutista D. Miguel reassume o poder.
Garrett volta a Inglaterra e a França, donde parte para a Terceira, integrado no exército liberal. Os azares da política não o impedem de prosseguir a sua obra.
Publica "Adozinda" (1828) e "Catão" no mesmo ano. Esta peça viria a ser representada por emigrados em Playmounth, Inglaterra. Em 1829 saiu a "Lírica" e o tratado "Da Educação".
Durante a sua estadia nos Açores coopera com o notável político Mouzinho da Silveira na elaboração dos textos sobre a reforma de Portugal.
Garrett participa, de armas na mão, no desembarque do Mindelo (1832) e escreve, durante o cerco do Porto, a primeira parte d' "O Arco de Santana", que viria a completar e a editar em 2 volumes, em 1845 e 1850.
Regressado a Lisboa, após o triunfo das ideias liberais separa-se de Luisa Midosi, que o teria traído. Volta a apaixonar-se e em 1837 passa a viver com Adelaide Pastor, que morrerá em 1841, deixando-lhe uma filha.
Há 150 anos, ou seja, em 1836 ocorreram factos políticos e culturais muito importantes: Portugal vive a Revolução de Setembro, cujo rastilho são os artigos de Garrett no jornal O Português Constitucional, e Passos Manuel encarrega Garrett de «propor um plano para a fundação e organização dum teatro nacional» (segundo reza o decreto respectivo).
O Autor é ainda nomeado «inspector-geral dos teatros» e lança ombros à tarefa, promovendo a fundação do Teatro Nacional (actual D. Maria II), a fundação de um Conservatório Nacional e a criação de um reportório de peças portuguesas.
Para além da actividade política e legislativa, o dramaturgo lança mãos à obra e escreve para o Teatro o auto de Gil Vicente em 1838, "D. Filipa de Vilhena" em 1840 e "O Alfageme de Santarém" em 1842.
Em 1841 o cabralismo triunfa na política, Garrett remete-se à oposição contra a ditadura de Costa Cabral, que o demitiu do cargo de inspector-geral dos teatros.
Esta terá sido a época mais criativa de toda a sua carreira literária: em 1844 publica "Frei Luís de Sousa", em 1845 "As Viagens na Minha Terra", ainda em 1845 "As Flores sem Fruto" (1845), e as "Folhas Caídas", que datam de 1853, embora tenha sido escritas antes.
Esta terá sido a época mais criativa de toda a sua carreira literária: em 1844 publica "Frei Luís de Sousa", em 1845 "As Viagens na Minha Terra", ainda em 1845 "As Flores sem Fruto" (1845), e as "Folhas Caídas", que datam de 1853, embora tenha sido escritas antes.
O triunfo do movimento político da Regeneração (1851) traz Garrett à política activa. Funda um novo jornal, a que chamou A Regeneração. Em 1852 foi nomeado visconde, par do reino e ministro dos Negócios Estrangeiros.
Dado o seu temperamento e espírito independente sai em 1853 do governo regenerador. Regressa então à escrita, e inicia um novo romance, "Helena", que não chega a concluir porque entretanto a morte o surpreende.
"História da Literatura Portuguesa" - António José Saraiva; Óscar Lopes; Porto Editora; 10ª edição corrigida e actualizada; pp.794- 797.
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1984056658288372&set=a.282097105151011.82379.100000521703651&type=3&theater
*GARRET SEDUTOR:
A vida de Garrett foi tão apaixonante quanto a sua obra. Revolucionário nos anos 20 e 30, distinguiu-se posteriormente sobretudo como o tipo perfeito do dândi, ou janota, tornando-se árbitro de elegâncias e príncipe dos salões mundanos. Foi um homem de muitos amores, uma espécie de homem fatal.................................. Separado da ESPOSA, LUISA MIDOSI, com quem se casou, em 1822, quando esta tinha 15 anos de idade, passa a viver em mancebia com ADELAIDE PASTOR até a morte desta, em 1841.....................................................
A partir de 1846, a sua musa é a VISCONDESSA DA LUZ , ROSA MONTUFAR INFANTE, andaluza casada, desde 1837, com o oficial do exército português Joaquim António Velez Barreiros, inspiradora dos arroubos românticos da obra "FOLHAS CAÍDAS"... Wikipédia
*
1.ª mulher: LUISA MIDOSI
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1984077874952917&set=p.1984077874952917&type=3&theater
*
Depois da separação de L M ( 1835)... conheceu Adelaide Pastor Deville,
filha de um negociante e então com 18 anos, viveram os dois até à morte
de Adelaide Tiveram uma filha- Maria Adelaide.
*
ROSA MONTUFAR INFANTE- VISCONDESSA DA LUZ, a musa inspiradora
das Folhas Caídas - foram amantes desde 1846 até ao fim da vida de
Almeida Garret-1854. ...
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1984085354952169&set=p.1984085354952169&type=3&theater
*
Prof. José Hermano Saraiva Horizontes da Memória, O Romantismo de Almeida Garrett - 1999
https://www.youtube.com/watch?v=KdkD5ScTusw&feature=youtu.be
***
Via Cristina Franco
Por teus olhos negros, negros,
Trago eu negro o coração,
De tanto pedir-lhe amores...
E eles a dizer que não.
E mais não quero outros olhos,
Negros, negros como são;
Que os azuis dão muita esperança
Mas fiar-me eu neles, não.
Só negros, negros os quero;
Que, em lhes chegando a paixão,
Se um dia disserem sim...
Nunca mais dizem que não.
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1856935621359&set=a.1810471299780.106001.1179915335&type=3&theater
*
"Este inferno de amar, como eu amo!"
04 de Fevereiro de 1799: Nasce o escritor e político português ALMEIDA GARRETT, defensor do Liberalismo, promotor da reforma do ensino artístico, fundador do futuro Teatro Nacional D. Maria II.
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1856937781413&set=a.1810471299780.106001.1179915335&type=3&theater
***
09 de Dezembro de 1854: Morre o escritor e político português Almeida Garrett, defensor do Liberalismo, promotor da reforma do ensino artístico, fundador do futuro Teatro Nacional D.Maria II.
Iniciador
do Romantismo, refundador do teatro português, criador do lirismo moderno, criador da prosa moderna,
jornalista, político,
legislador, Garrett é
um exemplo de
aliança inseparável entre o homem político
e o escritor,
o cidadão e
o poeta. É
considerado, por muitos
autores, como o
escritor português mais
completo de todo
o século XIX,
porquanto nos deixou
obras-primas na poesia,
no teatro e
na prosa, inovando
a escrita e
a composição em
cada um destes
géneros literários.
João Batista da Silva Leitão de Almeida Garrett nasceu a 4 de Fevereiro de 1799 no Porto, no seio de uma família burguesa, que se refugia em 1809 na ilha Terceira, a fim de escapar à segunda invasão francesa. Nos Açores, recebe uma educação clássica e iluminista (Voltaire e Rousseau, que lhe ensinam o valor da Liberdade), orientada pelo tio, Frei Alexandre da Conceição, Bispo de Angra, ele próprio escritor. Em 1817, vai estudar Leis para Coimbra, foco de fermentação das ideias liberais. Em 1820, finalista em Coimbra, recebe com entusiasmo e otpimismo a notícia da revolução liberal. Em 1821, representa o Catão e publica em Coimbra O Retrato de Vénus, obras marcadas ainda por um estilo arcádico. Arcádicos são igualmente os poemas que escreve durante este período e que serão insertos, em 1829, na Lírica de João Mínimo. Em 1822, é nomeado funcionário do Ministério do Reino, casa com Luísa Midosi e funda o jornal para senhoras O Toucador. Em 1823, com a reacção miguelista da Vila-Francada, é obrigado a exilar-se em Inglaterra, onde inicia o estudo do Romantismo (inglês), e depois em França, onde se torna correspondente de uma filial da casa Lafitte. Contacta então com a literatura romântica (Byron, Lamartine, Vítor Hugo, Schlegel, Walter Scott, Mme de Staël), redescobre Shakespeare e, influenciado pelas recolhas de cancioneiros populares, começa a preparar o Romanceiro. Em 1825 e 1826, publica em Paris os poemas Camões e Dona Branca, primeiras obras portuguesas de cunho romântico, fruto da metamorfose estética em si operada pelas novas leituras. Em 1826, publica também o Bosquejo da História da Poesia e Língua Portuguesa, como introdução à antologia de poesia portuguesa Parnaso Lusitano. Em 1826, durante um período de tréguas, regressa a Portugal e mostra-se confiante na Carta Constitucional acordada entre D. Pedro e D. Miguel, mais moderada que o programa vintista. Dedica-se ao jornalismo político nos jornais O Português e O Cronista. Em 1828, depois da retoma do poder absoluto por parte de D. Miguel, exila-se novamente em Inglaterra. Em 1829, publica em Londres a Lírica de João Mínimo e o tratado Da Educação. Em 1830, publica o tratado político Portugal na Balança da Europa, onde analisa a história da crise portuguesa e exorta à unidade e à moderação. Em 1832, parte para a ilha Terceira, incorpora-se no exército liberal, e participa no desembarque em Mindelo. Escreve, durante o cerco do Porto, o romance histórico O Arco de Santana e colabora com Mouzinho da Silveira nas reformas administrativas. Em 1834, é nomeado cônsul-geral em Bruxelas, numa espécie de terceiro exílio motivado pelo cada vez maior desencanto em relação à política portuguesa (a divisão dos liberais, a corrida aos cargos públicos), onde contacta com a língua e a literatura alemãs (Herder, Schiller e Goethe). Também exerceu funções diplomáticas em Londres e em Paris. Em 1836, regressa a Lisboa, separa-se de Luísa Midosi e funda o jornal O Português Constitucional. No mesmo ano, após a Revolução de Setembro, é incumbido pelo governo setembrista de Passos Manuel da organização do Teatro Nacional. Nesse âmbito, desenvolverá uma acção notável, dirigindo a Inspecção Geral dos Teatros e o Conservatório de Arte Dramática, intervindo no projecto do futuro Teatro Nacional de D. Maria II e escrevendo ao longo dos anos seguintes todo um repertório dramático nacional: Um Auto de Gil Vicente (1838), Dona Filipa de Vilhena (1840), O Alfageme de Santarém (1842), Frei Luís de Sousa (1843). É por esta altura que inicia um romance com Adelaide Deville, que morrerá em 1841, deixando-lhe uma filha (episódio que inspirará o Frei Luís de Sousa). Em 1838, torna-se deputado da Assembleia Constituinte e membro da comissão de reforma do Código Administrativo. No ano de 1843 publica o 1.º volume do Romanceiro, uma recolha de poesias de tradição popular. Em 1845, lança o livro de poesias líricas Flores sem Fruto e o 1.º volume do romance histórico O Arco de Sant'Ana. Em 1846, sai em volume o "inclassificável" livro das Viagens na Minha Terra, publicado um ano antes em folhetim na Revista Universal Lisbonense. Com este livro, a crítica considera iniciada a prosa moderna em Portugal. Em 1851, depois de um período de distanciamento face à vida política, regressa com a Regeneração, movimento que prometia conciliação e progresso. Nesse ano, funda o jornal A Regeneração, aceita o título de visconde e reassume o seu papel de deputado, colaborando na proposta de revisão da Carta. Em 1852, torna-se, por pouco tempo, ministro dos Negócios Estrangeiros. Em 1853, publica o livro de poesias líricas Folhas Caídas, recebido com algum escândalo: o poeta era, na época, uma figura pública respeitável (deputado, ministro, visconde), que se atrevia a cantar o amor desafiando todas as convenções, e muitos souberam ver na obra ecos da paixão do autor pela viscondessa da Luz, Rosa de Montufar. Em 1854, morre em Lisboa, aos cinquenta e cinco anos.
Em 1999 comemorou-se o Bicentenário do nascimento de Almeida Garrett, com a realização de conferências, publicações das suas obras, espetáculos, actividades escolares, exposições, entre outros eventos.
Almeida Garrett. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013.
João Batista da Silva Leitão de Almeida Garrett nasceu a 4 de Fevereiro de 1799 no Porto, no seio de uma família burguesa, que se refugia em 1809 na ilha Terceira, a fim de escapar à segunda invasão francesa. Nos Açores, recebe uma educação clássica e iluminista (Voltaire e Rousseau, que lhe ensinam o valor da Liberdade), orientada pelo tio, Frei Alexandre da Conceição, Bispo de Angra, ele próprio escritor. Em 1817, vai estudar Leis para Coimbra, foco de fermentação das ideias liberais. Em 1820, finalista em Coimbra, recebe com entusiasmo e otpimismo a notícia da revolução liberal. Em 1821, representa o Catão e publica em Coimbra O Retrato de Vénus, obras marcadas ainda por um estilo arcádico. Arcádicos são igualmente os poemas que escreve durante este período e que serão insertos, em 1829, na Lírica de João Mínimo. Em 1822, é nomeado funcionário do Ministério do Reino, casa com Luísa Midosi e funda o jornal para senhoras O Toucador. Em 1823, com a reacção miguelista da Vila-Francada, é obrigado a exilar-se em Inglaterra, onde inicia o estudo do Romantismo (inglês), e depois em França, onde se torna correspondente de uma filial da casa Lafitte. Contacta então com a literatura romântica (Byron, Lamartine, Vítor Hugo, Schlegel, Walter Scott, Mme de Staël), redescobre Shakespeare e, influenciado pelas recolhas de cancioneiros populares, começa a preparar o Romanceiro. Em 1825 e 1826, publica em Paris os poemas Camões e Dona Branca, primeiras obras portuguesas de cunho romântico, fruto da metamorfose estética em si operada pelas novas leituras. Em 1826, publica também o Bosquejo da História da Poesia e Língua Portuguesa, como introdução à antologia de poesia portuguesa Parnaso Lusitano. Em 1826, durante um período de tréguas, regressa a Portugal e mostra-se confiante na Carta Constitucional acordada entre D. Pedro e D. Miguel, mais moderada que o programa vintista. Dedica-se ao jornalismo político nos jornais O Português e O Cronista. Em 1828, depois da retoma do poder absoluto por parte de D. Miguel, exila-se novamente em Inglaterra. Em 1829, publica em Londres a Lírica de João Mínimo e o tratado Da Educação. Em 1830, publica o tratado político Portugal na Balança da Europa, onde analisa a história da crise portuguesa e exorta à unidade e à moderação. Em 1832, parte para a ilha Terceira, incorpora-se no exército liberal, e participa no desembarque em Mindelo. Escreve, durante o cerco do Porto, o romance histórico O Arco de Santana e colabora com Mouzinho da Silveira nas reformas administrativas. Em 1834, é nomeado cônsul-geral em Bruxelas, numa espécie de terceiro exílio motivado pelo cada vez maior desencanto em relação à política portuguesa (a divisão dos liberais, a corrida aos cargos públicos), onde contacta com a língua e a literatura alemãs (Herder, Schiller e Goethe). Também exerceu funções diplomáticas em Londres e em Paris. Em 1836, regressa a Lisboa, separa-se de Luísa Midosi e funda o jornal O Português Constitucional. No mesmo ano, após a Revolução de Setembro, é incumbido pelo governo setembrista de Passos Manuel da organização do Teatro Nacional. Nesse âmbito, desenvolverá uma acção notável, dirigindo a Inspecção Geral dos Teatros e o Conservatório de Arte Dramática, intervindo no projecto do futuro Teatro Nacional de D. Maria II e escrevendo ao longo dos anos seguintes todo um repertório dramático nacional: Um Auto de Gil Vicente (1838), Dona Filipa de Vilhena (1840), O Alfageme de Santarém (1842), Frei Luís de Sousa (1843). É por esta altura que inicia um romance com Adelaide Deville, que morrerá em 1841, deixando-lhe uma filha (episódio que inspirará o Frei Luís de Sousa). Em 1838, torna-se deputado da Assembleia Constituinte e membro da comissão de reforma do Código Administrativo. No ano de 1843 publica o 1.º volume do Romanceiro, uma recolha de poesias de tradição popular. Em 1845, lança o livro de poesias líricas Flores sem Fruto e o 1.º volume do romance histórico O Arco de Sant'Ana. Em 1846, sai em volume o "inclassificável" livro das Viagens na Minha Terra, publicado um ano antes em folhetim na Revista Universal Lisbonense. Com este livro, a crítica considera iniciada a prosa moderna em Portugal. Em 1851, depois de um período de distanciamento face à vida política, regressa com a Regeneração, movimento que prometia conciliação e progresso. Nesse ano, funda o jornal A Regeneração, aceita o título de visconde e reassume o seu papel de deputado, colaborando na proposta de revisão da Carta. Em 1852, torna-se, por pouco tempo, ministro dos Negócios Estrangeiros. Em 1853, publica o livro de poesias líricas Folhas Caídas, recebido com algum escândalo: o poeta era, na época, uma figura pública respeitável (deputado, ministro, visconde), que se atrevia a cantar o amor desafiando todas as convenções, e muitos souberam ver na obra ecos da paixão do autor pela viscondessa da Luz, Rosa de Montufar. Em 1854, morre em Lisboa, aos cinquenta e cinco anos.
Em 1999 comemorou-se o Bicentenário do nascimento de Almeida Garrett, com a realização de conferências, publicações das suas obras, espetáculos, actividades escolares, exposições, entre outros eventos.
Almeida Garrett. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013.
wikipedia(Imagens)
Litografia de Almeida Garrett por Pedro Augusto
Guglielmi (Biblioteca Nacional de Portugal)
Almeida Garret, enquanto voluntário do Batalhão Académico, de sentinela ao Convento dos Grilos durante o Cerco do Porto.
https://estoriasdahistoria12.blogspot.com/2018/12/09-de-dezembro-de-1854-morre-o-escritor_9.html?fbclid=IwAR3cnJew-pcn4HXeYhS1KXIVzpCrVcAWLdbZvCbyAP3Loee64wezP7TDyro
*
04 de Fevereiro de 1799: Nasce o escritor e político português Almeida Garrett, defensor do Liberalismo, promotor da reforma do ensino artístico, fundador do futuro Teatro Nacional D.Maria II.
Iniciador
do Romantismo, refundador do teatro português, criador do lirismo moderno, criador da prosa moderna,
jornalista, político,
legislador, Garrett é
um exemplo de
aliança inseparável entre o homem político
e o escritor,
o cidadão e
o poeta. É
considerado, por muitos
autores, como o
escritor português mais
completo de todo
o século XIX,
porquanto nos deixou
obras-primas na poesia,
no teatro e
na prosa, inovando
a escrita e
a composição em
cada um destes
géneros literários.
João Batista da Silva Leitão de Almeida Garrett nasceu a 4 de Fevereiro de 1799 no Porto, no seio de uma família burguesa, que se refugia em 1809 na ilha Terceira, a fim de escapar à segunda invasão francesa. Nos Açores, recebe uma educação clássica e iluminista (Voltaire e Rousseau, que lhe ensinam o valor da Liberdade), orientada pelo tio, Frei Alexandre da Conceição, Bispo de Angra, ele próprio escritor. Em 1817, vai estudar Leis para Coimbra, foco de fermentação das ideias liberais. Em 1820, finalista em Coimbra, recebe com entusiasmo e otpimismo a notícia da revolução liberal. Em 1821, representa o Catão e publica em Coimbra O Retrato de Vénus, obras marcadas ainda por um estilo arcádico. Arcádicos são igualmente os poemas que escreve durante este período e que serão insertos, em 1829, na Lírica de João Mínimo. Em 1822, é nomeado funcionário do Ministério do Reino, casa com Luísa Midosi e funda o jornal para senhoras O Toucador. Em 1823, com a reacção miguelista da Vila-Francada, é obrigado a exilar-se em Inglaterra, onde inicia o estudo do Romantismo (inglês), e depois em França, onde se torna correspondente de uma filial da casa Lafitte. Contacta então com a literatura romântica (Byron, Lamartine, Vítor Hugo, Schlegel, Walter Scott, Mme de Staël), redescobre Shakespeare e, influenciado pelas recolhas de cancioneiros populares, começa a preparar o Romanceiro. Em 1825 e 1826, publica em Paris os poemas Camões e Dona Branca, primeiras obras portuguesas de cunho romântico, fruto da metamorfose estética em si operada pelas novas leituras. Em 1826, publica também o Bosquejo da História da Poesia e Língua Portuguesa, como introdução à antologia de poesia portuguesa Parnaso Lusitano. Em 1826, durante um período de tréguas, regressa a Portugal e mostra-se confiante na Carta Constitucional acordada entre D. Pedro e D. Miguel, mais moderada que o programa vintista. Dedica-se ao jornalismo político nos jornais O Português e O Cronista. Em 1828, depois da retoma do poder absoluto por parte de D. Miguel, exila-se novamente em Inglaterra. Em 1829, publica em Londres a Lírica de João Mínimo e o tratado Da Educação. Em 1830, publica o tratado político Portugal na Balança da Europa, onde analisa a história da crise portuguesa e exorta à unidade e à moderação. Em 1832, parte para a ilha Terceira, incorpora-se no exército liberal, e participa no desembarque em Mindelo. Escreve, durante o cerco do Porto, o romance histórico O Arco de Santana e colabora com Mouzinho da Silveira nas reformas administrativas. Em 1834, é nomeado cônsul-geral em Bruxelas, numa espécie de terceiro exílio motivado pelo cada vez maior desencanto em relação à política portuguesa (a divisão dos liberais, a corrida aos cargos públicos), onde contacta com a língua e a literatura alemãs (Herder, Schiller e Goethe). Também exerceu funções diplomáticas em Londres e em Paris. Em 1836, regressa a Lisboa, separa-se de Luísa Midosi e funda o jornal O Português Constitucional. No mesmo ano, após a Revolução de Setembro, é incumbido pelo governo setembrista de Passos Manuel da organização do Teatro Nacional. Nesse âmbito, desenvolverá uma acção notável, dirigindo a Inspecção Geral dos Teatros e o Conservatório de Arte Dramática, intervindo no projecto do futuro Teatro Nacional de D. Maria II e escrevendo ao longo dos anos seguintes todo um repertório dramático nacional: Um Auto de Gil Vicente (1838), Dona Filipa de Vilhena (1840), O Alfageme de Santarém (1842), Frei Luís de Sousa (1843). É por esta altura que inicia um romance com Adelaide Deville, que morrerá em 1841, deixando-lhe uma filha (episódio que inspirará o Frei Luís de Sousa). Em 1838, torna-se deputado da Assembleia Constituinte e membro da comissão de reforma do Código Administrativo. No ano de 1843 publica o 1.º volume do Romanceiro, uma recolha de poesias de tradição popular. Em 1845, lança o livro de poesias líricas Flores sem Fruto e o 1.º volume do romance histórico O Arco de Sant'Ana. Em 1846, sai em volume o "inclassificável" livro das Viagens na Minha Terra, publicado um ano antes em folhetim na Revista Universal Lisbonense. Com este livro, a crítica considera iniciada a prosa moderna em Portugal. Em 1851, depois de um período de distanciamento face à vida política, regressa com a Regeneração, movimento que prometia conciliação e progresso. Nesse ano, funda o jornal A Regeneração, aceita o título de visconde e reassume o seu papel de deputado, colaborando na proposta de revisão da Carta. Em 1852, torna-se, por pouco tempo, ministro dos Negócios Estrangeiros. Em 1853, publica o livro de poesias líricas Folhas Caídas, recebido com algum escândalo: o poeta era, na época, uma figura pública respeitável (deputado, ministro, visconde), que se atrevia a cantar o amor desafiando todas as convenções, e muitos souberam ver na obra ecos da paixão do autor pela viscondessa da Luz, Rosa de Montufar. Em 1854, morre em Lisboa, aos cinquenta e cinco anos.
Em 1999 comemorou-se o Bicentenário do nascimento de Almeida Garrett, com a realização de conferências, publicações das suas obras, espetáculos, actividades escolares, exposições, entre outros eventos.
Almeida Garrett. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013.
João Batista da Silva Leitão de Almeida Garrett nasceu a 4 de Fevereiro de 1799 no Porto, no seio de uma família burguesa, que se refugia em 1809 na ilha Terceira, a fim de escapar à segunda invasão francesa. Nos Açores, recebe uma educação clássica e iluminista (Voltaire e Rousseau, que lhe ensinam o valor da Liberdade), orientada pelo tio, Frei Alexandre da Conceição, Bispo de Angra, ele próprio escritor. Em 1817, vai estudar Leis para Coimbra, foco de fermentação das ideias liberais. Em 1820, finalista em Coimbra, recebe com entusiasmo e otpimismo a notícia da revolução liberal. Em 1821, representa o Catão e publica em Coimbra O Retrato de Vénus, obras marcadas ainda por um estilo arcádico. Arcádicos são igualmente os poemas que escreve durante este período e que serão insertos, em 1829, na Lírica de João Mínimo. Em 1822, é nomeado funcionário do Ministério do Reino, casa com Luísa Midosi e funda o jornal para senhoras O Toucador. Em 1823, com a reacção miguelista da Vila-Francada, é obrigado a exilar-se em Inglaterra, onde inicia o estudo do Romantismo (inglês), e depois em França, onde se torna correspondente de uma filial da casa Lafitte. Contacta então com a literatura romântica (Byron, Lamartine, Vítor Hugo, Schlegel, Walter Scott, Mme de Staël), redescobre Shakespeare e, influenciado pelas recolhas de cancioneiros populares, começa a preparar o Romanceiro. Em 1825 e 1826, publica em Paris os poemas Camões e Dona Branca, primeiras obras portuguesas de cunho romântico, fruto da metamorfose estética em si operada pelas novas leituras. Em 1826, publica também o Bosquejo da História da Poesia e Língua Portuguesa, como introdução à antologia de poesia portuguesa Parnaso Lusitano. Em 1826, durante um período de tréguas, regressa a Portugal e mostra-se confiante na Carta Constitucional acordada entre D. Pedro e D. Miguel, mais moderada que o programa vintista. Dedica-se ao jornalismo político nos jornais O Português e O Cronista. Em 1828, depois da retoma do poder absoluto por parte de D. Miguel, exila-se novamente em Inglaterra. Em 1829, publica em Londres a Lírica de João Mínimo e o tratado Da Educação. Em 1830, publica o tratado político Portugal na Balança da Europa, onde analisa a história da crise portuguesa e exorta à unidade e à moderação. Em 1832, parte para a ilha Terceira, incorpora-se no exército liberal, e participa no desembarque em Mindelo. Escreve, durante o cerco do Porto, o romance histórico O Arco de Santana e colabora com Mouzinho da Silveira nas reformas administrativas. Em 1834, é nomeado cônsul-geral em Bruxelas, numa espécie de terceiro exílio motivado pelo cada vez maior desencanto em relação à política portuguesa (a divisão dos liberais, a corrida aos cargos públicos), onde contacta com a língua e a literatura alemãs (Herder, Schiller e Goethe). Também exerceu funções diplomáticas em Londres e em Paris. Em 1836, regressa a Lisboa, separa-se de Luísa Midosi e funda o jornal O Português Constitucional. No mesmo ano, após a Revolução de Setembro, é incumbido pelo governo setembrista de Passos Manuel da organização do Teatro Nacional. Nesse âmbito, desenvolverá uma acção notável, dirigindo a Inspecção Geral dos Teatros e o Conservatório de Arte Dramática, intervindo no projecto do futuro Teatro Nacional de D. Maria II e escrevendo ao longo dos anos seguintes todo um repertório dramático nacional: Um Auto de Gil Vicente (1838), Dona Filipa de Vilhena (1840), O Alfageme de Santarém (1842), Frei Luís de Sousa (1843). É por esta altura que inicia um romance com Adelaide Deville, que morrerá em 1841, deixando-lhe uma filha (episódio que inspirará o Frei Luís de Sousa). Em 1838, torna-se deputado da Assembleia Constituinte e membro da comissão de reforma do Código Administrativo. No ano de 1843 publica o 1.º volume do Romanceiro, uma recolha de poesias de tradição popular. Em 1845, lança o livro de poesias líricas Flores sem Fruto e o 1.º volume do romance histórico O Arco de Sant'Ana. Em 1846, sai em volume o "inclassificável" livro das Viagens na Minha Terra, publicado um ano antes em folhetim na Revista Universal Lisbonense. Com este livro, a crítica considera iniciada a prosa moderna em Portugal. Em 1851, depois de um período de distanciamento face à vida política, regressa com a Regeneração, movimento que prometia conciliação e progresso. Nesse ano, funda o jornal A Regeneração, aceita o título de visconde e reassume o seu papel de deputado, colaborando na proposta de revisão da Carta. Em 1852, torna-se, por pouco tempo, ministro dos Negócios Estrangeiros. Em 1853, publica o livro de poesias líricas Folhas Caídas, recebido com algum escândalo: o poeta era, na época, uma figura pública respeitável (deputado, ministro, visconde), que se atrevia a cantar o amor desafiando todas as convenções, e muitos souberam ver na obra ecos da paixão do autor pela viscondessa da Luz, Rosa de Montufar. Em 1854, morre em Lisboa, aos cinquenta e cinco anos.
Em 1999 comemorou-se o Bicentenário do nascimento de Almeida Garrett, com a realização de conferências, publicações das suas obras, espetáculos, actividades escolares, exposições, entre outros eventos.
Almeida Garrett. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013.
wikipedia(Imagens)
Passos Manuel,
Almeida Garrett, Alexandre Herculano e
José Estêvão de Magalhães nos Passos Perdidos,
Assembleia da República Portuguesa
Almeida Garret, enquanto voluntário do Batalhão Académico, de sentinela ao Convento dos Grilos durante o Cerco do Porto
https://estoriasdahistoria12.blogspot.com/2019/02/04-de-fevereiro-de-1799-nasce-o_4.html?fbclid=IwAR0hDd8NsqkOfOqDgQmm9Oapg21zWIRfeiPTG8VTI5hkUQC0YhBqhS7i4L0Almeida Garret, enquanto voluntário do Batalhão Académico, de sentinela ao Convento dos Grilos durante o Cerco do Porto
***
Via Biblioteca nacional
http://purl.pt/96/1/
***
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=695956243824593&set=pcb.695956273824590&type=1&theater
***
«E eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar a miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico?...»
***
Via Citador:
Este é o Verdadeiro Amor de que Tanto se FalaEstranho e inexplicável sentimento este! Que quando sinto transbordar-me do coração toda esta imensa ventura, acomete-me então um terror grande - parece-me que é impossível ser tão feliz - que o Mundo não comporta esta ventura celeste, e que chegado ao ápice de todas as felicidades já será forçoso declinar. (...) Sucede-te isto também a ti, esposa querida do meu coração? Conheces tu também este tormento, anjo divino?
Ai, Rosa, minha doce Rosa, este que nós sentimos, este é o verdadeiro amor de que tanto se fala, e tão pouco se sabe o que é. São regiões pouco conhecidas em que a cada passo se encontram belezas nunca sonhadas, terrores inexplicáveis, felicidades sem par e tristezas que não têm nome.
(...) Oh! Como se riria de mim quem lesse esta carta, Rosa! - De mim que eles julgam um incrédulo, um céptico, e cujas palavras sarcásticas no Mundo não significam senão a mais perfeita indiferença por tudo! Há dois homens em mim, vida desta alma; um é o que vêem todos, o que fez a experiência, a sociedade e o conhecimento de suas misérias e nulidades - o outro é o que tu fizeste, é a criação do teu amor, a tua obra, e este vale muito decerto, porque é feito à tua imagem.
in 'Carta a Rosa Barreiras'
Possuir-te é Gozar de um Tesouro InfinitoQue suprema felicidade foi hoje a minha, querida desta alma! Como tu estavas, linda, terna, amante, encantadora! Nunca te vi assim, nunca me pareceste tão bela! Que deliciosa variedade há em ti, minha Rosa adorada! Possuir-te é gozar de um tesouro infinito, inesgotável. Juro-te que já não tenho mérito em te ser fiel, em te protestar e guardar esta lealdade exclusiva que te hei-de consagrar até ao último instante da minha vida: não tenho mérito algum nisso. Depois de ti, toda a mulher é impossível para mim, que antes de ti não conheci nenhuma que me pudesse fixar.
E o que eu te estimo e aprecio além disso. A ternura de alma verdadeira que tenho por ti. Onde estavam no meu coração estes afectos que nunca senti, que só tu despertaste e que dão à minha alma um bem-estar tão suave? Realmente que te devo muito, que me fizeste melhor, outro do que nunca fui. O que sinto por ti é inexplicável. Bem me dizias tu que em te conhecendo te havia de adorar deveras. É certo, assim foi, e estou agora seguro deste amor, porque repousa em bases tão sólidas que já nada creio que o possa destruir. Deixaste-me hoje num estado de felicidade tal, com tanta serenidade no coração, que não creio em toda a minha vida que ainda tivesse um dia assim. A minha imaginação foi exaltada, tão difícil, nunca foi além das doces realidades que tu me fazes experimentar.
Tinha desesperado de encontrar a mulher que Deus formara à minha semelhança - achei-a em ti, e já não desejo a vida senão para gozar contigo e para me arrepender a teus pés do mal que fiz, do tempo que perdi, do que te roubei da minha existência para o mal empregar nas misérias de que me tenho querido ocupar. Digo - que me tenho querido, porque não consegui nunca: o meu espírito rebelava-se, o meu coração ficava indiferente, nunca foram de ninguém senão teus. Não penses que exagero: por Deus te juro que assim é, e que me podes crer: eu a ninguém amei, a ninguém hei-de amar senão a ti.
in 'Carta a Rosa Barreiras'
O Homem Deformado pela SociedadeFormou Deus o homem, e o pôs num paraíso de delícias; tornou a formá-lo a sociedade, e o pôs num inferno de tolices. O homem — não o homem que Deus fez, mas o homem que a sociedade tem contrafeito, apertando e forçando em seus moldes de ferro aquela pasta de limo que no paraíso terreal se afeiçoara à imagem da divindade — o homem assim aleijado como nós o conhecemos, é o animal mais absurdo, o mais disparatado e incongruente que habita na terra.
Rei nascido de todo o criado, perdeu a realeza: príncipe deserdado e proscrito, hoje vaga foragido no meio de seus antigos estados, altivo ainda e soberbo com as recordações do passado, baixo, vil e miserável pela desgraça do presente.
Destas duas tão apostas actuações constantes, que já per si sós o tornariam ridículo, formou a sociedade, em sua vã sabedoria, um sistema quimérico, desarrazoado e impossível, complicado de regras a qual mais desvairada, encontrado de repugnâncias a qual mais aposta. E vazado este perfeito modelo de sua arte pretensiosa, meteu dentro dele o homem, desfigurou-o, contorceu-o, fê-lo o tal ente absurdo e disparatado, doente, fraco, raquítico; colocou-o no meio do Éden fantástico de sua criação — verdadeiro inferno de tolices — e disse-lhe, invertendo com blasfemo arremedo as palavras de Deus Criador:
- De nenhuma árvore da horta comendo comerás:
- Porém da árvore da ciência do bem e do mal dela só comerás se quiseres viver.
Indigestão de ciência que não comutou seu mau estômago, presunção e vaidade que dela se originaram — tal foi o resultado daquele preceito a que o homem não desobedeceu como ao outro: tal é o seu estado habitual.
E quando as memórias da primeira existência lhe fazem nascer o desejo de sair desta outra, lhe influem alguma aspiração de voltar à natureza e a Deus, a sociedade, armada de suas barras de ferro, vem sobre ele, e o prende, e o esmaga, e o contorce de novo, e o aperta no ecúleo doloroso de suas formas,
Ou há de morrer ou ficar monstruoso e aleijão.
in 'Viagens na minha Terra'Mais umas poucas Dúzias de Homens RicosNão: plantai batatas, ó geração de vapor e de pó de pedra, macadamizai estradas, fazeis caminhos de ferro, construí passarolas de Ícaro, para andar a qual mais depressa, estas horas contadas de uma vida toda material, maçuda e grossa como tendes feito esta que Deus nos deu tão diferente do que a que hoje vivemos. Andai, ganha-pães, andai; reduzi tudo a cifras, todas as considerações deste mundo a equações de interesse corporal, comprai, vendei, agiotai. No fim de tudo isto, o que lucrou a espécie humana? Que há mais umas poucas dúzias de homens ricos. E eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar a miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico? - Que lho digam no Parlamento inglês, onde, depois de tantas comissões de inquérito, já devia andar orçado o número de almas que é preciso vender ao diabo, número de corpos que se tem de entregar antes do tempo ao cemitério para fazer um tecelão rico e fidalgo como Sir Roberto Peel, um mineiro, um banqueiro, um granjeeiro, seja o que for: cada homem rico, abastado, custa centos de infelizes, de miseráveis.
in 'Viagens na minha Terra'
**
POEMAS
Este Inferno de AmarEste inferno de amar - como eu amo! -
Quem mo pôs aqui n'alma... quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
Que é a vida - e que a vida destrói -
Como é que se veio a atear,
Quando - ai quando se há-de ela apagar?
Eu não sei, não me lembra: o passado,
A outra vida que dantes vivi
Era um sonho talvez... - foi um sonho -
Em que paz tão serena a dormi!
Oh! que doce era aquele sonhar...
Quem me veio, ai de mim! despertar?
Só me lembra que um dia formoso
Eu passei... dava o sol tanta luz!
E os meus olhos, que vagos giravam,
Em seus olhos ardentes os pus.
Que fez ela? eu que fiz? - Não no sei;
Mas nessa hora a viver comecei...
in 'Folhas Caídas'
Quando Eu SonhavaQuando eu sonhava, era assim
Que nos meus sonhos a via;
E era assim que me fugia,
Apenas eu despertava,
Essa imagem fugidia
Que nunca pude alcançar.
Agora, que estou desperto,
Agora a vejo fixar...
Para quê? - Quando era vaga,
Uma ideia, um pensamento,
Um raio de estrela incerto
No imenso firmamento,
Uma quimera, um vão sonho,
Eu sonhava - mas vivia:
Prazer não sabia o que era,
Mas dor, não na conhecia ...
in 'Folhas Caídas'
Seus OlhosSeus olhos - que eu sei pintar
O que os meus olhos cegou –
Não tinham luz de brilhar,
Era chama de queimar;
E o fogo que a ateou
Vivaz, eterno, divino,
Como facho do Destino.
Divino, eterno! - e suave
Ao mesmo tempo: mas grave
E de tão fatal poder,
Que, um só momento que a vi,
Queimar toda a alma senti...
Nem ficou mais de meu ser,
Senão a cinza em que ardi.
in 'Folhas Caídas'
Não te AmoNão te amo, quero-te: o amar vem d’alma.
E eu n’alma - tenho a calma,
A calma - do jazigo.
Ai! não te amo, não.
Não te amo, quero-te: o amor é vida.
E a vida - nem sentida
A trago eu já comigo.
Ai, não te amo, não!
Ai! não te amo, não; e só te quero
De um querer bruto e fero
Que o sangue me devora,
Não chega ao coração.
Não te amo. És bela; e eu não te amo, ó bela.
Quem ama a aziaga estrela
Que lhe luz na má hora
Da sua perdição?
E quero-te, e não te amo, que é forçado,
De mau, feitiço azado
Este indigno furor.
Mas oh! não te amo, não.
E infame sou, porque te quero; e tanto
Que de mim tenho espanto,
De ti medo e terror...
Mas amar!... não te amo, não.
in 'Folhas Caídas'Os Cinco SentidosSão belas - bem o sei, essas estrelas,
Mil cores - divinais têm essas flores;
Mas eu não tenho, amor, olhos para elas:
Em toda a natureza
Não vejo outra beleza
Senão a ti - a ti!
Divina - ai! sim, será a voz que afina
Saudosa - na ramagem densa, umbrosa.
será; mas eu do rouxinol que trina
Não oiço a melodia,
Nem sinto outra harmonia
Senão a ti - a ti!
Respira - n'aura que entre as flores gira,
Celeste - incenso de perfume agreste,
Sei... não sinto: minha alma não aspira,
Não percebe, não toma
Senão o doce aroma
Que vem de ti - de ti!
Formosos - são os pomos saborosos,
É um mimo - de néctar o racimo:
E eu tenho fome e sede... sequiosos,
Famintos meus desejos
Estão... mas é de beijos,
É só de ti - de ti!
Macia - deve a relva luzidia
Do leito - ser por certo em que me deito.
Mas quem, ao pé de ti, quem poderia
Sentir outras carícias,
Tocar noutras delícias
Senão em ti! - em ti!
A ti! ai, a ti só os meus sentidos
Todos num confundidos,
Sentem, ouvem, respiram;
Em ti, por ti deliram.
Em ti a minha sorte,
A minha vida em ti;
E quando venha a morte,
Será morrer por ti.
in 'Folhas Caídas'