02/02/2012

5.432.(2fev2012.8.8') Pormenores da história de São Martinho do Porto: Edifício Paços do Concelho e Fonte da Praia


Via Cipriano Simão
I
A história palpável em S. Martinho do Porto 
O EDIFÍCIO DOS PAÇOS DE CONCELHO
Quase único na área dos antigos Coutos de Alcobaça (apenas subsistem o edifício dos Paços do Concelho na Pederneira e em Aljubarrota - este modificado), é de estilo barroco e a sua fachada foi modificada para receber as viaturas dos bombeiros - pois serviu de seu quartel durante muitos anos - como se pode comprovar pela planta do original, datada de 1720 e que se encontra no arquivo da Junta de Freguesia.
Mantém ainda o brasão com as armas de Portugal, embora muito erodido, mas possui a coroa real em muito bom estado.
É um património de que nos devíamos orgulhar e que devia estar em melhores condições, de preferência, sendo utilizado com um fim nobre, que seria a sede da autarquia.
Decorria um conflito sobre a sua propriedade, entre o município de Alcobaça e os Bombeiros de S. Martinho.
Esperemos que este não seja mais um monumento em mãos de privados...

II
A história palpável em S. Martinho do Porto
FONTE DA PRAIA
Num recanto do Largo Eng. José Frederico Ulrich, escondida entre prédios, está talvez a mais antiga fonte de S. Martinho do Porto.
Alterada com a construção dos prédios e renovada com a recente requalificação da baixa de S. Martinho, que a dotou de um espelho de água, mantém a pedra com a data de 1683 e será, provavelmente, o chafariz referido em documentos de 1527 e que existia "na ribeira, na qual se fabricam embarcações, assim d'el-rei, como de particulares".
Vale a pena partir à descoberta e reconhecer o nosso património.

III

A história palpavel em S. Martinho do Porto
CAPELA DE SANTO ANTÓNIO
Santo de devoção popular, ultrapassa em fama o santo "oficial" da terra.
Durante séculos, a capela, no alto do morro, era a única construção branca acima das arribas, sinal de bom regresso para quem vinha das fainas do mar. Hoje quase se torna difícil distingui-la no meio das construções que invadiram as colinas.
Provavelmente do século XVII e com algumas modificações, aqui vinham as mulheres dos pescadores rezar pelo regresso dos seus homens, enquanto perscrutavam o horizonte, à procura de sinal das embarcações, sobretudo quando fazia mau tempo.
Um poema no azulejo da parede lateral corporiza as suas preces e anseios.
Daqui, a vista para a costa e o mar é fantástica, se conseguirmos "esquecer" os prédios que nos ladeiam.

IV
A história palpavel em S. Martinho do Porto
O NICHO DE SANTO ANTÓNIO
Escondido dos olhares indiscretos entre a vegetação atrás da capela de Sto. António, encontramos, percorrendo um curto carreiro, o nicho de Sto. António, local discreto de prece e oração.
Não se sabe se nasceu primeiro o nicho, se primeiro a capela. Esta será do séc. XVII mas do nicho não há registo... construido por alguém não se sabe quando, mantido pelos crentes ao longo dos tempos, já teve um azulejo do séc. XVIII, mas porque estava vandalizado, foi subsituido por imagem recente, contudo, com a mesma motivação: a crença em Sto. António e na ajuda que pode proporcionar.

VI

V
Este cruzeiro inscreveu-se numa iniciativa nacional de comemorar dois aniversários importantes da nação portuguesa em 1940: o nono centenário da fundação do reiro e o terceiro centenário da independencia (1640).
VII

A história palpavel em S. Martinho do Porto
ANTIGA ESTAÇÃO DO CAMINHO DE FERRO
A inscrição assinala o edifício da estação do caminho de ferro de tração animal que ligava a Marinha Grande ao porto de S. Martinho do Porto, para onde eram trazidas as madeiras do Pinhal de Leiria, para o transporte por barco, antes da construção da linha do oeste, que havia de ocorrer nos finais do século XIX.
Hoje é propriedade de unidade hoteleira e recebe obras de ampliação e adaptação a essa atividade.

VIII

A história palpavel em S. Martinho do Porto
PADRÃO DO CAIS
Padrão comemorativo do lançamento da primeira pedra do cais, em 1828, com a presença do rei D. Miguel.
Na época a cota da rua era muito mais baixa pelo que, o padrão chegou aos nossos dias quase completamente soterrado. Com as recentes obras de requalificação da marginal, foi levantado e recolocado - agora na actual cota, parecendo, por isso, elemento novo para quem não sabia da sua existência.
Repare nele quando passar e leia as inscrições que possui.
IX
A história palpavel em S. Martinho do Porto
O FORNO COMUNITÁRIO
Não seria comunitário, porque essa organização não existia nos Coutos de Alcobaça, onde o mosteiro detinha todos os meios de produção e cobrava pela sua utilização, fossem moinhos, lagares de vinho ou de azeite, pisões, fornos.
Com o decorrer dos tempos, foi passando a exploração desses locais a arrendatários, passando estes a ser responsáveis pela cobrança aos utilizadores, mas mantendo sempre o mosteiro os seus direitos de senhorio.
Este é o que resta do forno ao qual a população recorria para cozer o seu pão, mediante pagamento pela utilização.
São ainda os vestígios dos meios de produção organizados segundo a lógica da Ordem de Cister.
X
A história palpável em S. Martinho do Porto
ORDEM DE CISTER
Não foi por acaso que D. Afonso Henriques ofereceu as terras que viriam a ser os Coutos de Alcobaça a uma ordem religiosa francesa.
Tratava-se da Ordem de Cister, chefiada por seu primo, Bernardo de Claraval - que viria a ser S. Bernardo - já na época muito influente nas cortes europeias e junto do Papa, de quem dependia o reconhecimento do nosso rei, então apenas dirigente do Condado Portucalense.
... e durante quase 8 séculos foi ao D. Abade que estas terras deveram obediência e pagaram os impostos, como se fosse um reino dentro de outro reino...
Devemos orgulhar-nos da especificidade da nossa particular história de Alcobaça e das vilas dos coutos que alimentaram o mosteiro.
XI
A história palpável em S. Martinho do Porto
O PELOURINHO DE S. MARTINHO
Considerado desaparecido, é, talvez, o pelourinho com o percurso mais bem documentado:
Desmantelado no séc. XIX após a revolução liberal (como a maior parte dos pelourinhos) foi a sua pedra vendida e registada a venda em ata do município de Alcobaça, com a identificação do comprador. Tornou-se, a partir dessa data, propriedade privada;
Referido depois no livro Pelourinhos Portugueses, de F. Perfeito de Magalhães, quando se encontrava o fuste a servir de coluna numa casa, na época uma farmácia, no largo Vitorino Fróis;
Permanece hoje a decorar um alpendre no interior da mesma propriedade, continuando a ser propriedade privada.
XII

A história palpavel em S. Martinho do Porto
CAPELA DE N. SRA. DO LIVRAMENTO
Capela particular, construída no séc. XVII, mantém o interior original, com altar de talha, pinturas, teia, cadeira/confessionário e azulejos da época.
A imagem de N. Sra. do Livramento, também do séc. XVII, perdeu-se, infelizmente, em resultado de assalto por arrombamento, há cerca de 2 anos.
Situa-se no centro histórico de S. Martinho do Porto, junto a casa senhorial de cuja propriedade faz parte e defronte dos antigos paços do concelho, naquele que é o centro histórico mais bem preservado da área dos antigos Coutos de Alcobaça.
Quando vier a S. Martinho, não se fique pela baixa da praia. Suba ao outeiro e ao centro histórico. Se não conhece, vai surpreender-se...

XIII