15/09/2014

8.706.(15set2014.55') Bocage

Nasceu a 15set1765
e morreu a 21dez1805
***
https://www.facebook.com/559343457434706/photos/a.559507790751606.1073741828.559343457434706/905205666181815/?type=1&theater
Manuel Maria Barbosa du BOCAGE
“Vós suspirais pela posse 
Das externas perfeições; 
Vós cobiçais os deleites, 
Eu cobiço os corações.” 
© Kirby Trapolino - Imagem
http://www.publico.pt/local/noticia/setubal-vai-celebrar-durante-um-ano-dois-seculos-e-meio-de-bocage-1707535

***
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1231768150173085&set=a.104671869549391.10003.100000197344912&type=3&theater
Nascemos para Amar

Nascemos para amar; a Humanidade 
Vai, tarde ou cedo, aos laços da ternura. 
Tu és doce atractivo, ó Formosura, 
Que encanta, que seduz, que persuade. 

Enleia-se por gosto a liberdade; 
E depois que a paixão na alma se apura, 
Alguns então lhe chamam desventura, 
Chamam-lhe alguns então felicidade. 

Qual se abisma nas lôbregas tristezas, 
Qual em suaves júbilos discorre, 
Com esperanças mil na ideia acesas. 

Amor ou desfalece, ou pára, ou corre: 
E, segundo as diversas naturezas, 
Um porfia, este esquece, aquele morre. 

 in 'Sonetos' 

***

15 de Setembro de 1765: Nasce, em Setúbal, o poeta Manuel Maria Barbosa du Bocage

Considerado por muitos autores como o mais completo poeta do nosso século XVIII, Manuel Maria Barbosa du Bocage, filho de um advogado e de uma senhora francesa de quem herdou o último apelido, nasceu a 15 de setembro de 1765, em Setúbal, e morreu a 21 de dezembro de 1805, em Lisboa. Aos 16 anos assentou praça na Infantaria de Setúbal, mas em 1783 alistou-se na Academia Real da Marinha. Em Lisboa, participou na vida boémia e literária e começou a ganhar fama devido à sua veia de poeta satírico. Em 1786 embarcou para a Índia, chegando a ser promovido a tenente; em 1789 aventurou-se a ir a Macau e logo no ano seguinte regressou a Portugal. Em Lisboa encontrou a amada Gestrudes (em poesia Gestúria) casada com o seu irmão. Infeliz no amor, sem carreira e com dificuldades financeiras, dedicou-se à vida boémia e à poesia, tendo publicado, em 1791, o primeiro volume de Rimas . Aderiu então à Nova Arcádia (ou Academia de Belas Letras) onde recebeu o nome de Elmano Sadino. No entanto, Bocage, pela sua instabilidade e irreverência, não se adaptou ao convencionalismo arcádico e abriu conflitos com os seus confrades, sendo expulso em 1794. Três anos depois foi acusado de "herético perigoso e dissoluto de costumes" e, como era conhecida a sua simpatia pela Revolução Francesa, foi preso e condenado pela Inquisição. Quando saiu da reclusão, conformista e gasto, viu-se obrigado a viver da escrita (sobretudo de traduções). Apesar de ter recebido o auxílio de alguns amigos, acabaria por morrer doente e na miséria.
Se formalmente a poesia bocagiana ainda é neoclássica, se nalgum vocabulário e nos processos de natureza alegórica ainda se sente a herança clássica, concretamente a camoniana, pelo temperamento, por grande parte dos temas (como o ciúme, a noite, a morte, o egotismo, a liberdade, o amor - muitas vezes manifestado por uma expressão erotizante) e pela insistência nalgumas imagens e verbos que denunciam uma vivência limite, pode bem dizer-se que uma parte significativa da produção poética de Bocage é já marcadamente pré-romântica, anunciando assim a nova época que se aproxima. Apesar de a sua poesia ser contraditória, irregular, e de os seus versos revelarem concessões artisticamente duvidosas, Bocage é considerado, com justeza, um dos maiores sonetistas portugueses.
As obras de Bocage encontram-se editadas atualmente nas antologias: Opera Omnia, Poesias (antologia que inclui a lírica, a sátira e a erótica) e Poesias de Bocage.


Bocage. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2011.

wikipedia (Imagens)


Auto - retrato

Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno;

Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura;
Bebendo em níveas mãos, por taça escura,
De zelos infernais letal veneno;

Devoto incensador de mil deidades
(Digo, de moças mil) num só momento,
E somente no altar amando os frades,

Eis Bocage, em quem luz algum talento;
Saíram dele mesmo estas verdades,
Num dia em que se achou mais pachorrento.
Ficheiro:SOUSA Barbosa.jpg



Ficheiro:Manuel Maria Barbosa du Bocage.jpg
 https://www.youtube.com/watch?v=_P-tMGFMOSA
*
https://estoriasdahistoria12.blogspot.com/2018/09/15-de-setembro-de-1765-nasce-em-setubal.html
*
 Resultado de imagem para barbosa du bocage
 https://estoriasdahistoria12.blogspot.com/2018/12/21-de-dezembro-de-1805-morre-o-poeta_21.html?fbclid=IwAR3SThC-yqPZ4fwFJhsAqf9XpoOGY4Cmk42woJZ0sbPn1tW8YBonkEHU-4s
***
Via Citador:
Manuel Maria Barbosa du Bocage
Manuel Bocage

"Aquele canta e ri; não se embaraça 
Com essas coisas vãs que o mundo adora 
Este (oh, cega ambição!) mil vezes chora 
Porque não acha bem que o satisfaça."

"Ah! Se a vossa liberdade 
Zelosamente guardais, 
Como sois usurpadores 
Da liberdade dos mais?"

"Vai sempre avante a paixão, 
Buscando seu doce fim; 
Os amantes são assim: 

Todos fogem à razão."

"Vós suspirais pela posse 
Das externas perfeições; 
Vós cobiçais os deleites, 
Eu cobiço os corações."

"Amor em sendo ditoso 
Costuma ser imprudente, 
E nos gestos de quem ama 
Logo o vê quem o não sente."

"Faço a paz, sustento a guerra, 
Agrado a doutos e a rudes, 
Gero vícios e virtudes, 
Torço as leis, domino a Terra."

"Ingénuo, tem conta de ti! 
No mundo há muitos enganos 
(Eu o sei, porque os sofri); 
Os bons padecem mil danos 
Julgando os outros por si."

És dos Céus o Composto Mais BrilhanteMarília, nos teus olhos buliçosos 
Os Amores gentis seu facho acendem; 
A teus lábios, voando, os ares fendem 
Terníssimos desejos sequiosos. 

Teus cabelos subtis e luminosos 
Mil vistas cegam, mil vontades prendem; 
E em arte aos de Minerva se não rendem 
Teus alvos, curtos dedos melindrosos. 

Reside em teus costumes a candura, 
Mora a firmeza no teu peito amante, 
A razão com teus risos se mistura. 

És dos Céus o composto mais brilhante; 
Deram-se as mãos Virtude e Formosura, 
Para criar tua alma e teu semblante. 

 in 'Sonetos'

Morte, Juízo, Inferno e ParaísoEm que estado, meu bem, por ti me vejo, 
Em que estado infeliz, penoso e duro! 
Delido o coração de um fogo impuro, 
Meus pesados grilhões adoro e beijo. 

Quando te logro mais, mais te desejo; 
Quando te encontro mais, mais te procuro; 
Quando mo juras mais, menos seguro 
Julgo esse doce amor, que adorna o pejo. 

Assim passo, assim vivo, assim meus fados 
Me desarreigam d'alma a paz e o riso, 
Sendo só meu sustento os meus cuidados; 

E, de todo apagada a luz do siso, 
Esquecem-me (ai de mim!) por teus agrados 
Morte, Juízo, Inferno e Paraíso. 

 in 'Sonetos'


O Leão e o PorcoO rei dos animais, o rugidor leão, 
Com o porco engraçou, não sei por que razão. 
Quis empregá-lo bem para tirar-lhe a sorna 
(A quem torpe nasceu nenhum enfeite adorna): 
Deu-lhe alta dignidade, e rendas competentes, 
Poder de despachar os brutos pretendentes, 
De reprimir os maus, fazer aos bons justiça, 
E assim cuidou vencer-lhe a natural preguiça; 
Mas em vão, porque o porco é bom só para assar, 
E a sua ocupação dormir, comer, fossar. 
Notando-lhe a ignorância, o desmazelo, a incúria, 
Soltavam contra ele injúria sobre injúria 
Os outros animais, dizendo-lhe com ira: 
«Ora o que o berço dá, somente a cova o tira!» 
E ele, apenas grunhindo a vilipêndios tais, 
Ficava muito enxuto. Atenção nisto, ó pais! 
Dos filhos para o génio olhai com madureza; 
Não há poder algum que mude a natureza: 
Um porco há-de ser porco, inda que o rei dos bichos 
O faça cortesão pelos seus vãos caprichos. 

in 'Fábulas'



Nascemos para AmarNascemos para amar; a Humanidade 
Vai, tarde ou cedo, aos laços da ternura. 
Tu és doce atractivo, ó Formosura, 
Que encanta, que seduz, que persuade. 

Enleia-se por gosto a liberdade; 
E depois que a paixão na alma se apura, 
Alguns então lhe chamam desventura, 
Chamam-lhe alguns então felicidade. 

Qual se abisma nas lôbregas tristezas, 
Qual em suaves júbilos discorre, 
Com esperanças mil na ideia acesas. 

Amor ou desfalece, ou pára, ou corre: 
E, segundo as diversas naturezas, 
Um porfia, este esquece, aquele morre. 

 in 'Sonetos'


A Negra Fúria CiúmeMorre a luz, abafa os ares 
Horrendo, espesso negrume, 
Apenas surge do Averno 
A negra fúria Ciúme. 

Sobre um sólio cor da noite 
Jaz dos Infernos o Nurne, 
E a seus pés tragando brasas 
A negra fúria Ciúme. 

Crespas víboras penteia, 
Dos olhos dardeja lume, 
Respira veneno e peste 
A negra fúria Ciúme. 

Arrancando à Morte a fouce 
De buído, ervado gume, 
Vem retalhar corações 
A negra fúria Ciúme. 

Ao cruel sócio de Amor 
Escapar ninguém presume, 
Porque a tudo as garras lança 
A negra fúria Ciúme. 

Todos os males do Inferno 
Em si guarda, em si resume 
O mais horrível dos monstros, 
A negra fúria Ciúme. 

Amor inda é mais suave, 
Que das rosas o perfume, 
Mas envenena-lhe as graças 
A negra fúria Ciúme. 

Nas asas de Amor voamos 
Do prazer ao áureo cume, 
Porém de lá nos arroja 
A negra fúria Ciúme. 

Do férreo cálix da Morte 
Prova o funesto azedume 
Aquele a quem ferve n'alma 
A negra fúria Ciúme. 

Do escuro seio dos fados 
Saltam males em cardume: 
O pior é o que eu sofro, 
A negra fúria Ciúme. 

Dos imutáveis destinos 
Se lê no idoso volume 
Quantos estragos tem feito 
A negra fúria Ciúme. 

Amor inda brilha menos 
Do que sutil vagalume, 
Por entre as sombras que espalha 
A negra fúria Ciúme. 

in 'Quadras'





















































































































































































***

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10201901727659226&set=a.1357680996472.48625.1664920033&type=1&theater
"Ingénuo, tem conta de ti! 
No mundo há muitos enganos 
(Eu o sei, porque os sofri); 
Os bons padecem mil danos 
Julgando os outros por si.

"Fonte: - Fábula - O lobo, a raposa e a ovelha
Manuel Maria Barbosa du Bocage