04/07/2013

6.768.(4julho2013.15.6') 1ª entrevista da nossa Presidente da Câmara, Vanda Furtado Marques, ao TINTAFRESCA.NET

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Entrevista com a candidata do PCP-PEV à Câmara Municipal de Alcobaça
    Vanda Furtado Marques: “A CDU apresenta
    uma candidatura aberta a todos”
      

    Vanda Furtado Marques  
    Vanda Furtado Marques é a primeira candidata da Coligação Democrática Unitária (CDU) à Câmara Municipal de Alcobaça. Professora de História no Externato Cooperativo da Benedita e escritora de sucesso de livros para jovens baseados na História de Portugal, é natural de Alcobaça, tem 45 anos e três filhos. Faz voluntariado na Associação Sorriso Amigo, na Benedita e leciona ainda na Universidade Sénior de Alcobaça. Na entrevista concedida ao Tinta Fresca revela a sua perspetiva das políticas autárquicas e analisa as outras candidaturas.


    Tinta Fresca – Qual a opinião da CDU sobre as contas do município e o que pretendem fazer para reduzir a dívida?
    Vanda Marques
     – Nós sabemos que a Câmara municipal está com uma dívida muito avultada. A gestão financeira poderia ter seguido outro caminho, se houvesse planeamento e estratégia. Turquel e Alfeizerão tinham fundos comunitários e não foram aplicados. Houve uma série de fatores que vieram endividar a câmara. O abastecimento de água é pago (à Águas do Oeste) a valores altíssimos quando grande parte dessa água não é sequer consumida. Todas estas questões deviam ter sido discutidas, abertas à comunidade. Precisamos de uma equipa onde haja uma abertura, onde as pessoas possam dizer o que pensam. Por isso é importante ouvir a oposição, é na junção de todas as opiniões que se faz luz.

    Esta maioria (PSD) é muito fechada, não permite que as pessoas falem. Há muita gente que tem boas ideias e que quer dar sugestões e não pode. A Câmara tem que permitir ouvir os outros sem estar à partida com resistências. O que nós, como vereadores, sentimos nas reuniões de Câmara, é que nem ouvem a oposição. As coisas estão feitas, estão decididas, não se escuta.

    Quando falamos em dívidas de muitos milhões de euros, e não digo que Paulo Inácio não tenha feito um esforço em reduzir a dívida, esse esforço não pode ser em circuito fechado, em que só eles são os donos da razão. Têm de ouvir os outros. Nós na CDU valorizamos o papel da oposição. Eu não quero fazer aquela política de andar a toda a hora a criticar, quero uma política construtiva, mas é preciso saber ouvir e planear. Há falta de transparência na Câmara. A ideia de secretismo faz as pessoas ficarem com dúvidas. Vamos ouvir mais, planear mais e renegociar o que for possível para reduzir a dívida.

    Tinta Fresca – Quais os projetos que a CDU tem para o concelho em termos de zonas industriais, sendo certo que a Zona Industrial do Casal da Areia está praticamente esgotada?
    Vanda Marques
     – A CDU sempre apostou numa zona industrial na zona de Turquel, que, em termos de localização, seria mais adequada para o concelho. Trata-se de um terreno que está no PDM entre Turquel e Benedita. A CDU defendeu que avançasse primeiro, porque o PDM permitia avançar logo em 1998, mas o PSD preferiu gastar 5 milhões na aquisição do terreno na Benedita, beneficiando os proprietários da Quinta da Serra. Agora precisamos de 20 milhões ou mais para se fazer algo, é outra aposta megalómana. A Zona Industrial do Casal da Areia está quase cheia, mas também tem um problema: está muito desleixada, nomeadamente, há falta de placas, tem muito mato à volta e alguns edifícios estão pouco cuidados.

    Também estive recentemente em Pataias e ouvimos alguns munícipes de Martingança preocupados com a sua zona industrial, que está pouco cuidada, com maus acessos. É uma zona de indústria de ponta, altamente sofisticada, mas falta também cuidar da sua envolvência. É uma zona que deve ser muito valorizada, que é muito forte a nível industrial e que está a ser posta de lado.

    A população queixa-se também da falta de meios sempre que é necessário fazer uma pequena obra. As máquinas têm de vir da sede do concelho e demora-se muito tempo. Se houvesse uma descentralização de meios, que a CDU defende, as coisas podiam funcionar melhor. Se calhar, é necessário pensar na descentralização de recursos para as freguesias mais distantes.

    Também notei que as pessoas do norte do concelho se sentem discriminadas relativamente à Benedita, acham que ali é a grande aposta do município, e que são completamente esquecidos. A Câmara Municipal de Alcobaça não quer saber de Pataias e Martingança e as populações sentem-se abandonadas e deixadas à sua mercê.

    Tinta Fresca – Quais as propostas da CDU para a área da Cultura?
    Vanda Marques
     – A CDU pretende valorizar Alcobaça, tornando-a uma terra permanente de cultura, de teatro, música, de artesãos, de escritores. As marcas de Alcobaça, como a maçã, a abadia e o castelo, têm de voltar a ser valorizadas. Também a criação de roteiros culturais é cada vez mais é importante. Nós não podemos explorar só um turismo de passagem, temos que apostar num turismo que fique, que permaneça alguns dias no concelho e para isso temos que criar alternativas e, para isso, é importante começar a construir uma rede de interesses que os leve a querer ficar em Alcobaça. Devemos não só apostar no Mosteiro, mas em todas as outras marcas que Alcobaça tem. Podemos levar o turista a ver uma vinha, um pomar, ir à serra. Temos que apostar mais na nossa terra e criar uma rede entre empresários, Câmara, e outros, por forma a que as pessoas realmente possam fazer esses percursos.

    Nós temos o Mosteiro, mas já não chega. Cada vez mais, o turismo jovem vem procurar a parte das sensações e das vivências e, para isso, é necessário criar um turismo que permaneça e uma rede de oportunidades que os faça vir ao concelho de Alcobaça.

    Tinta Fresca – O que acha a CDU da Feira de S. Bernardo? O que pretende alterar?
    Vanda Marques
     – O modelo da Feira de S. Bernardo é um modelo que nós, na CDU, achamos que já está ultrapassado. É necessário criar uma nova forma, uma nova maneira de viver esta feira. A própria ligação entre os empresários e as associações que estão representadas podia ser feita de forma mais real, com maior interligação com o visitante, uma mostra mais verdadeira de Alcobaça. É evidente que as crianças gostam do carrossel e dos outros divertimentos, achamos que essa parte deve ser mantida, mas com mais dignidade, com uma imagem nova.

    Depois na parte de exposição das empresas devia haver um maior planeamento entre a autarquia e os empresários e as entidades interessadas, por forma a dar mais vida aos stands e maior interatividade. Este modelo atual já é muito antigo e não funciona, tem que haver outra vivência. Devíamos pensar a Feira de S. Bernardo de uma forma mais interativa e com mais criatividade. Acho que podíamos ir buscar os criativos do concelho, ouvir os jovens, para trazer ideias novas, porque têm um grande potencial.

    Podemos viver o S. Bernardo de uma maneira mais arrojada, mais criativa. Pretendemos no fundo dar uma nova imagem ao evento e envolver as pessoas. Também deveria haver, fora do recinto do evento, algo que explicasse ao público de fora o que é o S. Bernardo.

    Tinta Fresca – Quais os projetos que a CDU tem para o Parque Escolar do concelho?
    Vanda Marques
     – Sem dúvida que os Centros Escolares trouxeram algumas melhorias, apesar de a CDU achar que os mega centro escolares não são o ideal para as crianças. Poderemos ter melhores condições, acesso a biblioteca, instalações com melhor qualidade, mas estes mega centros perdem muito em termos de laços afetivos. As crianças estão mais stressadas, criam-se menos laços entre as crianças e os professores. Temos que pensar realmente se queremos melhores condições ou mais afeto e tranquilidade das crianças. Eu vou mais para a tranquilidade e o afeto. É evidente que as escolas não podem estar a cair, mas realmente podíamos ter apostado nos centros escolares médios, como Bárrio e Aljubarrota, e não nos mega centros escolares.

    Por outro lado, incomoda-me que haja escolas requalificadas que, de um ano para o outro, foram encerradas. É isso que a CDU sente que tem acontecido nos últimos mandatos: falta de planeamento e de estratégia. Há uma falta de coordenação que vai implicar gastos e mais despesas para a autarquia.

    Outra coisa que não correu bem foi a promessa de construção dos Centros Escolares de Turquel e Alfeizerão. As escolas atuais estão muito degradadas e, se os centros escolares não avançaram, precisam de obras porque estão muito mal.

    As escolas de Pataias também necessitam de obras. Foi dado o passo maior que a perna e não é isso que traz as nossas crianças mais felizes. Sei que têm acesso a biblioteca, mas nesta fase é muito mais importante a proximidade. Aparentemente, ficamos deslumbrados, as crianças também, mas depois no dia-a-dia são muito felizes de outra forma.

    Tinta Fresca – Como está o concelho a nível de saúde?
    Vanda Marques
     – A CDU defende uma saúde para todos, em que todos possam ter acesso sem ter de pagar ou recorrer ao setor privado. Alcobaça tem tido um grande problema: o seu hospital está cada vez com menos condições, apesar de agora parecer que as coisas se poderão resolver, com a sua integração no Centro Hospitalar Leiria-Pombal.

    A CDU continua a defender que o Hospital de Alcobaça deve ter serviço de urgência, mas com dignidade. Houve uma altura em que nem um simples colírio para os olhos tinham, as pessoas chegavam e eram imediatamente enviadas para outros hospitais. Um hospital sem condições leva as pessoas a não confiarem nele.

    Quando as pessoas chegam a uma determinada idade precisam de sentir que há um hospital perto, e o encerramento do Hospital de Alcobaça seria muito grave, principalmente para as pessoas mais idosas. Temos de lutar para que se mantenha e com um bom serviço de urgência.

    Em relação aos centros de saúde, temos Turquel e Martingança com falta de médicos, e a Unidade de Saúde Familiar da Benedita que também precisa de obras. O essencial é dar a possibilidade a todas as pessoas acesso aos serviços de saúde de forma igual. Temos uma população cada vez mais idosa e temos de lutar pelo seu acesso aos cuidados de saúde.

    Tinta Fresca – Acredita num novo hospital em Alcobaça?
    Vanda Marques
     – A CDU pensa que se fazem muitos “anúncios” de coisas que depois não podem ser concretizadas. Mais vale ponderar e prometer aquilo que podemos. Nós não vamos prometer algo que sabemos que não vamos conseguir concretizar. Por isso é que nós na CDU falamos muito de planeamento, de estratégia, de pensar e de não prometer algo que não vai ser concretizado. Esta Câmara tem feito promessas, nos últimos tempos, e depois não vimos nada. Os alcobacenses sentem-se magoados e atraiçoados porque prometem mundos e fundos e as coisas não acontecem. As pessoas estão desiludidas, deixam de acreditar e a Câmara pode fazer o que bem entender porque as pessoas já nem querem saber. Chegámos a um ponto em que as pessoas se desligaram da política porque não são ouvidas. Se nós não as envolvemos, se não damos feedback às pessoas, deixam de participar. Isso é o que está acontecer em Alcobaça.

    Tinta Fresca – Qual a sua opinião em relação às obras de regeneração urbana que decorrem junto aos Paços do Concelho?
    Vanda Marques
     – A CDU e a própria população ainda não percebem o porquê daquela obra numa época de crise, numa zona que ainda não estava a precisar de grandes intervenções. Mais uma vez foi o aproveitar de alguns fundos à última hora. Se houvesse mais planeamento e estratégia, poderia ter-se feito obra noutros locais que estão a precisar muito mais.

    A maioria justifica-se com a questão do saneamento dos pluviais, mas as pessoas continuam a não conseguir compreender esta intervenção. Acho que há outras obras muito mais emergentes, por exemplo, o mercado municipal. É ali que param os turistas e que se deparam com um espaço velho e feio. Deveria ser um espaço com muito mais dignidade, porque é quase a porta de receção de Alcobaça. O mercado com os produtos regionais poderia ser um polo de atração fantástico. Teria de ser tudo repensado, mas com criatividade, não é preciso gastar grandes quantidades de dinheiro.

    O mercado com a fruta de Alcobaça, com os vinhos, com artesanato, mesmo aproveitando os artistas do concelho, para trabalharem ao vivo no espaço, daria logo outra cara. Não podemos só olhar para o Mosteiro. O Mosteiro é uma aposta quase ganha, temos agora de ir buscar outras atrações.

    Animação de rua também é essencial. Há tantos artistas em Alcobaça, ligados ao teatro e outras artes que poderiam criar uma animação na cidade. Não é necessário que seja diária, mas podia criar-se aqui um novo dinamismo porque senão qualquer dia Alcobaça é uma terra fantasma. Temos que cativar muito os jovens, porque a força está neles e têm ideias fantásticas.

       

    Vanda Marques: o nosso lema é "abrir, unir e construir"
    Tinta Fresca – Quais os projetos que a CDU tem em termos de obras para o concelho?
    Vanda Marques
     – A CDU não tem propostas de grandes obras, porque estamos numa conjuntura económica desfavorável, mas a principal obra seria a requalificação do mercado. Priorizamos também o centro histórico da cidade, com a requalificação das zonas mais antigas, nomeadamente, a Rua D. Pedro V. Apostaríamos num maior diálogo com os senhorios e proprietários, para estudar a forma de intervencionar aquele espaço, nem que seja chamando os artistas locais.

    Com a dívida deixada pelo PSD, temos de ser muito criteriosos. Temos que construir novas receitas para fazermos parcerias para criar emprego que estarão na nossa prioridade para o próximo mandato. Temos de baixar a taxa de desemprego no nosso concelho. Temos várias obras em todas as frentes que avançarão logo que conseguirmos financiamento europeu ou nacional. Mas vamos multiplicar as obras pequenas, via parcerias com as freguesias, coletividades, instituições que irão apresentar as suas candidaturas e todas serão contempladas com os mesmos critérios de apoio.
    A CDU apela muito às soluções criativas, porque estamos numa época em que não há muito dinheiro.

    Queremos também valorizar a zona histórica de Aljubarrota. Além da Feira medieval, Aljubarrota tem um potencial enorme, nomeadamente, com as crianças, devido à história da padeira. Cós é outro local que também tem um potencial enorme.
    Não vamos prometer obras de vulto, vamos tentar é realmente requalificar aquilo que há, não fazer obras de raiz.

    Tinta Fresca – Relativamente à sua candidatura, quais são as suas apostas fortes?
    Vanda Marques
     – A minha candidatura é uma candidatura de convicções, de ideais, de honestidade, de trabalho, de envolver a população. É uma candidatura que pretende valorizar o nosso concelho, fazer com que as pessoas voltem a sentir Alcobaça, se sintam ouvidas e integradas. Desde crianças a pessoas com dificuldades ou com problemas de mobilidade que muitas vezes são esquecidas. Estamos numa altura em que as pessoas estão desinteressadas, adormecidas e a deixar-se levar por este marasmo. Sentem-se desconfortáveis com o que está a acontecer a nível nacional, mas também não conseguem sair da zona de conforto.

    Eu, enquanto candidata, quero trazer as pessoas à Câmara Municipal, descentralizar. O nosso lema é “abrir, unir e construir”. Abrir a nossa Câmara às pessoas para que possam falar dos seus problemas. Unir todo o concelho à nossa volta. Que as pessoas se sintam unidas e não “desprezadas”. Queremos construir uma política sólida, consistente e deixar de lado as politiquices: “prometer, prometer e depois não fazer” ou “dar o passo maior do que a perna”.

    A nossa candidatura quer fazer tudo com cautela, estratégia, trabalho de equipa. Nós estamos aqui para servir a população, não o contrário. As pessoas sentem-se submissas aos políticos, mas os políticos estão aqui para servir a população. A CDU apresenta uma candidatura aberta a todos.

    Tinta Fresca – Como considera os outros candidatos e as suas candidaturas?
    Vanda Marques
     – Começando pelo atual presidente e recandidato pelo PSD, Paulo Inácio, já deu provas do que fez. É uma pessoa/candidatura que promete muito e que depois não cumpre. Apresenta falta de transparência e de planeamento. O secretismo é algo que, na conjuntura nacional, não resulta, é preciso outra forma de fazer política. Acho que a candidatura do PSD não vai trazer nada de novo. Se não encontrou soluções em quatro anos, não é agora que irá encontrar. A população está um pouco cansada desta forma de ver a política. Tem de haver uma lufada de ar fresco e acho que esta não é uma candidatura que traga nada de positivo.

    Relativamente ao candidato do PS, José Canha, considero que o processo de escolha do candidato demonstra a pouca credibilidade que esta candidatura poderá trazer. Um partido onde as pessoas não se entendem, onde existe mesquinhez e falta de transparência e, na Câmara vai repetir-se. Não acho que seja consistente. Não conheço o candidato, acho uma pessoa válida como todas as outras, mas o partido onde está inserido também é responsável pela má conjuntura nacional. Nem a conjuntura nacional, nem a situação que se desenrolou à volta de processo de escolha do candidato, dão grande credibilidade à candidatura do PS.

    Quanto ao candidato Carlos Bonifácio, nós na CDU somos muitas vezes “gozados” por sermos de ideias fixas e persistentes. Mas eu acho que é melhor ter ideias fixas e ser fiel às suas convicções e ideais, do que ser como este candidato independente, que esteve sempre do lado do PSD, que pactuou com muitas políticas erradas e que de repente “vira o bico ao prego” e cria uma candidatura nova, associando-se ao CDS, que também contribuiu para a atual situação do País. Além disso, foi buscar pessoas que, para mim, também não são de confiança, porque mudaram de um partido para outro. Uma pessoa que não demonstra honestidade e frontalidade não garante uma candidatura consistente, que possa ser o melhor para Alcobaça.

    Relativamente a João Pedro Amaral, o PNR é um partido radical, que defende ideais com os quais a CDU não concorda. É uma candidatura que não tem consistência e credibilidade para estar à frente de Alcobaça.

    Finalmente, a candidatura do Bloco de Esquerda, de Adelino Granja. Houve uma tentativa de junção com a CDU, que acabou por não resultar e o Adelino Granja decidiu avançar. Penso que é um partido sem grande estrutura, até tem alguma criatividade na forma como expõe os assuntos, mas depois falta a estrutura e a consistência para estar à frente de uma Câmara Municipal.

        Mónica Alexandre
    04-07-2013