31/10/2014

8.991.(31out2014.7.7') John Keats

Nasceu a 31out1795
e morreu a 23fev1821
***
31ouTUbro2011
hj é dia de Keats
 http://elore.com/Portugues/Poesia/Keats/bela.htm
*
Estrela brilhante! Gostaria de ser fixa como tu és –
Não em um solitário esplendor como agora,
Velando como estás, com grandes pálpebras,
As águas movimentadas em torno das praias humanas,
Como um austero eremita da Natureza.
Ou contemplando a agradável máscara da neve por sobre as Montanhas e os Pântanos.
Não – Quieta, imutável como sempre,
Parada sobre o seio maduro de minha amada,
Para que eu sinta eternamente seu calmo respirar,
E acorde um dia numa doce inquietação.
Quieta, fixa, para que eu ouça sua terna e calma respiração,
E assim viva para sempre, ou desfaleça na morte.

John Keats
(Tradução de Walflan de Queiroz)
***
Via Citador
John Keats
"'Beleza é verdade, verdade é beleza' - isto é tudo 
o que conheceis sobre a Terra, e é tudo o que precisais conhecer."
"Se a poesia não surgir tão naturalmente como as folhas de uma árvore, é melhor que não surja mesmo."
"O prazer visita-nos muitas vezes; mas a mágoa agarra-se cruelmente a nós."
"No mesmo templo do deleite 
A velada Melancolia tem o seu santuário."
"Oh, se eu ao menos pudesse ter uma vida de sensações em vez de uma vida de pensamentos."
"Toda a beleza é alegria que permanece."
***
biografia, via Wikipédia
Filho de um cavalariço enriquecido, órfão a partir de 1804, muito jovem entusiasmou-se pela Grécia Antiga. Trabalhou como aprendiz de cirurgião durante cinco anos e depois foi nomeado externo do Guy's Hospital.
Keats estudou para ser farmacêutico, chegando mesmo a se formar. Porém, seu interesse por idiomas (dominava o latim e o francês), por história e mitologia o levou a exercer a literatura.
O trabalho de Keats raramente foi bem recebido pelo público e pelos críticos. Indiferente a isso, ele escreveu com abundância e qualidade, por toda a sua curta vida. Entre1818 e 1819, concentrou-se em dois poemas importantes: Hyperion (inacabado), em versos brancos, sob a influência de John Milton, e La Belle Dame Sans Merci.
Dedicava todo tempo livre à leitura. Seus primeiros versos não mostravam o grande poeta que se tornaria, mas mesmo contra o conselho de amigos, publicou seusPoemas em 1817.
Abandonou a carreira médica para dedicar-se à literatura e começou a escrever o longo poema Endymion em 1818, que foi violentamente criticado. Tais críticas, no entanto, apenas estimularam o poeta a aprimorar seu talento.
No ano em que se publica Endymion, Keats encontrou Fanny Brawne2 3 , a grande paixão de sua vida. Teve que separar-se dela em 1820, devido à tuberculose que ele havia contraído. Foi para a Itália, onde morreu poucos meses depois. Sobre seu túmulo, no Cemitério Protestante de Roma, foi esculpida a inscrição que ele mesmo redigira: Here lies one whose name was writ in water (Aqui descansa um homem cujo nome está escrito sobre a água). Em sua memória, Shelley escreveu o célebre poemaAdonais.
Poucos poetas escreveram obras tão importantes em tão pouco tempo como Keats. Em 1820 foram publicados LamiaIsabelleA vigília de Saint AgnesHyperion e cinco Odes. Os erros e imperfeições de seus poemas iniciais haviam desaparecido totalmente. Apesar de Keats nunca ter publicado nada em prosa, suas cartas ao irmão demonstram uma penetração crítica e filosófica verdadeiramente notáveis.
Keats, o último e maior dos poetas românticos ingleses, exerceria uma profunda influência sobre TennysonRobert Browningpré-rafaelitas e outros.
***
Via
http://john-keats.tumblr.com/Poemasemportugu%C3%AAs


Por Que Esta Noite Eu Ri?
Por que esta noite eu ri? Não mo dirá ninguém:
   Deus algum, nem Demônio de resposta rude;
 Nem do céu nem do inferno a explicação me vem.
   Ao meu humano coração peço que ajude;
Eis-nos tristes e sós, tu e eu, ó coração!
   Dize-me, que mortal angústia! Por que ri eu?
Ó trevas! trevas! Sempre hei de gemer em vão,
   A inquirir céu e inferno, e inda o coração meu.
Oh, por que ri? Um prazo, eu sei, tem-no o meu ser,
   Seus júbilos extremos gozo em fantasia;
Porém findar à meia-noite eu poderia
   E em trapos as bandeiras deste mundo ver.
Verso, Fama, Beleza é certo que ardem forte:
Alto prêmio da Vida, é mais ardente a Morte. 
*
Ao Ver os Mármores de Elgin
Fraco está meu espírito - a mortalidade
    Oprime-me demais, qual sono indesejado;
    Cada pico ou abismo de divino fado
De que não deixo de morrer me persuade,
Morrer como águia enferma, o olhar ao céu voltado.
    É contudo um prazer amável prantear
    Que eu os nebulosos ventos não haja de guardar
Frescos para o olho da manhã, mal descerrado.
Essas glórias que a ideia forma vagamente
    Cercam de intensa má vontade o coração:
Tais maravilhas trazem dor e confusão
    Que mesclam a grandeza grega com o inclemente
Passar do velho Tempo - com um mar fremente
     - Um sol - a sombra de sublime condição
*
Partiu o Dia
Partiu o dia, e tudo, nele, o que é doçura!
   Doces lábios e voz, mão e seio macio,
Morno alento, enlevado, encantador cicio,
   Talhe perfeito, olhar de luz, langue cintura!
Da flor e seus botões as graças não diviso!
   A visão da beleza ao meu olhar perdida,
A forma da beleza de meus braços ida,
   Idas voz e calor, a alvura e o paraíso…
Tudo se esvaneceu ao fim do entardecer,
   Quando o fusco dia santo, ou antes noite santa
Do amor de olente cortinado a trama adianta
   Da escuridão, para ocultar todo o prazer:
Mas li o missal do Amor e dormirei portanto,
Que vê o Amor como jejuo e rezo tanto. 
*
Um Sonho: Depois de Ler o Episódio de Paolo e Francesca, em Dante
Como Hermes voou com suas penas, levemente,
    Quando Argos, aturdido, desmaiou e dormiu,
Assim, na flauta délfica, esta alma indolente
    Assim encantou, assim venceu, assim extinguiu
Os cem olhos de nosso mundo, este dragão,
    E assim fugiu, ao vê-lo assim adormecido,
Não para o Ida de céus frios de neve, não,
    Nem para Tempe, que já viu Jove sofrido:
Para o segundo círculo do Inferno, antes,
    Onde em remoinho, na lufada - ou no tufão-
De chuva ou gelo, não precisam os amantes
    Dizer suas mágoas: lábios pálidos vi então,
E pálidos beijei, bela a forma com a qual
Flutuei, ao léu daquele triste temporal 
*
Se Tenho Medo
Se tenho medo de meus dias terminar
   Antes de a pena me aliviar o espírito, antes
De muito livro, em alta pilha, me encerrar
   Os grãos maduros como em silos transbordantes;
Se vejo, nas feições da noite constelar,
   Enormes símbolos nublados de um romance
E penso que não viverei para copiar
   As suas sombras com a mão maga de um relance;
Quando sinto que nunca mais hei de te ver,
   Formosa criatura de um momento ideal!
Nem hei de saborear o mítico poder
   Do amor irrefletido! - então no litoral
Do vasto mundo eu fico só, a meditar,
Até ir Fama e Amor no nada naufragar.
*
Esta Mão Viva
Esta mão viva, agora quente e pronta
Para um sincero aperto, se estivesse fria
E no silêncio gélido da tumba,
Viria de tal forma te obsedar os dias
E esfriar-te as noites sonhadoras
Que quererias esgotar o sangue de teu coração
Para que em minhas veias -
Pudesse inda uma vez correr a vida rubra
E tranquila tivesses a consciência:
- Vê-a, aqui está, estendendo-a para ti. 
*
Ode Sobre a Indolência
                                                                 “Não trabalham nem fiam”ICerta manhã vi três figuras de perfil,
   De cabeça inclinada as três, e de mãos juntas;
E vinha uma após outra com sereno andar,
   Usando plácidas sandálias, vestes brancas;
Passaram, quais figuras de marmórea urna,
   Quando a girarmos para ver o lado oposto;
      Voltaram, como quando uma vez mais viramos
A urna, e então retornaram as primeiras formas;
    Eram-me estranhas, como em relação a vasos
      Pode ocorrer com doutos no saber de Fídias.

II

Como foi que, ó Imagens, não vos conheci?
    Como viestes ocultas com tão quieta máscara?
Era silente ardil, bem disfarçado para
    Levar furtivo e pôr ociosos os meus dias?
Madura estava a hora sonolenta. A nuvem
    Mais que feliz de uma indolência de verão
      Entorpeceu-me o olhar; meu pulso fraquejava;
Não doía a dor, nem o prazer tinha inda flores:
    Por que não vos fundistes, a deixar-me o espírito
       Deserto do que quer que fosse - exceto o nada?

III

Terceira vez passaram perto, e enquanto isso
    Voltaram um momento o rosto para mim;
Depois esvaeceram, e, para segui-las,
    Ardi e ansiei por asas, pois reconheci-as;
A primeira, formosa virgem, era o Amor;
    A segunda, a Ambição, de palidez nas faces
      E sempre atenta com seus olhos fatigados;
Na última, que quanto mais censuram tanto
    Mais eu amo, donzela, extremamente indócil,
      Reconheci o meu demônio, a Poesia.

IV

Esvaeceram, e eu, certo, queria asas;
    Ó, loucura! O que é o Amor? e onde está ele?
E essa pobre Ambição! nasce de um breve acesso
    De febre no pequeno coração de um homem;
Quanto à Poesia! - ao menos para mim não traz
    Prazer que iguale os meios-dias sonolentos
      E as tardes cheias de indolência toda mel;
Ó, que a amargura não atinja a minha vida
    E assim jamais eu sabia como as luas mudam
      Nem ouça a voz intrometida do bom-senso!

V

Por que, ai! terceira vez elas passaram perto?
    Meu sono, tinham-no bordado vagos sonhos;
Minha alma tinha sido relva borrifada
    Por flores, por inquietas sombras, raios frustros:
Não houve tempestade na manhã nublada,
    Com as lágrimas de maio a lhe pender das pálpebras.
      Folhas novas de vide opressas na janela
Por onde entrava a tepidez das brotações
    E a voz do tordo, ó Imagens! era dar-me adeus!
      Em vossas vestes não caíra pranto meu.

VI

Três Fantasmas, adeus! Não me podeis erguer
    A fronte de seu fresco leito, a grama em flor,
Não me atrairia ser nutrido com elogios,
    Qual cordeiro de estima em farsa emocional!
Desvanecei-vos suaves; sede uma vez mais
    Figuras mascaradas na urna sonhadora;
      Adeus! Tenho visões para o correr da noite
E para o dia visões débeis e copiosas;
    Sumi, Fantasmas, deste espírito indolente,
      E entrando pelas nuvens, nunca mais volteis! 

Ao Compulsar, Pela Primeira Vez, o Homero de Chapman
Já por impérios de ouro eu muito viajara,
    Diversos reinos vira - e quanto belo Estado!
    Já muitas ilhas, a ocidente, eu circundara,
As quais em feudo Apolo aos bardos tinha doado.
Eu já sabia que em país mais dilatado
    Homero, o que pensava fundo, governara:
    Porém seu límpido ar não tinha ainda aspirado,
Até que ouvi a voz de Chapman, brava e clara.
Como o que espreita o céu e colhe na visão
    Algum novo planeta, assim fiquei então;
Ou como quando - de águia o olhar - Cortez nem bem
    O Pacífico havia dividisado, além -
Seus homens a se olhar, supondo com aflição -
   E ficou sem falar, num pico em Darien. 
*
Bardos da Paixão e da Alegria
Ó Bardos da Paixão e da Alegria,
Vós deixastes na Terra as vossas almas!
Tentes almas também no paraíso,
Que vivem outra vez em regiões novas?
Sim, e comungam as do paraíso,
Com as esferas do Sol e com as da Lua;
Com o sussurro de fontes admiráveis
E com as vozes que falam no trovão;
Com o murmúrio das árvores do céu
E uma com outra, em doce bem-estar
Nos elíseos reuvados assentados,
Onde cheiram a rosa as margaridas
E a própria rosa adquire uma fragrância,
Um odor que na terra não existe;
Onde gorjeia o rouxinol um canto
Nem sem sentido, nem como que em transe,
Mas divina verdade melodiosa;
E contos e douradas narrações
Que versam sobre o céu e os seus mistérios.
Assim viveis lá em cima, e ao mesmo tempo
Aqui na Terra vós viveis de novo;
E as almas que deixastes ao partir
Ensinam-nos, aqui, como encontrar-vos
Onde se alegram vossas outras almas
Sem nunca adormecer, nunca saciar-se.
Vossas almas terrestres aqui falam
Aos homens, sempre, da semana breve,
Das mágoas que eles têm, de seus prazeres,
E de suas paixões e de seus ódios,
De sua glória e da vergonha sua,
Do que dá forças e do que mutila.
Assim nos ensinais sabedoria
Diariamente, apesar de ter-vos ido.

Ó Bardos da Paixão e da Alegria,
Vós deixastes na Terra as vossas almas!
Tendes almas também no paraíso,
Que vivem outra vez em regiões novas! 
*
A Fantasia
Que a alada Fantasia vague sempre,
Nunca acharemos o Prazer em casa.
A um toque só, o doce Prazer se esfaz,
Como bolhas se a chuva tamborila;
Que a alada Fantasia erre por meio
Do pensamento que vai sempre além;
Abri a porta que engaiola a mente,
 E ela, arrojando-se, voará até as nuvens.
Oh, doce Fantasia! fique livre;
Os gozos do verão com o uso gastam-se,
E fana-se a fruição da primavera
Como se fana o seu florescimento;
Também no outono os frutos de vermelhos lábios,
Rubescendo através de bruma de orvalho,
Enjoam se provados: que fazer,
Portanto? Senta-te à lareira, quando
A lenha seca esplendorosa queima,
Espírito da noite de um inverno;
Quando a terra silente se recobre,
E a neve endurecida o jovem rústico
Sacode-a do calçado que lhe pesa;
Quando a noite se ajunta ao meio-dia
Numa conspiração de negro tom
Para banir do céu o entardecer.
Senta-te aí, e envia para fora,
Com a mente que sozinha se intimida,
A Fantasia, com poderes plenos,
Envia-a! Tem vassalos dedicados:
Ela trará, apesar do frio extremo,
Belezas já perdidas pela terra;
Ela trará, reunidos, para ti,
Os encantos completos do verão;
Os botões e as campânulas de maio,
Da úmida relva ou de espinhoso ramo;
E a riqueza que o outono acumulou
Com sua quieta, misteriosa ação:
Ela misturará esses prazeres -
Como três vinhos certos numa taça,
E tu os tragarás, ouvindo então
Ao longe, claras, as canções da ceifa,
O murmúrio do trigo ao ser cortado;
Os pássaros louvando em sua antífona
A manhã, e no mesmo instante - escuta!
É a cotovia ao iniciar-se abril,
A gralha-calva, com um grasnido ativo
Em busca de raminhos ou de palha.
Contemplarás, de um só golpe de vista,
A margarida e, a par, o malmequer;
O lírio de alvas plumas e a primeira
Primavera que se mostrou na sebe;
Na sombra, do jacinto a flor, uma rainha
De safira se maio vai em meio;
E cada folha, a cada flor mostrando
As pérolas do mesmo temporal.
O ratinho silvestre, tu o verás
Magro a espiar de seu sono enclausurado;
E a serpente emaciada pelo inverno
Deixar a pele em riba ensolarada;
Verás, no ninho, pintalgados ovos
A chocar no espinheiro, quando a asa
Da fêmea da avezinha permanece
Sem se mexer no seu musgoso ninho;
Depois o alarme e a precipitação
Quando a colméia expede o seu enxame;
As glandes que ao cair maduras ruídam
Quando cantam as brisas outonais.
Oh, doce Fantasia! fique livre,
Todas as coisas gastam-se com o uso.
Onde está a face, muito contemplada,
Que não se fane? Onde estará a donzela
Que haja lábios maduros sempre jovens?
Onde é que está o olhar, embora azul,
Que não se canse? Onde se encontra o rosto
Que se deseje ver em toda a parte?
Onde está a voz, macia seja embora,
Que se goste de ouvir a todo instante?
A um toque só, o doce Prazer se esfaz,
Como bolhas se a chuva tamborila.
Que a alada Fantasia então encontre
A bem amada para o teu espírito:
Como a filha de Ceres, de olhar doce
Antes de o deus do inferno lhe ensinar
Como franzir o cenho e repreender;
Com uma cintura e com uma ilharga branca
Tal como a de Hebe, quando a sua faixa
Do fecho de ouro desprendeu-se, e abaixo
A veste deslizou-lhe até aos pés,
Quando ela segurava a doce taça,
E Jove enlangueceu. - Rebenta a malha
Do sedoso torçal da Fantasia;
Rompe-lhe a corda da prisão, depressa,
E ela trará alegrias desse gênero.
Que a alada Fantasia vague sempre,
Nunca acharemos o Prazer em casa. 
*
Hino a Pã (I, 232 - 306)
    Ó tu, cujo amplo teto de palácio se ergue
Sobre rugosos troncos, a cobrir de sombra
Cicios eternos, o negror, a vida e a morte
De flores invisíveis em pesada paz;
Que adoras ver as Hamadríades comporem
O cabelo desfeito, onde o avelal sombreia;
E sentas para ouvir, durante horas solenes,
A triste melodia dos caniços juntos
Em sítios desolados, onde com a umidade
A cicuta aflautada cresce a estranha altura;
Pensando em como te sentiste contrariado
E melancólico ao perder Sirinx, a bela,
- Pela fronte de leite de tua amada,
Pelos trêmulos meandros que ela percorreu,
Ouve-nos grande Pã!

    Ó tu, por cuja paz que abranda a alma, as rolas,
Pondo paixão na voz, arrulham entre os mirtos
Na hora em que vagueias ao cair da tarde
Pelos prados de sol, que os flancos delimitam
De teus reinos brejosos: tu a quem as figueiras
De largas folhas predestinam já os frutos
Maduros; as abelhas de amarelo cinto,
Seus favos de ouro; os campos das aldeias nossas,
Favas de bela flor e trigo com papoulas;
O pintarroxo a piar, filhotes que, ora em casca,
Cantarão para ti; os morangos rastejantes,
Seu frescor estival; ninfas de borboletas,
Suas asas mosqueadas; sim, o ano em botão
As suas perfeições - acerta-te depressa,
Pelo vento que agita o pinho da montanha,
Ó divino selvagem!

    Ó tu, para quem correm sátiros e faunos,
Prontos para servir; quer para surpreender
A lebre que se agacha meio a dormitar;
Ou escalando precipícios escabrosos
Para salvar da goela da águia os cordeirinhos,
Ou para pôr de novo, com atração oculta,
Os pastores perdidos no caminho certo,
Ou para andar arfante em torno ao mar de espumas,
Ou para recolher as conchas mais bizarras
Para que as jogues aonde as Náiades se acolhem
E, oculto, rias quando espiarem para fora;
Ou para que te encantem fantasiosos saltos
Quando elas se entrejogam na cabeça argênteas
Glandes de roble e as pardas pinhas doa abetos
- Por todos esses ecos em redor de ti,
Ó, escuta-nos, rei sátiro!

    Tu que percebes o ruído das tesouras
Se um carneiro, a balir, de quando em quando vez
Juntar-se aos já tosqueados; tu, que a trompa soas,
Se os javalis, talando os tenros cereais,
Iram o caçador; que em torno à granja tocas
Para afastar a mangra e os danos do mau tempo;
Tu que estranho nos dás indefiníveis sons
Que vêm desfalecer no côncavo dos vales
E languem tristemente nos urzais estéreis;
Temível abridor das portas misteriosas
Que levam ao saber universal - contempla,
Grande filho de Dríope,
Tantos que vieram para realizar seus votos,
Com folhas sobre a testa!

    Persiste sendo o abrigo não imaginável
De solitárias reflexões, como as que brincam
Com a compreensão até os próprios confins do céu
E põem então a mente vã; sê a levedura
Que ao se expandir nesta massuda terra triste
Dá-lhe um etéreo toque: - um novo nascimento;
Persiste sendo um símbolo da imensidão;
Um firmamento refletido por um mar;
Um elemento a encher o espaço intermediário;
Um ignoto - mas chega: humildes nós velamos
A fronte, erguendo as mãos; modestos inclinando-nos
E erguendo até aos céus um grito que os lacera,
Conjuramos-te a ouvir o nosso humilde peã,
Sobre o monte Liceu! 
*
Hino à Tristeza (IV, 146 - 290)
                   “Ó Tristeza,
                   Por que tomas
A rubros lábios o matiz nativo da saúde?
                    Para dar rubores de donzela
                    Às moitas de roseiras brancas?
Ou tua mão de orvalho é a ponta das boninas?

                   “Ó Tristeza,
                   Por que tomas
Ao olho do falcão o ardor brilhante?
                   Para dar luz ao vaga-lume
                   Ou, em noite sem lua,
Tingir, em praias de sereia, a inquieta água do mar?

                   “Ó Tristeza,
                   Por que tomas
A uma plangente voz canções suaves?
                   Para dá-las, na noite fresca,
                   Ao rouxinol
Que possas escutar entre os serenos frios?

                   “Ó Tristeza,
                   Por que tomas
À alegria de maio o júbilo do coração?
                   Nenhum amante pisaria
                   A primavera em sua fronte,
Dançasse embora desde a noite até o raiar do dia,
                    - Nem flor alguma languescente,
                    Tida por santa para o teu recesso,
Onde quer que ele folgue e se divirta.

                    ”Ó Tristeza
                    Eu desejei bom-dia
E pensei deixá-la para trás, bem longe,
                    Mas satisfeita, satisfeita,
                    Ela quer-me ternamente;
É-me tão constante e tão amável:
                    Eu queria enganá-la,
                    Assim deixando-a,
Mas ah! ela é-me tão constante e tão amável.

“Sob as minhas palmeiras e do rio à margem
Eu sentei-me a chorar: em todo o vasto mundo
Não havia ninguém para indagar por que eu chorava:
                    Assim fiquei
A encher de lágrimas as taças do nenúfar,
                    Lágrimas frias como os meus temores.

“Sob as minhas palmeiras e do rio à margem
Eu sentei-me a chorar: que noiva enamorada,
Se a ilude um vago pretendente, ao vir das nuvens,
                    Não se oculta nem se vela
Sob escuras palmeiras e de um rio à margem?

“E ao sentar-me, por sobre os morros azul-claros
Veio um barulho de foliões: os riachos
Lançaram-se da cor da púrpura no vasto rio
                    - Era Baco e seu cortejo!
Falou a trompa ardente e vibrações de prata
Dos osculantes címbalos fizeram grande ruído
                    - Era Baco e seus parentes!
Como para vindima errante eles chegaram
De verdes folhas coroados, rosto em fogo;
Todos em dança delirante pelo ameno vale,
                    Para te afugentar, Melancolia!
Oh então, oh então passaste a simples nome!
E eu te esqueci, como o azevinho com suas bagas
Esquecem-no os pastores quando, em junho,
Os altos castanheiros tapam sol e lua:
                     - Precipitei-me na loucura!

“De pé, estava no seu carro o jovem Baco
Brincando com seu dardo de hera, quase que a dançar,
                     E rindo de soslaio;
- Fios de vinho carmesim manchavam
Seus nédios braços brancos e seus brancos ombros
                     Para com suas pérolas mordê-los Vênus:
E Sileno em seu asno perto cavalgava,
Alvejado com flores ao passar
                     E ebriamente bebendo aos grandes tragos.

“Joviais donzelas, donde vínheis? Donde vínheis?
Tantas e tantas e com tanto júbilo?
Por que deixastes os retiros desolados,
                     Os alaúdes e mais branda sorte?
- ‘Seguimos Baco! Baco a se mover veloz,
                     Conquistador!
Baco, o jovem Baco! mal ou bem suceda,
Dançamos diante dele pelos vastos remos:
Vem para cá, formosa dama, e junta-te
                     Ao nosso doido canto!’

“Donde vínheis, festivos Sátiros! donde é que vínheis?
Tantos e tantos e com tanto júbilo?
Por que deixastes vossos florestais abrigos,
                     Vossas nozes na fenda do carvalho?
- ‘Pelo vinho deixamos a árvore e as sementes;
Pelo vinho deixamos landa e giestas amarelas,
                      E os cogumelos frios;
Pelo vinho seguimos Baco pela terra;
Deus das copas sem fôlego, do júbilo chalrante!
- Vem para cá, formosa dama, e junta-te
                      Ao nosso doido canto!’

“Passamos largos rios e montanhas grandes
E, salvo quando Baco estava em sua tenda de hera,
Avante iam o tigre e o ofego do leopardo,
                      Com elefantes da Ásia:
Avante essas miríades - com canto e dança, zebras
Listradas e lustroso empino de cavalos árabes,
Aligatores com seus pés palmados, crocodilos
Levando no escamoso dorso, em filas, nédias,
Risonhas crianças imitando a grita dos marujos
E a valente labuta dos remeiros de galera:
Com fingidos remos e sedosas velas passam
                       Sem pensar em vento nem maré.

“Nas panteras em pêlo e jubas de leões montados,
Da retaguarda à frente eles percorrem as planícies;
Viagem de três dias num momento é feita:
E sempre, ao despontar do sol,
Com chuço e trompa caçam pelas selvas,
                       Em irascíveis unicórnios.

“Vi o Egito de Osíris ajoelhar-se
                       Ante a soberania da coroa de parreira!
Vi a tostada Abissínia erguer-se e então cantar
                       Ao som dos címbalos de prata!
O vinho que domina vi ardoroso penetrar
                       Na vetusta e feroz Tartária!
Abaixarem, os reis da índia, os cetros só de jóias
E atirar dos tesouros uma saudação de pérolas;
De seu místico céu o grande Brama geme
                       E os sacerdotes dele se lamentam,
A um relance do jovem Baco embranquecendo.
- A estas regiões eu vim acompanhando-o,
Opresso o coração, cansada - assim, deu-me o capricho
De errar nestas florestas tenebrosas
                       Sozinha, sem nenhuma companhia:
E tudo eu disse-te que podes escutar.

                        ”Jovem forasteiro!
                        Tenho viajado muito
Em busca do prazer por todas as regiões:
                        Ai! para mim ele não é!
                        Enfeitiçada, certo, eu devo estar,
Para perder em queixas minha virgem mocidade.

                        ”Vem pois, Tristeza!
                        Dulcíssima Tristeza! -
No colo nino-te como se filha minha!
                        Eu pensava deixar-te
                        E te iludir,
Porém no mundo inteiro és tu a quem mais quero agora.

                        ”Não há ninguém,
                        Não, não, ninguém a não ser tu
Que console uma pobre virgem tão sozinha:
                        És a mãe dela,
                        O seu irmão,
Seu companheiro e pretendente em meio à sombra.”
***
autor de "La Belle Dame Sans Merci".
***
Via JERO.Lusa.Fim

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foi um poeta inglês. Foi o último dos poetas românticos do país, e, aos 25, o mais jovem a morrer.]
Juntamente com Lord Byron e Percy Bysshe Shelley, foi uma das principais figuras da segunda geração do movimento romântico, apesar de sua obra ter começado a ser publicada apenas quatro anos antes de sua morte]. Durante sua vida, seus poemas não foram geralmente bem recebidos pelos críticos; sua reputação, no entanto, cresceu à medida que ele exerceu uma influência póstuma significativa em diversos poetas posteriores, como Alfred Tennyson e Wilfred Owen.
A poesia de Keats é caracterizada por um imaginário sensual, mais visível na sua série de odes. Atualmente seus poemas e cartas são consideradas entre as obras mais populares e analisadas na literatura inglesa.