23/10/2014

8.954.(23out2014.21.12') José Cardoso Pires

Nasceu a 2out1925
e morreu a 26out1998
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1991 
José Cardoso Pires vence o Prémio Literário União Latina, pelo conjunto da obra.
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5 apontamentos sobre JCP
http://bibliotecariodebabel.com/tag/jose-cardoso-pires/
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Quando publicou Histórias de Amor em Julho de 1952, na colecção de bolso «Os Livros das Três Abelhas» (Editorial Gleba), José Cardoso Pires tinha 26 anos de idade e o rótulo de esperança da ficção nacional a pairar sobre a sua cabeça, fruto do aplauso generalizado, tanto da crítica como do público, com que fora recebido o seu primeiro livro: Os Caminheiros e Outros Contos(1949). Embora escrevendo com uma audácia temática e formal que já antecipa o grande escritor que veio a ser, este Cardoso Pires não é ainda o Cardoso Pires sólido dos livros seguintes (O Anjo Ancorado, 1959; O Render dos Heróis, 1960) e muito menos o Cardoso Pires vintage, de O Delfim (1968) e Alexandra Alpha (1987). É, se quisermos, um escritor em construção, com os andaimes e as inseguranças todas à vista.
Ainda assim, dos cinco textos, só “Week-end” – trôpego relato de um encontro adúltero, cheio de silêncios e meias palavras – me parece dispensável. “Uma simples flor nos teus cabelos claros” é um exercício curioso de narração paralela, que torna nítido o desajuste entre a suavidade do amor ideal (uma abstracção literária) e a aspereza concreta do quotidiano. “Romance com data” retoma a atmosfera erótica de “Week-end”, mas com um suplemento de ambiguidade na exposição da origem (e consequências) dos não-ditos entre os amantes, o que o torna muito mais original. As duas melhores narrativas, porém, são o conto “Ritual dos pequenos vampiros”, minuciosa e arrepiante descrição de um gang bang para os lados de Chelas, e “Dom Quixote, as velhas viúvas e a rapariga dos fósforos”, melancólico apocalipse da inocência em que já se detecta, aqui e ali, a voz do futuro romancista.(...)

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Cecília

«Assim, a sombra de Cecília paira sobre mim e o Meu Amigo, dois conversadores nocturnos sentados sob o alpendre duma casa de praia. É por enquanto uma sombra, um contorno de mulher, se quiserem. Esse contorno compõe-se de instantes de memória, deslocados no tempo e na distância, tal como sucede com os farolins das embarcações de pesca que andam ao largo: existem mas levantam-se e desaparecem ao sabor da ondulação. É necessária a memória (esse terceiro plano ou esse poder de recriar que é, ainda, memória, cheiro e reconhecimento) para situar os farolins dos barcos no verdadeiro lugar em que se encontram e construir, para além dos nossos olhos, todo um rosário de luzes boiando nas águas em trevas. Então poderemos traçar o desenho exacto de um cerco de pesca, uma companha de homens sonolentos, o enorme saco de rede que devora os peixes no próprio ventre do mar…»
[in Lavagante — encontro desabitado Edições Nelson de Matos, 2008]
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Página no facebook tem pouca postagem
https://www.facebook.com/zecardosopires?fref=photo
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«É bom, é livre.» O viajante tinha a frase de ouvido. Uma jovem que diz «isto é bom, é livre» considera-se, com toda a certeza encantada consigo mesma por ter empregado palavras tão simples que para ela são sinais de pureza, dotes de poeta. Acontece assim em muitos casos, em certas pessoas a busca de coisas menos complicadas é ainda um meio complicado de procurarem dar encanto a um dado momento. Um jogo a sós - «mas demasiado à vista», observou o homem, «um pequeno vício para uso doméstico.» - 
in O Anjo Ancorado
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"Onde houver exploração do homem, está ela, a morte, disfarçada de comum e natural (...), exibição imperialista de orgulho e poder"
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via portal da literatura
http://www.portaldaliteratura.com/autores.php?autor=245
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VIA CITADOR
"O pessimismo é uma defesa contra a desilusão"
"O amor começa sempre antes e acaba depois"
"Toda a polémica é uma encenação"
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REVER o filme COM RAUL SOLNADO baseado na obra BALADA DA PRAIA DOS CÃES
Capa do filme: Balada da Praia dos Cães
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Lembro-me do livro DINOSSAURO EXCELENTÍSSIMO (antes do 25 de abril)
com ilustrações de João Abel Manta
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Lembro-me do filme O DELFIM
do realizador Fernando Lopes
com Rogério Ramora e Alexandra Lencastre
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a obra
http://www.citi.pt/cultura/literatura/romance/cardoso_pires/lista_biblio.html
A obra
José Cardoso Pires tem 18 obras publicadas, abrangendo os estilos de crónica, romance, teatro, ensaio, conto, fábula e "memória". A sua obra é fecunda em todos eles, sendo no entanto no romance que mais se destacou, nomeadamente com "O Delfim" e "Balada da Praia dos Cães". Porque dono e senhor de um estilo muito próprio (A Escrita no Osso), apresentamos-lhe um conjunto de reflexões como «Considerações Gerais» para uma primeira abordagem da sua obra, geral e elucidativa (espera-se!) das suas particularidades e especificidades enquanto escritor "de profissão".
Considerações Gerais
Os Caminheiros e outros contos (conto - 1949)
Histórias de Amor (conto - 1952)
O Anjo Ancorado (romance - 1958)
O Render dos Heróis (teatro - 1960)
A Cartilha do Marialva (ensaio - 1960)
Jogos de Azar (conto - 1963)
O Hóspede de Job (romance - 1963)
O Delfim (romance - 1968)
Dinossauro Excelentíssimo (fábula - 1972)
E Agora, José? (ensaio - 1977)
O Burro em Pé (conto - 1979)
Corpo Delito - na Sala de Espelhos (teatro - 1980)
Balada da Praia dos Cães (romance - 1982)
Alexandra Alpha (romance - 1987)
A República dos Corvos (crónica - 1988)
A Cavalo no Diabo (crónica - 1994)
De Profundis, Valsa lenta (memória - 1997)
Lisboa, Livro de Bordo (crónica - 1997)
Viagem à Ilha de Satanás
Antologias
Traduções
Bibliografia Crítica
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Via
http://cvc.instituto-camoes.pt/contomes/17/texto.html

UMA SIMPLES FLOR NOS TEUS CABELOS CLAROS
«Mas a meio caminho voltou para trás, direita ao mar. Paulo ficou de pé no areal, a vê-la correr: primeiro chapinhando na escuma rasa e depois contra as ondas, às arrancadas, saltando e sacu­dindo os braços, como se o corpo, toda ela, risse.
Uma vaga mais forte desfez-se ao correr da praia, cobriu na areia os sinais das aves marinhas, arrastou alforrecas abandonadas pela maré. Eram muitas, tantas como Paulo não vira até então,espapaçadas e sem vida ao longo do areal. O vento áspero curtira-lhes os corpos, passara sobre elas, carregado de areia e de salitre, varrendo a costa contra as dunas, sem deixar por ali vestígios de pegada ou restos de alga seca que lhe resistissem.»
«Marcaste o despertador»
«Hã?»
«O despertador, Quim. Para que horas o puseste?»
«...E tudo à volta era névoa, fumo do mar rolando ao lume das águas e depois invadindo mansamente a costa deserta. Havia esse sudário fresco, quase matinal, embora, cravado no céu verde-ácido, despontasse já o brilho frio da primeira estrela do anoitecer...»
«Desculpa, mas não estou descansada. Importas-te de me passar o despertador?»
«O despertador?»
«Sim, o despertador. Com certeza que não queres que eu me levante para o ir buscar. És de força, caramba.»
«Pronto. Estás satisfeita?»
«Obrigada. Agora lê à vontade, que não te torno a incomodar. Eu não dizia? Afinal não lhe tinhas dado corda... Que horas são no teu relógio? Deixa, não faz mal. Eu regulo-o pelo meu.»
«- Mais um mergulho - pedia a rapariga.
A dois passos dele sorria-lhe e puxava-o pelo braço;
- Só mais um, Paulo. Não imaginas como a água está estupenda. Palavra, amor. Estupenda, estupenda, estupenda.
Uma alegria tranquila iluminava-lhe o corpo. A neblina bailava em torno dela, mas era como se a não tocasse. Bem ao contrário: era como se, com a sua frescura velada, apenas despertasse a morna suavidade que se libertava da pele da rapariga.
- Não, agora já começa a arrefecer - disse Paulo. - Vamo-nos vestir?
Estavam de mãos dadas, vizinhos do mar e, na verdade, quase sem o verem. Havia a memória das águas na pele cintilante da jovem ou no eco discreto das ondas através da névoa; ou ainda no rastro de uma vaga mais forte que se prolongava, terra adentro, e vinha morrer aos pés deles num distante fio de espuma. E isso era o mar, todo o oceano. Mar só presença. Traço de água a brilhar por instantes num rasgão do nevoeiro.
Paulo apertou mansamente a mão da companheira;
- Embora?
- Embora - respondeu ela.
E os dois, numa arrancada, correram pelo areal, saltando poças de água, alforrecas mortas e tudo o mais, até tombarem de cansaço.»
«Quim... »
«Outra vez?»
«Desculpa, era só para baixares o candeeiro. Que maçada, estou a ver que tenho de tomar outro comprimido.»
«Lê um bocado, experimenta.»
«Não vale de nada, filho. Tenho a impressão de que estes comprimidos já não fazem efeito. Talvez mudando de droga... É isso, preciso de mudar de droga
«- Tão bom, Paulo. Não está tão bom?
- Está óptimo. Está um tempo espantoso.
Maria continuava sentada na areia. Com os braços envolvendo as pernas e apertando as faces contra os joelhos, fitava o nada, a brancura que havia entre ela e o mar, e os olhos iam-se-lhe carregando de brilho.
- Tão bom - repetia.
 - Sim, mas temos que ir.
Com o cair da tarde a névoa desmanchava-se pouco a pouco. Ficava unicamente a cobrir o mar, a separá-lo de terra como uma muralha apagada, e, de surpresa, as dunas e o pinhal da costa surgiam numa claridade humilde e entristecida. Já de pé, Paulo avistava ao longe a janela iluminada do restaurante.
- O homem deve estar à nossa espera - disse ele. - Ainda não tens apetite?
- E tu, tens?
- Uma fome de tubarão.
- Então também eu tenho, Paulo.
- Ora essa?
- Tenho, pois. Hoje sinto tudo o que tu sentes. Palavra.
«Se isto tem algum jeito. Qualquer dia já não há comprimidos que me cheguem, meu Deus.»
«Faço ideia, com essa mania de emagrecer... »
«Não, filho. O emagrecer não é para aqui chamado. Se não consigo dormir, é por outras razões. Olha, talvez seja por andar para aqui sozinha a moer arrelias, sem ter com quem desabafar. Isso, agora viras-me as costas. Nem calculas a inveja que me fazes.»
«Pois.»
«Mas sim, fazes-me uma inveja danada. Contigo não há complicações que te toquem. Voltas as costas e ficas positivamente nas calmas. Invejo-te, Quim. Não calculas como eu te invejo. Não acreditas?»
«Acredito, que remédio tenho eu?»
«Que remédio tenho eu... É espantoso. No fim de contas ainda ficas por mártir. E eu? Qual é o meu remédio, já pensaste? Envelhecer estupidamente. Aí tens o meu remédio.»
«Partiram às gargalhadas. À medida que se afastavam do mar, a areia, sempre mais seca e solta, retardava-lhes o passo e, é curioso, sentiam as noite abater-se sobre eles. Sentiam-na vir, muito rápida, e entretanto distinguiam cada vez melhor, as piteiras encravadas nas dunas, a princípio pequenas como galhos secos e logo depois maiores do que lhes tinham parecido à chegada. E ainda as manchas esfarrapadas dos chorões rastejando pelas ribas arenosas, o restaurante ermo, as traves; de madeira roídas pela maresia e, cá fora, as cadeiras de verga, que o vento tombara, soterradas  na areia.
- O mar nunca aqui chega - tinha dito o dono da casa. - Quando é das águas vivas, berra lá fora como um danado. Mas aqui, não senhor. Aqui não tem ele licença de chegar.»
«A verdade é que são quase duas horas e amanhã não sei como vai ser para me levantar. Escuta...»
«Que é?»         
«Não estás a ouvir passos?»
«Passos?»

«Sim. Parecia mesmo gente lá dentro, na sala. Se soubesses os sustos que apanho quando estou com insónias. A Nanda lá nisso é que tem razão. Noite em que não adormeça veste-se e vai dar uma volta com o marido, a qualquer lado. Acho um exagero, eu nunca seria capaz de te acordar... mas, enfim, ela lá sabe. O que é certo é que se entendem à maravilha um com o outro. E isso, Quim, apesar de ser a tal tipaque tu dizes. Também, ainda estou para ter uma amiga que na tua boca não seja uma tipa ou uma galinha 
in Jogos de Azar
,                 
Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1999 (7ª ed.).

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02 de Outubro de 1925: Nasce o escritor José Cardoso Pires

Escritor português, José Augusto Neves Cardoso Pires nasceu a 2 de outubro de 1925, no concelho deVila de Rei, em Castelo Branco, e morreu a 26 de outubro de 1998, em Lisboa. Filho de um oficial da marinha, ainda criança mudou-se com os pais para Lisboa, cidade que abraçou e amou. Depois de concluir os estudos secundários no liceu Camões, ingressou no curso de Matemáticas Superiores da Faculdade de Ciências de Lisboa. Durante a vida académica, exerceu várias profissões e conviveu com alguns dos intelectuais e artistas que integraram a segunda geração surrealista, como Luís Pacheco, Cesariny ou Vespeira, colaborando simultaneamente com algumas publicações, como a revista Afinidades e O Globo. Em 1945, abandonou os estudos para se alistar na marinha mercante, vindo a exercer, depois de concluir o serviço militar, várias profissões, desde comercial a intérprete, correspondente e redator, tradutor, diretor editorial e até copywriter numa agência publicitária. Foi, entre 1969 e 1971, docente de Literatura Portuguesa e Brasileira na Universidade de Londres. Colaborou em várias publicações periódicas, como Vértice, Gazeta Musical e de Todas as Artes (em cuja reestruturação colaborou, na segunda série, com João José Cochofel) ou Diário de Lisboa. Parte do seu trabalho cronístico, publicado no Diário Popular, foi reunido em Os Lugares Comuns. Representou, por diversas vezes, Portugal em eventos culturais e literários internacionais; participou e promoveu atividades de resistência cultural à repressão (constituição do núcleo português da Association Internationale pour la Liberté de la Culture; fundação do suplemento cultural "& Etc", do Jornal do Fundão).
José Cardoso Pires estreou-se na ficção, em 1949, com Caminheiros e Outros Contos, a que se seguiriam os contos Histórias de Amor, em 1952 - ambos apreendidos pela censura, estando o segundo na origem da sua primeira detenção -, num momento em que o neorrealismo, nas polémicas contra o presencismo, se tinha afirmado no panorama da literatura nacional, encetando, com a entrada na década de 50, uma fase de revisão, com inerente polémica interna, dos seus princípios estéticos. A coexistência com outras tendências literárias e um novo contexto histórico nacional e internacional (pós-Segunda Guerra Mundial, guerra fria; isolamento e reforço dos sistemas de repressão, a nível nacional, etc.) condicionam, então, os modos de afirmação do que, em termos de história literária, se poderia designar como uma segunda geração neorrealista, que contraporá à euforia e utopia do escritores de 40 um sentimento generalizado de desencanto e angústia que "pouco se compadece com a crença em futuros utópicos" (cf. MARTINHO, Fernando J. B. - Tendências Dominantes da Poesia Portuguesa da Década de 50, Lisboa, 1996, p. 314). Não abdicando de uma atitude combativa, que marcou ainda a sua intervenção cívica, José Cardoso Pires apresenta-se na novelística como um dos melhores modelos desse repensar de princípios e técnicas narrativas, abertura de temas e processos, que marcaram uma inflexão na carreira de alguns autores afirmados nos anos 40, no âmbito de uma literatura empenhada. Dando, desde os seus primeiros volumes, a imagem precisa de Portugal como um "lugar de infelicidade e solidão" (cf. Tabucchi, prefácio a O Anjo Ancorado, Lisboa, Dom Quixote, 1990, p. 7), país enclausurado e marcado, a nível político, pelo regime salazarista descrito na sua fase de absurda persistência, e a nível mental pela consciência de que a revolução, sendo inevitável, eclodiria tarde de mais, "nasceria, por assim dizer, exausta" (cf. LOURENÇO, Eduardo - O Canto do Signo, Lisboa, Presença, 1994, p. 293), José Cardoso Pires reequaciona a relação entre literatura e real do romance tradicional através de várias estratégias, uma delas, patenteada em O Anjo Ancorado, correspondendo a uma escrita que, partindo de um efeito de real, se institui como "ilusão de translucidez" (LEPECKI, Maria Lúcia - Ideologia e Imaginário - Ensaio sobre José Cardoso Pires, Lisboa, Moraes, 1977, p. 339), de "imediata apreensibilidade" (id. ibi., p. 30), quer ao nível da transparência da linguagem (coloquial, substantiva, períodos curtos, redução de recursos estilísticos), quer ao nível da construção da narrativa, pela redução do número de personagens e pela descomplexificação da intriga. Tendendo para uma maior visualização, o seu aspeto de fábula, de que O Anjo Ancorado é um paradigma, aponta para uma duplicidade de leituras jogada ambiguamente no cruzamento de pontos de vista internos e, sobretudo, na capacidade de operar uma "clandestinização de um certo nível do contado" (id., ibi., p. 102). Focalizando "uma sociedade de classes em processo de transformação por força da consciência e da capacidade de luta do explorado" (id. ibi., p. 148), em romances como O Delfim ou A Balada da Praia dos Cães, a estratégia de construção da narrativa, absorvendo traços do romance policial, problematiza os modos de acesso à realidade pela apresentação de várias versões sobre uma verdade inatingível na sua totalidade, dado o seu intrínseco carácter plural. Sendo, depois de Eça de Queirós, um dos romancistas portugueses que com mais finura usaram a ironia e o humor enquanto instrumentos eficazes de crítica social e, por conseguinte, de afirmação de determinada postura ideológica, a obra de José Cardoso Pires, ainda pelo seu carácter, a um tempo, rigorosamente documentado e despojado; pela riqueza expressiva patenteada na capacidade de introduzir na escrita, de forma natural, vários registos de língua e até gírias; pela apreensão de certos tipos sociais (sobretudo aqueles que integravam a realidade histórica portuguesa do salazarismo), seres moldados complexamente através do uso do monólogo interior, e nunca transformados em títeres; traços a que acresce, como marcas de modernidade, a interseção de espaços e tempos, conferem a José Cardoso Pires o estatuto de um dos mais importantes romancistas do século XX.
O autor e a sua obra foram galardoados várias vezes, entre os quais se destacam o Prémio Camilo Castelo Branco (O Hóspede de Job, 1964), o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores (A Balada da Praia dos Cães, romance que viria, em 1987, a dar origem a um filme realizado por José Fonseca e Costa), o Prémio Especial da Associação de Críticos do Brasil (Alexandra Alpha), os Prémios D. Dinis e da Crítica (De Profundis, Valsa Lenta, obra publicada em 1997, após o autor ter recuperado de um acidente vascular cerebral). Recebeu também o Prémio Internacional União Latina (1991), o Astrolábio de Ouro do Prémio Internacional Último Novecento (1992) e o Prémio Pessoa (1997).
Em 1998 sofreu outro acidente vascular cerebral, que viria a ser a causa da sua morte. Em setembro desse mesmo ano, pouco antes do seu falecimento, tinha-lhe sido atribuído o Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores.
Foi autor de contos, romances, crónicas e ensaios (como em E Agora José?, 1977) e de peças de teatro (como O render dos Heróis (1960) e O Corpo Delito na Sala de Espelhos, 1980).
José Cardoso Pires. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013.
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