A Marca de Alcobaça.
Os Coutos de Cister.
PCâmara anunciou...
"...Museu Nacional do Vinho.... não será o município a gerir o espaço, por falta de vocação, devendo o mesmo ser concessionado a uma associação local ou a uma empresa, estando esta possibilidade já assegurada pela Direção Geral do Tesouro.
...parque de estacionamento junto ao Mercado Municipal e aos Paços do Concelho ... mercado tradicional de produtos locais, às segundas e quintas-feiras, em estruturas amovíveis.
A instalação de um ponto de venda de Ginja de Alcobaça é uma das propostas em cima da mesa, para que a oferta de um dos ícones da gastronomia local passe a estar acessível a todos."
***
Via facebook 12.8.2012 JERO
via tintafresca.net
Com aposta no conhecimento, tecnologia e marketing |
Vinhos de Alcobaça iniciam novo ciclo |
![]() Painel de oradores O engenheiro Gomes Freire, da Quinta dos Capuchos, deu o mote no início do colóquio, lembrando que durante seis séculos (XIII-XIX) os monges da Ordem de Cister plantaram vinhas e produziram vinhos de qualidade, mas que após a sua saída do Mosteiro de Alcobaça, em 1833, os métodos de produção perderam-se e a qualidade dos vinhos diminuiu significativamente. O empresário apelou ao regresso às origens, mas alertou que o caminho não é fácil: produzir vinhos de qualidade é caro, as vinhas são afetadas regularmente por pragas e a legislação do setor é muitas vezes contraditória. Contudo, garante que a felicidade de um vitivinicultor existe e consegue-se associando agricultura e comércio, juntando quem produz e quem vende. ![]() Engenheiro Luís Carvalho A política da autossustentabilidade dos Coutos, defendida pela Ordem de Cister, levou a que se plantasse vinha em solos nobres e menos nobres, estando esta muitas vezes junta com outras espécies vegetais. Os cistercienses vedavam as vinhas, para que o gado não entrasse nos terrenos, e não os adubavam, de forma a não perderem grau. As castas principais eram a Castelã e a Galega, embora pontificassem outras castas menos relevantes, como a Mourisca e a Arinta. Segundo António Maduro, predominavam os vinhos claros - brancos, rosés e palhetos - pois os monges não queriam nem sujar os paramentos, nem que a associação popular entre o vinho tinto e o sangue de Cristo perturbasse a concentração dos fiéis nas cerimónias litúrgicas. Contudo, na Idade Média, os vinhos eram diferentes, tinham pouco grau e eram adocicados. O historiador, doutorado pela Universidade de Coimbra, sublinhou ainda a grandiosidade da adega do Mosteiro, que possuía capacidade para 700 pipas de vinho. O Mosteiro era então o grande cobrador de impostos em todas as atividades agrícolas, cobrando pelo arrendamento das terras, pela utilização do moinho, do lagar, etc.. Aos camponeses estava reservado apenas um período muito restrito, de 24 horas, para a produção de vinho, nada mais lhes restando senão fazer vinho de “bica aberta". ![]() Engenheiro Rodrigo Martins Coube depois ao engenheiro Luís Carvalho, consultor com larga experiência na vitivinicultura nacional, dar uma aula sobre o cultivo da vinha, começando por explicar que as castas são o fator determinante no vinho, havendo mesmo autores que lhe atribuem uma importância de 80% na qualidade do vinho. Outro fator muito importante é a aptidão particular e única da ecologia local- o terroir. Relativamente às alterações climáticas anuais, o enólogo garante que para produzir um vinho excecional, as alterações importantes são as que ocorrem entre julho e setembro. Folhas bem expostas ao sol, um bardo estreito e paliçada alta foram alguns dos conselhos deixados aos vitivinicultores presentes pelo proprietário da Quinta do Lagar Novo, em Alenquer. Já Tiago Carvalho sublinhou que o mercado atualmente prefere vinhos mais claros, possuindo Alcobaça as condições necessárias para produzir também vinhos claros, dada a sua proximidade ao mar e as elevadas amplitudes térmicas a que está sujeita. Numa terra que possui um Museu Nacional do Vinho fechado e dezenas de autocarros com turistas a chegarem diariamente, o enólogo de Alenquer deixou também alguns conselhos aos responsáveis pelo turismo local: “Os turistas não podem ir de Alcobaça de mãos a abanar e de memórias vazias”, devendo o bom vinho da região ser assim prova obrigatória para os visitantes. Por seu turno, Rodrigo Martins, que tem trabalhado nos últimos anos as vinhas de Alcobaça, admitiu que, até há pouco tempo, as vinhas do concelho eram de má qualidade e a produção de vinho deficiente. O enólogo sublinhou que, sendo uma zona de minifúndio, Alcobaça não tem capacidade para realizar grandes produções, pelo que deverá centrar-se na diferenciação dos vinhos. O consultor da Quinta dos Capuchos e da Adega Cooperativa de Alcobaça garante que o mercado prefere vinhos rosé bem corados, que a região pode produzir, mas que ainda falta imagem, marca e comunicação aos vinhos de Alcobaça. ![]() Vasco d'Avillez Luís Castelhano, presidente da direção da Cooperativa Agrícola de Alcobaça, que moderou o colóquio, aproveitou para esclarecer que, nos últimos anos, a Adega Cooperativa de Alcobaça deu um salto muito grande em termos da qualidade dos seus vinhos, devido à colaboração do engenheiro Rodrigo Martins, mas admitiu que a instituição tem tido dificuldade em escoá-los, devido à degradação da marca Alcobaça, a partir dos anos 70, havendo, portanto, ainda um longo caminho a percorrer para reconquistar o prestígio junto dos consumidores. A encerrar o colóquio, o presidente da Comissão Vitivinícola da Região de Lisboa lembrou que a região de Lisboa é a única do País a produzir vinho leve (com grau alcoólico inferior a 9º), tendo Alcobaça também condições para o produzir (atualmente, restringe-se à região do Cadaval) e substituir assim a cerveja, já que o vinho é a bebida portuguesa com forte tradição popular. Vasco d’Avillez garantiu que os vinhos da Argentina, Chile e Austrália são repetitivos, enquanto os vinhos portugueses são muito diferentes entre si, nunca cansando quem os bebe. A variedade de castas resulta da predominância do minifúndio em Portugal, não tendo a maior parte das vinhas nacionais um tamanho superior a 5 hectares. A Herdade do Esporão, com os seus 400 hectares, é uma exceção à regra. A existência de mais de 360 castas e um terroir único fazem de Portugal um dos melhores países do mundo para produzir vinho. ![]() Público esteve presente em grande número Na sessão de encerramento, que contou com a presença do presidente da Câmara Municipal de Alcobaça, o autarca recordou que o Parque de Negócios foi construído para servir a comunidade e congratulou-se este por estar a cumprir o seu papel. Paulo Inácio recordou também que Alcobaça tem tradição agrícola, defendendo que o concelho reúne todas as condições para se constituir como um cluster no setor do vinho. Relativamente ao Museu Nacional do Vinho, que deverá transitar brevemente da tutela do Estado para a tutela municipal, o edil anunciou que não será o município a gerir o espaço, por falta de vocação, devendo o mesmo ser concessionado a uma associação local ou a uma empresa, estando esta possibilidade já assegurada pela Direção Geral do Tesouro. Paulo Inácio anunciou ainda que o parque de estacionamento junto ao Mercado Municipal e aos Paços do Concelho irá ser requalificado no âmbito do projeto de regeneração urbana da cidade, estando previsto o funcionamento do mesmo como mercado tradicional de produtos locais, às segundas e quintas-feiras, em estruturas amovíveis. A instalação de um ponto de venda de Ginja de Alcobaça é uma das propostas em cima da mesa, para que a oferta de um dos ícones da gastronomia local passe a estar acessível a todos. Mário Lopes |
30-07-201 ***
via
|