04/01/2015

9.332.(4jan2015.13h) António Veyrier Valério Maduro

António Eduardo  Veyrier Valério Maduro
nasceu a 28fev1959
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http://jeroalcoa.blogspot.pt/2009/11/m113-comidas-de-abade.html
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António Eduardo Veyrier Valério Maduro. Concluiu História Contemporânea pela Universidade de Coimbra em 2007. É do Instituto Universitário da Maia - ISMAI. Publicou 5 artigos em revistas especializadas e 8 trabalhos em actas de eventos, possui 12 capítulos de livros e 10 livros publicados. Participou em 2 eventos no estrangeiro e 24 em Portugal. Actua nas áreas de Humanidades com ênfase em História, Arqueologia Industrial, Antropologia . Nas suas actividades profissionais interagiu com 10 colaboradores em co-autorias de trabalhos científicos. No seu curriculum DeGóis os termos mais frequentes na contextualização da produção científica, tecnológica e artístico-cultural são: Cister, Alcobaça, História rural, Património Cultural, Património Industrial, Enoturismo, Vinha e Vinho, Artes e ofícios, Primeira República.

Endereço de acesso a este CV:

http://www.degois.pt/visualizador/curriculum.jsp?key=6370862504844805

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14noVEMbro2020...COLHENDO textos do JAVasco:

 Livro do professor António MaDURO conta a estória das primeiras laranjeiras que vieram da China...Claustro do Cardeal...Mosteiro d’ Alcobaça que vos abRRaaaaaaAÇA...gRRacias José Alberto Vasco pelas tuas postAGEns deste livro!!!

 A imagem pode conter: uma ou mais pessoas

"Nas laranjeiras, os livros de contabilidade do Mosteiro fazem referência à laranja da China. Segundo Beckford no seu diário de viagem -Alcobaça e Batalha-, as primeiras laranjeiras da China que tinha vindo para Portugal foram plantadas no claustro de D. Dinis. Assinala Manuel Vieira Natividade, na qualidade de primeiro tradutor desta obra literária, que a introdução de laranjeiras em Alcobaça data de 1316." - Cister em Alcobaça/ Território, Economia e Sociedade (éculos XVIII-XX)

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"O consumo de frutas pelos monges era elevado, como se pode verificar através dos registos de despesa com caixas de laranjas, pêssegos e figos, arrobas de peras e cerejas, etc. William Beckford, a propósito do banquete que o abade do Mosteiro ofertou em sua honra, refere:
-Quanto a doces e frutas, não era aqui o seu lugar, esperavam-nos numa sala adjacente, , ainda mais espaçosa e sumptuosa, onde os eflúvios das iguarias dos molhos não nos alcançavam.-
A curta descrição de Beckford remete o consumo de fruta para o final da refeição. Sabe-se, todavia, que a fruta tinha critérios de consumo. Consoante a sua qualidade e atributos associados (frutos quentes/ frios; leves/ pesados, etc) podiam servir de entrada, acompanhamento ou sobremesa. Alguns frutos não eram compatíveis com determinados pratos ou alimentos (interdito que atingia e atinge, com muita frequência, o melão e a melancia). A fruta podia também ser servida a acompanhar o vinho. As artes da doçaria e conserva requisitavam grandes quantidades de peras, laranjas, pêssegos, cidras, abóboras e figos."

"Os monges cistercienses acarinharam a fruticultura. O profundo amor com que tratavam os seus pomares de laranjeiras doces e pessegueiros explica que para os designarem utilizassem a singela expressão de -jardim-, numa clara alusão ao paraíso celestial.
A exploração agrícola das granjas reservava um espaço para as árvores de fruto. Mesmo nas granjas de solos mais inóspitos, privados de águas de nascente e cravejados de pedra, as fruteiras marcavam posição.
A granja de Val Ventos, localizada em plena Serra dos Candeeiros, possuía um amplo pomar de laranjeiras e limas. Para socorrer este -jardim- implantado a meia encosta, os monges mandaram edificar uma cisterna. baptizada por Pia da Serra (Vale dos Crutos)."

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"A quebra da exportação não se deve em exclusivo à recuperação da França vinhateira, mas a outro fenómeno que tem a ver com os hábitos de consumo. Na prática, conjugam-se políticas proteccionistas e barreiras de gosto. Os mercados europeus, nomeadamente o inglês (tabela proteccionista de 1881) e francês (1892), recusam os vinhos portugueses que, por serem aguardentados, exibem um teor alcoólico demasiado elevado. A evolução dos vinhos era, de facto, crucial para o seu despacho. Pretendiam-se vinhos ligeiros que não inebriassem em contínuo o seu consumidor, em vez dos vinhos alcoólicos, adstringentes e taninosos. Daí a necessidade urgente de correcção dos métodos de vinificação, assim como de fabricar vinhos adequados aos diferentes mercados." 

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"A rusticidade da maquinaria permitia o seu fabrico nas serralharias locais. Na oficina de serralharia de João Vasco produziam-se charruas para todos os préstimos agrícolas, prensas de sistema americano para vinho e azeite, caldeiras de cobre para destilação. No anúncio que promove no periódico alcobacense, este serralheiro apresenta como galardão a menção honrosa com que foi agraciado na Exposição de Paris de 1900.
As instalações acompanham este esforço de modernização. Em 1896 principiavam as obras de construção das adegas, lagares e casa da caldeira do Olival Fechado (dependências, posteriormente, adquiridas a 26 de Fevereiro de 1948 pela Junta Nacional do Vinho e que hoje albergam o Museu Nacional do Vinho), projecto verdadeiramente modelar quanto à dimensão do espaço, funcionalidade e nível de equipamentos, que tem como proprietário e autor o Dr. José Eduardo Raposo de Magalhães."

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"A abundância de frutos leva M. Vieira Natividade a escrever em 1912 que -a secagem das uvas também poderá tomar aqui extraordinário desenvolvimento, se atendermos à intensa cultura d'esse fruto-. Pela primeira vez na sua história, Alcobaça assume uma feição vinhateira. As grandes vinhas passam a ser identificadas com as quintas e acabam por usurpar a sua identidade. Até a área da propriedadae passa a ser mesurada pelos pés de bacelo que possui, daí dizer-se : -Arrendei tantos milheiros de bacelos-.
... Mas a ruptura com o passado revelou em Alcobaça uma maior intensidade. O domínio incontestado das castas brancas, que povoavam as vinhas do Mosteiro, sofreu uma completa inversão que, provavelmente, terá tido início com as plantações pós-oídio. Em 1885, dois anos antes de a filoxera assolar as vinhas do concelho, os tintos arrecadavam 75% da produção. No povoamento de híbridos, que sucede à filoxera, as castas tintas mantêm a primazia. O quadro de produção de 1906 mostra que os vinhos tintos representam aproximadamente dois terços do total. Esta preferência pelos tintos relegou a vinificação pelo método de bica aberta para uma posição secundária."

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 "Todos os sobejos e restos de vinificação tinham o seu destino. Das massas da pisa e espremedura obtinha-se a água-pé que se dava ao rancho de serviçais. Esta bebida era designada, em sentido pejorativo pelos malteses, por água-de-cordas, dado que a acção conjunta da pisa e prensagem retiravam aos bagaços todas as propriedades vínicas. Dizia-se que a massa estava empenhada quando se recuperavam os almudes que sobre ela tinham sido vertidos. Este produto da repisa dos bagaços possuía um grau de acidez muito elevado. Os bagaços eram espalhados nas eiras a secar para serem posteriormente escolhidos."

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 "Conhecemos as referências elogiosas que vários ilustres convivas do Mosteiro teceram a propósito dos vinhos. A literatura de viagens é pródiga a exaltar a fama dos vinhos de Alcobaça. William Beckford, na curta estada que faz no Mosteiro de Alcobaça, no ano de 1794, não poupa louvores ao vinho elaborado nas adegas monásticas: -O meu famoso cozinheiro francês, na exaltação do momento, declarou, nada patrioticamente, que o Clos de Vougeot era uma zurrapa comparado com o Aljubarrota - divino, etéreo, perfumado Aljubarrota!-. Outros autores exaltavam os seus atributos. O próprio Gil Vicente, no auto do -Pranto de Maria Parda-,"

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 "O fabrico do vinho, na comarca de Alcobaça, seguia, predominantemente, o método de bica aberta. Segundo Jorge Estrela, a exclusividade desta técnica de vinificação não se pode dissociar do regime de monopólio imposto pelo Mosteiro. De facto, a restrição do serviço do lagar pelo espaço de 24 horas inviabilizava a feitura de vinhos de curtimenta, tendo o camponês de se sujeitar a lotar o branco com tintas para lhe conferir um pouco de cor. A população residente nos Coutos via-se assim obrigada a seguir os métodos de vinificação estabelecidos pela Ordem. Acreditamos que esta imposição não fosse muito do agrado dos rurais, habituados a vinhos encorpados e adstringentes."

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"O Mosteiro possuía 18 adegas disseminadas no território dos Coutos: -Alfeizerão - 1, Aljubarrota - 1, Alvorninha - 1, Quinta do Castelo - 1, Santa Catarina - 2, Cela -1, Évora - 1, Famalicão - 1, Quinta da Gafa -1, Julgado - 1, Maiorga - 1, Salir de Matto - 1, Quinta de Turquel, e Villa - 2, Vallado, e Quinta - 2, Quinta do Vimeiro - 1-. Conhecemos a capacidade de armazenamento da Quinta da Gafa, a maior propriedade de vinha do Mosteiro. Entre os 12 tonéis da sua adega e lagar compreendia 36 pipas (18.000 litros). Os tonéis de maior dimensão atingiam a notável capacidade de 5 pipas. O auto de arrematação do vinho efectuado após a saída da Ordem contabilizou 700 almudes (14.000 litros)...
...Com a extinção da Ordem e o termo do monopólio de produção de vinho, os lagares multiplicaram-se como cogumelos. O levantamento de 1862 regista na comarca de Alcobaça 156 lagares."

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"No ano de 1887, a filoxera alcançou as vinhas do concelho de Alcobaça. Em sessão camarária a vereação anuiu arcar com todos os encargos de mão-de-obra para socorrer as vinhas filoxeradas de Cós, desde que o governo se comprometesse a fornecer a assistência técnica, bem como os meios materiais necessários aos tratamentos. Mas a -nódoa- filoxérica que atingiu a freguesia de Cós, ao contrário do que inicialmente se avaliou, não constituía um pólo isolado, mas uma extensão da mancha que tinha tomado o concelho de Porto de Mós.
Quando a filoxera atingiu o distrito de Leiria, mau grado algum desnorte inicial, os lavradores não se encontravam desarmados. A tardia revelação do fenómeno permitiu beneficiar das experiências, meios e soluções preconizados na Europa e na região vinhateira duriense e assim medir os prós e contras dos vários ensaios. Este hiato temporal também foi favorável aos organismos de supervisão, oleando a cadeia hieráquica de comando, entrosando os diferentes níveis de decisão ao tornar a comunicação mais fluida, concretizando a ligação ao terreno por meio dos olhos atentos das Comissões de Vigilância, de molde a atuar (dentro dos limites estruturais e burocráticos da época) no tempo útil. "

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 "Os agrónomos oitocentistas consideravam que este dano podia ser evitado se os proprietários estivessem atentos e soubessem ler e interpretar os sinais atmosféricos. Ao avistar nuvens consideradas suspeitas, era imperioso mandar tocar ininterruptamente os sinos dos campanários das Igrejas. As Igrejas possuíam um sino dedicado a Santa Bárbara, a advogada dos trovões. O exorcismo deste fenómeno atmosférico era acompanhado de orações dedicadas a esta Santa. Suplica-se-lhe que espalhe a tempestade para bem longe, para onde não haja nem eira, nem beira, nem frutos da terra. Caso as vinhas não pudessem ser acudidas pelo troar dos sinos, recomendava-se o disparo de uma peça de artilharia de calibre 12 ou superior. Acreditava-se que o efeito dos sucessivos disparos ou do tanger continuado dos sinos influísse positivamente na atmosfera, dissipando os sinais deste funesto evento."

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 "Nas propriedades do Mosteiro, Outubro era o mês de eleição das vindimas. Mas esta operação iniciava-se em Setembro com a colheita das castas brancas. A tradição aconselhava a fazer a vindima no minguante lunar, norma que não podia ser obviamente respeitada nas grandes vinhas. A chuva era desfavorável a esta operação, dado o prejuízo que obrava nos vinhos. A colheita a navalha ou faca fazia-se para cestos vindimos que depois eram descarregados para poceiros e daí para as tinas e dornas de condução montadas no leito dos carros de bois. Não se registavam cuidados de limpar os cachos de bagos podres e passados, de pôr de parte as verdes e muito menos de separar castas. A única atenção consistia em separar a uva branca da tinta, dado que sofriam processos de vinificação diferenciados."

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 "Nas terras de vinha do Mosteiro, nomeadamente na vinha da Gafa, a poda tinha lugar nos meses de Janeiro e Fevereiro, com prevalência para este último, segundo os informes documentais. A sua mão-de-obra era exclusivamente masculina, sendo necessárias em média 440 jornas anuais. Em vez de dispersar os trabalhadores, a política de gestão do pessoal deste instituto monástico consistia em concentrar o máximo de assalariados numa propriedade até se dar por concluído o granjeio. Findo o labor, o contingente braçal era sucessivamente reencaminhado para outras explorações. Tal situação implicava o estabelecimento de prioridades que tinham como critérios prováveis a importância económica da exploração, a sua proximidade com o Mosteiro, a previsão da campanha, o estado de maturação das suas frutas, etc."

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 "A iluminação pública só chega a Alcobaça no final da década de 70. Na sessão camarária de 10 de Dezembro de 1877, autoriza-se a compra de 22 candeeiros e respectivas consolas para servir a vila de Alcobaça e o povoado da Nazaré durante a época balnear -(a acta da sessão precisa os locais onde deviam ser instalados os candeeiros, a saber: á fontinha na rua Fr. Fortunato: á porta das casas de Joaquim Nascimento Pereira do Valle, e junto das casas d'António Fortunato; na esquina de Marianna Bernarda; na rua do Castello de fronte ao beco da rua nova; no alto e no fim desta rua; á porta do moinho da praça; á porta de Maria José Caçadora; no canto do Grillo; na esquina de Joaquim Silvério Raposo; no arco de Claraval do lado das amoreiras; no cunhal do patim para o lado da praça D. Affonso Henriques, de forma que espraie lus para esta e para o rocio: na esquina do patim da egreja do Mosteiro, para o lado do norte; na esquina de casa de João Eliseu Ribeiro; na esquina da travessa da Cadeia para o lado do rocio; no canto da egreja nova; nas proximidades do edifício do asylo; na rua da Rainha, defronte da travessa da cadeia; na esquina da botica de José Nunes d'Abreu: finalmente defronte da padaria lisbonense/ B.M.A., lv 17 dos Acórdãos das sessões da C.M.A., fl. 14,10 de Dezembro de 1877)-"

https://www.facebook.com/photo?fbid=10215188592903252&set=a.1150059006751

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"Para além da sua categoria como óleo votivo, o azeite começou a ser utilizado na iluminação doméstica e pública em Roma a partir do século VI a.C. Graças à chama bruxuleante do azeite iludia-se a noite natural, prolongavam-se os afazeres domésticos e aclaravam-se os espaços públicos de maior dignidade.
A cidade iluminada dos bairros aristocráticos e burgueses, do passeio público e dos edifícios da administração contrastava com a cidade escura das classes populares. Em Portugal, Lisboa é a primeira cidade a beneficiar de um plano de iluminação pública, obra avançada no ano de 1780 pelo intendente Pina Manique.
Por motivos de segurança, os candeeiros multiplicam-se e manda-se que sejam acesos independentemente de fazer luar. No ano de 1840,só para iluminar a cidade de Lisboa existiam 2.328 candeeiros que consumiam entre 12.000 a 13.000 almudes de azeite por ano."

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 "Em resposta ao questionário do Director das Obras Públicas do distrito de Leiria (1850) sobre a vida económica e acessibilidades deste concelho, dada a intenção do governo central construir uma nova estrada, os negociantes e proprietários da vila respondem que se exporta -vinho, azeite, águas-ardentes, frutas, madeiras e papel pelo porto de S. Martinho e pelas duas estradas de Candieiros e Aljubarrota, a entrar na actual estrada Real de Lisboa ao Porto, sendo a quantidade de cereais para mais de mil moios-. A fartura e qualidade do seu azeite levam a que Alcobaça, juntamente com Pedrógão e Porto de Mós, seja escolhida para representar o distrito na Exposição Universal de Paris de 1867."

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 "Os lagares instalados na subserra deparavam-se com o problema do abastecimento de água. Estrategicamente, estas unidades localizavam-se na imediação de lagoas e barreiros. A memória social gravou o conflito que opôs o povo das Ataíjas e dos Casais de Santa Teresa à tentativa do Mosteiro em apossar-se da Lagoa Ruiva, uma das raras lagoas permanentes da charneca serrana. Os monges pretendiam reservar a Lagoa na cerca da Quinta da Ataíja para se aproveitarem da água para os trabalhos do lagar. A determinação do povo malogrou esta pretensão senhorial."

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12set2020
"O golpe de misericórdia na cultura olivícola provém da mudança de vida das populações rurais. As classes etárias mais jovens já não se conformam com a exiguidade da vida material dos seus pais. O desvio gradual do antigo capital humano dos ranchos na diáspora migratória vai reduzir, drasticamente, a mão-de-obra disponível. Dá-se, pela primeira vez, a interrupção de um ciclo em que a força de trabalho de substituição não é reposta. A mão-de-obra furta-se ao trabalho da terra, às suas agruras, à irregularidade da jorna, à sua condição depreciada socialmente. Na região, a indústria cerâmica, a exploração da pedra, entre outras actividades, absorvem parte dos antigos jornaleiros. Quem não encontra trabalho entre portas alicia-se com o salto para a Europa ou engrossa a torrente dos que se fixam na periferia da capital." 

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6set2020
"O olival é uma das grandes vítimas da economia de guerra do primeiro conflito mundial. A escassez de recursos energéticos, nomeadamente de matéria-prima combustível, conduz ao abate desregrado destas fruteiras. A alta vertiginosa do preço da lenha, consociada à quebra do preço do azeite, constituiu um incentivo à delapidação da mancha olivícola. O governo estava atento à gravidade da situação. O Decreto 3.387, de 26 de Setembro de 1917, mandava punir com multa e pena de prisão não inferior a três meses todos aqueles que arrancassem, queimassem ou provocassem danos em oliveiras, sobreiros e azinheiras. Mas essa cautela não consegue refrear o ímpeto do arranque."

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5set2020
"A fase da colheita coincidia com a cobrança dos direitos do Mosteiro sobre as terras do olival. Estas prestações eram, habitualmente, pagas em azeitona na proporção de um quinto e um dízimo da colheita, competindo ao senhorio assegurar o frete desde o pé da árvore até aos seus lagares. Desta forma, impedia-se que o camponês ocultasse parte da produção, mas esta vigilância sobre os seus réditos trazia outros inconvenientes para o produtor que tinha de aguardar a vinda dos procuradores do Mosteiro. Essa espera forçada não só lesava o trabalho camponês como, por vezes, trazia prejuízos para a colheita. Compreende-se bem a resistência da comunidade camponesa a este adelgaçar do seu pecúlio."

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30agosto2020

"Tempo de trabalho, a colheita é também um tempo de socialização. Como Dalla Bella presenciou nos campos de Coimbra, enquanto apanhavam a azeitona os ranchos de malteses cantavam modas. Mas o momento de maior confraternização tinha lugar com a festa de encerramento da apanha. A adiafa, patrocinada pelo proprietário do olival, incluía um rancho melhorado e um baile ao som de flautas, gaitas de foles, sanfonas, concertinas.
O cancioneiro da apanha constitui um registo sociológico de grande interesse. A temática das canções permite analisar o clima social e de interacção estabelecida entre os pares, como perspectivar os seus interesses, preocupações e conflitos."

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29agosto2020

 "Para afugentar as aves que se alimentavam da azeitona recorria-se a múltiplos artifícios, nomeadamente a espantalhos (de uso vulgarizado), a trambolas (pequenos engenhos que pela acção do vento silvavam ou matraqueavam), a trapos ou bandeiras ondulantes, a pássaros mortos dependurados nas braças das árvores (segundo a crença, as aves, ao verem um seu familiar morto, debandavam para outras paragens) e também a bandos de crianças que deambulavam pelo olival produzindo ruído com chocalhos e latas, fazendo algazarra e arremessando bombas."

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17jan2015...15.30' lançamento de + 1 livro:
CISTER EM ALCOBAÇA:  nos séculos XVIII a XX
UMA ADAPTAÇÃO DA SUA TESE DE DOUTORAMENTO
Rui Rasquilho apresenta a obra
Auditório da Biblioteca Municipal

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assume ser vogal do Museu do Vinho
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A tese de doutoramento está aqui:
https://estudogeral.sib.uc.pt/bitstream/10316/634/2/Tese%20AEVVM-Sum%C3%A1rio%20e%20Introdu%C3%A7%C3%A3o.pdf
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Biblioteca Nacional
muitos textos e obras:
http://catalogo.bnportugal.pt/ipac20/ipac.jsp?session=1M7R0X3571656.624188&profile=bn&uri=link=3100018~!121790~!3100024~!3100022&aspect=basic_search&menu=search&ri=1&source=~!bnp&term=Maduro%2C+Ant%C3%B3nio+Eduardo+Veyrier+Val%C3%A9rio&index=AUTHOR
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VOU REVER POSTAGENS DO ANTONÓNIO MADURO NO UNIR:
Postagem 6.115
1dez2012

18h. Museu do Vinho . +1 livro do António Maduro: a biografia do lavrador, político e filantropo José Raposo de Magalhães...

No colóquio sobre a história da Adega do Olival Fechado | Futuro Museu do Vinho
    António Maduro lança “Biografia de José Eduardo Raposo de Magalhães”
           
    Cartaz
       O lançamento do livro “Biografia de José Eduardo Raposo de Magalhães” (edição CEPAE), da autoria do Doutor António Maduro, terá lugar no dia 1 de dezembro (sábado), pelas 18h. Em simultâneo, a Câmara Municipal de Alcobaça promove uma tarde de reflexão acerca do Museu do Vinho, da sua história e do seu futuro, nas instalações do Museu Nacional do Vinho, com a presença de Paulo Inácio, António Maduro, Fernando Magalhães, Rui Rasquilho e Alberto Guerreiro. Recorde-se que o engenheiro José Eduardo Raposo de Magalhães (1844-1942) foi o fundador da Adega do Olival Fechado, atual Museu Nacional do Vinho, em Alcobaça.

       ProgramaSábado, dia 01.12.2012 | 18h00

       Colóquio sobre a história da Adega do Olival Fechado, à Ponte de Jardim

       Paulo Inácio, António Maduro, Fernando Magalhães, Rui Rasquilho e Alberto Guerreiro conversarão sobre o livro editado pelo CEPAE “Biografia de José Eduardo Raposo de Magalhães”, da autoria do Doutor António MaduroConversa dos participantes acerca do futuro do Museu Nacional do Vinho

       O livro a apresentar inaugura uma nova colecção do CEPAE - Centro do Património da Estremadura, denominada Biografia Estremanhas - que será oferecido aos participantes.

       No final, serão servidos vinhos da Adega Cooperativa de Alcobaça.

       Fonte: Gabinete de Comunicação e Relações Públicas do Município de Alcobaça
    27-11-2012
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    Via

    http://jeroalcoa.blogspot.pt/2009/11/m113-comidas-de-abade.html
    Quem é António Valério Maduro?


    António Eduardo Veyrier Valério Maduro, nasceu a 28/02/1959, na freguesia de Alcobaça, concelho de Alcobaça, distrito de Leiria.

    · Professor do Quadro de Nomeação Definitiva da Escola Secundária nº1 de Alcobaça (actual D. Inês de Castro) a 01/09/1989.
    · Professor do Quadro de Nomeação Definitiva da Escola Secundária Francisco Rodrigues Lobo a 07/07/2009.
    · Goza, no ano lectivo de 1999/2000, de Licença Sabática para realização de um estudo sobre “A Produção do Azeite nas Terras de Alcobaça: Economia, Tecnologia e Relações Sociais (séculos XVII-XX)”. A investigação teve a orientação do Professor Doutor Manuel Laranjeira Rodrigues de Areia.
    · Conclui, a 5 de Junho de 2007, o Doutoramento em Letras, na área de História, especialidade de História Contemporânea, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, em que foi Aprovado com Distinção e Louvor por unanimidade.


    Algumas actividades de formação, orientação de visitas culturais, comunicações e projectos de investigação
    · Participa, na década de 70, no grupo de investigação etnográfica do Dr. Eduíno Borges Garcia.
    · Lecciona os módulos de Introdução ao Património Etnográfico e Introdução à Cultura Portuguesa, em parceria com o Dr. César Cunha do Coito e o Antropólogo Pedro Castro Henriques, no Curso de Formação de Técnicos Animadores em Património Cultural (1988), curso promovido pelo GEOTA (Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente).
    · Participa nos anos de 1989/1990 na equipa de investigação liderada pelo Dr. César Coito no “Estudo Etnográfico da Comunidade de Vilas Ruivas – Beira Baixa”, projecto financiado pelo INAMB (Instituto Nacional do Ambiente).
    · Formador no Instituto S. Bernardo (1983/1984; 1986/1988).
    · Formador da Escola Profissional de Agricultura de Cister (1991/1999).
    · Orienta o circuito cultural na antiga área dos Coutos de Alcobaça (Escola Secundária de D. Inês de Castro, 14/10/1994).
    · Apresenta uma comunicação no Colóquio “O Livro na Perspectiva dos Escritores Alcobacenses” (Câmara Municipal de Alcobaça, 23/04/1997).
    · Orienta, em 22/03/1998, o “Roteiro da Água na Serra dos Candeeiros”, integrado no ciclo de “Visitação dos Campos”, viagens culturais organizadas no âmbito da exposição “O Voo do Arado” (Museu Nacional de Etnologia/ADEPA).
    · Orienta uma visita cultural sob o tema “Roteiro da Água na Serra dos Candeeiros” no Seminário “Alcobaça que Museus” (organização “Rebate”, 23-24/07/1999).
    · Orienta em 22/11/1999 uma visita às antigas Granjas dos Coutos de Alcobaça no âmbito das Comemorações do Iº Centenário do Nascimento do Professor Doutor Joaquim Vieira Natividade. · Conferência sob o título “Povoamento e Olivicultura na Área Serrana dos Coutos de Alcobaça”, no âmbito das Jornadas Europeias de Património/2000 (Mosteiro de Alcobaça/ IPPAR, 25/09/2000).
    · Orienta uma visita aos Fornos de cal de Pataias, no âmbito das IVª Jornadas Culturais do CEPAE (Centro de Património da Estremadura, 29/04/2001).
    · Apresenta uma comunicação no Congresso Sete Séculos Sete Marcos, sob o título “A Produção de Azeite nos Coutos de Alcobaça (século XVIII)”, (Câmara Municipal de Porto de Mós/Faculdade de Letras de Coimbra, 17/06/2005).
    · Apresenta uma comunicação no IV Congresso Histórico de Guimarães – Do Absolutismo ao Liberalismo, sob o título “A paisagem agrária na região de Alcobaça: continuidade e ruptura do quadro produtivo ao longo do século XIX” (Guimarães, 28/10/2006).
    · Apresenta uma comunicação no Colóquio “7 razões para votar”, sob o título “O agrosistema cisterciense nos séculos XVIII-XIX” (Câmara Municipal de Alcobaça, 30/06/2007).
    · Orienta, em 8 de Julho de 2007, uma visita guiada “Monges, Oliveiras e Azeite”, integrada na Comemoração do 30º aniversário da ADEPA.
    · Inserido no programa “Um dia no Mosteiro de Alcobaça”, profere uma Conferência: “A Vida Económica e Social no Domínio Alcobacense no Século XVIII” (Curso Médico de Coimbra 1954/60 e Município de Alcobaça, 07/06/08)).
    .· Conferência sob o título “A Alimentação no Mosteiro de Alcobaça, no século XVIII”, no âmbito do projecto dos Departamentos de Ciências Sociais e Humanas e Ciências da Terra e da Vida “O pão nosso de cada dia”. (Escola Secundária Francisco Rodrigues Lobo, 12/02/2009).
    · Conferência sob o título: “A Região de Leiria nos Séculos XVIII-XIX”, (Instituto Educativo do Juncal, 25/03/2009).
    · Apresenta uma comunicação no IV Congresso Internacional sobre Cister em Portugal e na Galiza, sob o título “As transformações na cultura da vinha e no fabrico do vinho nas terras de Alcobaça nos séculos XVIII-XIX” (Braga e Oseira, 1-3/10/2009).
    · Colabora no projecto de investigação: “Vida Privada dos Presidentes da I República”, conduzindo a investigação sobre António José de Almeida.



    Participação nos periódicos

    · Pórtico da Benedita
    · Correio do Litoral
    · O Alcoa
    · Voz de Alcobaça
    · Tinta Fresca
    · Região de Leiria

    (tratamento jornalístico do seu curriculum por JERO)
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    Via tintafresca.net


    Com base na sua tese de doutoramento
      António Valério Maduro apresentou livro
      “Cister em Alcobaça”

                António Maduro, Rui Rasquilho e Eduardo Gonçalves 
         António Valério Maduro apresentou, no dia 17 de janeiro, no auditório da Biblioteca Municipal de Alcobaça, o seu livro Cister em Alcobaça –Território, Economia e Sociedade (séculos XVIII-XX), que constitui uma síntese da sua tese de doutoramento concluída em 2007 na Universidade de Coimbra. Uma obra que Rui Rasquilho, ex-diretor e presidente da Associação dos Amigos do Mosteiro de Alcobaça, considerou “um primor de investigação, transcrita numa prosa escorreita e límpida”, o que muitas vezes não acontece em obras académicas. O historiador defendeu que esta obra pode ser considerada a continuação dos trabalhos de historiografia rural do Prof. Joaquim Vieira Natividade (1899-1969).

         Perante cerca de meia centena de pessoas, Margarida Neto, membro do júri da tese de doutoramento do autor e Professora da Universidade de Coimbra, considerou que António Maduro tem especiais capacidades para estudar a história rural, recordando também que o projeto inicial do doutorando foi podado por sua iniciativa, circunscrevendo o tempo de estudo aos últimos séculos XVIII, XIX e início do XX, em vez de o estender até à Idade Média, o que contribuiu para um estudo mais aprofundado da temática em causa.

         Aurélio de Oliveira, também membro do júri da tese de doutoramento do autor, sublinhou as qualidades do autor, que “não vê o mundo rural com olhos de fora, mas com olhos de quem o conhece.” O Professor Catedrático da Universidade do Porto classificou este livro como sendo de sociologia rural, contribuindo para explicar o atraso da agricultura portuguesa, que, na sua opinião, não se deve às condições edafoclimáticas dos terrenos agrícolas, como muitos defenderam durante séculos, mas à burocracia, desregulação dos mercados e fiscalidade desajustadas no setor agrícola.

       
                                             Público presente
        A finalizar, António Maduro recordou ter sido sua a opção de estudar o passado rural da sua terra, alertando que “Alcobaça tem de garantir que o passado tem futuro” e que “o passado não é um fardo”, mas um fator de progresso. O historiador admite que “Alcobaça tem vindo a melhorar neste capítulo, embora não, talvez, ao ritmo que os alcobacenses gostariam”, dando como exemplos positivos, nos últimos anos, a criação do Parque dos Monges e a reabertura do Museu do Vinho de Alcobaça.

         O autor alertou também que o Mosteiro de Alcobaça não pode continuar a ser encarado como um conjunto de pedras sem o correspondente enquadramento territorial, económico e social cisterciense, defendendo assim a criação de roteiros turísticos integrados e explicativos, para os quais muito poderão contribuir o Museu do Vinho de Alcobaça e o futuro Museu dos Coutos de Alcobaça.

         Cister em Alcobaça –Território, Economia e Sociedade (séculos XVIII-XX) tem cerca de 700 páginas, custa 30 euros e é uma edição do ISMAI- Instituto Universitário da Maia, que se fez representar nesta apresentação pelo Prof. Eduardo Gonçalves.

         Mário Lopes
      19-01-2015
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      respiguei do blogue do José Eduardo Oliveira:



      M169-O VALE DA RIBEIRA DO MOGO

      O Vale da Ribeira do Mogo
      Mais uma das candidaturas de Alcobaça às 7 Maravilhas Naturais de Portugal
      O Vale da Ribeira do Mogo afunilado e sinuoso revela a graça das formações calcárias e de uma natureza vegetal que com elas se consocia. Este vale aprazível relativamente intocado é visitável a partir das localidades de Chiqueda ou do Carvalhal de Aljubarrota.
      As vertentes e o corpo do vale enfeitam-se de alguns carvalhos, zambujeiros, pinheiros mansos e silvestres. O medronheiro e o carrasco dominam nos altos e nas ribanceiras revelando a depreciação da antiga mata de carvalhos tão dizimada pelas artes e labores dos homens (derrotes para construções e lenhas, corte de matos para as terras e pastorícia, o que tanto facilitou e potenciou a erosão). Nas terras férteis do vale ou em socalcos rasgados e sustentados por muros de pedra insonsa o homem chanta oliveiras e semeia cereais e leguminosas.
      A ocupação humana do vale conduz-nos à pré-história. Foi nesta área que Manuel Vieira Natividade, em finais do século XIX, realizou várias campanhas arqueológicas, nomeadamente nas três grutas das Calatras, levantando um espólio lítico e cerâmico significativo do período neolítico que se encontra até hoje à espera de conhecer a luz do dia.
      Cister também se interessou por este espaço. Junto à nascente do Alcoa e em plena Granja de Chiqueda (baptizada significativamente de Jardim), os “monges agrónomos” edificaram um complexo industrial com moinho de rodízio de quatro pedras e um lagar de azeite com seis varas, três caldeiras e engenho hidráulico. Um pouco a montante, nas imediações do Poço Suão, foi levantado, na década de trinta do século XVIII, um grande forno de cal que custou ao Mosteiro mais de 80.000 réis, cuja cal parda era utilizada como argamassa para dar solidez às edificações monásticas. Realce-se ainda o reservatório conhecido por mãe-de-água que por um prodígio de engenharia hidráulica abastecia de água potável o Mosteiro.
      A espiritualidade não está arredada deste espaço. O Poço Suão, boca de uma eventual teia de algares e sumidouros que troando jorra abruptamente água nos Invernos mais rigorosos alagando o vale, testemunha a oferta cíclica do ramo da espiga que bem pode ser interpretada como uma súplica aos elementos maternos (terra e água) para que assistam a frutificação.
      Por toda esta sorte de enunciados o Vale da Ribeira do Mogo merece ser conhecido e protegido. Na esteira de Carlos Mendonça que tanto se tem batido para qualificar este vale e dotá-lo de um centro de interpretação podemos afirmar o seu espaço como uma maravilha.
      António Valério Maduro
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      20ouTU2009
      ainda ontem na última reunião de câmara do mandato...
      e agora encontrei este texto que respiguei do blogue
       http://jeroalcoa.blogspot.com/


      VAMOS LUTAR PELO "NOSSO" MUSEU DO VINHO

      O Museu do Vinho que Futuro?A ideia de um Museu para Alcobaça já remonta ao século XIX e são conhecidos os esforços de Manuel Vieira Natividade para a materialização da ideia. O que é certo é que chegamos a Abril de 74 e nada de Museu. No alvor do regime democrático a instalação de um museu em Alcobaça volta à ribalta. Em 1977 surge a ADEPA, Associação Cultural cuja finalidade primeira explicitada no art. 3º dos Estatutos consistia em “pugnar pela criação, instalação e funcionamento de um Museu de Alcobaça...”. As reflexões e propostas de projecto e modelo museológico conheceram vários intervenientes e evoluções com o passar dos anos, em que foram protagonistas Eduíno Borges Garcia, Rui Rasquilho e Maria Olímpia Lameiras de Figueiredo. Por mais de uma vez foi anunciado o parto museológico, mas em todas as ocasiões acabou por sobrevir um nado-morto.Neste clima de indiferença institucional pela memória e identidade de Alcobaça e sua região resistia um espaço museológico denominado Museu Nacional do Vinho. Este Museu nasceu fruto do impulso do Engenheiro Técnico Agrário Paixão Correia que incansavelmente adquiriu mobília vinária, alfaias, aparelhos e máquinas para o acervo expositivo. Mas por ignorância da história de Alcobaça ou sonhos de grandeza este projecto nunca foi acalentado. Agora vemos o Museu encerrado e o exterior a revelar sinais evidentes de abandono.O edifício que alberga o Museu tem uma história e um contexto. A 25 de Maio de 1896 principiavam as obras de construção das adegas, lagares e casa da caldeira do Olival Fechado projecto verdadeiramente modelar quanto à dimensão do espaço, funcionalidade e nível de equipamentos, que tinha como proprietário e autor o Dr. José Eduardo Raposo de Magalhães. São estas dependências adquiridas a 26 de Fevereiro de 1948 pela Junta Nacional do Vinho que hoje albergam o Museu do Vinho.Esta instalação é coeva de uma revolução que abalou os alicerces do Portugal vinhateiro e falamos da filoxera, praga que atingiu o concelho de Alcobaça em 1887 e matou literalmente a vinha europeia. Raposo de Magalhães foi um dos lavradores vinhateiros alcobacenses que resistiu à tragédia e com energia e fé replantou e ampliou os seus vinhedos. A nova vinha enxertada nos bravos americanos assenta numa matriz de exploração inovadora, que inclui critérios de alinhamento e compasso, apoios químicos e mecânicos, o que vai permitir alcançar resultados de dez pipas por hectare, quando anteriormente a média se situava numa pipa e meia. Mercê desta revolução a vinha passa a ser o motor da economia alcobacense. Os vinhos de Alcobaça abastecem o Brasil e as colónias africanas e os vitivinicultores arrecadam prémios em certames nacionais e internacionais, nomeadamente em Paris (1900) e no Rio de Janeiro (1909).A técnica e a ciência dão igualmente o seu contributo para melhorar a qualidade dos vinhos e permitir a sua conservação. Nas novas adegas (de que é exemplo maior a adega do Olival fechado) introduzem-se geradores a vapor para garantir a esterilização e estanquicidade das vasilhas vinárias, bombas de trasfega para pôr o vinho a limpo e estabelecer os lotes, esmagadores e desengaçadores que fazem da milenar pisa a pés uma arte obsoleta e ocasional, prensas de cinchos que arredam as ineficientes prensas de varas, assiste-se ainda a uma renovação do vasilhame de conservação e estágio dos vinhos e aguardentes, seleccionando madeiras de préstimo como o castanho, o carvalho e o vinhático.Ao falarmos no Museu do vinho podemos então falar de um museu no museu dado o testemunho de arqueologia industrial que esta peça significa.Sabemos que da parte da edilidade foram encetadas negociações para a tomada de posse e reabilitação deste conjunto patrimonial e museológico. Também sabemos que neste país a resolução de problemas de índole cultural é um autêntico quebra-cabeças. Mas a cidade de Alcobaça não pode voltar costas ao seu único museu.É certo que o modelo expositivo é arcaico e que o edificado necessita não só de obras de consolidação, como de musealização do espaço, que as peças, aparelhos e máquinas precisam ser criteriosamente inventariadas, estudadas e nalguns casos restauradas, que as exposições em torno deste produto devem ser contextualizadas, conhecer suporte histórico e conceptualização. Mas este espólio faz inveja a muitos museus nacionais e internacionais dedicados à temática do vinho e não pode simplesmente engrossar a lista de mais um bem cultural a abater.O Museu do Vinho é uma mais-valia e não um estorvo. Este museu pode contar a história do fabrico do vinho desde que os monges cistercienses mandaram chantar as primeiras vinhas e produzir vinhos que ficaram no imaginário e no palato dos viajantes que se acolheram na hospedaria monástica. O Museu pode e deve ter uma vertente pedagógica e didáctica, uma dimensão de pesquisa e investigação e até animar um projecto de produção de vinhos históricos, como o que ocorre em Ourém (em que gente mais afoita reclama a produção de vinhos cistercienses). De portas fechadas à população ou no marasmo antigo é que não é justo perpetuarmos a sua história de vida.

      António Valério Maduro