20/08/2014

8.592.(20ag2014.10.50') Leon Tolstoi

Nasceu a 9set1928
e morreu a 20nov1910
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esta de León dá para 1 bela tertúlia...
"A Escola deixará de ser talvez, tal como nós a compreendemos, com estrados, bancos, carteiras: será, talvez, um teatro, uma biblioteca, um museu, uma conversa." León Tolstoi
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=105098346176927&set=a.101373709882724.3060.100000302868790&type=3&theater
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20noVEMbro2011!!!
Cláudia Cláudio para Rogério Manuel Madeira Raimundo
Abração!
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Em vão, centenas de milhares de homens, amontoados num pequeno espaço, se esforçavam por desfigurar a terra em que viviam.
Em vão, a cobriam de pedras para que nada pudesse germinar;
em vão arrancavam as ervas tenras que pugnavam por irromper;
 em vão impregnavam o ar de fumaça;
em vão escorraçavam os animais e os pássaros
- Em vão... porque até na cidade, a primavera é primavera.
—  em "Ressurreição"
A felicidade é estar com a natureza, ver a natureza e conversar com ela.
—  em "Os Cossacos"
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Anna Karenina (1948) (Drama Filme)

Filme Completo
https://www.youtube.com/watch?v=nI6qoPyAQL8
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GUERRA E PAZ

War and Peace - 2007 - Legendado - Episódio 2

 https://www.youtube.com/watch?v=KzXKq4soYL8
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Guerra e Paz de 1968 - Terceira parte

 https://www.youtube.com/watch?v=gli7zJhhukg
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jan2016
RTP1 lança nova série da GUERRA e PAZ

http://www.dn.pt/media/interior/guerra-e-paz-primeiro-em-portugal-e-depois-no-mundo-4976806.html
A produção da BBC estreia-se esta noite na RTP1, apenas semana e meia após o seu arranque em Inglaterra. Com argumento de Andrew Davies, é composta por oito episódios
Qualquer coisa como 2,72 milhões de euros por episódio. Os valores que envolvem a produção de Guerra e Paz, adaptação pela BBC do romance homónimo de Leon Tolstói, são extraordinários para uma produção europeia. Esta minissérie, cujas emissões arrancaram no dia 3 no Reino Unido - tendo sido acompanhada por seis milhões de espectadores -, chega esta noite à RTP1, fazendo que Portugal seja o primeiro país estrangeiro a emiti-la.
Com argumento de Andrew Davies, o mesmo que escreveu os sucessos televisivos House of Cards e Orgulho e Preconceito, esta Guerra e Paz é interpretada por Aneurin Barnard, Jessie Buckley e Paul Dano e chega ao pequeno ecrã 44 anos depois de Anthony Hopkins ter protagonizado a mesma história em televisão. Aliás, a série a que Hopkins deu vida em 1972 é a mais conhecida adaptação do romance publicado entre 1865 e 1869 numa revista.
Para contar a história de cinco famílias da aristocracia russa - com destaque para três delas - durante a época napoleónica, mais precisamente durante a invasão da Rússia pelas tropas de Napoleão, Andrew Davies - que revelou em entrevista à BBC nunca ter lido a obra até lhe ter sido sugerido este projeto - adiantou que não se sentiu nunca "apavorado" por ter de passar a formato de minissérie aquela que é uma das mais volumosas da história da literatura.
"Falámos bastante sobre isso e concluímos que seis episódios seria o mínimo. Não acredito que alguém vá sentir que contamos a história [ambientada entre os anos de 1905 e 1912] de forma apressada", frisou o argumentista. Estruturar a trama também "não foi complicado" e Davies garante que se manteve fiel à original. "Não senti necessidade de alterar o que quer que fosse de Guerra e Paz. Ocasionalmente, escrevi uma ou outra coisa que Tolstói se esqueceu de escrever", brincou.
Letónia, Lituânia e Rússia foram os locais escolhidos para as filmagens da minissérie realizada por Tom Harper e que convenceu a crítica. "De tirar a respiração" para Ben Lawrence do The Telegraph ou "difícil de imaginar como a BBC poderia ter feito melhor" para Viv Groskop do The Guardian juntam-se a elogios como o que foi feito pelo The Independent: "A BBC decidiu tomar medidas arrojadas para ter a certeza de que esta adaptação é, ao mesmo tempo, controversa e memorável. A perspetiva arriscada da história de Tolstói faz dela uma vencedora."
Depois da estreia em Inglaterra e hoje em Portugal, a minissérie, que conta com participações de Gillian Anderson, Rebecca Front e Stephen Rea, ruma aos EUA para ser vista, simultaneamente, nos canais A&E, Lifetime e História (a partir de dia 18), e ainda à Austrália, Suécia, Dinamarca, Grécia, Luxemburgo e Israel, entre outros países.
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via Maria Sobral Velez
 https://www.facebook.com/photo.php?fbid=4906231548200&set=a.3570654199601.116701.1670376265&type=3&theater
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"Só seremos universais se conhecermos e amarmos nossa aldeia." 
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Se tiveres a sensação de que não és livre, procure a razão dentro de ti mesmo.
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"A Escola deixará de ser talvez, tal como nós a compreendemos, com estrados, bancos, carteiras: será, talvez, um teatro, uma biblioteca, um museu, uma conversa."
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(via Maria Elisa Ribeiro)

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"A Liberdade Nunca é Real
Se examinarmos um indivíduo isolado sem o relacionarmos com o que o rodeia, todos os seus actos nos parecem livres. Mas se virmos a mínima relação entre esse homem e quanto o rodeia, as suas relações com o homem que lhe fala, com o livro que lê, com o trabalho que está fazendo, inclusivamente com o ar que respira ou com a luz que banha os objectos à sua roda, verificamos que cada uma dessas circunstâncias exerce influência sobre ele e guia, pelo menos, uma parte da sua actividade. E quantas mais influências destas observamos mais diminui a ideia que fazemos da sua liberdade, aumentando a ideia que fazemos da necessidade a que está submetido.
(...) A gradação da liberdade e da necessidade maiores ou menores depende do lapso de tempo maior ou menor desde a realização do acto até à apreciação desse mesmo acto. Se examino um acto que pratiquei há um minuto em condições quase as mesmas em que me encontro actualmente, esse acto parece-me absolutamente livre. Mas se aprecio um acto realizado há um mês, ao encontrar-me em circunstâncias diferentes, a meu pesar, se não tivesse realizado esse acto, não existiriam muitas coisas inúteis, agradáveis e necessárias que derivam dele. Se me translado com a memória a um acto mais remoto, a um acto de há dez anos ou mesmo mais, então as suas consequências ainda se me apresentarão mais evidentes e ser-me-á difícil representar-me seja o que for, caso aquele acto remoto nunca tivesse existido.
Quanto mais retroceder na minha memória, ou, o que vem a dar na mesma, quanto mais projectar no futuro o meu juízo, tanto mais duvidosos me parecerão os meus raciocínios acerca da liberdade do acto realizado.
 in 'Guerra e Paz'
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"O Homem não é Sempre Igual
Um dos preconceitos mais conhecidos e mais espalhados consiste em crer que cada homem possui como sua propriedade certas qualidades definidas, que há homens bons ou maus, inteligentes ou estúpidos, enérgicos ou apáticos, e assim por diante. Os homens não são feitos assim. Podemos dizer que determinado homem se mostra mais frequentemente bom do que mau, mais frequentemente inteligente do que estúpido, mais frequentemente enérgico do que apático, ou inversamente; mas seria falso afirmar de um homem que é bom ou inteligente, e de outro que é mau ou estúpido. No entanto, é assim que os julgamos. Pois isso é falso. Os homens parecem-se com os rios: todos são feitos dos mesmos elementos, mas ora são estreitos, ora rápidos, ora largos, ora plácidos, claros ou frios, turvos ou tépidos."
 in "Ressurreição"
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09 de Setembro de 1828: Nasce o escritor russo Leon Tolstoi, autor de "Anna Karenina" e "Guerra e Paz"

O conde Lev Nikolaievitch Tolstoi nasceu a 09 de setembro de 1828, em Isnaia Poliana, na Rússia central. Os seu pais pertenciam a famílias distintas da nobreza russa. Órfão bastante cedo, é colocado com os seus irmãos sob a tutela de familiares. Sentindo necessidade de uma vida regrada, segue a carreira militar, o que não o impede de publicar várias narrativas autobiográficas. Infância, o seu primeiro trabalho, aparece na revista O Contemporâneo, em 1852. Seguem-se Adolescência (1854) e Juventude (1855). Entre 1852 e 1856 publica igualmente narrativas sobre as suas experiências militares. Estas novelas trazem-lhe a celebridade. Defende os valores da autenticidade, do natural, presentes na vida dos camponeses, em oposição aos valores artificiais das classes privilegiadas. Posiciona-se como um liberal moderado, o que não o impede de se colocar a favor da abolição da servidão dos camponeses e desenvolve mesmo métodos pedagógicos de educação popular. Em 1862 casa-se com Sofia Andreevna Bers e instala-se na sua propriedade em Isnaia Poliana. Termina Os Cossacos em 1863 e nesse mesmo ano inicia o projeto de Guerra e Paz (1863-69). Para o autor, não são os grandes nomes que fazem a História e que comandam os acontecimentos; é ao povo, enquanto guardião da verdade e fiel aos seus instintos, que compete representar o papel principal no desenrolar dos factos históricos. O romance Ana Karenine (1873-77) relata o amor trágico de uma mulher sob fundo de emancipação feminina e de mudanças sociais profundas. Nos anos seguintes, uma grave crise moral e psicológica, relatada no ensaio Confissão (1879), leva-o a encetar uma busca da essência da mensagem espiritual, resumida nos princípios cristãos de amor a Deus e ao próximo. A rutura com a Igreja será irreversível em 1901, com a sua excomunhão, o que não deixa de o tornar popular entre a juventude intelectual. Entretanto, nos últimos romances, a condição humana é analisada através de uma lucidez sombria; o ser humano só pode resgatar-se pela conversão espiritual. A Morte de Ivan Ilitch (1886), A Sonata a Kreutzer (1890), Ressurreição (1889-99) e Hadji Mourat (1890-1904) fazem parte deste período. Escreve igualmente ensaios em que condena as sociedades modernas baseadas na procura do supérfluo e evidencia uma exigência moral que resultará num conflito interior extremo. É alvo de todas as atenções quando apenas procura a simplicidade e a renúncia. A sua autoridade, a celebridade que conquistou, tornam-se um obstáculo à sua questa espiritual. Em fuga, acaba por encontrar a morte a 20 de novembro de 1910, na estação de caminhos de ferro de Astapovo.

Leão Tolstoi. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2012.
Fonte Fotografia: Wikipédia



Tolstoi com 20 anos

Única fotografia a cores de Tolstoi, em Yasnaya Polyana (1908).
 https://estoriasdahistoria12.blogspot.com/2018/09/09-de-setembro-de-1828-nasce-o-escritor.html
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Via Citador

http://www.citador.pt/frases/citacoes/a/lev-tolstoi "Um homem é uma fracção cujo numerador corresponde ao que ele é, enquanto o denominador é o que acredita ser."
"Há quem passe pelo bosque e apenas veja lenha para a fogueira."
"Os homens distinguem-se entre si também neste caso: alguns primeiro pensam, depois falam e, em seguida, agem; outros, ao contrário, primeiro falam, depois agem e, por fim, pensam."
"A mulher é uma substância tal, que, por mais que a estudes, sempre encontrarás nela alguma coisa totalmente nova."
"As famílias felizes parecem-se todas; as famílias infelizes são infelizes cada uma à sua maneira."
"Há pessoas que, ainda que pretendam ocultá-lo, perseguem um fim distinto das outras. A sua atitude perante a vida denuncia-os."
"O homem não tem poder sobre nada enquanto tem medo da morte. E quem não tem medo da morte possui tudo."
"A sabedoria com as coisas da vida não consiste, ao que me parece, em saber o que é preciso fazer, mas em saber o que é preciso fazer antes e o que fazer depois."
"Dizer que se vai amar uma pessoa a vida toda é como dizer que uma vela continuará a queimar enquanto vivermos."
"Em arte tudo está naquele 'nada'."
"A ciência, que devia ter por fim o bem da humanidade, infelizmente concorre na obra de destruição e inventa constantemente novos meios de matar o maior número de homens no tempo mais curto."
"Mas a verdade é que não só nos países autocráticos como naqueles supostamente livres - como a Inglaterra, a América, a França e outros - as leis não foram feitas para atender à vontade da maioria, mas sim à vontade daqueles que detêm o poder."
"Deve valorizar-se a opinião dos estúpidos: são a maioria."
"Difícil é amar uma mulher e simultaneamente fazer alguma coisa com juízo."
"A fé é a força da vida. Se o homem vive é porque acredita em alguma coisa."
"Aquilo que foi e que será, e até mesmo aquilo que é, não somos capazes de saber, mas quanto àquilo que devemos fazer, não apenas somos capazes de saber, como também o sabemos sempre, e somente isso nos é necessário."
"A tristeza pura é tão impossível como a alegria pura."
"Compreender tudo, é tudo perdoar."
"Não é possível ser bom pela metade."
"Falar mal dos outros agrada tanto às pessoas que é muito difícil deixar de condenar um homem para comprazer os nossos interlocutores."
"O lugar que ocupamos é menos importante do que aquele para o qual nos dirigimos."
"'O que fazer?', é o que se perguntam, em unanimidade, os poderosos e os subjugados, os revolucionários e os activistas sociais, entendendo sempre com essa questão o que os outros devem fazer; ninguém se pergunta quais são as suas próprias obrigações."
"Imaginamos muitas vezes que a beleza é sinónimo do bem. Uma mulher bela diz coisas estúpidas e nós acreditamos que são coisas inteligentes. Comporta-se como uma tonta e só reparamos no seu feitiço."
"O mal não pode vencer o mal. Só o bem pode fazê-lo."
"Cada um viveu tanto, quanto amou."
"O cristianismo, no seu verdadeiro significado, destrói o Estado."
"Querer saber - o que parece tão difícil - se não é errado, entre tantos seres vivos que praticam a violência, ser o único ou um dos poucos não violentos, não é diferente de querer saber se seria possível ser sóbrio entre tantos embriagados, e se não seria melhor que todos começassem logo a beber."
"O tempo e a paciência são dois eternos beligerantes."
"Devíamos sempre casar-nos da mesma maneira que se morre: só quando é impossível fazer outra coisa."
"A mais potente das armas da ignorância é a difusão do papel impresso."
"Se você quer ser feliz, seja."
"Compreender a dificuldade dos outros é perdoar."
"Não alcançamos a liberdade buscando a liberdade, mas sim a verdade. A liberdade não é um fim, mas uma consequência."
"O único consolo que sinto ao pensar na inevitabilidade da minha morte é o mesmo que se sente quando o barco está em perigo: encontramo-nos todos na mesma situação."
"A condição essencial para a felicidade é ser humano e dedicado ao trabalho."
"O segredo da felicidade não é fazer sempre aquilo que queremos, mas querer sempre o que se faz."
"A mulher que não sabe ser feliz em casa não será nunca feliz."
"O dinheiro representa uma nova forma de escravidão impessoal, em lugar da antiga escravidão pessoal."
"A arte é um dos meios que une os homens."
"A arte é uma forma da actividade humana pela qual seres privilegiados podem comunicar a outros sensações e sentimentos que eles próprios experimentaram."
"Quem pratica a bondade não tem nada de seu."
"A piedade é uma das mais preciosas faculdades da alma humana."
"Eu escrevo livros, por isso sei todo o mal que eles fazem."
"Os que se chamam grandes homens são etiquetas que dão o seu nome aos acontecimentos históricos; e assim como as etiquetas, não têm relação com esses acontecimentos."
"O estilo nem por sombra corresponde a um simples culto da forma, mas, muito longe disso, a uma particular concepção da arte e, mais em geral, a uma particular concepção da vida."
"A arte deve ser um órgão moral da vida humana."
"É perigoso dar um conselho que possa provocar sentimentos adversos."
"O único fim dos tribunais é o de manter a sociedade no seu estado actual."
"Na vida só há um modo de ser feliz. Viver para os outros."
 "O amor começa quando uma pessoa se sente só e termina quando uma pessoa deseja estar só."
"A alegria de fazer o bem é a única felicidade verdadeira."
"O homem ama, porque o amor é a essência da sua alma. Por isso não pode deixar de amar."
"A verdadeira felicidade está na própria casa, entre as alegrias da família."** in "Guerra e Paz" 


 

 

 

A Vida Pessoal e a Vida Social

Na vida de cada homem há dois aspectos: a vida pessoal, tanto mais livre quanto mais restritos são os seus interesses, e a vida geral, social, em que o homem obedece inevitávelmente a leis prescritas.
O homem vive constantemente para si próprio, mas serve de instrumento inconsciente aos fins históricos da humanidade. O acto realizado é imparável e, concordando, no tempo, com milhões de actos realizados por outros homens, adquire a sua importância histórica. Tanto mais elevado é o homem na escala social quanto mais ligado se encontra aos homens superiores, quanto mais poder tem sobre os outros, mais evidentes são a predestinação e a fatalidade de cada uma das suas acções. 
**
 in "Ana Karenina"


A Essência de Nós não Está na Razão

"Que teria sido de mim, que teria sido da minha vida se não fossem essas crenças, se não soubesse que é preciso viver para Deus e não para as minhas necessidades? Teria roubado, teria matado, teria mentido. Nenhuma das principais alegrias da minha vida teria podido existir para mim". E por mais esforços mentais que fizesse, não conseguia ver-se a si próprio como o ser bestial que teria sido, caso não soubesse para que vivia. "Buscava resposta à minha pergunta. Mas o pensamento não me podia responder, pois o pensamento não pode medir-se com a pergunta. A própria vida se encarregou de me responder graças ao conhecimento do bem e do mal".

"E esse conhecimento não o adquiri através de coisa alguma, foi-me outorgado, como a todos os demais, visto que o não pude encontrar em parte alguma. De onde o soube? Porventura foi através do raciocínio que eu cheguei à conclusão de que é preciso amar o próximo e não lhe fazer mal? Disseram-me na infância e acreditei-o com alegria, pois trazia-o na alma. E quem o descobriu? A razão, não. A razão descobriu a luta pela existência e a lei, que exige que se eliminem todos quantos nos impedem de satisfazer os nossos desejos. Esta a dedução do raciocínio, que não pode descobrir que se deve amar o próximo, pois amar o próximo não é razoável". 
*


O Sentido da Vida Está em Cada um de Nós

'Vejamos, que vem a ser isto que me perturba?', perguntou Levine a si próprio, sentindo, no fundo da sua alma, a solução para as suas dúvidas, embora ainda não soubesse qual fosse. 'Sim, a única manifestação evidente e indiscutível da divindade está nas leis do bem, expostas ao mundo pela revelação que sinto dentro de mim e me identifica, quer queira quer não, com todos aqueles que como eu as reconhecem. É esta congregação de criaturas humanas comungando na mesma crença que se chama Igreja. Mas o judeus, os muçulmanos, os budistas, os confuccionistas?', disse para si mesmo, repisando o ponto delicado. 'Estarão eles entre milhões de homens privados do maior de todos os benefícios, do único que dá sentido à vida?... Ora vejamos', continuou, após alguns instantes de reflexão, 'qual é o problema que eu a mim mesmo estou a pôr? O das relações das diversas crenças da humanidade com a Divindade? É a revelação de Deus no Universo, com os seus astros e as suas nebulosas, que eu pretendo sondar. E é no momento em que me é revelado um saber certo inacessível à razão que eu me obstino em recorrer à lógica!

'Eu bem sei que as estrelas não caminham', prosseguiu, notando a mudança que se operara na posição de um planeta que subia por detrás de uma bétula. No entanto, incapaz de imaginar a rotação da Terra, ao ver as estrelas mudarem de lugar, tenho razão quando digo que elas caminham. Teriam os astrónomos chegado a compreender tudo isto, teriam chegado a calcular alguma coisa se porventura houvessem tomado em consideração movimentos da Terra tão variados e complicados? As surpreendentes conclusões a que eles chegaram sobre a distância, o peso, o movimento e as revoluções dos corpos celestes não terão por ponto de partida os movimentos aparentes dos astros em torno da Terra imóvel, estes mesmos movimentos de que eu sou testemunha, como milhões de homens o foram e o serão durante séculos e que sempre podem vir a ser verificados? Pela mesma razão que as conclusões dos astrónomos seriam vãs e inexactas se não fossem deduzidas das observações do céu aparente, em relação a um único meridiano e a um único horizonte, também as minhas deduções metafísicas se veriam privadas de sentido se eu as não fundamentasse neste conhecimento do bem inerente ao coração de todos os homens e de que eu tive, pessoalmente, a revelação, graças ao cristianismo, e que sempre me será dado verificar na minha alma. As relações das outras crenças com Deus continuarão para mim insondáveis, e eu não tenho direito de as perscrutar.

(...) 'Este segredo só tem importância para mim, e palavra alguma o poderia explicar. Este novo sentimento não me modificou, não me deslumbrou, nem me tornou feliz, como eu supunha. Sucedeu a mesma coisa com o amor paternal, que não foi acompanhado de surpresa ou de deslumbramento. Devo chamar-lhe fé? Não sei. Sei apenas que me penetrou na alma através do sofrimento e nela se implantou com toda a firmeza. Continuarei, sem dúvida, a impacientar-me com o meu cocheiro Ivan, a discutir inutilmente, a exprimir mal as minhas próprias ideias. Sentirei sempre uma barreira entre o santuário da minha alma e a alma dos outros, mesmo a da minha própria mulher. Sempre tornarei Kitty responsável dos meus terrores, arrependendo-me logo em seguida. Continuarei a rezar sem saber porque rezo. Que importa! A minha vida não estará mais à mercê dos acontecimentos, cada minuto da minha vida terá um sentido incontestável. Agora possuirá o sentido indubitável do bem que eu sou capaz de difundir!' 
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As Decisões Nas Famílias

As decisões nas famílias ou se tomam no caso de um perfeito acordo entre os cônjuges ou, então, quando existe uma separação completa entre eles. Se as relações entre eles flutuam entre os dois extremos nada é possível decidir. Muitos casais levam anos e anos numa espécie de ponto-morto, incómodo para ambos, só porque não existe entre eles nem acordo nem separação absoluta. 
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O Que Sou e o Que Faço Neste Mundo

Involuntariamente, inconscientemente, nas leituras, nas conversas e até junto das pessoas que o rodeavam, procurava uma relação qualquer com o problema que o preocupava. Um ponto o preocupava acima de tudo: por que é que os homens da sua idade e do seu meio, os quais exactamente como ele, pela sua maior parte, haviam substituído a fé pela ciência, não sofriam por isso mesmo moralmente? Não seriam sinceros? Ou compreendiam melhor do que ele as respostas que a ciência proporciona a essas questões perturbadoras? E punha-se então a estudar, quer os homens, quer os livros, que poderiam proporcionar-lhe as soluções tão desejadas.
(...) Atormentado constantemente por estes pensamentos, lia e meditava, mas o objectivo perseguido cada vez se afastava mais dele. Convencido de que os materialistas nenhuma resposta lhe dariam, relera, nos últimos tempos da sua estada em Moscovo, e depois do seu regresso à aldeia, Platão e Espinosa, Kant e Schelling, Hegel e Schopenhauer. Estes filósofos satisfaziam-no enquanto se contentavam em refutar as doutrinas materialistas e ele próprio encontrava então argumentos novos contra elas; mas, assim que abordava - quer através das leituras das suas obras, quer através dos raciocínios que estas lhe inspiravam - a solução do famoso problema, sucedia-lhe sempre a mesma coisa. Termos imprecisos, tais como "espírito", "vontade", "liberdade", "substância", ofereciam um certo significado à sua inteligência enquanto se deixava envolver na subtil armadilha verbal que lhe armavam; logo que regressava, porém, depois de uma incursão na vida real, a este edifício que supusera sólido, ei-lo que via desmoronar-se como um castelo de cartas, vendo-se obrigado a reconhecer que o edificara graças a uma perpétua transposição dos mesmos vocábulos, sem recorrer a essa "qualquer coisa", que, na prática da vida, importa mais do que a razão.

Schopenhauer proporcionou-lhe dois ou três dias de serenidade, mercê da substituição a que procedeu em si próprio da palavra "amor" por aquilo a que o filósofo chamava "vontade". Quando o examinou, porém, do ponto de vista prático, esse novo sistema estiolou-se como todos os outros, mero trajo de musselina que era no fundo. Como Sérgio Ivanovitch lhe tivesse recomendado os escritos teológicos de Komiakov, foi ler o segundo volume das suas obras. Embora desanimado logo de início pelo sentido polémico e afecetado do autor, nem por isso deixou de se sentir menos impressionado com a sua teoria da Igreja. A crer em Komiakov, o conhecimento das verdades divinas, recusado a um homem só, é concedido a um conjunto de pessoas que comungam do mesmo amor, isto é, a Igreja. Esta teoria reanimou Levine; uma vez que aceitasse a Igreja, instituição viva de carácter universal, com Deus à frente, e santa infalível por conseguinte, era-lhes mais fácil aceitar os seus ensinamentos sobre Deus, a criação, a queda, a redenção, que principiar do princípio, pelo próprio Deus, esse ser longínquo e misterioso. Infelizmente, tendo lido em seguida duas histórias eclesiásticas, uma de um escritor católico, outra de um escritor ortodoxo, chegou à conclusão de que as duas Igrejas, ambas infalíveis na sua essência, se repudiavam mutuamente. E a doutrina teológica de Komiakov não resistiu mais ao seu exame que os sistemas filosóficos.

Durante toda aquela Primavera, Levine parecia outra pessoa. Viveu momentos terríveis. "Não posso viver sem saber o que sou e com que fim fui lançado a este mundo", dizia ele de si para consigo. "E visto que não poderei chegar a sabê-lo, torna-se-me impossível viver. No tempo infinito, na infinidade da matéria, no espaço infinito forma-se um organismo como uma borbulha, mantém-se por algum tempo, depois rebenta. Essa borbulha sou eu!" Este sofisma doloroso era o único, era o supremo resultado do raciocínio humano levado a cabo durante séculos; era a crença final da base de quase todos os ramos da actividade científica; era a convicção reinante.
E porque lhe parecia a mais clara, Levine, involuntariamente, deixara-se penetrar por ela. Mas esta conclusão parecia-lhe mais que sofística; via nela como que a obra cruelmente irrisória de uma força inimiga a que era preciso subtrair-se. A maneira de se emancipar disso estava ao alcance de cada um... E a tentação do suicídio perseguiu tão frequentemente aquele homem sadio, aquele feliz pai de família, que tratou de afastar de si todas as cordas e nem sequer se atrevia a sair com a espingarda. Contudo, em vez de se enforcar ou de quimar os miolos, continuaria muito simplesmente a viver. 
**


in "Ressurreição"
O Homem não é Sempre IgualUm dos preconceitos mais conhecidos e mais espalhados consiste em crer que cada homem possui como sua propriedade certas qualidades definidas, que há homens bons ou maus, inteligentes ou estúpidos, enérgicos ou apáticos, e assim por diante. Os homens não são feitos assim. Podemos dizer que determinado homem se mostra mais frequentemente bom do que mau, mais frequentemente inteligente do que estúpido, mais frequentemente enérgico do que apático, ou inversamente; mas seria falso afirmar de um homem que é bom ou inteligente, e de outro que é mau ou estúpido. No entanto, é assim que os julgamos. Pois isso é falso. Os homens parecem-se com os rios: todos são feitos dos mesmos elementos, mas ora são estreitos, ora rápidos, ora largos, ora plácidos, claros ou frios, turvos ou tépidos. *

Há Muitas Religiões, Mas o Espírito é Único 

- Que religião é a tua? - perguntou um homem de certa idade, que estava num extremo da balsa, junto do seu carro. 

- Não tenho nenhuma religião. Porque não creio em ninguém mais do que em mim mesmo - replicou o velho com ar resoluto. 
- Como pode uma pessoa crer em si mesma ? Pode enganar-se - objectou Nekliudov, intervindo na conversa. 
- Nunca! - exclamou o velho abanando a cabeça. 
- Porque há então diferentes religiões ?- interrogou Nekliudov. 
- Porque as pessoas crêem precisamente nessas religiões e não crêem em si mesmas. Também eu acreditei nos outros e perdi-me como numa floresta. Estava tão confuso que julguei não poder mais encontrar o caminho. Conheci múltiplas religiões diferentes. Todas se louvam a si mesmas. Todas se foram propagando, tal como uns carneiros cegos arrastam outros consigo. Há muitas religiões, mas o espírito é único. É o mesmo em ti, em vós e em mim. Assim, pois, cada um de nós tem de acreditar no seu espírito, e deste modo todos estamos unidos. 
*

As Nossas Ideias Ou As Dos Outros

Todos os homens vivem e agem, em parte, segundo as suas próprias ideias e, em parte, segundo as ideias alheias. Uma das principais diferenças que existem entre os seres humanos consiste na medida em que se inspiram nas suas próprias ideias ou nas dos seus semelhantes. Uns limitam-se a servir-se das suas ideias como de um jogo intelectual, usam a razão como a roda de uma máquina da qual houvessem tirado a correia transmissora, submetendo os actos às ideias dos outros, ou seja, aos seus costumes, tradições e leis. Outros consideram que as suas ideias constituem o principal motor da actividade que desenvolvem e quase sempre obedecem às exigências da sua razão. Só de vez em quando, depois de uma apreciação crítica, se guiam pelas normas dos outros.
** in "Sonata a Kreutzer"

A Falsa Emancipação da Mulher

Actualmente, tem-se a pretensão de que a mulher é respeitada. Uns cedem-lhe o lugar, apanham-lhe o lenço: outros reconhecem-lhe o direito de exercer todas as funções, de tomar parte na administração, etc.; mas a opinião que têm dela é sempre a mesma - um instrumento de prazer. E ela sabe-o. Isso em nada difere da escravatura. A escravatura mais não é do que a exploração por uns do trabalho forçado da maioria. Assim, para que deixe de haver escravatura é necessário que os homens cessem de desejar usufruir o trabalho forçado de outrem e considerem semelhante coisa como um pecado ou vergonha. Entretanto, eles suprimem a forma exterior da escravatura, depois imaginam, persuadem-se de que a escravatura está abolida mas não vêem, não querem ver que ela continua a existir porque as pessoas procedem sempre de maneira idêntica e consideram bom e equitativo aproveitar o trabalho alheio. E desde que isso é julgado bom, torna-se inveitável que apareçam homens mais fortes ou mais astutos dispostos a passar à acção. A escravatura da mulher reside unicamente no facto de os homens desejarem e julgarem bom utilizá-la como instrumento de prazer. Hoje em dia, emancipam-na ou concedem-lhe todos os direitos iguais aos do homem, mas continua-se a considerá-la como um instrumento de prazer, a educá-la nesse sentido desde a infância e por meio da opinião pública. Por isso ela continua uma escrava, humilhada, pervertida, e o homem mantém-se um corruptor possuidor de escravos. 
*A Vida Vazia da CidadeInstalámo-nos, portanto, na cidade. Aí toda a vida é suportável para as pessoas infelizes. Um homem pode viver cem anos na cidade, sem dar por que morreu e apodreceu há muito. Falta tempo para o exame de consciência. As ocupações, os negócios, os contactos sociais, a saúde, as doenças e a educação das crianças preenchem-nos o tempo. Tão depressa se tem de receber visitas e retribuí-las, como se tem de ir a um espectáculo, a uma exposição ou a uma conferência. 
De facto, na cidade aparece a todo o momento uma celebridade, duas ou três ao mesmo tempo que não se pode deixar de perder. Tão depressa se tem de seguir um regime, tratar disto ou daquilo, como se tem de falar com os professores, os explicadores, as governantas. A vida torna-se assim completamente vazia.