30/07/2012

5.883.(30julho2012.9.9') Colóquio "Vinhos de Cister - dos Coutos de Alcobaça"

É de saudar esta iniciativa...
A Marca de Alcobaça.
Os Coutos de Cister.
PCâmara anunciou...
"...Museu Nacional do Vinho.... não será o município a gerir o espaço, por falta de vocação, devendo o mesmo ser concessionado a uma associação local ou a uma empresa, estando esta possibilidade já assegurada pela Direção Geral do Tesouro. 

...parque de estacionamento junto ao Mercado Municipal e aos Paços do Concelho ... mercado tradicional de produtos locais, às segundas e quintas-feiras, em estruturas amovíveis. 
A instalação de um ponto de venda de Ginja de Alcobaça é uma das propostas em cima da mesa, para que a oferta de um dos ícones da gastronomia local passe a estar acessível a todos."
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Via facebook 12.8.2012 JERO





    • José Eduardo Oliveira Ministério cede Museu do Vinho à Câmara de Alcobaça
      Publicado em 12 Agosto 2012 às 5:35 pm.
      O Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território cedeu o Museu do Vinho à Câmara de Alcobaça.
      A informação foi adian

      tada há dias pela autarquia numa nota à imprensa. Com a decisão, fica atendida uma pretensão da autarquia iniciada em abril de 2006, no decorrer de uma visita às instalações do então ministro da Agricultura, Jaime Silva.
      Uma renda anual de 20 mil euros, e a cedência de longo prazo são os termos do acordo. O presidente da Câmara disse no último sábado que o espaço será concessionado a uma associação local ou a uma empresa. Regi\ao de Leiria.

via tintafresca.net

Com aposta no conhecimento, tecnologia e marketing
    Vinhos de Alcobaça iniciam novo ciclo
          

    Painel de oradores
    O colóquio “Vinhos de Cister - dos Coutos de Alcobaça ao século XXI”, realizado no dia 28 de julho, no Parque de Negócios, foi claro nas conclusões: a região tem condições para produzir bons vinhos, sobretudo, vinhos brancos, devido à proximidade do mar, mas tem de apostar no conhecimento, na tecnologia e no marketing. Os oradores reconheceram ser injusta a má fama criada pelos vinhos de Alcobaça nas últimas décadas, dado que os solos e o clima são os mesmos do tempo dos monges de Cister, quando se produzia vinho de qualidade, embora admitam ser necessário profissionalizar todo o ciclo do vinho, da produção à comercialização. A Quinta dos Capuchos é uma das primeiras empresas do concelho a atingir a excelência neste setor.

       O engenheiro Gomes Freire, da Quinta dos Capuchos, deu o mote no início do colóquio, lembrando que durante seis séculos (XIII-XIX) os monges da Ordem de Cister plantaram vinhas e produziram vinhos de qualidade, mas que após a sua saída do Mosteiro de Alcobaça, em 1833, os métodos de produção perderam-se e a qualidade dos vinhos diminuiu significativamente. O empresário apelou ao regresso às origens, mas alertou que o caminho não é fácil: produzir vinhos de qualidade é caro, as vinhas são afetadas regularmente por pragas e a legislação do setor é muitas vezes contraditória. Contudo, garante que a felicidade de um vitivinicultor existe e consegue-se associando agricultura e comércio, juntando quem produz e quem vende.


      
    Engenheiro Luís Carvalho
     Por sua vez, António Maduro traçou um perspetiva histórica da produção de vinho nos Coutos de Alcobaça. As vinhas repartiam-se então pela Quinta da Gafa, em Alcobaça, pelas terras ladeirosas de Aljubarrota (o melhor vinho da região), Maiorga, Évora de Alcobaça e ainda a planície de Valado dos Frades.

       A política da autossustentabilidade dos Coutos, defendida pela Ordem de Cister, levou a que se plantasse vinha em solos nobres e menos nobres, estando esta muitas vezes junta com outras espécies vegetais. Os cistercienses vedavam as vinhas, para que o gado não entrasse nos terrenos, e não os adubavam, de forma a não perderem grau. As castas principais eram a Castelã e a Galega, embora pontificassem outras castas menos relevantes, como a Mourisca e a Arinta.

       Segundo António Maduro, predominavam os vinhos claros - brancos, rosés e palhetos - pois os monges não queriam nem sujar os paramentos, nem que a associação popular entre o vinho tinto e o sangue de Cristo perturbasse a concentração dos fiéis nas cerimónias litúrgicas. Contudo, na Idade Média, os vinhos eram diferentes, tinham pouco grau e eram adocicados.

       O historiador, doutorado pela Universidade de Coimbra, sublinhou ainda a grandiosidade da adega do Mosteiro, que possuía capacidade para 700 pipas de vinho. O Mosteiro era então o grande cobrador de impostos em todas as atividades agrícolas, cobrando pelo arrendamento das terras, pela utilização do moinho, do lagar, etc.. Aos camponeses estava reservado apenas um período muito restrito, de 24 horas, para a produção de vinho, nada mais lhes restando senão fazer vinho de “bica aberta".


     
    Engenheiro Rodrigo Martins
     O declínio da vinha em Alcobaça começou no século XIX, com a chegada do oídio e da filoxera. Esta foi a grande responsável pela morte da vinha europeia, tendo a doença alastrado progressi-vamente a toda a Península Ibérica, chegando a Alcobaça em 1857. A recuperação da vinha chegou apenas no pós-filoxera, na década de 90 do século XIX, alcançando também alguma pujança na década de 20, do século XX.

       Coube depois ao engenheiro Luís Carvalho, consultor com larga experiência na vitivinicultura nacional, dar uma aula sobre o cultivo da vinha, começando por explicar que as castas são o fator determinante no vinho, havendo mesmo autores que lhe atribuem uma importância de 80% na qualidade do vinho. Outro fator muito importante é a aptidão particular e única da ecologia local- o terroir. Relativamente às alterações climáticas anuais, o enólogo garante que para produzir um vinho excecional, as alterações importantes são as que ocorrem entre julho e setembro. Folhas bem expostas ao sol, um bardo estreito e paliçada alta foram alguns dos conselhos deixados aos vitivinicultores presentes pelo proprietário da Quinta do Lagar Novo, em Alenquer.

       Já Tiago Carvalho sublinhou que o mercado atualmente prefere vinhos mais claros, possuindo Alcobaça as condições necessárias para produzir também vinhos claros, dada a sua proximidade ao mar e as elevadas amplitudes térmicas a que está sujeita. Numa terra que possui um Museu Nacional do Vinho fechado e dezenas de autocarros com turistas a chegarem diariamente, o enólogo de Alenquer deixou também alguns conselhos aos responsáveis pelo turismo local: “Os turistas não podem ir de Alcobaça de mãos a abanar e de memórias vazias”, devendo o bom vinho da região ser assim prova obrigatória para os visitantes.

       Por seu turno, Rodrigo Martins, que tem trabalhado nos últimos anos as vinhas de Alcobaça, admitiu que, até há pouco tempo, as vinhas do concelho eram de má qualidade e a produção de vinho deficiente. O enólogo sublinhou que, sendo uma zona de minifúndio, Alcobaça não tem capacidade para realizar grandes produções, pelo que deverá centrar-se na diferenciação dos vinhos. O consultor da Quinta dos Capuchos e da Adega Cooperativa de Alcobaça garante que o mercado prefere vinhos rosé bem corados, que a região pode produzir, mas que ainda falta imagem, marca e comunicação aos vinhos de Alcobaça.


     
    Vasco d'Avillez
      Daniel Pinto, diretor da Escola de Turismo do Oeste e professor da Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar de Peniche, explicou aos presentes que a integração do Turismo do Oeste no Turismo de Lisboa tem prós e contras: por um lado, pode potenciar o turismo na região por via da maior capacidade de atração da marca Lisboa no estrangeiro, mas também pode colocar a região na penumbra, por via da capacidade polarizadora da Capital sobre os fluxos turísticos. O orador considerou que o marketing deve ser trabalhado de forma profissional, de forma a que se conheçam os mercados e os gostos dos turistas, para que o produto turístico seja ajustado à procura.

       Luís Castelhano, presidente da direção da Cooperativa Agrícola de Alcobaça, que moderou o colóquio, aproveitou para esclarecer que, nos últimos anos, a Adega Cooperativa de Alcobaça deu um salto muito grande em termos da qualidade dos seus vinhos, devido à colaboração do engenheiro Rodrigo Martins, mas admitiu que a instituição tem tido dificuldade em escoá-los, devido à degradação da marca Alcobaça, a partir dos anos 70, havendo, portanto, ainda um longo caminho a percorrer para reconquistar o prestígio junto dos consumidores.

       A encerrar o colóquio, o presidente da Comissão Vitivinícola da Região de Lisboa lembrou que a região de Lisboa é a única do País a produzir vinho leve (com grau alcoólico inferior a 9º), tendo Alcobaça também condições para o produzir (atualmente, restringe-se à região do Cadaval) e substituir assim a cerveja, já que o vinho é a bebida portuguesa com forte tradição popular.

       Vasco d’Avillez garantiu que os vinhos da Argentina, Chile e Austrália são repetitivos, enquanto os vinhos portugueses são muito diferentes entre si, nunca cansando quem os bebe. A variedade de castas resulta da predominância do minifúndio em Portugal, não tendo a maior parte das vinhas nacionais um tamanho superior a 5 hectares. A Herdade do Esporão, com os seus 400 hectares, é uma exceção à regra. A existência de mais de 360 castas e um terroir único fazem de Portugal um dos melhores países do mundo para produzir vinho.


      
    Público esteve presente em grande número
     O presidente da Comissão Vitivinícola da Região de Lisboa, que deliciou os presentes, com histórias do vinho e da gastronomia na História de Portugal, lembrou que o vinho foi outrora uma das três formas de pagamento de salário, a par do sal, para a conservação dos alimentos, e as moedas de soldo, contribuindo mesmo para eliminar o escorbuto, doença que dizimou muitos navegadores portugueses durante os Descobrimentos. Vasco d’Avillez explicou ainda que a organização a que preside atribuiu classificações aos vinhos de Denominação Regional ou de Denominação de Origem Demarcada (DOC), podendo os agricultores candidatar-se a receber estes selos de garantia.

       Na sessão de encerramento, que contou com a presença do presidente da Câmara Municipal de Alcobaça, o autarca recordou que o Parque de Negócios foi construído para servir a comunidade e congratulou-se este por estar a cumprir o seu papel. Paulo Inácio recordou também que Alcobaça tem tradição agrícola, defendendo que o concelho reúne todas as condições para se constituir como um cluster no setor do vinho.

       Relativamente ao Museu Nacional do Vinho, que deverá transitar brevemente da tutela do Estado para a tutela municipal, o edil anunciou que não será o município a gerir o espaço, por falta de vocação, devendo o mesmo ser concessionado a uma associação local ou a uma empresa, estando esta possibilidade já assegurada pela Direção Geral do Tesouro.

       Paulo Inácio anunciou ainda que o parque de estacionamento junto ao Mercado Municipal e aos Paços do Concelho irá ser requalificado no âmbito do projeto de regeneração urbana da cidade, estando previsto o funcionamento do mesmo como mercado tradicional de produtos locais, às segundas e quintas-feiras, em estruturas amovíveis. A instalação de um ponto de venda de Ginja de Alcobaça é uma das propostas em cima da mesa, para que a oferta de um dos ícones da gastronomia local passe a estar acessível a todos.

       Mário Lopes
    30-07-201
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    via