15/01/2014

7.366.(15jan2014.7.7') Opinião da nossa camarada Clementina Henriques..."É PRECISO LER OS TEXTOS NOS CONTEXTOS!"


Clementina Henriques, além de eleita pela CDU na Assembleia Municipal de Alcobaça é Vice-presidente da CPPME e é dirigente da Confederação Portuguesa das Colectividades...

É PRECISO LER OS TEXTOS NOS CONTEXTOS!
A interpretação da realidade económica não é, nem pode ser, pertença de grupos específicos, sejam eles o domínio científico, político, ou privado. A economia é transversal ao comportamento dos indivíduos, por eles deve ser observada!
A economia é uma ciência, social, cujo objeto de estudo é o ser humano. É aos economistas, prioritariamente, que compete, enquanto profissionais e a partir de um alargado e flexível domínio da Ciência Econômica, intervir no processo social, oferecendo contributos específicos sobre aspetos inerentes à ciência económica. Segundo Pedro José Mansur: "Ele (o economista) tem capacidade de colocar ao serviço da comunidade um conjunto de conhecimentos científicos, acumulados e sistematizados ao longo de toda a história, tanto política, quanto social e económica”.
Aos políticos é atribuído o poder de legislar, com base no conhecimento da realidade e com recurso a instrumentos, credíveis, ancorados nas matrizes teóricas existentes, naturalmente que seguindo um determinado modelo, que constitui um possível campo de estudo mais próximo da “Economia Politica” entendida como “a parte da ciência que estuda as relações entre a economia e todas as outras instituições presentes do dia-a-dia das pessoas. Procura entender como as instituições e os contornos políticos influenciam a conduta dos mercados. Ou seja, a Economia Política vai muito além da simples análise económica e quantitativa, essa ciência procura estudar também as relações sociais”. Além disso, a Economia Política, ou do que se diz ser a sua missão, não pode ser estudada separada de outras ciências como a Sociologia, a História, a Antropologia, ou a Demografia pois, com um mesmo objeto de estudo, também elas são definidas e avaliadas pelo seu desenvolvimento histórico. Estamos num cenário claro, a meu ver, que valida a necessidade de participação dos mais variados agentes, sociais e económicos, na construção e definição de políticas adequadas à realidade a que se destinam. Não são consequentes, não fazem sentido, políticas que terão efeitos antagónicos em quadrantes idênticos da economia e da sociedade. Lembro que “não é possível encaixar a realidade nos modelos”.
Para o correto funcionamento da economia, em qualquer modelo, é imperativo o conhecimento das necessidades e potencialidades das regiões/países a que se destinam. É óbvio que existem pressupostos de partida, essenciais, a que poderemos chamar objetivos, que vão influenciar o comportamento da atividade económica pois, como sabemos “o ponto de vista cria o objeto”. É possível colocar a ciência económica, ou um ramo da mesma, ao serviço das grandes empresas, dos grandes grupos, das elites visando uma sociedade elitista e de grandes assimetrias, ou optar por uma intervenção que procura mais equidade e redução de assimetrias. A realidade económica age, e interage, com a globalidade da população. Enquanto produtores ou consumidores; enquanto ativos ou pensionistas; dentro ou fora das curvas da idade ativa ou da produção. Na era da globalização, em sociedades plurais a todos os níveis, a discriminação que deve existir é a positiva e a economia é quem mais pode esbater ou agudizar a segregação.
Fala-se, em Portugal, da evolução positiva da economia: pelo acréscimo, relativo, das exportações; pela descida da taxa de desemprego; pela reanimação de alguns setores da atividade, de natureza sazonal alguns deles e sem carater sustentável outros, mas concretos. Mas que validade podemos atribuir a estes cenários quando crescem as exportações e é destruído o mercado interno; desce a taxa de desemprego mas não cresce o emprego e diminui a população ativa (fruto em grande dimensão da emigração e da falsa ocupação aquando da frequência de ações de formação); continuam a encerrar empresas, diariamente, embora a ritmo inferior à emergência de novas unidades (com esperança média de vida menor, com reduzida empregabilidade, escassas qualificações e sustentabilidade financeira decorrente de capitais alheios).
O contexto de crise que Portugal atravessa, idêntico a muitos outros países da zona euro, não legitima, meios de destruição da capacidade produtiva e de consumo da grande maioria da população que, indignada, tudo vai perdendo, até a dignidade!
Janeiro de 2014
Clementina Henriques