Nasceu a 5julho1955
***
6.6'... :* :* começo da noite...quis ler MIA COUTO...
"O importante não é a casa onde moramos.
Mas onde, em nós, a casa mora."
"O importante não é a casa onde moramos.
Mas onde, em nós, a casa mora."
sonhar a realidade com Aaron Paquette e Mia Couto.
Lembrança alada
Em alguma vida fui ave.
Guardo memória
de paisagens espraiadas
e de escarpas em voo rasante.
de paisagens espraiadas
e de escarpas em voo rasante.
E sinto em meus pés
o consolo de um pouso soberano
na mais alta copa da floresta.
o consolo de um pouso soberano
na mais alta copa da floresta.
Liga-me à terra
uma nuvem e seu desleixo de brancura.
uma nuvem e seu desleixo de brancura.
Vivo a golpes com coração de asa
e tombo como um relâmpago
faminto de terra.
e tombo como um relâmpago
faminto de terra.
Guardo a pluma
que resta dentro do peito
como um homem guarda o seu nome
no travesseiro do tempo.
que resta dentro do peito
como um homem guarda o seu nome
no travesseiro do tempo.
Em alguma ave fui vida.
Mia Couto
Arte - Aaron Paquette
Arte - Aaron Paquette
5dez2014
17.17' é um bELO miNUto para partILHArr Mia Couto
SOTAQUE DA TERRA
SOTAQUE DA TERRA
Estas pedras
sonham ser casa
sonham ser casa
sei
porque falo
a língua do chão
porque falo
a língua do chão
nascida
na véspera de mim
minha voz
ficou cativa do mundo,
pegada nas areias do Índico
na véspera de mim
minha voz
ficou cativa do mundo,
pegada nas areias do Índico
agora,
ouço em mim
o sotaque da terra
ouço em mim
o sotaque da terra
e choro
com as pedras
a demora de subirem ao sol
com as pedras
a demora de subirem ao sol
© MIA COUTO
In Raiz de Orvalho e outros poemas, 1999
In Raiz de Orvalho e outros poemas, 1999
***
Porque a minha mão infatigável
procura o interior e o avesso
da aparência
porque o tempo em que vivo
morre de ser ontem
e é urgente inventar
outra maneira de navegar
outro rumo outro pulsar
para dar esperança aos portos
que aguardam pensativos
Do poema "Confidência"
Foto de Zeca Ribeiro
https://www.facebook.com/miacoutooficial/photos/a.337258242987899/520094028037652/?type=3&theater
Foto de Zeca Ribeiro
https://www.facebook.com/miacoutooficial/photos/a.337258242987899/520094028037652/?type=3&theater
1a pitadinha de mia couto
(...) E eu sofro de te abraçar
depois de te abraçar para não sofrer.
E toco-te
para deixares de ter corpo
e o meu corpo nasce
quando se extingue no teu. (...)
5noVEMbro2012
O que mais dói na miséria é a
ignorância que ela tem de si mesma.
Confrontados com a ausência de tudo,
os homens abstém-se do sonho,
desarmando-se do desejo de serem outros.
In "Vozes Anoitecidas"
https://www.facebook.com/miacoutooficial/photos/a.298941346819589.66688.298257536887970/437520176295038/?type=3&theater
***
13noVEMbro2011
Rogério Manuel Madeira Raimundo partilhou a foto de Quem lê Sophia de Mello Breyner Andresen.
MIA COUTO, in "RAIZ DE ORVALHO E OUTROS POEMAS" (Caminho, 2009)
FUI SABENDO DE MIM
...
***
Fui sabendo de mim
por aquilo que perdia
pedaços que saíram de mim
com o mistério de serem poucos
e valerem só quando os perdia
fui ficando
por umbrais
aquem do passo
que nunca ousei
eu vi
a árvore morta
e soube que mentia
Desenho a lápis: Waiting, de Karen Clark
por aquilo que perdia
pedaços que saíram de mim
com o mistério de serem poucos
e valerem só quando os perdia
fui ficando
por umbrais
aquem do passo
que nunca ousei
eu vi
a árvore morta
e soube que mentia
Desenho a lápis: Waiting, de Karen Clark
https://www.facebook.com/774237522591804/photos/a.774310715917818.1073741828.774237522591804/1058002254215328/?type=1&theater
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=661110047277288&set=a.107207769334188.12956.100001348957610&type=1&theater
O Amor, Meu Amor
Nosso amor é impuro
como impura é a luz e a água
e tudo quanto nasce
e vive além do tempo.
Minhas pernas são água,
as tuas são luz
e dão a volta ao universo
quando se enlaçam
até se tornarem deserto e escuro.
E eu sofro de te abraçar
depois de te abraçar para não sofrer.
E toco-te
para deixares de ter corpo
e o meu corpo nasce
quando se extingue no teu.
E respiro em ti
para me sufocar
e espreito em tua claridade
para me cegar,
meu Sol vertido em Lua,
minha noite alvorecida.
Tu me bebes
e eu me converto na tua sede.
Meus lábios mordem,
meus dentes beijam,
minha pele te veste
e ficas ainda mais despida.
Pudesse eu ser tu
E em tua saudade ser a minha própria
espera.
Mas eu deito-me em teu leito
Quando apenas queria dormir em ti.
E sonho-te
Quando ansiava ser um sonho teu.
E levito, voo de semente,
para em mim mesmo te plantar
menos que flor: simples perfume,
lembrança de pétala sem chão onde
tombar.
Teus olhos inundando os meus
e a minha vida, já sem leito,
vai galgando margens
até tudo ser mar.
Esse mar que só há depois do mar.
in "idades cidades divindades"
*
Imagem - Gigino Falconi
"O que mais dói na miséria é a ignorância que ela tem de si mesma. Confrontados com a ausência de tudo, os homens abstêm-se do sonho, desarmando-se do desejo de serem outros. Existe no nada essa ilusão de plenitude que faz parar a vida e anoitecer as vozes. Estas estórias desadormeceram em mim... "
In Vozes Anoitecidas
***
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1486131218267414&set=a.1393838497496687.1073741828.1393828550831015&type=1&theater
***
"Não me deixem tranquilo
não me guardem sossego
eu quero a ânsia da onda
o eterno rebentar da espuma
As horas são-me escassas.
dai-me o tempo
ainda que o não mereça
que eu quero
ter outra vez
idades que nunca tive
para ser sempre
eu e a vida
nesta dança desencontrada
como se de corpos
tivéssemos trocado
para morrer vivendo."
___
in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"
***
https://www.facebook.com/462855920485679/photos/a.462894410481830.1073741828.462855920485679/520534704717800/?type=1&theater
SAUDADE
Magoa-me a saudade
do sobressalto dos corpos
ferindo-se de ternura
dói-me a distante lembrança
do teu vestido
caindo aos nossos pés
Magoa-me a saudade
do tempo em que te habitava
como o sal ocupa o mar
como a luz recolhendo-se
nas pupilas desatentas
Seja eu de novo a tua sombra, teu desejo,
tua noite sem remédio,
tua virtude, tua carência
eu, que longe de ti sou fraco
eu, que já fui água, seiva vegetal
sou agora gota trémula, raiz exposta
Traz
de novo, meu amor,
a transparência da água
dá ocupação à minha ternura vadia
mergulha os teus dedos
no feitiço do meu peito
e espanta na gruta funda de mim,
os animais que atormentam o meu sono
***
Por: Chá de poesia
***
'Rir junto é melhor que falar a mesma língua. Ou talvez o riso seja uma língua anterior que fomos perdendo à medida que o mundo foi deixando de ser nosso.'
***
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=669651433070574&set=a.559507790751606.1073741828.559343457434706&type=1&theater
Há um rio que nasce dentro de nós,
corre por dentro da casa e desagua não no mar, mas na terra. Esse rio uns chamam de vida.
in “Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra”
© Trini Schultz - Imagem
***
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1486090041604865&set=a.1422322041314999.1073741851.1393828550831015&type=1&theater
“O importante não é a casa onde moramos, mas onde, em nós, a casa mora"
----------
In Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra.
Imagem: Viola Loreti
***
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1486091298271406&set=a.1422322041314999.1073741851.1393828550831015&type=1&theater
“Não basta que seja pura e justa a nossa causa. É preciso que a pureza e a justiça existam dentro de nós”.
-----------
em Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra
Imagem: A sud del mondo.
***
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1485744504972752&set=a.1393838497496687.1073741828.1393828550831015&type=1&theater
"É de outra água que esperamos"
"Há esperas que nunca se aprendem. Mesmo sob o dilúvio, continuaremos aguardando a chuva. É de outra água que esperamos"
Trechos retirados do livro Veneno de Deus, Remédio do Diabo, da editora Companhia das Letras.
Imagem: JD Ardiansyah
***
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1486196581594211&set=a.1393838497496687.1073741828.1393828550831015&type=1&theater
"A casa morreu
no lugar onde nasci:
a minha infância
não tem mais onde dormir.
Mas eis que,
de um qualquer pátio,
me chegam silvestres risos
de meninos brincando.
Riem e soletram
as mesmas folias
com que já fui soberano
de castelos e quimeras.
Volto a tocar a parede fria
e sinto em mim o pulso
de quem para sempre vive"
in Tradutor de Chuvas, 2011
Foto: Viola Loreti
***********************
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1426926617567265&set=gm.10153314708682619&type=1&theater
“Teus olhos inundando os meus
e a minha vida, já sem leito,
vai galgando margens
até tudo ser mar.
Esse mar que só há depois do mar. “
in “ Idades Cidades Divindades
***
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=705449419501256&set=gm.10153314411867619&type=1&theater
No teu rosto
competem mil madrugadas
Nos teus lábios
a raiz do sangue
procura suas pétalas
A tua beleza
é essa luta de sombras
é o sobressalto da luz
num tremor de água
é a boca da paixão
mordendo o meu sossego....
.( No teu rosto...)
***
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=707455135967073&set=gm.10153318902747619&type=1&theater
in “ Idades Cidades Divindades”
Teus olhos inundando os meus
e a minha vida, já sem leito,
vai galgando margens
até tudo ser mar.
Esse mar que só há depois do mar.
***
"A viagem não começa quando se percorrem distâncias, mas quando se atravessam as nossas fronteiras interiores"
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Photo by Eric Valli
24/05/2010
Pobres dos nosso ricos...Mia Couto escreveu! Afinal 2010 ficará como Ano Europeu que aumentou a Pobreza e a Exclusão Social!!!
Mia Couto - Poeta Moçambicano POBRES DOS NOSSOS RICOS
A maior desgraça de uma nação pobre é que em vez de produzir riqueza, produz ricos.
Mas ricos sem riqueza.
Na realidade, melhor seria chamá-los não de ricos mas de endinheirados.
Rico é quem possui meios de produção.
Rico é quem gera dinheiro e dá emprego.
Endinheirado é quem simplesmente tem dinheiro, ou que pensa que tem. Porque, na realidade, o dinheiro é que o tem a ele.
A verdade é esta: são demasiados pobres os nossos "ricos".
Aquilo que têm, não detêm.
Pior: aquilo que exibem como seu, é propriedade de outros.
É produto de roubo e de negociatas.
Não podem, porém, estes nossos endinheirados usufruir em tranquilidade de tudo quanto roubaram.
Vivem na obsessão de poderem ser roubados.
Necessitavam de forças policiais à altura.
Mas forças policiais à altura acabariam por lançá-los a eles próprios na cadeia.
Necessitavam de uma ordem social em que houvesse poucas razões para a criminalidade.
Mas se eles enriqueceram foi graças a essa mesma desordem ...
.................
O ano de 2010 foi declarado como o Ano Europeu do Combate à Pobreza e à Exclusão. Para a CGTP-IN esta declaração não pode ser só de intenção, o que exige que se oriente as políticas para as questões estruturantes na luta contra a pobreza e as desigualdades sociais.
Ano Europeu do Combate à Pobreza e à Exclusão
* Combater a pobreza laboral
* Eliminar as suas causas
o desemprego em Portugal ultrapassa os 700 mil
As grandes empresas apresentam lucros e a banca é apoiada pelos governos ...da U E.
Actividades que realizem valor acrescentado precisam-se ...
Que sabes tu fazer ?
3.982.Mia Couto: Pobres dos Nossos ricos e os sete sapatos sujos...
POBRES DOS NOSSOS RICOS
A maior desgraça de uma nação pobre é que em vez de produzir riqueza, produz ricos.
Mas ricos sem riqueza.
Na realidade, melhor seria chamá-los não de ricos mas de endinheirados.
Rico é quem possui meios de produção.
Rico é quem gera dinheiro e dá emprego.
Endinheirado é quem simplesmente tem dinheiro, ou que pensa que tem. Porque, na realidade, o dinheiro é que o tem a ele.
A verdade é esta: são demasiados pobres os nossos "ricos".
Aquilo que têm, não detêm.
Pior: aquilo que exibem como seu, é propriedade de outros.
É produto de roubo e de negociatas.
Não podem, porém, estes nossos endinheirados usufruir em tranquilidade de tudo quanto roubaram.
Vivem na obsessão de poderem ser roubados.
Necessitavam de forças policiais à altura.
Mas forças policiais à altura acabariam por lançá-los a eles próprios na cadeia.
Necessitavam de uma ordem social em que houvesse poucas razões para a criminalidade.
Mas se eles enriqueceram foi graças a essa mesma desordem.
MIA COUTO
http://www.youtube.com/watch? v=_hBs3bDYKYs
A maior desgraça de uma nação pobre é que em vez de produzir riqueza, produz ricos.
Mas ricos sem riqueza.
Na realidade, melhor seria chamá-los não de ricos mas de endinheirados.
Rico é quem possui meios de produção.
Rico é quem gera dinheiro e dá emprego.
Endinheirado é quem simplesmente tem dinheiro, ou que pensa que tem. Porque, na realidade, o dinheiro é que o tem a ele.
A verdade é esta: são demasiados pobres os nossos "ricos".
Aquilo que têm, não detêm.
Pior: aquilo que exibem como seu, é propriedade de outros.
É produto de roubo e de negociatas.
Não podem, porém, estes nossos endinheirados usufruir em tranquilidade de tudo quanto roubaram.
Vivem na obsessão de poderem ser roubados.
Necessitavam de forças policiais à altura.
Mas forças policiais à altura acabariam por lançá-los a eles próprios na cadeia.
Necessitavam de uma ordem social em que houvesse poucas razões para a criminalidade.
Mas se eles enriqueceram foi graças a essa mesma desordem.
MIA COUTO
http://www.youtube.com/watch?
**
02/07/2009
Mia Couto anda por aí a lançar JESUSALÉM
gosto muito do escritor MIA COUTO!!!
de 12 a 15 de Julho vem a Portugal fazer lançamentos do novo livro:
Jesusalém"Profundamente abalado pela morte da mulher, Dordalma, aquela que era "um bocadinho mulata" –, Silvestre Vitalício afasta-se da cidade e do mundo. Com os dois filhos – Mwanito e Ntunzi –, mais o criado ex-militar Zacarias Kalash, faz-se transportar pelo cunhado Aproximado para o lugar mais remoto e inalcançável.
Aí, numa velha coutada de caça em ruínas, funda o seu refúgio, a que dá o nome de Jesusalém, porque a vida é demasiado preciosa para ser esbanjada num mundo desencantado".
Assim começa este novo romance de Mia Couto. Mas apenas começa, porque a vida, e a imaginação do autor, quando se combinam, como é aqui o caso, produzem os efeitos mais inesperados e surpreendentes.
Jesusalém é seguramente a mais madura e mais conseguida obra de um escritor em plena posse das suas capacidades criativas. Aliando uma narrativa a um tempo complexa e aliciante ao seu estilo poético tão pessoal, Mia Couto confirma o lugar cimeiro de que goza nas literaturas de língua portuguesa.
A vida é demasiado preciosa para ser esbanjada num mundo desencantado, diz um dos protagonistas deste romance. A prosa mágica do escritor moçambicano ajuda, certamente, a reencantar este nosso mundo
Mia Couto nasceu na Beira, Moçambique, em 1955. Foi jornalista. É professor, biólogo, escritor. Está traduzido em diversas línguas. Entre outros prémios e distinções (de que se destaca a nomeação, por um júri criado para o efeito pela Feira Internacional do Livro do Zimbabwe, de Terra Sonâmbula como um dos doze melhores livros africanos do século xx), foi galardoado, pelo conjunto da sua já vasta obra, com o Prémio Vergílio Ferreira 1999 e com o Prémio União Latina de Literaturas Românicas 2007. Ainda em 2007 Mia foi distinguido com o Prémio Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura pelo seu romance O Outro Pé da Sereia.
de 12 a 15 de Julho vem a Portugal fazer lançamentos do novo livro:
Jesusalém"Profundamente abalado pela morte da mulher, Dordalma, aquela que era "um bocadinho mulata" –, Silvestre Vitalício afasta-se da cidade e do mundo. Com os dois filhos – Mwanito e Ntunzi –, mais o criado ex-militar Zacarias Kalash, faz-se transportar pelo cunhado Aproximado para o lugar mais remoto e inalcançável.
Aí, numa velha coutada de caça em ruínas, funda o seu refúgio, a que dá o nome de Jesusalém, porque a vida é demasiado preciosa para ser esbanjada num mundo desencantado".
Assim começa este novo romance de Mia Couto. Mas apenas começa, porque a vida, e a imaginação do autor, quando se combinam, como é aqui o caso, produzem os efeitos mais inesperados e surpreendentes.
Jesusalém é seguramente a mais madura e mais conseguida obra de um escritor em plena posse das suas capacidades criativas. Aliando uma narrativa a um tempo complexa e aliciante ao seu estilo poético tão pessoal, Mia Couto confirma o lugar cimeiro de que goza nas literaturas de língua portuguesa.
A vida é demasiado preciosa para ser esbanjada num mundo desencantado, diz um dos protagonistas deste romance. A prosa mágica do escritor moçambicano ajuda, certamente, a reencantar este nosso mundo
Mia Couto nasceu na Beira, Moçambique, em 1955. Foi jornalista. É professor, biólogo, escritor. Está traduzido em diversas línguas. Entre outros prémios e distinções (de que se destaca a nomeação, por um júri criado para o efeito pela Feira Internacional do Livro do Zimbabwe, de Terra Sonâmbula como um dos doze melhores livros africanos do século xx), foi galardoado, pelo conjunto da sua já vasta obra, com o Prémio Vergílio Ferreira 1999 e com o Prémio União Latina de Literaturas Românicas 2007. Ainda em 2007 Mia foi distinguido com o Prémio Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura pelo seu romance O Outro Pé da Sereia.
***
***
"Porque andei sempre sobre meus pés,
e doeu-me às vezes viver."
****
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=610750125638708&set=a.298941346819589.66688.298257536887970&type=1&theater FOGO E ÁGUA Cansa-me ser quem serei Porque em tudo esse outro Se parece com o que sou. Cansa-me o adeus de quem nasce. E a viagem, à nascença, morre de fadiga. Só a tua lava me lava. Resto eu em ti Terra ardendo, Chão de água e fogo Abraça-me. Abrasa-me. * https://www.facebook.com/435199373201735/photos/a.435201226534883.102924.435199373201735/676397055748631/?type=1&theater - Esse homem vai carregado de sofrimento. - Como sabe? - Não vê que só o pé esquerdo é que pisa com vontade? - Aquilo é peso do coração. "Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra"
**
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=817894991556917&set=a.462529847093435.111436.462489187097501&type=1&theater Da velhice sempre invejei o adormecer no meio da conversa. Esse descer de pálpebra não é nem idade nem cansaço. Fazer da palavra um embalo é o mais puro e apurado senso da poesia. in Sono Coloquial *** https://www.facebook.com/OTempoDasPalavras/photos/a.455032984574985.1073741828.455018664576417/648440805234201/?type=1&theater "Talvez seja a espessura desse céu que faz os cacimbeiros sonharem tanto. Sonhar é um modo de mentir à vida, uma vingança contra um destino que é sempre tardio e pouco." In Venenos de Deus, remédios do Diabo *** POBRES DOS NOSSOS RICOS A maior desgraça de uma nação pobre é que em vez de produzir riqueza, produz ricos. Mas ricos sem riqueza. Na realidade, melhor seria chamá-los não de ricos mas de endinheirados. Rico é quem possui meios de produção. Rico é quem gera dinheiro e dá emprego. Endinheirado é quem simplesmente tem dinheiro, ou que pensa que tem. Porque, na realidade, o dinheiro é que o tem a ele. A verdade é esta: são demasiados pobres os nossos "ricos". Aquilo que têm, não detêm. Pior: aquilo que exibem como seu, é propriedade de outros. É produto de roubo e de negociatas. Não podem, porém, estes nossos endinheirados usufruir em tranquilidade de tudo quanto roubaram. Vivem na obsessão de poderem ser roubados. Necessitavam de forças policiais à altura. Mas forças policiais à altura acabariam por lançá-los a eles próprios na cadeia. Necessitavam de uma ordem social em que houvesse poucas razões para a criminalidade. Mas se eles enriqueceram foi graças a essa mesma desordem. MIA COUTO http://www.youtube.com/watch?v=_hBs3bDYKYs *** https://www.facebook.com/photo.php?fbid=725721040813054&set=a.656664647718694.1073741828.656653951053097&type=1&theater "Tens medo de fazer amor comigo? - Tenho - respondeu ele. - Por eu ser preta? - Tu não és preta. - Aqui, sou. - Não, não é por seres preta que tenho medo. - Tens medo que eu esteja doente... - Sei prevenir-me. - É porquê, então? - Tenho medo de não regressar. Não regressar de ti." In: Venenos de Deus, Remédios do Diabo ** https://www.facebook.com/photo.php?fbid=720802067958769&set=a.485402061498772.102314.109019985803650&type=1&theater SOLIDÃO Aproximo-me da noite o silêncio abre os seus panos escuros e as coisas escorrem por óleo frio e espesso Esta deveria ser a hora em que me recolheria como um poente no bater do teu peito mas a solidão entra pelos meus vidros e nas suas enlutadas mãos solto o meu delírio É então que surges com teus passos de menina os teus sonhos arrumados como duas tranças nas tuas costas guiando-me por corredores infinitos e regressando aos espelhos onde a vida te encarou Mas os ruídos da noite trazem a sua esponja silenciosa e sem luz e sem tinta o meu sonho resigna Longe os homens afundam-se com o caju que fermenta e a onda da madrugada demora-se de encontro às rochas do tempo. Em "Raiz de orvalho e outros poemas" ** https://www.facebook.com/photo.php?fbid=678011125579274&set=a.337258242987899.73214.298257536887970&type=1&theater **************************** |
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“Primeiro, desejamos uma mulher que nos faça sentir a Vida. Depois, queremos uma mulher que nos faça esquecer a Vida. Por fim, queremos apenas estar vivos.”
in "O Outro Pé da Sereia"
Fotografia Roberto Dalprá
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https://www.facebook.com/portalastral/photos/a.600301866715412.1073741926.593550930723839/627682900643975/?type=1&theater
A confissão da leoa
“Os meus olhos de mel: foram eles que cativaram Arcanjo Baleiro quando há dezasseis anos nos visitou pela primeira vez. O caçador encontrou-me na berma da estrada
e, sem saber, salvou-me das investidas de Maliqueto Próprio, o agente policial.
Disso já falei. Mas não disse que Arcanjo tinha voltado, dias depois, para me fazer convites e promessas. Queiria levar-me para a cidade. E que seríamos tão felizes que perderíamos memória de tudo o que vivêramos antes.
- Venha comigo - insistiu o caçador. - Vamos ser felizes juntos.
Aterrada, recusei. O que ele prometia estava bem para além do que eu sabia sonhar. Espreitei em redor para saber se nos escutavam. Falávamos no terreiro da cozinha, nesse recanto onde as mulheres mais se esquecem de viver. Olhei o fogo eternamente aceso, a lenha empilhada, as panelas deitadas de boca para baixo. Observei tudo aquilo como se não fosse obra de ninguém. Como se as brasas não fossem recolhidas da nossa cozinha para acender, num vizinho, uma outra fogueira. Como se não fossem mãos femininas a eternizar esse lume.
- Não diz nada, Mariamar?
Escutar já é falar. O caçador falava de coisas que eu não conhecia: a cidade, a felicidade, o amor.
Como me sabia bem a sua fala, como me faziam mal as suas palavras! Não cedi, contudo, aos seus convites. Afinal, a felicidade e o amor se parecem.
Não se tenta ser feliz, não se decide amar. É-se feliz,
ama-se.
- Vamos ser felizes, Mariamar.
- Quem lhe disse que quero ser feliz?
Contemplou-me como se eu falasse uma língua que ele não entendia.
Nessa noite houve batuques e danças. No início, guardei-me imóvel, vendo os outros agitarem os corpos com sensualidade, o chão estremecendo como se os tambores estivessem
rufando nas profundezas.
Contive-me até que os meus pés entraram em combustão. Para me livrar desse fogo fui-me entregando, pouco a pouco, ao compasso da música, rodopiando no pátio enluarado. Vendo-me dançar, Arcanjo aproximou-se e me enleou pela cintura, convidando-me a rodar com ele.
- Largue-me, caçador, aqui os dançarinos não se tocam.
- Não quero saber, eu danço da maneira que sei.
Lembrei-me do que diziam os homens de Kulumani: ninguém caça com ninguém. Pois, dançar é como caçar. Cada dançarino toma posse do universo todo inteiro. Rodopiei
sobre mim mesma, antes de o enfrentar:
- Eu não danço consigo. Eu danço para si. Fique sentado e veja como me torno uma rainha.
Submisso, obedeceu. A realidade, essa, deixou de me obedecer. Porque me vi dançando nua no pátio, rebolando no chão, pouco a pouco perdendo a humana compostura.
Arcanjo tombou rendido, sem fala, sem gesto. Vê-lo assim, frágil e indefeso, me fez ser mais mulher. Murmurei doçuras ao seu ouvido e ele se dissolveu no meu regaço.
A confissão da leoa
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"Há um rio que nasce dentro de nós, corre por dentro da casa e deságua não no mar, mas na terra. A esse rio uns chamam de vida."
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2009
ex-postagem
gosto muito do escritor MIA COUTO!!!
de 12 a 15 de Julho 2009 vem a Portugal fazer lançamentos do novo livro:
Jesusalém
"Profundamente abalado pela morte da mulher, Dordalma, aquela que era "um bocadinho mulata" –, Silvestre Vitalício afasta-se da cidade e do mundo. Com os dois filhos – Mwanito e Ntunzi –, mais o criado ex-militar Zacarias Kalash, faz-se transportar pelo cunhado Aproximado para o lugar mais remoto e inalcançável.
Aí, numa velha coutada de caça em ruínas, funda o seu refúgio, a que dá o nome de Jesusalém, porque a vida é demasiado preciosa para ser esbanjada num mundo desencantado".
Assim começa este novo romance de Mia Couto. Mas apenas começa, porque a vida, e a imaginação do autor, quando se combinam, como é aqui o caso, produzem os efeitos mais inesperados e surpreendentes.
Jesusalém é seguramente a mais madura e mais conseguida obra de um escritor em plena posse das suas capacidades criativas. Aliando uma narrativa a um tempo complexa e aliciante ao seu estilo poético tão pessoal, Mia Couto confirma o lugar cimeiro de que goza nas literaturas de língua portuguesa.
A vida é demasiado preciosa para ser esbanjada num mundo desencantado, diz um dos protagonistas deste romance. A prosa mágica do escritor moçambicano ajuda, certamente, a reencantar este nosso mundo
Mia Couto nasceu na Beira, Moçambique, em 1955. Foi jornalista. É professor, biólogo, escritor. Está traduzido em diversas línguas. Entre outros prémios e distinções (de que se destaca a nomeação, por um júri criado para o efeito pela Feira Internacional do Livro do Zimbabwe, de Terra Sonâmbula como um dos doze melhores livros africanos do século xx), foi galardoado, pelo conjunto da sua já vasta obra, com o Prémio Vergílio Ferreira 1999 e com o Prémio União Latina de Literaturas Românicas 2007. Ainda em 2007 Mia foi distinguido com o Prémio Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura pelo seu romance O Outro Pé da Sereia.