Cidade do México — Foi numa terça-feira de 1965. Gabriel García Márquez tinha acabado de voltar de um fim de semana em Acapulco (México) com sua mulher e seus dois filhos quando, fulminado por um “cataclismo da alma”, sentou-se diante da máquina de escrever e, como ele mesmo se recordaria anos mais tarde, não se levantou até o início de 1967. Naqueles 18 meses, todos os dias, das nove da manhã às três da tarde, o escritor colombiano gestou Cem anos de solidão.
Muito já foi escrito sobre o ambiente mexicano em que nasceu sua obra máxima, sobre sua obsessão criativa, suas dificuldades econômicas, o apoio constante dos amigos. Mas muito pouco é sabido sobre a construção de Cem anos de solidão. As chaves de sua formação material, a engenharia sobre a qual o escritor edificou o universo de Macondo, continuam entre sombras. E esse mistério não foi casual. Quando recebeu o primeiro exemplar impresso, em junho de 1967, o próprio autor rasgou o original para que “ninguém pudesse descobrir os truques ou a carpintaria secreta”. Pouquíssimos documentos se salvaram daquela destruição histórica. Um deles, possivelmente o mais importante, foi a primeira cópia das provas de impressão. Sobre elas, García Márquez anotou de seu próprio punho 1.026 correções, deixando à mostra modificações e inflexões de enorme interesse.
Esses papéis, aos quais o El País teve acesso, seguiram uma trajetória acidentada. O escritor os deu de presente ao cineasta exilado Luiz Alcoriza e sua esposa, Janet. Depois da morte dos dois, foram postos em leilão duas vezes, sem encontrar comprador. Agora, esquecidos novamente, procuram uma instituição que os receba. “Prefiro que estejam em uma biblioteca ou um museu que comigo”, diz o mexicano Héctor Delgado, herdeiro dos Alcoriza.
As provas de impressão, da editora Sudamericana, somam 181 folhas duplas, numeradas à mão, com anotações do autor feitas com caneta esferográfica ou caneta marca-texto. Um olhar sobre essas anotações revela as minúcias artísticas do trabalho de García Márquez. Nelas, o autor assinala os inícios de capítulo, reordena parágrafos, suprime e acrescenta frases, substitui ou corrige mais de 150 palavras e, em muitas ocasiões, chama a atenção para erros. Nesse exercício fica evidente a exigência exaustiva do autor consigo mesmo. As modificações não visam apenas purificar o texto ou aclarar a profusão de nomes dos Buendía, mas também aprofundam seus complexos jogos de linguagem. Às vezes tratam-se de sutilezas: de “amedrontar” passa-se para “intimidar”, de “obstruir”, para “cegar”, ou de “completar” para “complementar”. Mas em outras a mão do escritor vai muito mais longe: as borboletas de tornam “amarelas”, as sanguessugas são arrancadas “queimando-as” com brasas, o troglodita é convertido em um “tosco”, as crianças andam como “sorumbáticas”, a Ópera Magna se transforma em “alquimia”, um São José de gesso descobre um interior “abarrotado de moedas de ouro” e a descarga do Mauser “desbarata”, em vez de “desarticular”, um crânio.
Alguns personagens ganham nuances novas com as observações adicionais. Amaranta, por exemplo, “finge sensação de desgosto” quando ouve falar em casamento, enquanto Aureliano vê sua “antiga piedade” transformar-se em “animadversão virulenta”. São alterações constantes. Uma chuva fina de melhorias que, sem gerar mudanças de fundo nem reviravoltas do argumento, descobrem a dimensão microscópica e tenaz de um texto de cuja grandeza o autor tinha consciência.
Possivelmente por isso, García Márquez nunca devolveu as provas de impressão à editora, mas enviou as correções à parte. E, longe de destruir o documento, como teria sido de se esperar, o converteu em um monumento à amizade: o deu de presente e dedicou ao diretor de cinema Luis Alcoriza e sua esposa, a atriz austríaca Janet Riesenfeld: “Para Luiz e Janet, uma dedicatória repetida, mas que é a única verdadeira: do amigo que mais os ama neste mundo. Gabo. 1967.”
Radicado no México e muito próxima a Luis Buñuel, o casal fazia parte do círculo íntimo do escritor colombiano, aquele que o tinha apoiado nas épocas mais negras e com quem, nos bons tempos, ele tinha festejado a alegria de viver. O próprio autor o explicou anos mais tarde em um artigo no El País: “Quando a editora me mandou a primeira cópia das provas de impressão, eu as levei já corrigidas a uma festa na casa dos Alcoriza, sobretudo para matar a curiosidade insaciável do convidado de honra, dom Luis Buñuel, que teceu todo tipo de especulações magistrais sobre a arte de corrigir, não para melhorar, mas para esconder. Vi Alcoriza tão fascinado com a conversa que tomei a boa decisão de lhe dedicar as provas.”
O casal guardou as páginas como um objeto sagrado. Dezoito anos mais tarde, quando Cem anos de solidão já era um totem, García Márquez voltou a encontrar as provas na casa dos Alcoriza: “Janet as tirou do baú e as exibiu na sala, até que lhes disseram, como brincadeira, que com isso eles podiam deixar de ser pobres. Alcoriza então fez uma cena muito sua, golpeando-se no peito com os dois punhos e gritando com seu vozeirão bem empostado e sua determinação carpetovetônica: ‘Pois eu prefiro morrer a vender essa joia dedicada por um amigo’.” García Márquez respondeu escrevendo debaixo da dedicatória, com a mesma caneta que da primeira vez: “Confirmado. Gabo. 1985.”
Luiz Alcoriza, o exilado, morreu em 1992 em Cuernavaca. Sua esposa faleceu seis anos depois. As provas de impressão ficaram com seu herdeiro, o engenheiro e produtor Héctor Delgado, o homem que cuidou deles em seus últimos dias. Em 2001, com a concordância do Prêmio Nobel, as provas foram colocadas em leilão em Barcelona por um milhão de dólares (três milhões de reais), sem encontrar comprador. Um ano depois, tampouco foi encontrado comprador com a Christie’s. Agora, um ano após a morte de García Márquez (2015), o herdeiro, que está com 73 anos, procura quem queira adquirir as provas. A Universidade do Texas, que comprou o arquivo do escritor, se interessou, mas pouco mais que isso. Quase meio século após sua gestação, um dos poucos documentos que se salvaram da gênese de Cem anos de solidão continua a buscar um dono.
Gabriel García Márquez revela os segredos sobre os manuscritos de Cem anos de solidão, que vão ser leiloados em Barcelona por mais de meio milhão de dólares, durante a feira do livro, em 21 de setembro de 2001
A ODISSEIA LITERÁRIA DE UM MANUSCRITO
– por Gabriel García Marquez
– por Gabriel García Marquez
No início de agosto de 1966, eu e Mercedes fomos aos correios de San Angel, na cidade do México, para enviarmos os originais de Cem anos de solidão a Buenos Aires. Era um pacote de quinhentas e noventa folhas de papel comum, em espaço duplo, escritas à máquina, e endereçadas ao diretor literário da Editora Sudamericana, Francisco (Paco) Porrúa. O empregado dos correios colocou o pacote na balança, fez seus cálculos de cabeça, e disse:
– São oitenta e dois pesos.
Mercedes contou os trocados e os centavos soltos que carregava, e me enfrentou com a realidade:
– Só temos cinqüenta e três.
Após tantos anos, estávamos tão acostumados com estes tropeços no cotidiano, que nem mesmo tentamos encontrar uma solução. Abrimos o pacote, dividindo-o em duas partes iguais, para enviar uma das metades a Buenos Aires, sem sabermos ao menos o que faríamos para conseguir o dinheiro para enviar o resto. Eram seis da tarde de sexta-feira e até segunda-feira os correios não voltariam a abrir, de modo que teríamos todo o fim de semana para imaginar algum meio de conseguir o dinheiro que faltava.
Nos faltavam poucos amigos a quem pudéssemos recorrer, e nossas melhores propriedades dormiam o sono dos justos nas casas de penhor do Monte da Piedade. Tudo que possuíamos era a máquina de escrever portátil, com a qual eu havia escrito a novela em mais de um ano de seis horas diárias, porém não podíamos empenha-la, porque nos faltaria o que comer. Depois de uma busca cuidadosa pela casa inteira, encontramos outras duas coisas empenháveis: o aquecedor do meu estúdio, que já devia valer muito pouco, e uma batedeira que ganhamos de presente de Soledad Mendonza, quando nos casamos em Caracas. Ainda possuíamos as alianças que somente usamos para as bodas, e que nunca havíamos nos atrevido a empenhar, porque acreditávamos em mau agouro. Desta vez, Mercedes decidiu levar-las ao penhor, num caso de emergência.
Na manhã de segunda-feira fomos ao Monte da Piedade mais próximo, onde já éramos clientes conhecidos, e nos emprestaram – sim as alianças – um pouco mais do que faltava. Somente quando empacotávamos o resto Do romance, é que percebemos que havíamos enviado ao contrário: as páginas finais antes das iniciais. Porém, Mercedes não achou estranho, porque sempre acreditara no destino.
– A única coisa que falta agora – disse – é que o romance seja ruim.
Aquela frase seria a culminação perfeita dos dezoito meses que passamos batalhando juntos para o término do livro, no qual fundavam todas minhas esperanças. Até então, eu havia publicado quatro em sete anos, pelos quais havia recebido muito pouco ou quase nada. Salvo pelo romance ‘A hora má’ que obteve o prêmio de três mil dólares no concurso da Esso Colombiana, e me bastaram para o nascimento de Gonzalo, nosso segundo filho, e para comprar nosso primeiro automóvel.
Vivíamos numa casa de classe média, nas colinas de San Angel Inn, propriedade do major oficial da prefeitura, licenciado Luis Coudurrier, que entre outros afazeres, ocupava-se pessoalmente do aluguel da casa. Rodrigo, de seis anos, e Gonzalo de três, tinham um belo jardim para brincar, enquanto não estavam na escola. Eu havia sido coordenador geral das revistas ‘Sucessos’ e ‘A Família’, onde cumpri por ótimo saldo, o compromisso de não escrever nem uma só letra em dois anos. Eu e Carlos Fuentes havíamos adaptado para o cinema ‘O galo de ouro’, um romance original de Juan Rulfo que foi filmado por Roberto Gavaldón. Também com Carlos Fuentes, eu havia trabalhado na versão final de ‘Pedro Páramo’, para o diretor Carlos Velo. Havia escrito o roteiro de ‘Tempo de morrer’, o primeiro longa-metragem de Arturo Ripstein, e o de ‘Presságio’, com Luis Alcoriza. Nas poucas horas que me sobravam, eu fazia uma boa soma de tarefas ocasionais – textos publicitários, comerciais de televisão, alguma letra de canção – que me davam sustento, o suficiente para viver sem pressas, mas não para escrever contos e romances.
Entretanto, fazia muito tempo que eu era atormentado pela idéia de um romance desmesurado, não somente distinto de tudo que já havia sido escrito antes, mas como também de tudo que já se havia lido até então. Era uma espécie de terror sem origem. Em meados de 1965, eu ia com Mercedes e meus dois filhos para um fim de semana em Acapulco, quando me senti fulminado por um cataclismo na alma, tão intenso e arrasador, que apenas consegui desviar de uma vaca que atravessava a estrada. Rodrigo deu um grito de felicidade:
– Eu também, quando crescer, vou matar vacas pela estrada.
Não tive um minuto de sossego na praia. Na quarta-feira, quando regressamos ao México, me sentei em frente da máquina de escrever, para datilografar uma frase inicial que já não podia suportar dentro de mim: ‘Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo’. Desde então, não me interrompi um só dia como se eu estivesse numa espécie de sonho avassalador, até a conclusão, aonde Macondo vai pra casa do caralho.
Nos primeiros meses, conservei minhas melhores fontes de renda, porém me faltava cada vez mais tempo para escrever tanto quanto queria. Cheguei a trabalhar até altas horas da noite, para cumprir com meus compromissos pendentes, até que a vida se tornou impossível. Pouco a pouco fui abandonando tudo, até que a realidade insubornável me obrigou a escolher sem rodeios, entre escrever ou morrer.
Não tive dúvidas, porque Mercedes – mais que nunca – assumiu o encargo de atormentar todos nossos amigos. Conseguiu créditos sem esperanças com a mercearia do bairro, e com o açougueiro da esquina.Desde nossas primeiras angústias, havíamos resistido a tentação de não endividarmos em empréstimos nas lojas de penhores, ou casas de ágio, até quando amarramos o coração, e fizemos nossa primeira incursão ao Monte da Piedade. Depois dos alívios através das miudezas que empenhávamos, tivemos que apelar para as jóias de família que Mercedes guardava ao longo dos anos. O joalheiro do penhor examinou-as com um rigor cirúrgico, pesou e revisou com seu olho mágico os diamantes dos brincos, as esmeraldas de um colar, os rubis dos anéis, e por final nos devolveu peça por peça:
– Isto é puro vidro!
Nunca tivemos humor, nem tempo, para averiguar quando foram trocadas as pedras preciosas das jóias familiares, e substituídas por fundos de garrafa, porque o touro negro da miséria já nos cercava por todos os lados. Parece até mentira, mas um dos maiores problemas enfrentado naquela época, era as resmas de papéis que usava na máquina de escrever. Eu tinha o péssimo hábito de acreditar que os erros de datilografia, de linguagem ou de gramática, eram na realidade erros de criação, e cada vez que descobria algum erro, rasgava o papel e recomeçava tudo outra vez. Mercedes gastava meio orçamento doméstico com pirâmides de resmas de papel que não duravam uma semana. Esta era, quem sabe, uma das minhas razões para não usar papel carbono.
Problemas simples como esse, chegaram a ser tão desesperadores, que não tivemos ânimo em criar a solução final: empenhar o automóvel recém adquirido, sem suspeitar que o remédio sairia pior que a encomenda, porque aliviamos as dívidas atrasadas, mas na hora de pagar as dívidas mensais, nos encontramos pendurados no abismo. Por sorte, nosso amigo de velha e longa data, Carlos Medina, que não só se prontificou em pagar nossas dívidas, como o fez por vários meses, até que conseguimos resgatar o automóvel. Somente alguns anos atrás, descobrimos que ele também teve que empenhar um de seus automóveis, para pagar nossas dívidas.Os melhores amigos se dividiam em turnos para visitar-nos todas as noites. Apareciam de surpresa, e com pretextos de revistas e livros, nos levando cestas básicas, que pareciam casuais. Carmen e Álvaro Mutis, os mais assíduos, assediavam-me para que lhes contasse o capítulo em curso do romance. Eu lhes presenteava com respostas inventadas no último minuto, por minha supertição de que contar o que andava escrevendo, espantava os duendes.
Carlos Fuentes, apesar de seu terror de voar, ia e vinha por meio mundo. Seus regressos eram festas perpétuas eternizadas nas conversas sobre nossos respectivos livros em andamento, como se fossem um único exemplar. Maria Luiza Elío, com suas vertigens clarividentes, e Jomi García Ascot, seu esposo, paralisado por seu estupor poético, escutavam meus relatos improvisados como sinais cifrados da Divina Providência. Assim que não tive dúvidas, desde suas primeiras visitas, de dedicar-lhes o livro. Além do mais, me dei conta de que estas relações de entusiasmo com os amigos me iluminavam pelos desfiladeiros de minha novela cotidiana.
Mercedes não voltou a falar sobre os créditos incomensuráveis, até março de 1966 – um ano após o início do livro – quando devíamos três meses de aluguel. Ela estava conversando pelo telefone, com o senhorio, como fazia com freqüência para acalmar-lo em sua espera, quando tapou o telefone com a mão e me perguntou quando pensava terminar o livro.
Pelo ritmo que havia adquirido em um ano de prática, calculei que me faltavam seis meses. Mercedes fez suas contas astrais, e respondeu sem pestanejar ao senhorio impaciente:
– Podemos pagar tudo junto dentro de seis meses.
– Perdão, minha senhora – disse o senhorio assombrado -. A senhora sabe que em seis meses será um valor enorme?
– Claro que sei – disse Mercedes, impassível – mas tenho certeza que teremos todo seu dinheiro. Fique tranqüilo.
O bem licenciado, um dos homens mais elegantes e pacientes que havíamos conhecido, tampouco levantou a voz para contestar: “Muito bem minha senhora, sua palavra me basta”. Iniciando suas contas mortais:
– Vou esperar até o sete de setembro.
Equivocou-se: não foi ao sete, e sim ao quatro, com o primeiro cheque inesperado que recebemos pelos direitos da primeira edição.
Nos meses seguintes, vivíamos em pleno delírio. O grupo de amigos mais próximos, que conheciam bem a situação, nos visitava com mais freqüência que antes, sempre carregados de milagres para seguirem vivendo. Luis Alcoriza e sua esposa austríaca, Janet Dunning, não eram freqüentes em suas visitas, mas concediam festanças históricas, com seus amigos intelectuais e as mulheres mais lindas do cinema. Muitas vezes eram simples pretextos para nos encontrar. Alcoriza era o único espanhol que podia fazer fora da Espanha, uma ‘tortilla’ igual à de Valência, e ela por sua vez, era capaz de entusiasmar a todos com suas artes de bailarina clássica. Os García Riera, loucos por cinema, nos arrastavam para sua casa aos domingos, e nos infundiam a demência feliz, para enfrentarmos a semana seguinte.
O romance, até então, estava tão avançado que me dava ao luxo de seguir enriquecendo o argumento falso que usava nas visitas dos amigos. Muitas vezes escutei, os mesmo relatos falsos, repetidas vezes e em tantas bocas diferentes, que me surpreendia com a velocidade com que cresciam e se ramificavam de boca em boca.
Ao final de agosto, de um dia para o outro, me apareceu dobrando a esquina, o final do romance. Eu não usava papel carbono e não existiam fotocopiadoras em cada esquina, de modo que era um original apenas, de umas duas mil folhas. Foi um manjar dos deuses para Esperanza Araiza, a inesquecível Pera, uma das boas mecanógrafas de Manuel Barbachano Ponce em seu castelo de Drácula para poetas e cineastas na colônia Cuauhtérmoc. Em suas horas livres, durante vários anos, Pera havia passado a limpo grandes obras de escritores mexicanos. Entre elas, ‘A região mais transparente’ de Carlos Fuentes; ‘Pedro Páramo’ de Juan Rulfo, e vários roteiros originais dos filmes de Luis Buñuel. Quando lhe propus que passasse a limpo à versão final do romance, o próprio era um garrancho, recheado de remendos, primeiro com tinta preta, e depois em tinta vermelha para evitar confusões. Mas tudo isso não era nada para uma mulher acostumada a tudo numa gaiola de loucos – Cuauhtérmoc. Não só aceitou o garrancho pela curiosidade de lê-lo, com também, porque paguei o que podia na hora, e o resto quando recebi os direitos autorais.
Pera copiava um capítulo por semana, enquanto eu corrigia o seguinte, com todo tipo de emendas, com tintas de cores diferentes para evitar confusões, e não para encurtar o romance, mas para levar ao seu melhor entendimento, e aumentar seu grau de densidade. Até que o romance ficou reduzido, até a metade do material original.
Anos depois, Pera me confessou que um dia, enquanto carregava consigo a única cópia do terceiro capítulo corrigido por mim, resvalou-se ao descer de um ônibus, com um aguaceiro diluvial, e deixou cair às folhas flutuando nas poças d’água na rua. Ela juntou todas as folhas ensopadas e quase ilegíveis, com a ajuda dos outros transeuntes, secou-as em casa utilizando uma tábua de passar roupa. Minha maior emoção foi num sábado, quando não pude preparar as correções do capítulo seguinte, e chamei Pera por telefone, a fim de avisar-la do imprevisto, remarcando para segunda-feira. Ao decorrer de um longo titubeio, Pera se atreveu a perguntar-me se Aureliano Buendía dormiria por fim com Remédios Moscote. Quando lhe respondi que sim, soltou um suspiro de alívio.
– Bendito seja Deus – exclamou – se não tivesse me contado, não sei como faria pra dormir até segunda-feira.
Nunca pude descobrir, como foi que nesses dias, recebi uma carta intempestiva de Paco Porrúa, – de quem nunca havia ouvido falar – na qual me solicitava em nome da Editoria Sudamericana, os direitos de meus livros, que já conhecia muito bem das edições anteriores. Partiu-me o coração, porque todos estavam em diferente editoras com contratos em longo prazo, e seria muito difícil liberar-los. O único consolo que me ocorreu, foi responder-lhe que estava a ponto de terminar um romance bastante extenso, e ainda não havia fechado contrato algum, e oferecendo-me a enviar-lhe a primeira cópia terminada, sem compromisso algum.
Paco Purrúa aceitou por telegrama, e enviou-me pelo correio um cheque de quinhentos dólares como adiantamento. Justo os nove meses de aluguel que havíamos nos comprometido a saldar por aqueles dias, e não encontrávamos como – por um cálculo errado de minha parte.
De todos os modos, a transcrição limpa de Pera, com três cópias de em papel carbono, esteve pronta em duas dou três semanas mais… Álvaro Mutis foi o primeiro leitor da cópia definitiva, ainda antes de ser enviada à prensa. Desapareceu dois dias, e ao fim do terceiro dia, me chamou com uma de suas fúrias cordiais, ao descobrir que o romance, não era na realidade o que eu contava para entreter os amigos, e o que ele repetia por todo mundo.
– Você, me fez passar por palhaço! – gritou-me – Este livro não tem nada a ver com que nos contava.
Logo, morrendo de rir me dizia:
– Menos mal, que este é muito melhor.
Não me lembro se naquele período já possuía um título para o romance, nem aonde, nem quando, nem como me ocorreu. Ninguém de meus amigos daquela época conseguiu recordar-se, ou menos lembrar. Haverá algum historiador imaginativo, que me fará o favor de inventar este dado?
A cópia que Álvaro Mutis leu, foi a que enviamos em duas partes pelo correio, e outra foi a que ele mesmo levou, numa de suas viagens a Buenos Aires. A terceira circulou no México, entre os amigos que nos acompanharam nas vacas magras. A quarta foi a que mandei a Barranquilla, para ser lida por três protagonistas do romance: Alfonso Fuenmayor, Germán Vargas e Álvaro Cepeda, cuja filha Patrícia, salvou-a como uma relíquia de família.
Quando recebemos o primeiro exemplar do livro impresso, em junho de 1967, eu e Mercedes rasgamos todos os originais corrigidos a mão com tintas pretas e vermelhas, os quais Pêra utilizou para fazer as quatro cópias. Não nos ocorreu nem ao menos imaginar que aquele poderia ser o mais apreciável de todos, com o terceiro capítulo ilegível pela chuva e pelos erros do ferro de passar. Minha decisão não foi nem um pouco inocente, nem modesta, senão que rompemos a cópia para que ninguém pudesse descobrir os truques de minha carpintaria secreta. Entretanto, em alguma parte do mundo, podem existir outras cópias, e em especial as duas enviadas para a Editora Sudamericana para a primeira edição. Sempre pensei que Paco Porrúa – com todo direito – teria guardado as cópias como relíquia. Mas ele sempre se negou do fato, e sua palavra é como ouro.
Quando a editora me enviou as primeiras provas da prensa, levei-as com suas devidas correções numa festa na casa dos Alcoriza, especialmente para sanar a curiosidade insaciável do convidado de honra, don Luis Buñuel, que teceu todo tipo de especulação magistral sobre a arte de corrigir, não para melhorar, e sim para esconder. Deparei-me com um Alcoriza, tão fascinado pela conversa, que tomei a decisão de dedicar-lhe as provas: ‘Para Luis e Janet, uma dedicatória repetida, mas que é a única verdadeira: “do amigo que mais lhes quer neste mundo”’. Junto com a assinatura escrevi a data: 1967. A menção sobre a assinatura, e as aspas na frase final, era referente a um livro que presenteara aos Alcoriza anos antes. Vinte e oito anos depois, quando ‘Cem anos de solidão’, já estava consolidado, alguém se lembrou daquele episódio na mesma casa, e opinou que as provas com a dedicatória deviam valer uma fortuna. Janet buscou as provas do fundo de um baú, e as exibiu pela sala, até que lhe disseram em tom de brincadeira, que com estas provas, poderiam tornar-se ricos e sair da miséria. Alcoriza declamou um discurso próprio e particular, dando golpes de punhos cerrados contra os peitos e gritando com toda a capacidade de seus pulmões:
– Pois, eu prefiro morrer antes de vender esta jóia dedicada por um amigo!
Entre a justa salva de palmas e ovação que Alcoriza recebia, recolhi a mesma prova, e escrevi debaixo da dedicatória de dezoito anos atrás: ‘Confirmado, 1885’. E voltei a assinar uma outra vez: ‘Gabo’. Este é o documento de 180 páginas, com 1.026 correções de meu punho e letra, que será leiloado no dia 21 de setembro deste mesmo ano, durante a feira do livro de Barcelona, sem participação nem benefício algum de minha parte.
Que não existam dúvidas que esta é uma operação legítima. O que é desconcertante a algumas pessoas, é que as cópias originais estavam em meu poder, e eu devia tê-las devolvido a Buenos Aires, para que introduzissem minhas correções finais. A verdade é que nunca as devolvi corrigidas em punho e letra, somente mandei pelo correio a lista das correções copiadas à máquina, linha por linha, pelo temor que o manuscrito se perdesse na volta.
Luis Alcoriza morreu em 1992, aos setenta e um anos, em seu retiro de Cuernavaca. Janet seguiu ali, e morreu seis anos depois, reduzida a um pequeno núcleo de amigos fiéis. Entre eles, o mais fiel de todos, Héctor Delgado, que os havia adotado como pais, e se ocupou deles nas vacas magras da velhice. Antes de morrerem, eles o nomearam seu herdeiro legítimo por disposição testamentária. O único que me parece injusto nesta história, é que Luis e Janet, viveram seus últimos anos com mais de cem mil dólares guardados ao longo do tempo no fundo do baú, simplesmente pela dignidade ibérica de não vender o presente do amigo que mais os quis neste mundo.
Gabriel García Márquez, México, DF, 2001.
Fonte: El País | Usina das Letras
http://www.revistaprosaversoearte.com/os-segredos-da-obra-cem-anos-de-solidao-de-gabriel-garcia-marquez/***saúde preocupante..15.4.2014http://www.publico.pt/sociedade/noticia/estado-de-saude-do-escritor-gabriel-garcia-marquez-e-muito-fragil-1632323***
" Não chores porque acabou,
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Via público
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Não chores porque acabou,
sorri porque aconteceu!"
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Via Nelson Faustino
«Tive a sensação de estar a viver de novo a experiência juvenil de uma primeira chegada. Não só pelo verão prematuro em Portugal e pelo odor a marisco, mas também pelos ventos e pelos ares de uma liberdade nova que se respiravam por toda a parte.»
sobre o pós 25 de Abril de 1974
https://www.dn.pt/revistas/nm/interior/a-historia-de-gabriel-garcia-marquez-em-lisboa-3189670.html
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"É necessário abrir os olhos e perceber que as coisas boas estão dentro de nós, onde os sentimentos não precisam de motivos nem os desejos de razão.
O importante é aproveitar o momento e aprender sua duração, pois a vida está nos olhos de quem saber ver"
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"O mais importante que aprendi a fazer depois dos quarenta anos foi a dizer não quando é não."
"Todo mundo quer viver em cima da montanha,
sem saber que a verdadeira felicidade está
na forma de subir a escarpada."
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50 FRASES DE GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ PARA COLAR NA PAREDE
http://www.revistabula.com/5508-50-frases-de-gabriel-garcia-marquez-para-colar-na-parede/"Um escritor só escreve um único livro, embora esse livro apareça em muitos tomos, com títulos diversos. |
Diria que o machismo, tanto nos homens quanto nas mulheres, não é mais que a usurpação do direito alheio. |
Tinham vivido juntos o suficiente para perceber que o amor era o amor em qualquer tempo e em qualquer parte, mas tanto mais denso ficava quanto mais perto da morte. |
Quem não tiver Deus, que tenha superstições. |
Sou um patrimônio nacional. Não tenho um grama de privacidade. |
Cada linha de Cem Anos de Solidão tem o ponto de partida na realidade. Eu forneço uma lente de aumento para os leitores entendê-la. |
Quando eu era criança, minha avó me contava histórias horríveis de mortos que apareciam. Nossa casa parecia mal-assombrada. |
Eu e Mercedes estamos juntos há 25 anos e não sei a idade dela. É impossível conhecer completamente uma pessoa. |
Acho muito perigoso descobrir por que motivos um livro que escrevi pensando apenas em alguns amigos é vendido em todos os lugares como cachorro-quente. |
Todos somos reféns de nossos preconceitos. |
Mas não se esqueçam de que, enquanto Deus nos der vida, nós continuamos sendo mães, e por muito revolucionários que vocês sejam temos o direito de lhes baixar as calças e dar uma boa coça diante da primeira falta de respeito. |
Era inevitável: o cheiro das amêndoas amargas lhe lembrava sempre o destino dos amores contrariados. |
Hoje, ao vê-lo, descobri que só nos unia uma ilusão. |
Fizeram um amor tranquilo e são, de serenos avós. |
Era como se tivessem saltado o árduo calvário da vida conjugal, e tivessem ido sem rodeios ao grão do amor. |
Mais vale chegar a tempo do que ser convidado. |
Deus meu, isso dura mais tempo que uma dor! |
A cobiça de ouro de nossos fundadores nos perseguiu até recentemente. |
Nossa independência da dominação dos espanhóis não nos pôs fora do alcance da loucura. |
Onze anos atrás, em 1971, o chileno Pablo Neruda, um dos brilhantes poetas de nosso tempo, iluminou este público com suas palavras. Desde então, os europeus de boa vontade — e às vezes aqueles de má vontade também — têm sido arrebatados, com cada vez mais força, pelas novidades fantásticas da América Latina, esse reino sem fronteiras de homens alucinados e mulheres históricas, cuja infinita obstinação se confunde com a lenda. |
Poetas e mendigos, músicos e profetas, guerreiros e canalhas, todas as criaturas desta indomável realidade, temos pedido muito pouco da imaginação, porque nosso problema crucial tem sido a falta de meios concretos para tornar nossas vidas mais reais. Este, meus amigos, é o cerne da nossa solidão. |
Você não pode imaginar como pesa um homem morto. |
A América Latina não quer, nem tem qualquer razão para querer, ser massa de manobra, sem vontade própria. |
No dia em que iam matá-lo, Santiago Nasar levantou-se às 05 e 30 da manhã para esperar o barco em que chegava o bispo. |
Nunca me interessou uma ideia que não resista a muitos anos de abandono. |
Sei por experiência própria que, quando se toma notas, a gente acaba pensando para as notas e não para o livro. |
Quando era jovem, escrevia de uma tirada, fazia cópias, voltava para corrigir. Agora vou corrigindo linha por linha à medida que escrevo, de sorte que, ao terminar a jornada, tenho uma folha impecável, sem manchas nem rasuras, quase pronta para levar ao editor. |
Há um momento em que todos os obstáculos são derrubados, todos os conflitos se apartam e à pessoa ocorrem coisas que não tinha sonhado, e então não há na vida nada melhor que escrever. Isso é o que eu chamaria de inspiração. |
A vida cotidiana na América Latina nos demonstra que a realidade está cheia de coisas extraordinárias. |
Para mim bastaria estar certo de que você e eu existimos neste momento. |
Acredito que a técnica e a linguagem são instrumentos determinados pelo tema de um livro. |
A solidão, para mim, é o contrário da solidariedade. |
Sempre acreditei que o poder absoluto é a realização mais alta e mais complexa do ser humano e que por isso resume ao mesmo tempo toda a sua grandeza e toda a sua miséria. |
Não acredito em uma terceira alternativa: acredito em muitas. |
A mulher mais bela do mundo não tinha que ser, necessariamente, a mais apetecível, no sentido que entendo esse tipo de relações. Minha impressão ao fim de uma breve conversa, foi que o seu temperamento podia me causar certos conflitos emocionais que talvez não fossem compensados pela sua beleza. |
Não poderia entender a minha vida, tal como é, sem a importância que nela tiveram as mulheres. |
Em todos os momentos de minha vida há uma mulher que me leva pela mão nas trevas de uma realidade que as mulheres conhecem melhor que os homens e nas quais se orientam melhor com menos luzes. |
Tenho um instinto muito especial: quando entro num lugar cheio de gente, sinto uma espécie de sinal misterioso que me dirige a vista, irremediavelmente, para o local onde está a mulher que mais me inquieta entre a multidão. |
Há feministas, por exemplo, que o que desejam realmente é ser homens, o que as define de uma vez como machistas frustradas. Outras reafirmam a sua condição de mulher com uma conduta que é mais machista que a de qualquer homem. |
A gente continua se vendo por dentro como sempre foi, mas de fora os outros reparam. |
Acho que a incapacidade para o amor é o que os impulsiona a procurar o consolo do poder. |
Todo homem normal chega morto de medo a uma experiência sexual nova. |
O que me impede de ser, como se diz, um garanhão público, não é a necessidade de preservar a minha vida privada, mas sim o fato de que não entendo o amor como um assalto momentâneo e sem consequências. |
Enquanto houver flores amarelas, nada de ruim pode me acontecer. |
Os motivos da amizade são múltiplos e insondáveis. |
Digamos que a celebridade é positiva nesse sentido, porque oferece oportunidades muito ricas para fazer amizades que de outra forma não seriam possíveis. |
Não sou comunista. Nunca fui. E nunca pertenci a nenhum partido político. |
A ternura é inerente não às mulheres, mas aos homens. As mulheres sabem que a vida é muito dura. |
As estirpes condenadas a cem anos de solidão não tinham uma segunda oportunidade sobre a terra." |
Via Susana Duarte
http://terradencanto.blogspot.pt/2015/04/blog-post_26.html#links
Ele ainda era demasiado jovem para saber que a memória do coração elimina as coisas más e amplia as coisas boas, e que graças a esse artifício conseguimos suportar o peso do passado.
In O Amor nos Tempos de Cólera
***Via Maria Elisa Ribeiro
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Música e Literatura
No México, enquanto escrevia «Cem Anos de Solidão» — entre 1965 e 1966 -, só tive dois discos que se gastaram de tanto serem ouvidos: os Prelúdios de Debussy e «A hard day's night» dos Beatles. Mais tarde, quando por fim tive em Barcelona quase tantos como sempre quis, pareceu-me demasiado convencional a classificação alfabética e adoptei para minha comodidade privada a ordem por instrumentos: o violoncelo, que é o meu favorito, de Vivaldi a Brahms; o violino, desde Corelli até Schõnberg; o cravo e o piano, de Bach a Bartók. Até descobrir o milagre de que tudo o que soa é música, incluídos os pratos e os talheres no lava-loiças, sempre que criem a ilusão de nos indicar por onde vai a vida.
No México, enquanto escrevia «Cem Anos de Solidão» — entre 1965 e 1966 -, só tive dois discos que se gastaram de tanto serem ouvidos: os Prelúdios de Debussy e «A hard day's night» dos Beatles. Mais tarde, quando por fim tive em Barcelona quase tantos como sempre quis, pareceu-me demasiado convencional a classificação alfabética e adoptei para minha comodidade privada a ordem por instrumentos: o violoncelo, que é o meu favorito, de Vivaldi a Brahms; o violino, desde Corelli até Schõnberg; o cravo e o piano, de Bach a Bartók. Até descobrir o milagre de que tudo o que soa é música, incluídos os pratos e os talheres no lava-loiças, sempre que criem a ilusão de nos indicar por onde vai a vida.
A minha limitação era que não podia escrever com música porque prestava mais atenção ao que ouvia do que ao que escrevia, e ainda hoje assisto a muito poucos concertos porque sinto que na cadeira se estabelece uma espécie de intimidade um pouco impudica com vizinhos estranhos. No entanto, com o tempo e as possibilidades de ter boa música em casa, aprendi a escrever com um fundo musical de acordo com o que escrevo. Os nocturnos de Chopin para os episódios calmos, ou os sextetos de Brahms para as tardes felizes. Em contrapartida, não tornei a ouvir Mozart durante anos, desde que me assaltou a ideia perversa de que Mozart não existe, porque quando é bom é Beethoven, e quando é mau é Haydn.
Nos anos em que evoco estas memórias, consegui o milagre de que nenhuma espécie de música me incomode para escrever, embora talvez não tenha consciência de outras virtudes, pois a maior surpresa foi-me dada por dois músicos catalães, muito jovens e atentos, que julgavam ter descoberto afinidades surpreendentes entre «O Outono do Patriarca», o meu sexto romance, e o Terceiro Concerto para Piano de Béla Bartók. É verdade que o ouvia sem piedade enquanto escrevia, porque me criava um estado de espírito muito especial e um pouco estranho, mas nunca pensei que me pudesse ter influenciado a ponto de se notar na minha escrita. Não sei como ficaram a saber daquela fraqueza os membros da Academia Sueca, que o colocaram como fundo na entrega do meu prémio. Agradeci-o do fundo da alma, como é evidente, mas se me tivessem perguntado - com toda a minha gratidão e o meu respeito por eles e por Béla Bartók — teria gostado de alguma das romanzas naturais de Francisco el Hombre das festas da minha infância.
in 'Viver para Contá-la'
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“A vida de uma pessoa não é o que lhe acontece…
Mas aquilo que recorda e a maneira como o recorda.”
Imagem - © Dang Can
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Não sinto nada mais ou menos, ou eu gosto ou não gosto. Não sei sentir em doses homeopáticas. Preciso e gosto de intensidade, mesmo que ela seja ilusória e se não for assim, prefiro que não seja. Não me apetece viver histórias medíocres, paixões não correspondidas e pessoas água com açúcar. Não sei brincar e ser café com leite. Só quero na minha vida gente que transpire adrenalina de alguma forma, que tenha coragem suficiente para me dizer o que sente antes, durante e depois ou que invente boas estórias, caso não possa vivê-las. Porque eu acho sempre muitas coisas - porque tenho uma mente fértil e delirante - e porque posso achar errado - e ter que me desculpar - e detesto pedir desculpas embora o faça sem dificuldade se me provarem que eu estraguei tudo achando o que não devia. Quero grandes histórias e estórias; quero o amor e o ódio; quero o mais, o demais ou o nada. Não me importa o que é de verdade ou o que é mentira, mas tem que me convencer, extrair o máximo do meu prazer e me fazer crer que é para sempre quando eu digo convicto que "nada é para sempre."
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É necessário abrir os olhos e perceber que as coisas boas estão dentro de nós, onde os sentimentos não precisam de motivos nem os desejos de razão. O importante é aproveitar o momento e aprender sua duração, pois a vida está nos olhos de quem saber ver.
***
Era o tempo em que eles se amavam melhor, sem pressa ou excesso, quando ambos estavam mais conscientes e gratos pelas suas incríveis vitórias sobre a adversidade. A vida iria apresentar-lhes outros desafios mortais, com certeza, mas isso já não importava: eles estavam na outra margem.
'O Amor nos Tempos de Cólera'
Via Gisela Mendonça
***
"Descobri que minha obsessão por cada coisa em seu lugar, cada assunto em seu tempo, cada palavra em seu estilo, não era o prêmio merecido de uma mente em ordem, mas, pelo contrário, todo um sistema de simulação inventado por mim para ocultar a desordem de minha natureza. Descobri que não sou disciplinado por virtude, e sim como reação contra a minha negligência; que pareço generoso para encobrir minha mesquinhez, que me faço passar por prudente quando na verdade sou desconfiado e sempre penso o pior, que sou conciliador para não sucumbir às minhas cóleras reprimidas, que só sou pontual para que ninguém saiba como pouco me importa o tempo alheio. Descobri, enfim, que o amor não é um estado da alma e sim um signo do Zodíaco.
(Memórias de Minhas Putas Tristes - Pg. 74)"
*
"É necessário abrir os olhos e perceber que as coisas boas estão dentro de nós, onde os sentimentos não precisam de motivos nem os desejos de razão. O importante é aproveitar o momento e aprender sua duração, pois a vida está nos olhos de quem saber ver."
Via Clementina Henriques
***
https://www.facebook.com/492496770838141/photos/a.492502024170949.1073741828.492496770838141/686579418096541/?type=1&theater
Dou valor às coisas, não por aquilo que valem,
mas por aquilo que significam.
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https://www.facebook.com/imagensfaladas/photos/a.219921738189870.1073741828.219896998192344/296780983837278/?type=1&theater
É necessário abrir os olhos e perceber que as coisas boas estão dentro de nós, onde os sentimentos não precisam de motivos nem os desejos de razão. O importante é aproveitar o momento e aprender sua duração, pois a vida está nos olhos de quem sabe ver.
***
http://www.chiadomagazine.com/2014/11/13-linhas-para-viver-de-gabriel-garcia.html
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=654224701327468&set=a.521743167908956.1073741828.521733241243282&type=1&theater
Uma mulher deslumbrante não é aquela que mais homens tem a seus pés mas aquela que tem apenas um que a faz realmente feliz.
Uma mulher formosa não é a mais jovem, nem a mais frágil, nem aquela que tem a pele mais sedosa ou o cabelo mais chamativo.
É aquela que com apenas um sorriso franco e aberto e um bom conselho pode alegrar-te a vida.
Uma mulher de valor não é aquela que tem mais títulos ou cargos académicos. É, sim, aquela que sacrifica os seus sonhos temporariamente para fazer os outros felizes.
Uma mulher deslumbrante não é a mais ardente mas a que vibra com o homem que ama.
Uma mulher deslumbrante não é aquela que se sente adulada, admirada, pela sua beleza e elegância.
É, sim, a mulher firme e de carácter que sabe dizer não!
E um Homem? Um homem deslumbrante é aquele que valoriza uma mulher assim!
Que se sente orgulhoso de tê-la como companheira.
Que sabe acariciá-la como um músico virtuoso toca o seu instrumento.
Que luta a seu lado compartilhando tarefas.
***
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“Um verdadeiro amigo é aquele que segura na tua mão
e toca no teu coração.”
© Mark Kostabi - Imagem
***
https://www.facebook.com/ChiadoEditora/photos/a.382949838286.161171.114614373286/10152478632863287/?type=1&theater
*
***
***
"Não é verdade que as pessoas param de perseguir os sonhos porque estão a ficar velhas, elas estão a ficar velhas porque pararam de perseguir os sonhos."
***
"É necessário abrir os olhos e perceber que as coisas boas estão dentro de nós, onde os sentimentos não precisam de motivos nem os desejos de razão. O importante é aproveitar o momento e aprender sua duração, pois a vida está nos olhos de quem sabe ver."
***
Via Marta L
«As coisas têm vida própria»,
apregoava o cigano com um sotaque áspero,
«é tudo uma questão de lhes acordar a alma.»
in Cem Anos de Solidão
****
"É necessário abrir os olhos e perceber que as coisas boas estão dentro de nós, onde os sentimentos não precisam de motivos nem os desejos de razão. O importante é aproveitar o momento e aprender sua duração, pois a vida está nos olhos de quem sabe ver."
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"Retirou uma fita da cabeceira da cama, apanhou o cabelo na nuca e suspirou, completamente acordada: "ficarei no teu sonho até à morte"
***
***
VIA CITADOR:
O Vício de LerO vício de ler tudo o que me caísse nas mãos ocupava o meu tempo livre e quase todo o das aulas. Podia recitar poemas completos do repertório popular que nessa altura eram de uso corrente na Colômbia, e os mais belos do Século de Ouro e do romantismo espanhóis, muitos deles aprendidos nos próprios textos do colégio. Estes conhecimentos extemporâneos na minha idade exasperavam os professores, pois cada vez que me faziam na aula qualquer pergunta difícil, respondia-lhes com uma citação literária ou com alguma ideia livresca que eles não estavam em condições de avaliar. O padre Mejia disse: «É um garoto afectado», para não dizer insuportável. Nunca tive que forçar a memória, pois os poemas e alguns trechos de boa prosa clássica ficavam-me gravados em três ou quatro releituras. Ganhei do padre prefeito a primeira caneta de tinta permanente que tive porque lhe recitei sem erros as cinquenta e sete décimas de «A vertigem», de Gaspar Núnez de Arce.
Lia nas aulas, com o livro aberto em cima dos joelhos e com tal descaramento que a minha impunidade só parecia possível devido à cumplicidade dos professores. A única coisa que não consegui com as minhas astúcias bem rimadas foi que me perdoassem a missa diária às sete da manhã. Além de escrever as minhas tolices, era solista no coro, desenhava caricaturas cómicas, recitava poemas nas sessões solenes e tantas coisas mais fora de horas e de lugar que ninguém entendia a que horas estudava. A razão era a mais simples: não estudava.
No meio de tanto dinamismo supérfluo, ainda não entendo por que razão os professores se interessavam tanto por mim sem barafustar com a minha má ortografia. Ao contrário da minha mãe, que escondia do meu pai algumas das minhas cartas para o manter vivo e outras mas devolvia corrigidas e às vezes com os parabéns por certos progressos gramaticais e o bom uso das palavras. Mas ao fim de dois anos não houve melhorias à vista. Hoje o meu problema continua a ser o mesmo: nunca consegui entender por que se admitem letras mudas ou duas letras diferentes com o mesmo som e tantas outras normas sem razão.
in 'Viver para Contá-la'
A Desordem da Minha Natureza(...) enfrentei pela primeira vez o meu ser natural enquanto decorriam os meus noventa anos. Descobri que a minha obsessão de que cada coisa estivesse no seu lugar, cada assunto no seu tempo, cada palavra no seu estilo, não era o prémio merecido de uma mente ordenada mas, pelo contrário, um sistema completo de simulação inventado por mim para ocultar a desordem da minha natureza. Descobri que não sou disciplinado por virtude, mas como reacção contra a minha negligência; que pareço generoso para encobrir a minha mesquinhez, que passo por prudente por ser pessimista, que sou conciliador para não sucumbir às minhas cóleras reprimidas, que só sou pontual para que não se saiba que pouco me importa o tempo alheio. Descobri, por fim, que o amor não é um estado de alma mas um signo do Zodíaco.
in 'Memória das Minhas Putas Tristes'
Tema(s): Auto-conhecimento
O Mundo AvançaO mundo avança. É verdade, disse eu, avança, mas dando voltas em torno do sol. (...) Os adolescentes da minha geração, alvoraçados pela vida, esqueceram em corpo e alma as ilusões do futuro, até que a realidade lhes ensinou que o futuro não era como o sonhavam, e descobriram a nostalgia. Ali estavam as minhas crónicas dominicais, como uma relíquia arqueológica entre os escombros do passado, e aperceberam-se que não eram só para velhos mas também para jovens que não tivessem medo de envelhecer.
in 'Memória das Minhas Putas Tristes'
Tema(s): Mundo
"Descobri que minha obsessão por cada coisa em seu lugar, cada assunto em seu tempo, cada palavra em seu estilo, não era o prêmio merecido de uma mente em ordem, mas, pelo contrário, todo um sistema de simulação inventado por mim para ocultar a desordem de minha natureza. Descobri que não sou disciplinado por virtude, e sim como reação contra a minha negligência; que pareço generoso para encobrir minha mesquinhez, que me faço passar por prudente quando na verdade sou desconfiado e sempre penso o pior, que sou conciliador para não sucumbir às minhas cóleras reprimidas, que só sou pontual para que ninguém saiba como pouco me importa o tempo alheio. Descobri, enfim, que o amor não é um estado da alma e sim um signo do Zodíaco.
(Memórias de Minhas Putas Tristes - Pg. 74)"
*
"É necessário abrir os olhos e perceber que as coisas boas estão dentro de nós, onde os sentimentos não precisam de motivos nem os desejos de razão. O importante é aproveitar o momento e aprender sua duração, pois a vida está nos olhos de quem saber ver."
Via Clementina Henriques
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https://www.facebook.com/492496770838141/photos/a.492502024170949.1073741828.492496770838141/686579418096541/?type=1&theater
Dou valor às coisas, não por aquilo que valem,
mas por aquilo que significam.
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É necessário abrir os olhos e perceber que as coisas boas estão dentro de nós, onde os sentimentos não precisam de motivos nem os desejos de razão. O importante é aproveitar o momento e aprender sua duração, pois a vida está nos olhos de quem sabe ver.
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13 Linhas Para Viver
1. Gosto de você não por quem você é, mas por quem sou quando estou contigo.
2. Ninguém merece tuas lágrimas, e quem as merece não te fará chorar.
3. Só porque alguém não te ama como você quer, não significa que este alguém não te ame com todo o seu ser.
4. Um verdadeiro amigo é quem te pega pela mão e te toca o coração.
5. A pior forma de sentir falta de alguém é estar sentado a seu lado e saber que nunca vai poder tê-lo.
6. Nunca deixes de sorrir, nem mesmo quando estiver triste, porque nunca se sabe quem pode se apaixonar por teu sorriso.
7. Pode ser que você seja somente uma pessoa para o mundo, mas para uma pessoa você seja o mundo.
8. Não passe o tempo com alguém que não esteja disposto a passar o tempo contigo.
9. Quem sabe Deus queira que você conheça muita gente errada antes que conheças a pessoa certa, para que quando afinal conheça esta pessoa saibas estar agradecido.
10. Não chores porque já terminou, sorria porque aconteceu.
11. Sempre haverá gente que te machuque, assim que o que você tem que fazer é seguir confiando e só ser mais cuidadoso em quem você confia duas vezes.
12. Converta-se em uma pessoa melhor e tenha certeza de saber quem você é antes de conhecer alguém e esperar que essa pessoa saiba quem você é.
13. Não se esforce tanto, as melhores coisas acontecem quando menos esperamos
***https://www.facebook.com/photo.php?fbid=654224701327468&set=a.521743167908956.1073741828.521733241243282&type=1&theater
Uma mulher deslumbrante não é aquela que mais homens tem a seus pés mas aquela que tem apenas um que a faz realmente feliz.
Uma mulher formosa não é a mais jovem, nem a mais frágil, nem aquela que tem a pele mais sedosa ou o cabelo mais chamativo.
É aquela que com apenas um sorriso franco e aberto e um bom conselho pode alegrar-te a vida.
Uma mulher de valor não é aquela que tem mais títulos ou cargos académicos. É, sim, aquela que sacrifica os seus sonhos temporariamente para fazer os outros felizes.
Uma mulher deslumbrante não é a mais ardente mas a que vibra com o homem que ama.
Uma mulher deslumbrante não é aquela que se sente adulada, admirada, pela sua beleza e elegância.
É, sim, a mulher firme e de carácter que sabe dizer não!
E um Homem? Um homem deslumbrante é aquele que valoriza uma mulher assim!
Que se sente orgulhoso de tê-la como companheira.
Que sabe acariciá-la como um músico virtuoso toca o seu instrumento.
Que luta a seu lado compartilhando tarefas.
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“Um verdadeiro amigo é aquele que segura na tua mão
e toca no teu coração.”
© Mark Kostabi - Imagem
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https://www.youtube.com/watch?v=72vBko2G4_w&feature=share
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"Ele ainda era demasiado jovem para saber que a memória do coração elimina as coisas más e amplia as coisas boas e que, graças a esse artifício, conseguimos suportar o peso do passado."
- O Amor nos Tempos de Cólera
Via Mafalda R
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"É necessário abrir os olhos e perceber que as coisas boas estão dentro de nós, onde os sentimentos não precisam de motivos nem os desejos de razão. O importante é aproveitar o momento e aprender sua duração, pois a vida está nos olhos de quem sabe ver."
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Via Marta L
«As coisas têm vida própria»,
apregoava o cigano com um sotaque áspero,
«é tudo uma questão de lhes acordar a alma.»
in Cem Anos de Solidão
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"Te amo não por quem tu és, mas por quem sou quando estou contigo".
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“O que você viveu ninguém rouba.”
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"Retirou uma fita da cabeceira da cama, apanhou o cabelo na nuca e suspirou, completamente acordada: "ficarei no teu sonho até à morte"
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06 de Março de 1927: Nasce o escritor colombiano Gabriel García Márquez
Escritor colombiano nascido a 6 de março de 1927 em Aracataca, um pequeno entreposto do comércio de bananas. Desde logo deixado ao cuidado dos seus avós, um coronel na reserva, ex-combatente na guerra civil, e uma apaixonada pelas tradições orais indígenas, estudou na austeridade de um colégio de jesuítas.
Terminando os seus estudos secundários, ingressou no curso de Direito da Universidade de Bogotá, mas não o chegou a concluir. Fascinado pela escrita, transferiu-se para a Universidade de Cartagena, onde recebeu preparação académica em Jornalismo. Publicou o seu primeiro conto, "La Hojarasca", em 1947. No ano seguinte, deu início a uma carreira como jornalista, colaborando com inúmeras publicações sul-americanas.
No ano de 1954 foi especialmente enviado para Roma, como correspondente
do jornal El Espectador mas, pouco tempo depois, o regime ditatorial colombiano encerrou a redação, o que contribuiu para que Márquez continuasse na Europa, sentindo-se mais seguro longe do seu país.
Em 1955 publicou o seu primeiro livro, uma coletânea de contos que já haviam aparecido em publicações periódicas, e que levou o título do mais famoso, La Hojarasca. Passando despercebida pelo olhar da crítica, a obra inclui contos que lidam compassivamente com a realidade rural da Colômbia.
Em 1967 publicou a sua obra mais conhecida, o romance Cien Años De Soledad (Cem Anos de Solidão), romance que se tornou num marco considerável no estilo denominado como realismo mágico. Em El Otoño Del Patriarca (1977), Márquez conta a história de um patriarca, cuja notícia da morte origina uma autêntica luta de poder.
Uma outra
obra tida entre as melhores do escritor é Crónica De Una Muerte Anunciada (1981, Crónica de uma Morte Anunciada), romance que descreve o assassinato de um homem em consequência da violação de um código de honra. Depois de El Amor En Los Tiempos De Cólera (1985, Amor em Tempos de Cólera), o autor publicou El General En Su Laberinto (1989), obra que conta a história da derradeira viagem de Simão Bolívar para jusante do Rio Magdalena. Em 2003, as Publicações D. Quixote editam, deste autor, Viver para Contá-la, um volume de memórias de Gabriel García Márquez onde o autor descreve parte da sua vida. Em 2005 foi publicada outra obra de sucesso Memoria de Mis Putas Tristes (Memória das Minhas Putas Tristes).
Gabriel García
Márquez foi galardoado com o Prémio Nobel da Literatura em 1982. Faleceu no dia 17 de Abril de
2014
Gabriel García Márquez. In Infopédia [Em
linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2014.
Cem
Anos de Solidão. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora,
2003-2014.
wikipedia (imagens)
Gabriel García Márquez,
2002
Cem Anos
de Solidão
Considerado o melhor romance do escritor Gabriel García Márquez, publicado pela primeira vez em 1967. Foi a obra que lançou internacionalmente o autor, tendo sido editada pelos quatro cantos do mundo.
Conta de uma forma exuberante a história da família de Buendía-Iguarán (que vivia na cidade de Macondo) durante várias gerações - as suas alegrias, vicissitudes, amores, entre outras explosões de sentimentos. Relata um universo rico em sensações que, entre outros aspetos, contribuiu para que a obra fosse enquadrada no realismo mágico.
Cem anos de Solidão,
1.ªedição
Árvore genealógica da família
Buendía
https://estoriasdahistoria12.blogspot.com/2019/03/06-de-marco-de-1927-nasce-o-escritor.html?fbclid=IwAR3FCTpxb27fZxAFn4AawijLCw6gtBrPSg7G0mLPAqfZj2FoAsOefioLN1I***
O Vício de LerO vício de ler tudo o que me caísse nas mãos ocupava o meu tempo livre e quase todo o das aulas. Podia recitar poemas completos do repertório popular que nessa altura eram de uso corrente na Colômbia, e os mais belos do Século de Ouro e do romantismo espanhóis, muitos deles aprendidos nos próprios textos do colégio. Estes conhecimentos extemporâneos na minha idade exasperavam os professores, pois cada vez que me faziam na aula qualquer pergunta difícil, respondia-lhes com uma citação literária ou com alguma ideia livresca que eles não estavam em condições de avaliar. O padre Mejia disse: «É um garoto afectado», para não dizer insuportável. Nunca tive que forçar a memória, pois os poemas e alguns trechos de boa prosa clássica ficavam-me gravados em três ou quatro releituras. Ganhei do padre prefeito a primeira caneta de tinta permanente que tive porque lhe recitei sem erros as cinquenta e sete décimas de «A vertigem», de Gaspar Núnez de Arce.
Lia nas aulas, com o livro aberto em cima dos joelhos e com tal descaramento que a minha impunidade só parecia possível devido à cumplicidade dos professores. A única coisa que não consegui com as minhas astúcias bem rimadas foi que me perdoassem a missa diária às sete da manhã. Além de escrever as minhas tolices, era solista no coro, desenhava caricaturas cómicas, recitava poemas nas sessões solenes e tantas coisas mais fora de horas e de lugar que ninguém entendia a que horas estudava. A razão era a mais simples: não estudava.
No meio de tanto dinamismo supérfluo, ainda não entendo por que razão os professores se interessavam tanto por mim sem barafustar com a minha má ortografia. Ao contrário da minha mãe, que escondia do meu pai algumas das minhas cartas para o manter vivo e outras mas devolvia corrigidas e às vezes com os parabéns por certos progressos gramaticais e o bom uso das palavras. Mas ao fim de dois anos não houve melhorias à vista. Hoje o meu problema continua a ser o mesmo: nunca consegui entender por que se admitem letras mudas ou duas letras diferentes com o mesmo som e tantas outras normas sem razão.
in 'Viver para Contá-la'
A Desordem da Minha Natureza(...) enfrentei pela primeira vez o meu ser natural enquanto decorriam os meus noventa anos. Descobri que a minha obsessão de que cada coisa estivesse no seu lugar, cada assunto no seu tempo, cada palavra no seu estilo, não era o prémio merecido de uma mente ordenada mas, pelo contrário, um sistema completo de simulação inventado por mim para ocultar a desordem da minha natureza. Descobri que não sou disciplinado por virtude, mas como reacção contra a minha negligência; que pareço generoso para encobrir a minha mesquinhez, que passo por prudente por ser pessimista, que sou conciliador para não sucumbir às minhas cóleras reprimidas, que só sou pontual para que não se saiba que pouco me importa o tempo alheio. Descobri, por fim, que o amor não é um estado de alma mas um signo do Zodíaco.
in 'Memória das Minhas Putas Tristes'
Tema(s): Auto-conhecimento
O Mundo AvançaO mundo avança. É verdade, disse eu, avança, mas dando voltas em torno do sol. (...) Os adolescentes da minha geração, alvoraçados pela vida, esqueceram em corpo e alma as ilusões do futuro, até que a realidade lhes ensinou que o futuro não era como o sonhavam, e descobriram a nostalgia. Ali estavam as minhas crónicas dominicais, como uma relíquia arqueológica entre os escombros do passado, e aperceberam-se que não eram só para velhos mas também para jovens que não tivessem medo de envelhecer.
in 'Memória das Minhas Putas Tristes'
Tema(s): Mundo
O meu problema mais importante foi destruir as linhas de demarcação que separam o que é real daquilo que parece fantástico."Tema - Escrita
"A descrença é mais resistente do que a fé, porque é sustentada pelos sentidos."Fonte - Do Amor e outros DemóniosTema - Crença
"No final, é impossível não nos tornarmos naquilo que os outros acreditam que somos."Tema - Os Outros
"A Humanidade, como um exército em campo, avança à velocidade do mais lento."Fonte - O Amor nos Tempos de CóleraTema - Humanidade
"O problema com o casamento é que este termina todas as noites depois de fazer amor, e tem que ser reconstruído todas as manhãs antes do pequeno-almoço."Tema - Casamento
"Eu não tenho um método. Tudo o que eu faço é ler muito, pensar muito, e reescrever constantemente. Não é uma coisa científica."Tema - Escrita
"O problema na vida pública é aprender a superar o terror; o problema na vida de casado é aprender a superar o tédio."Fonte - O Amor nos Tempos de CóleraTema - Casamento
"Nunca irei apaixonar-me de novo... é como ter duas almas ao mesmo tempo."Fonte - O General no Seu LabirintoTema - Amor
"Assim como os eventos reais são esquecidos, alguns que nunca existiram podem estar nas nossas memórias como se tivessem acontecido."Tema - Memória
"Pensem no amor como um estado de graça; não o meio para qualquer coisa mas o alfa e o ómega, um fim em si mesmo."Tema - Amor
"E então a escrita tornou-se tão fluída que eu às vezes me sentia como se estivesse a escrever pelo simples prazer de contar uma história, que pode bem ser a condição humana que mais se assemelha à levitação."Tema - Escrita
"Era o tempo em que eles se amavam melhor, sem pressa ou excesso, quando ambos estavam mais conscientes e gratos pelas suas incríveis vitórias sobre a adversidade. A vida iria apresentar-lhes outros desafios mortais, com certeza, mas isso já não importava: eles estavam na outra margem."Fonte - O Amor nos Tempos de CóleraTema - Amor
"Eu não sou rico. Sou um homem pobre com dinheiro, o que não é a mesma coisa."Tema - Riqueza
"Ela nunca tinha imaginado que a curiosidade era uma das muitas máscaras do amor."Fonte - O Amor nos Tempos de CóleraTema - Amor
"Nenhum medicamento cura o que a felicidade não pode."Tema - Felicidade
"Para escrever, temos de estar convencidos de que somos melhores do que Cervantes; caso contrário, acabamos por ser piores do que na realidade somos."Tema - Escrita
"Eu creio que um romance, um bom romance, é indivisível, pelo que não se pode separar o seu tema do seu estilo. Quando se pode separar, algo está a falhar."Tema - Literatura
"Não importa o quê, mas ninguém pode tirar-te as danças que já tiveste."Fonte - Memória das Minhas Putas TristesTema - Viver
"Eles eram tão próximos um do outro que preferiam a morte à separação."Fonte - Cem Anos de SolidãoTema - Amor
"Um verdadeiro amigo é aquele que segura na tua mão e toca no teu coração."Tema - Amigo
"Quando uma mulher decide dormir com um homem, não há parede que ela não escale, nenhum fortaleza que não destrua, nenhuma consideração moral que não ignore até à sua raiz: não existe nenhum Deus que valha a preocupação."Fonte - O Amor nos Tempos de CóleraTema - Amor
"Narrar é talvez o estado humano mais parecido com a levitação."Tema - Escrita
"A censura não presta para nada, já se sabe. Mas o bom escritor deve convencer até os censores."Tema - Literatura
"Desconcerta-me tanto pensar que Deus existe como que não existe."Tema - Deus
"Todos os seres humanos têm três vidas: a pública, a privada, e a secreta."Tema - VIDA
"Aquele que não tem memória arranja uma de papel."Tema - Memória
"Lembra-te sempre que a coisa mais importante num bom casamento não é a felicidade, mas a estabilidade."Fonte - O Amor nos Tempos de CóleraTema - Casamento
"A criação intelectual, o mais misterioso e solitário dos ofícios humanos."Tema - Intelectual
"Aquele que espera muito pode esperar pouco."Tema - Expectativa
"Uma mentira é mais confortável que a dúvida, mais útil que o amor, mais duradoura que a verdade."Tema - Mentira
"Para mim é suficiente ter a certeza que tu e eu existimos neste momento."Fonte - Cem Anos de SolidãoTema - Amor
"A vida de uma pessoa não é o que lhe acontece, mas aquilo que recorda e a maneira como o recorda."Tema - Vida
"O mais importante que aprendi a fazer depois dos quarenta anos foi a dizer não quando é não."Tema - Idade
"O segredo de uma velhice agradável consiste apenas na assinatura de um honroso pacto com a solidão."Fonte - Cem Anos de SolidãoTema - Velhice
"Um único minuto de reconciliação vale mais do que toda uma vida de amizade."Fonte - Cem Anos de SolidãoTema - Amizade
"Ninguém merece as tuas lágrimas, mas quem quer que as mereça não te vai fazer chorar."Tema - Lágrimas
"A vida não é mais do que uma contínua sucessão de oportunidades para sobreviver."Tema - Vida
"Ele ainda era demasiado jovem para saber que a memória do coração elimina as coisas más e amplia as coisas boas, e que graças a esse artifício conseguimos suportar o peso do passado."Fonte - O Amor nos Tempos de CóleraTema - Memória
"A sabedoria é algo que quando nos bate à porta já não nos serve para nada."Tema - Sabedoria
"Não é verdade que as pessoas param de perseguir os sonhos porque estão a ficar velhas, elas estão a ficar velhas porque pararam de perseguir os sonhos."Tema - Sonho
"Não se é de parte nenhuma enquanto não se tem um morto debaixo da terra."Tema - Pátria***http://www.tsf.pt/PaginaInicial/Vida/Interior.aspx?content_id=3810345&page=-1