09/01/2015

9.365.(9jan2015.7.22') Sou Charlie (a opinião do camarada Ângelo Alves)...Nigéria: massacre de milhares....Paris: massacre de 12 pessoas, principalmente jornalistas do CHARLIE Hebdo, mas também polícias e reféns...

Nota do Gabinete de Imprensa do PCP

PCP condena atentado em Paris

O PCP condena firmemente o atentado ocorrido em Paris na sede do Jornal Charlie Hebdo e expressa a sua consternação e solidariedade ao povo francês.
O PCP salienta que crimes desta natureza não podem ser desligados de uma situação internacional marcada por ingerências e agressões contra Estados soberanos, através da instigação de conflitos religiosos e étnicos e da promoção de forças de extrema-direita, xenófobas e fascistas. Uma realidade que é acompanhada por políticas que aumentam a exploração e a exclusão social, nomeadamente nos países da União Europeia.
O PCP chama a atenção para os perigos de instrumentalização de genuínos sentimentos de indignação para intensificar medidas de cariz securitário que agridem direitos, liberdades e garantias dos cidadãos e para promover sentimentos racistas e xenófobos que têm alimentado o crescimento da extrema-direita e do fascismo na Europa.
O PCP insiste que o combate a tais crimes exige uma inversão de políticas, quer de âmbito económico e social, quer de relacionamento internacional entre Estados. Exige o fim do apoio político, financeiro e militar dado pelos EUA e países da União Europeia a grupos que espalham o terror e a destruição, nomeadamente no Médio Oriente, bem como o desenvolvimento de políticas de paz e cooperação respeitadoras do direito internacional, da soberania dos povos, da liberdade e da democracia.
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PARIS: TERRORISTA DO SUPERMERCADO TAMBÉM JÁ FOI MORTO. OU SEJA, POLÍCIA FRANCESA MATOU OS TRÊS SUSPEITOS QUE ESTAVAM DESDE MANHÃ CERCADOS.
VÁRIOS REFÉNS LIBERTADOS NO ASSALTO
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e na Nigéria tb há mortes...2 mil???

http://uniralcobaca.blogspot.pt/2014/05/803415maio201488-nigeria.html

Boko Haram assassina dezenas na Nigéria

08-01-2015 16:58 por Eunice Lourenço
Baga, no nordeste do país, está completamente devastada. As casas foram queimadas e há cadáveres pelas ruas.
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A opinião de João Goulão

É difícil, impossível por certo, usar o instrumento da palavra para talhar com a dimensão e os conteúdos devidos o somatório de revolta, indignação, dor e medo provocado pelos acontecimentos no semanário Charlie Hebdo, em Paris. É o terrorismo em estado puro. Quaisquer adjectivos que se juntem a tal substantivo ficarão sempre aquém da qualificação exigida por estas práticas.
É difícil, impossível por certo, usar o instrumento da palavra para talhar com a dimensão e os conteúdos devidos o somatório de revolta, indignação, dor e medo provocado pelos acontecimentos de 11 de Março de 2004, em Madrid, que vitimaram os passageiros inocentes de um comboio matutino…
… E os fuzilamentos, crucificações e decapitações, incluindo também as de reféns norte-americanos e britânicos, praticados em massa vez pelo chamado Estado Islâmico no Iraque e na Síria, vitimando centenas de inocentes de cada vez, anonimamente despejados em já incontáveis valas comuns…
… E as chacinas atribuídas ao governo da Síria e a grupos financiados e treinados pelos países da NATO e da União Europeia coligados no âmbito dos chamados “Amigos da Síria”…
… E os raptos de adolescentes e os massacres de civis cometidos pelo Boko Haram na Nigéria e países limítrofes…
… E o massacre na Casa dos Sindicatos de Odessa cometidos por grupos neofascistas associados ao governo em funções na Ucrânia…
… E o regime concentracionário imposto por Israel na Faixa de Gaza quer vigora, perante a complacência geral, nos intervalos dos massacres cometidos pelas tropas israelitas mudando apenas a designação da operação para estabelecer as parcelas de uma soma assassina…
… E os atentados cometidos contra civis israelitas, através do lançamento de mísseis ou de homens/mulheres bombas, e também contra alvos culturais, memoriais e religiosos hebraicos através do mundo…
… E os assaltos mortais contra igrejas cristãs, sinagogas, mesquitas e templos de outras crenças que se tornaram hábito no mundo…
… E o caos de terror em que mergulhou a Líbia depois da guerra e golpe de Estado praticados por grupos e milícias fundamentalistas islâmicos numa coligação com a NATO em que se envolveram, com posições de liderança, o Reino Unido e a França…
… E as vítimas civis dos bombardeamentos e guerras israelitas no Líbano...
… E as vítimas civis de uma adição selvagem, que não anda longe de um milhão, geradas pelas invasões do Afeganistão e do Iraque, que além de não resolveram os problemas invocados para lhes dar origem criaram novas situações que correspondem a imprevisíveis tragédias humanitárias…
… E as vítimas civis dos ataques com drones no Afeganistão, Paquistão, Mali, Iémen, Somália…
… E a sangrenta invasão do Barhein conduzida pela Arábia Saudita, com apoio tácito da NATO, para afogar a “Primavera Democrática”….
… E o golpe militar que no Egipto transformou em morte, numa farsa de justiça e de democracia a “Primavera Árabe”…
… E os palestinianos de todas as idades assassinados, desalojados, exilados e encarcerados dia-após-dia, de há quase setenta anos para cá, por pretenderem ter um país e uma bandeira cujo direito lhes é reconhecido por lei…
É o terrorismo em estado puro. Quaisquer adjectivos que se juntem a tal substantivo ficarão sempre aquém da qualificação exigida por estas práticas.
Desde que no Outono de 2001, na sequência dos atentados bárbaros de Nova Iorque atribuídos a terroristas cuja origem e carreira são bem conhecidos, mentalidades ainda hoje dominantes no mundo lançaram a chamada guerra contra o terrorismo que o terrorismo não deixou de se tornar cada vez mais ameaçador, diversificado e de tecer inimagináveis cumplicidades.
In memoriam pois por todas as vítimas do terrorismo sejam quais forem o seu género, idades, nacionalidades, cores de pele, etnias, crenças, opiniões, profissões e ocupações, lugar de habitação, grau de cultura, nível de desenvolvimento. E o repúdio por todos os que praticam ou patrocinam o terrorismo, sem excepção de indivíduos, organizações ou Estados.

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Via Diário Info
http://www.odiario.info/?p=3518
Nota dos Editores

Reflexão sobre a chacina de Paris

Os Editores
07.Jan.15 :: Editores


Uma onda de emoção, solidariedade e repulsa corre pelo mundo levantada pela chacina de Paris.
É legítima. Doze pessoas foram assassinadas por um grupo terrorista na sede do semanário francês Charlie Hebdo. Entre elas o diretor, quatro cartoonistas e dois polícias.
O jornal, satírico, progressista, havia sido já alvo de atentados por ter publicado caricaturas do Profeta Maomé.
A dimensão, o motivo e a circunstância contribuem para a repercussão mundial do bárbaro crime.
O facto de os assaltantes terem gritado à saída «Alá é grande e o Profeta foi vingado!» funcionou como estímulo à islamofobia.
Na última semana, organizações de extrema-direita da Alemanha, dos EUA e da França promoveram manifestações racistas dirigidas contra as comunidades muçulmanas desses países. Tais iniciativas tendem agora a multiplicar-se.
O Presidente François Hollande, ao condenar o monstruoso atentado, afirmou que a França «está em choque». Chefes de estado e de governo de todo o mundo expressam solidariedade e horror.
É lamentável mas significativo que o discurso dos políticos e os comentários dos media sejam omissos quanto a uma questão fundamental. Responsabilizam o terrorismo, reafirmam a determinação de lhe dar combate onde quer que desenvolva a sua ação criminosa, mas abstêm-se de referências às causas do surto de barbárie terrorista.
Obama e os seus aliados europeus, sobretudo Hollande e Cameron, têm telhados de vidro. Não podem confessar que o terrorismo cresceu em escala mundial desde que o imperialismo norte-americano (com o apoio do estado fascista de Israel) iniciou agressões em serie a países muçulmanos.
A guerra do Golfo foi um prólogo. Mas foi após os atentados do 11 de Setembro de 2001, com a invasão e ocupação do Afeganistão, que essa estratégia assumiu, com Bush filho, caracter prioritário.
A segunda Guerra do Iraque, o reforço da presença no Afeganistão, a agressão à Líbia, o apoio na Síria a organizações terroristas configuram crimes contra a humanidade.
Invocando sempre como pretexto para guerras abjetas a democracia e a defesa dos direitos humanos, os EUA mataram centenas de milhares de muçulmanos, destruíram cidades, introduziram a tortura, semearam a miséria e a fome no Médio Oriente e na Ásia Central.
Nesta hora em que os franceses choram os mortos de Charlie Hebdo é necessário recordar que Sarkozy e Hollande foram cúmplices de muitos dos crimes do imperialismo norte-americano.
E indispensável lembrar que muitos dos assassinos do chamado Estado Islâmico foram treinados pela CIA e por militares dos EUA. Washington fomentou o terrorismo proclamando que o combatia.
OS EDITORES DE ODIARIO.INFO
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sempre na luta pela LIBERDADE!!! vivABRILiberdade...viva quem luta em França contra tds os fanatismos, utilizando o humor e a imprensa, mesmo que não concorde com a forma e o conteúdo!!!

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Mais 1 acto da barbárie que tds rejeitamos e nos indignamos...Je suis Charlie...Je suis Ahmed...
Registo que +1x há solidariedade mundial e mui significativa. Há manifestações impressionantes...
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Curiosamente quando há massacres de muitos milhares de pessoas como na Palestina, as manifestações não atingem este nível impressionante...
Quando foi degolado o 1º jornalista pelos extremistas do Calafate foi semelhante...
Ali tão perto morreram milhares e milhares na guerra da Síria e do iraque e nunca houve reacções mundiais a este patamar...
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É impressionante como 2 bandidos movimentam 88 mil militares, polícias e viaturas e  helicópteros...
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Os agiotas, os vendedores de armas, os negociantes dos recurso minerais, os imperialistas, os financeiros exploradores, os poderosos são 1% da população e produzem.fomentam as guerras sem qualquer escrúpulo...
99% da população não se organiza e não elege quem os defenda...
A fome, a guerra, a exploração reina porque há tanta ignorância...
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UM MUNDO BÁRBARO

malevich
https://pracadobocage.wordpress.com/2015/01/07/um-mundo-barbaro/
Não, eu não sou Charlie! Uma frase publicitária que confina a barbárie que anda à solta por todo o mundo ao horror de um acontecimento bruta !
Não, eu não sou Charlie! Porque a indignação, a condenação que esta agressão selvática provoca não se deve esgotar na emoção provocada por essa fria crueldade! Deve-se estender à violência directa e indirecta, sem escrúpulos que sobrevoa o mundo como um abutre insaciável!
Não, eu não sou Charlie! Apesar da falta que me vai fazer o humor, a ironia cortante de Wolinski, de Cabu, de Charb, a acutilância de um economista iconoclasta, Bernard Maris,de todo o Charlie Hebdo, que lia com alguma regularidade e enorme prazer!!
Não, não sou Charlie! Porque me indigna o cinismo desses defensores da liberdade de imprensa e dos valores ocidentais, que dito dessa maneira não sei o que sejam, que não tiveram uma palavra, não deram uma imagem da morte de 50 e ferimentos graves em 250 ucranianos anti-Kiev que acossados pelos nazis, agora chamados ultranacionalistas, se refugiaram na Casa dos Sindicatos em Odessa, onde foram queimados vivos sem puderem fugir porque eram mortos a tiro. Nem um desses terroristas, que actuaram de cara descoberta e foram filmados, foi preso e julgado.
Não, eu não sou Charlie! Quando se assiste a manifestações nazis, sob os mais diversos nomes, por toda a Europa, quando bandos de potenciais assassinos prontos para novos holocaustos, que marcham sem deixar qualquer dúvida sobre os seus objectivos, `à sombra de uma imprensa livre que a eles se refere de forma displicente ou esquece-se de dar notícia!
Não, eu não sou Charlie! Quando assisto ao treino, municiamento e financiamento de combatentes pela liberdade e a democracia que mais tarde, quando mordem a mão que os alimentou, são chamados terroristas!
Não, eu não sou Charlie! Quando a barbárie inaudita deste atentado é a barbárie que anda à solta pelo mundo, ameaçando-nos a todos, tenhamos religião, sejamos agnósticos ou ateus. barbárie que estoira em  toda a sociedade, em qualquer continente, a qualquer hora, massacrando-a real ou virtualmente!
Sim, eu sou Charlie! Porque sou contra esta violência que nos assombra seja feita de arma na mão, torturas bestiais ou decretos inumanos.
CH
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 A opinião da Gisela Mendonça
8jan2015
Sabes, R... não estou de acordo nem com o princípio nem com o fim. A linha que separa a Liberdade da Responsabilidade tem estado demasiado invisível para alguns, de extremo mau gosto tantas vezes... importa realçar. É óbvio que este desenlace é inadmissível, 'armas não letais' poderiam ser usadas e os extremistas regozijam-se. Tudo é linguagem política, mas o palco pertence à Dignidade Humana, comum a ofensor e ofendidos. Um mundo bárbaro não nos serve!
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As contradições
via Vitor Dias

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Via expresso
8jan2015

Homenagem lusa. Charlie em Lisboa






















Em homenagem às vítimas do ataque terrorista ao "Charlie Hebdo", em Paris, centenas de portugueses marcaram presença esta noite numa manifestação na Praça dos Restauradores, em Lisboa.

Ler mais: http://expresso.sapo.pt/homenagem-lusa-charlie-em-lisboa=f905490#ixzz3OK4vZyPf

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https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10204904450507470&set=a.1863248497393.104962.1126403763&type=1&theater

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as capas
http://www.liberation.fr/societe/2015/01/08/charlie-hebdo-des-unes-en-deuil_1175787
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video do tiroteio exterior
http://www.francetvinfo.fr/faits-divers/attaque-au-siege-de-charlie-hebdo/video-des-images-de-l-attaque-au-siege-de-charlie-hebdo_790543.html

Sur les images filmées par un journaliste de l'agence Premières Lignes, on entend des coups de feu et des voix, dont une criant "Allahou Akbar". Au loin, on distingue au moins deux personnes semblant en fuite.

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https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10204981367510187&set=a.4066478056595.169231.1121602798&type=1&theater
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http://www.lorientlejour.com/article/904567/je-suis-charlie.html
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https://www.facebook.com/photo.php?fbid=514519178687678&set=a.114466522026281.17102.100003888017406&type=1&theater
Mataram WOLINSKI, Cabu, Tignous e Charb e outros camaradas. Contre nous de la tyrannie/l'étandard sanglant est levé. MdC
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8 de Janeiro de 2015 
opinião d' Ângelo Alves
Sou o Charlie
Sou o Charlie. Sou português, comunista, democrata, amante da liberdade, da democracia, da paz, progresso e desenvolvimento social. Amo a minha terra, o meu país, o meu povo, bem como todos os povos do mundo com as suas realidades, histórias, percursos, particularidades e direitos soberanos. Queria falar-vos de quem sou e de como me sinto.
Sou o Charlie, sou português. No meu País existem 3 milhões de pessoas pobres, o desemprego real deve estar a rondar os 23%. Os jovens do meu País estão sem perspectivas. Não admira, 38 anos de políticas sempre iguais destruíram aquilo que devia fazer funcionar este pais, o seu sistema produtivo. Vejo cada vez mais pessoas na rua, sem casa. A fome já chegou a muitas zonas deste País. Os mais idosos vivem mal, e são-lhes cortadas as pensões. Nestas férias de natal muitas escolas ficaram abertas para poder dar refeições em condições a crianças que estão a viver grandes dificuldades. Entretanto já começou a morrer gente à porta das urgências dos Hospitais... não porque os médicos não sejam bons, mas porque os cortes e mais cortes, fizeram com que os hospitais não dêem resposta às necessidades.
Sou o Charlie, sou jornalista francês, sinto-me um dos jornalistas assassinados a sangue frio anteontem em Paris, mas sou também aquele que é explorado e colocado perante a chantagem de obedecer cegamente aos interesses dos donos dos jornais onde trabalho ou ir para o desemprego. Sou um jornalista que por dizer a verdade sou afastado da ribalta das televisões e dos jornais, sou um jornalista igual a outros que em variados países são assassinados por exercer a minha profissão com dignidade e ética ou que morre a cobrir guerras desencadeadas para dominar povos e países inteiros e lhes sugar as suas riquezas.
O meu nome é Charlie, sou palestiniano... milhares e milhares de compatriotas meus já morreram ao longo destes mais de 50 anos, milhões não os consigo ver porque são refugiados em campos onde vivem há décadas sem poderem visitar a Palestina. Sou uma das 600 crianças que morreu sob as bombas de Israel há poucos meses, sou a criança que brincava na praia e fui atingido por fogo disparado a partir de um barco israelita que nunca compreendi porque ali estava.
O meu nome é Charlie, sou Sírio, vivia num país que não era o paraíso mas onde vivíamos em paz e em convivência de várias confissões religiosas e etnias. Hoje o meu País está destruído por uma guerra sem sentido, desencadeada por gente que não é do meu País e que, pelo que percebo, são pagos e treinados por países e forças que nada têm que ver com o meu país. São esses, que até andaram a reunir com uns figurões dos EUA, como um tal de Mc Cain, que agora querem retalhar o meu País, atacar os nossos irmãos libaneses, e construir um Estado que dizem que é Islâmico mas que os meus amigos muçulmanos dizem que não tem nada que ver com a religião deles.
O meu nome é Charlie, sou Espanhol, sou um jovem e metade de todos os meus amigos estão desempregados há vários anos, muitos vivem hoje na rua. O Desemprego é uma coisa tramada, não consigo pensar no futuro, porque todos os dias penso como vou aguentar mais tempo sem meios para sobreviver. Os discursos dos meus governantes parece que nada têm que ver com a vida que eu vivo.
O meu nome é Charlie, sou francês, vivo nos subúrbios de Paris, os meus avós vieram das ex-colónias francesas em África, ajudaram a construir este País. Sou pobre, e cada vez mais sinto que por ser descendente de africanos ou muçulmanos sou empurrado para guetos e não tenho acesso a certas profissões. Muita da malta que mora no meu bairro está desempregada há muito, a pobreza é muita.
O meu nome é Charlie, sou afro norte-americano. Dizem que vivo na terra da liberdade e das oportunidades, mas eu cada vez mais me interrogo se isso é mesmo assim. Eu e o pessoal do meu bairro somos cada vez mais afectados pela crise económica, e agora vieram os bancos tirar-nos as casas, muita malta mora em tendas nos parques, andamos revoltados e até fizemos manifestações, a resposta da polícia e mesmo dos militares foi brutal, e morreram alguns amigos meus.
O meu nome é Charlie, sou líbio. A minha família foi toda morta, assim como parte da comunidade onde pertencia, onde hoje existem vários grupos terroristas que se ocupam do tráfico de armas, de pessoas, do contrabando do petróleo e de outras actividades que nada têm que ver com aquilo que já vivi. A guerra invadiu o meu País, dividiu o meu povo e sinceramente não consigo ver como poderemos vir a ser outra vez um País digno desse nome.
O meu nome é Charlie, sou oriundo do norte de África e da África Sub-sahariana. Tenho dezenas de amigos que morreram a trabalhar, outros vão morrer dentro em pouco porque sofrem de doenças que se diz que fazem parte do passado. Muitos dos meus conterrâneos passam fome, nâo têm casa, outros acho que nunca mais os irei ver, foram contactados por gente de fora que lhes disse que iam viver e trabalhar para a Europa. Ouço dizer que uns estão presos, outros estão fechados nuns campos de detenção na Europa e outros, diz-se, morreram no mar.
O meu nome é Charlie, sou muçulmano, fui torturado violentamente por militares norte-americanos que nunca me explicaram porque estava preso. Não tive direito a julgamento. Chamam-me terrorista, mas eu penso que os terroristas são eles quando me deixam semanas sem dormir e me fazem coisas que tenho vergonha de contar. Acho que quero morrer, não aguento mais ser tratado como um animal.
O meu nome é Charlie, sou Iraquiano, o meu País vive desde a década de 90 do século passado em estado de guerra. Tenho pena de não vos poder mostrar o meu País como ele era há algumas décadas. Dizem que somos um dos berços da civilização moderna. Não sei se somos, mas que tínhamos muitas riquezas culturais lá isso tínhamos. Não vivíamos bem, e eu até nem gostava do governo do meu País, mas caramba!, nós podíamos ter tratado do assunto pelas nossas mãos e consciências. Nunca quisemos a guerra, a morte e a destruição do nosso País, apenas queríamos viver um pouco melhor. Centenas e centenas de milhares de patriotas meus morreram nestes anos numa guerra que foi justificada com mentiras sobre o meu País como a das armas químicas. Para quê? Não sei... só sei que hoje anda por cá muita gente de fora a guardar-nos como se fossemos estranhos na nossa própria terra e a guardarem – dizem eles – os nossos campos de petróleo.
O meu nome é Charlie, sou Ucraniano. O meu País está dividido por uma guerra civil. Tudo começou quando uns senhores vindos da Europa (coisa estranha... e eu que pensava que o meu País fazia parte da Europa) vieram falar com o nosso governo, que não era grande coisa diga-se em abono da verdade, para ele fazer uns acordos esquisitos que nos amarravam a umas politicas que pelo que vejo lá na Europa deles não estão a dar muito bom resultado. O nosso governo não quis esses acordos, mas também não nos perguntou nada. Depois não percebo bem o que se passou, só sei é que hoje andam por aí, quer no governo quer nas ruas, aqueles que – aprendi na escola – nós combatemos no passado - os nazi-fascistas. Esses, mais uns criminosos que acho que pertenciam a umas forças ditas de segurança, foram responsáveis por um terrível massacre em Odessa, onde morreram queimadas ou baleadas dezenas de pessoas que se refugiavam na casa dos sindicatos. Na altura não se falou muito disso no Mundo, e eu nao percebo porquê! Entretanto já morreu muita gente nesta guerra, já foi destruída muita coisa e o meu povo vive pior que nunca. Apetece-me chorar quando vejo o exército do meu próprio país a atacar o povo a que pertenço.
Eu sou o Charlie, um Afegão. Em 2001 houve um ataque a umas torres enormes nos EUA, chamavam-lhe as torres gémeas. O mundo culpou gente por esse ataque que segundo eles estava instalada no meu país. O meu país tem uma história triste de guerras. Esses mesmos que falam inglês andaram a criar os Taliban para combater o que diziam ser a invasão da URSS. Depois passados vários anos cá voltaram para combater esses Talibans. Hoje negoceiam com eles e eu já não percebo nada disto. A única coisa que sei é que já se perdeu a conta aos mortos do meu país em virtude destas guerras e agressões. As coisas pioram de dia para dia no nosso povo, e até a produção de droga aumentou exponencialmente. Diziam então que os direitos das mulheres não eram respeitados, e eu até acho que não eram, mas caramba, cabia-nos a nós resolver esse problema. É que agora elas continuam a andar de Burka, correcção: aquelas que estão vivas continuam a andar de Burka. Cada vez mais acho que esses senhores se estavam era a borrifar para os direitos do meu povo e das mulheres do meu povo.
Poderia continuar a dizer-vos quem sou, mas tenho de ir encontrar refugio porque a noite está fria e aqui no leste europeu e na russia faz um frio de rachar, pior que aquele que está em Lisboa, e portanto quem não tem casa tem de cedo encontrar um lugar minimamente coberto para instalar os papeloes e os cobertores que nos restam. Basicamente o Charlie sou eu, um homem comum, que vive em qualquer parte do mundo e que é vítima de uma política insana que cada vez traz mais guerra, mais morte, mais fome, mais desemprego, mais pobreza, mais doenças, mais problemas ambientais, menos cultura, mais discriminação, mais ódio racial, menos democracia, mais intolerância, menos humanidade, mais desrespeito por vários direitos humanos. Sou aquele que verdadeiramente sofre com os ataques e crimes como o de Paris, porque há sempre aqueles que lucram com eles. Cada vez mais acho que enquanto não se inverter a essência das políticas que ditam o sentido dominante do Mundo não terminarão os dias tristes como o de ontem em Paris.
Sou o Charlie, sou Comunista, sou amante da Paz, da amizade entre os povos. Luto pela justiça social, pelo desenvolvimento económico e social de todos os países, pelo respeito pelos direitos económicos, sociais, culturais, democráticos e de soberania dos povos. Luto para que o Mundo não seja um jogo de xadrez onde as pessoas são meras peças, e a sua vida tem um valor relativo consoante os interesses que estão em jogo. Sou o Charlie, indigno-me tanto com a morte dos meus “colegas” jornalistas em Paris como com a morte de um trabalhador da construção civil que caiu numa obra por falta de medidas de segurança.
Sou o Charlie, comunista, amante da Paz, da tolerância, da cooperação entre povos e Estados soberanos. Acredito que um mundo mais justo é possível. Acredito que é possível fazer da política aquilo que ela deve ser, uma festa de ideias e princípios usados no interesse de todos.
Sou o Charlie, sou comunista... mas podia não ser, e da mesma forma nunca iria permitir que a minha indignação pelo que se passou em Paris fosse utilizada para cortar ainda mais direitos democráticos aos povos, para imprimir medo a todos, para que poucos dominem, para eleger os muçulmanos, ou outros, como inimigos da civilização, ou para desencadear novas guerras num mundo que está já tão perigoso.
Sou o Charlie, tomo partido.... do lado da verdade, contra a manipulação. Do lado da paz, contra as guerras, as ingerências e as manobras de desestabilização. Do lado da verdadeira luta contra o terrorismo, contra a hipocrisia e a mentira. Do lado da justiça e da igualdade, contra a exploração. Do lado da democracia verdadeira, contra a ilusão de uma democracia formal. Do lado dos povos, dos trabalhadores, contra “os donos disto tudo”.
Sou o Charlie, e não quero ser usado para instigar o racismo, a xenofobia e a islamofobia. Sou o Charlie e não quero que os meus sentimentos de solidariedade para com as vitimas de Paris sejam usadas para abrir campo à extrema-direita ou para desencadear paranóias que abram campo a ainda mais mortes, guerras e destruição.
Sou o Charlie, um homem comum que quer viver em Paz e com dignidade....