13/01/2015

9.386.(13jan2015.7.11') James Joyce

Nasceu a 2fev1882
e morreu a 13jan1941
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16junho...HJ é Dia da Irlanda... Bloomsday...Bloom é personagem do livro de Ulisses de James Joyce
https://www.youtube.com/watch?v=nXu_rgPKel8
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 «Penso que da triste monotonia da existência podemos extrair aspectos do drama da vida. O maior lugar-comum e o mais morto dos vivos podem ter um papel neste grande drama.»
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Joyce sobre Ulisses
  «uma epopeia de duas raças (israelita-irlandesa) e ao mesmo tempo o ciclo do corpo humano, uma pequena história de um dia de vida e uma espécie de enciclopédia».
  «O mal é que o público há de pedir e há de encontrar lições morais no meu livro, mas dou-lhe a minha palavra de honra de que não há nele uma única linha escrita a sério.»
 
 
 Bloom escreve na areia da praia: «eu sou um»..."A guerra está a matar todos os rapazes bonitos."...Beijar os roliços melões adocicados alourados perfumados do rabo dela."...
 
 http://coracaoduplo.blogspot.com/2016/07/ulisses-de-james-joyce-literatura-e.html
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Via Maria Elisa Ribeiro
e Pensador
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1592385964111300&set=a.104671869549391.10003.100000197344912&type=3&theater
"Adoro flores
adoraria ter a casa toda nadando em rosas
meu Deus do céu
não tem nada no mundo como a natureza
as montanhas selvagens
as montanhas selvagens, depois o mar as ondas em tropel
e depois a beleza do campo as plantações de aveia e trigo
os animais pra cá pra lá tão bonitos.
Deve fazer bem à alma isso, ver os rios os lagos e as flores e formas de todos os jeitos e cheiros
e cores saltando de tudo até do fosso
primaveras e violetas
é a natureza(...)

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Via Citador
Ninguém presta à sua geração maior serviço do que aquele que, seja pela sua arte, seja pela sua existência, lhe proporciona a dádiva de uma certeza. - James Joyce - Frases
Ninguém presta à sua geração maior serviço do que aquele que, seja pela sua arte, seja pela sua existência, lhe proporciona a dádiva de uma certeza.
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Sou amanhã, ou noutro dia futuro, o que estabeleço hoje. Sou hoje o que estabeleci ontem ou noutro dia anterior.
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Tudo é caro de mais quando não é necessário. (Ulisses)
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A História é um pesadelo do qual tentamos acordar.(Ulisses)
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As acções dos homens são os melhores intérpretes dos seus pensamentos.
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Os erros são os portais da descoberta.
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Os génios não cometem erros. Os seus erros são sempre voluntários e dão origem a alguma descoberta.
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Masturbação! É impressionante como ela está sempre à nossa mão!
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A irresponsabilidade faz parte do prazer na arte; é a parte que os académicos não sabem reconhecer.
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As folhas secas cobrem em abundância o caminho das recordações.

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Biografia
http://www.e-biografias.net/james_joyce/
... escritor irlandês. Autor de "Ulisses", considerada a obra que inaugura o romance moderno e uma das mais importantes da literatura ocidental.
James Joyce (1882-1941) nasceu em Dublin na Irlanda em 2 de fevereiro de 1882. Filho de rica família católica, recebe uma rígida formação com padres jesuítas, contra a qual mais tarde se rebela. Foi aluno da Universidade de Dublin, onde estudou inglês, francês e italiano. Participou de grupos de literatura e teatro.
Em 1902, vai estudar Medicina em Paris, mas no ano seguinte, com a morte da mãe, retorna à Irlanda. Trabalha como professor particular, em seguida muda-se para Zurique e depois para Trieste, na Itália, onde se sustenta dando aulas de inglês.
Suas primeiras experiências literárias são conservadoras, marcadas pela influência do realismo de Ibsen e pelos simbolistas. É o caso dos poemas em "Música de Câmara" em 1907, seu primeiro livro. Em 1914, publica a "Coletânea de Contos Dublinenses" e, em 1916, "Retrato do Artista Quando Jovem", reminiscências de sua infância e adolescência em Dublin.
Em 1922, publica "Ulisses", cuja história passa-se em um único dia, 16 de junho de 1904, em Dublin. Seus personagens, Stephen Dedalus, Leopold Bloom e Molly Bloom, enfrentam situações correspondentes aos episódios da Odisséia, de Homero. Nessa obra, Joyce reinventa a linguagem e a sintaxe. Radicaliza a linguagem narrativa, explorando processos de associação de imagens e recursos verbais, paródias estilísticas e o fluxo da consciência. Também incorpora teorias da psicanálise freudiana sobre o comportamento sexual. O livro é proibido no Reino Unido e nos Estados Unidos, onde só é liberado em 1936.
Joyce sofre seguidas cirurgias em razão de problemas na visão. Sua última obra é "Finnegans Wake" (1939), na qual leva às últimas consequências as inovações estéticas e linguísticas apresentadas em Ulisses. Morre no dia 13 de janeiro de 1941, em Zurique.
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Via
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https://armonte.wordpress.com/2013/06/16/os-mortos-the-dead-um-texto-chave-na-obra-de-james-joyce/
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Fico sempre assombrado com a idade em que certos textos foram escritos. É o caso de Os mortos (The dead), o último e mais famoso conto de Dublinenses. James Joyce tinha  25 ou 26 anos ao escrevê-lo, naquela primeira década do século XX (nascera em 1882) em que se dedicava à criação da versão inicial do seu romance de formação, que só seria publicado, depuradíssimo em 1916, como Um retrato do artista quando jovem (dois anos antes, ele conseguira publicar, tardiamente, os quinze contos de Dublinenses, entre eles Os mortos, que fecha a coletânea).
Se Stephen Herói resultava informe, desagregado, frouxo enquanto narrativa, os contos daquela época mostram que Joyce poderia ficar na história como um dos grandes do gênero, independentemente da sua reputação futura, mais calcada na ruptura e na ousadia formal. São textos praticamente perfeitos, com um sopro do teatro de Ibsen neles[1], mas perfeitamente alinhados a grandes mestres “atmosféricos” (Maupassant, Turguêniev, Tchekhov) do gênero.
Caetano W. Galindo, que no ano passado causou sensação com sua tradução para Ulysses, agora traduziu para a Penguin/Companhia das Letras, dois dos contos de Dublinenses, o já referido Os mortos e “Arábias”. Com o acréscimo do monólogo de Molly Bloom, isso perfaz o pequeno volume joyceano para a coleção “Grandes Amores”.
Assim como A festa de Babette, de Isak Dinesen, Os mortos trata das pequenas ironias e truques do destino, do trançamento dos fios do cotidiano. Com seu espantoso senso do detalhe material, Joyce narra o pequeno baile tradicional na casa das tias solteironas do protagonista, Gabriel Conroy, as irmãs Morkan (e sua sobrinha, também solteirona) Mary Jane, na época do Natal. Apesar de se sentir um tanto “estrangeiro” e superior ao ambiente, por ser um intelectual mais “continental” do que arraigadamente irlandês, Gabriel tem muito carinho pelas tias, um sentimento cálido pelo pitoresco dublinense que elas representam, e no discurso obrigatório que é incitado exalta a “hospitalidade” como uma qualidade nativa que quase não encontra eco no resto da Europa.
O próprio Gabriel não se destaca de forma tão evidente na tessitura narrativa que dá conta dos eventos da festa, pois ali são muitos os centros de atração, como um microcosmo da “gente de Dublin”, não numa primeira leitura.
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Mas, ao se reler o texto, vemos como Joyce calcula cada momento da festa de uma maneira a preparar o extraordinário clímax, centrado no casal Conroy, em que a materialidade toda aí narrada se torna insubstancial. E aí, durante a releitura, o leitor se dá conta de como o casal praticamente não é visto junto e mal interage durante a festa, tal como nos é narrada. Há um pequeno episódio de hostilidade (em que ele dá uma resposta atravessada à esposa) e há um momento de contemplação (em que ele, no andar de baixo, a vê encostada na escada, no andar de cima, enlevada com uma canção, da qual ele mal ouve a letra, cena que é reelaborada na mente dele como motivo para um quadro, ou seja, é como se a esposa e o seu momento de enlevo fossem um “motivo” artístico).
Apesar do carinho e respeito das tias e dos demais presentes, Gabriel é alvo de vários “foras” ao longo da narrativa, sempre de forma a frustrar um intento da parte dele, onde ele parece querer mostrar o melhor da sua natureza. Faz uma observação entre jocosa e paternal à jovem serviçal da festa, Lily, e dela recebe uma áspera réplica, dança uma quadrilha com a Srta. Ivors, sua contemporânea de geração, fervorosa patriota (“o grande broche que trazia preso à parte da frente de seu colarinho tinha um emblema irlandês e um lema gaélico”), que o espicaça como intelectual e escritor anglófilo, quase um traidor, colaborando com um jornal “inglês” e desconhecedor do idioma da terra natal.
Vale a pena transcrever uma parte do diálogo:
“__ E o senhor não tem de manter contato com o seu próprio idioma, o gaélico?—perguntou  a Srta. Ivors.
__ Bom, disse Gabriel, a bem da verdade, sabe, o gaélico não é a minha língua.”
A Srta. Ivors insiste, convidando-o a excursionar pelas Ilhas Aran no verão. Gabriel declina (ele, que se gabara de conhecer “não pouco da Europa” em outro momento da festividade):
“E o senhor não tem que visitar a sua própria terra—continuava a senhorita Ivors—, que o senhor mal conhece, ou o seu próprio povo, e o seu próprio país?
__ Ah, para ser sincero—retorquiu Gabriel subitamente—, eu estou cheio do meu país, cheio!
__ Por quê ?—perguntou a Srta. Ivors.
Gabriel não respondeu, pois estava fervendo depois de sua reação.

__ Por quê?—repetiu a Srta. Ivors.”


    Ao comentar com a esposa a proposta de excursão para as Ilhas Aran e constatar o entusiasmo dela, é que ele dá a resposta atravessada que já mencionei. O ponto a se destacar aqui é que o casamento de Gabriel com a bela Gretta não acontecera sem tensões. Para a mãe de Gabriel, ela não passava de uma camponesa sonsa, que havia realizado um casamento além da sua condição social (esse desnível entre casais protagonistas é recorrente em Joyce). E essa lembrança vem à tona na festa justamente por conta dessas provocações.


Findando a festa, após contemplar Gretta ouvindo a canção e compondo uma “figura de quadro”, amortece em Gabriel a tensão entre sua “anglofilia” (que o afasta até da esposa) e sua condição de “dublinense”. E na ida para o hotel, com a magia da neve e das lembranças de momentos “encantados” do casal, desde a lua-de-mel, vai emergindo nele um furor de desejo por Gretta, tanto que ele não vê a hora em que estejam a sós.


Se podemos aproximar a parte da festa do modo cinematográfico (em que tantos mortos são evocados, de uma forma nostálgica e num misto de respeito e irreverência), é evidente que Joyce teatraliza ao máximo a parte final, ao concentrar-se no casal. Gabriel dispensa até a luz da única vela que o idoso funcionário do hotel trouxe até o quarto, e temos apenas a luz que vem dos lampiões da rua na madrugada de neve intensa. Não quero entrar em mais detalhes, mas é nesse momento em que ele já ruminou vários momentos íntimos do seu casamento, e o desejo está mais forte do que nunca, em que ele calou as provocações e acicatamentos das suas posturas éticas e intelectuais, que Gretta resolve confessar que a canção ouvida na festa a fez lembrar-se de um rapaz, Michael Furey, antigo paixonite adolescente, que “morrera por ela”. Eis aí um morto para a qual não há solução respeitosa ou irreverente, quase tão insidioso quanto o amante fantasmático da esposa do Fridolin de Breve romance de Sonho, de Arthur Schnitzler. Como vencer um amante morto? Que figura de homem cunhada por Gabriel em sua trajetória de marido e intelectual tem a virtude e o ímpeto de se impor a essa figura do passado? Pois o passado não é apenas o território das perdas, no sentido de mortes pessoais, mas das perdas, no sentido de possibilidades (o casal Bloom tematizará tudo isso com muito mais nuances, mais tarde, o espantoso é Joyce levantar tais questões na idade que tinha, e ele ainda tão autocentrado, apesar de já se valer dos benefícios que Nora trará a ele no sentido de libertá-lo desse emparedamento, tão visível em Stephen Herói, em Um retrato do artista quando jovem e mesmo na primeira parte de Ulisses).


Não é à toa que uma das pedras-de-toque para Os mortos fosse uma das “Irish Melodies” de Thomas Moore (“O ye dead”):


“É verdade, é verdade, somos sombras frias e pálidas


E os belos e bravos a quem amamos na terra se foram;


       Mas mesmo assim na morte,


       Tão doce o hálito vivo


Dos campos e flores sobre os quais caminhamos na nossa juventude,


        Que embora aqui condenados vamos


        Congelar nas neves de Hecla,



Saborearíamos isso por um momento, pensando que vivemos outra vez!”
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 É bom não perder de vista que esse amor da juventude de Gretta é justamente de uma região próxima àquela que despertara nela o entusiasmo em revisitar (para irritação de Gabriel)  e que ela viu pela última vez Michael Furey na neve. Ou seja, todos os elementos e leitmotivs de Os mortos se ligam e se entretecem nos mínimos detalhes da trama, um tipo de composição (embora em ponto pequeno) que nortearia toda a futura produção joyceana. Sobre essas reverberações, Richard Ellmann em sua magnífica biografia comenta: “Os Mortos começa com uma festa e acaba com um cadáver, assim misturando funferal, como na vigília de Finnegan.”  E num trecho posterior: “Na sua lírica, melancólica aceitação de tudo o que a vida e a morte oferecem, é uma chave na obra de Joyce. Existe aquela situação básica de adultério, real ou imaginário, que existe em toda ela. Há a comparação joyceana especial de detalhe específico elevado a uma intensidade rítmica. O objetivo final da história, a dependência mútua entre vivos e mortos, é algo sobre o que ele meditou bastante desde sua juventude.”
E há a célebre e considerada enigmática frase do último parágrafo: “Era chegada a hora de ele partir em sua jornada rumo oeste”. Esse “rumo oeste” seria a indicação da curva que a vida tinha dado, em direção à morte, ou à consciência da mortalidade, pelo menos, no seu sentido mais pungente? Ou da aceitação de sua pátria, da qual deveria forjar a consciência incriada? Seu retorno à Ítaca para recuperar, enfim, a mulher?
Essa belíssima anedota do destino que marca definitivamente a primeira fase da obra de Joyce tem outra coisa em comum com A festa de Babette: ambos tiveram adaptações cinematográficas bem-sucedidas. A de Os mortos marcou um último grande momento da carreira de John Huston; ao contrário dos seus filmes imediatamente anteriores (Fuga para a vitória, Annie, À sombra do vulcão, mesmo o delicioso A honra do poderoso Prizzi),não se trata de um filme menor, mas de um trabalho que pode se alinhar ao que de melhor Huston fez (O tesouro de Sierra Madre, O segredo das joias, Uma aventura na África, Freud, Cidade das Ilusões, O homem que queria ser rei)  e a única grande aproximação entre Joyce e o cinema, pelo menos aquele de apelo comercial. E o título brasileiro realçou a verdade poética da fábula: Os vivos e os mortos. Nada mais exato.
(escrito especialmente para o blog, em 16 de junho de 2013)
TRECHO SELECIONADO
Na tradução de Caetano W. Galindo:
__ Ele era o quê?—perguntou Gabriel, ainda ironicamente.
__ Trabalhava na usina de gás—ela disse.
    Gabriel se sentia humilhado pelo fracasso de sua ironia e pela evocação dessa figura de entre os mortos, um menino da usina de gás. Enquanto ele estava tomado de memórias de sua vida conjunta secreta, tomado de ternura e de alegria, ela o estava comparando mentalmente a um outro. Uma consciência vergonhosa de sua própria pessoa o tomou de assalto. Ele se viu como uma figura ridícula, fazendo de garoto de recados para as tias, um sentimentalista nervoso e bem-intencionado, perorando para o vulgo e idealizando suas próprias luxúrias afobadas, o sujeito fátuo e reles que entrevira no espelho. Instintivamente virou as costas mais para a luz para que ela não pudesse ver a vergonha que lhe ardia na testa.
   Ele tentou manter seu tom de fria interrogação, mas sua voz, quando falou, era humilde e indiferente.
__ Acho que você foi apaixonada por esse Michael Furey, Gretta—ele disse.
__ A gente se dava muito bem naquela época—ela disse.
  A voz dela era velada e era triste. Gabriel, sentindo agora quanto seria vão tentar levá-la aonde planejara, afagou-lhe uma das mãos e disse, triste também:
__E de que foi que ele morreu assim tão novo, Gretta? Foi de tuberculose?
__ Acho que ele morreu por mim—ela respondeu.
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   Na tradução de Hamilton Trevisan (Civilização Brasileira, 11ª. edição, 2006):
__Que fazia ele?—perguntou Gabriel, ainda com sarcasmo.
__ Trabalhava na companhia de gás.
   Gabriel sentiu-se humilhado pelo fracasso de sua ironia e pela evocação da figura do morto, um garoto da companhia de gás. Enquanto vibrava com íntimas recordações, repleto de ternura, alegria e desejo, ela o comparava com outro. Uma humilhante consciência de si mesmo o assaltou. Viu-se como uma figura ridícula, fazendo de menino travesso para as tias, um sentimentalista tímido e bem-intencionado discursando para pessoas vulgares e idealizando seus cômicos desejos: o lamentável pretensioso que vira de relance no espelho. Instintivamente, voltou-se contra a luz, para a esposa não ver o rubor que se alastrava em seu rosto.
   Procurou manter o tom de frio interrogatório, mas sua voz soou humilde e indiferente.
__ Suponho que esteve apaixonada por esse Michael Furey, Gretta.
__Queríamo-nos muito bem nesse tempo—respondeu ela.
   Sua voz era velada e triste. Percebendo como seria tolo tentar arrastá-la ao que pretendia, Gabriel começou a acariciar-lhe a mão e disse, também com tristeza:
__ E por que ele morreu tão jovem, Gretta? Tuberculose, foi?
__ Creio que morreu por minha causa.
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Em 1993, José Roberto O´Shea traduziu assim (editora Siciliano):
__ O que ele fazia na vida?—perguntou Gabriel, ainda com ironia.
__ Trabalhava no gasômetro—ela disse.
   Gabriel sentiu-se diminuído pelo fracasso de sua ironia e pela evocação da figura do morto, um garoto que trabalhava no gasômetro. Enquanto ele revivia as lembranças da vida íntima do casal, cheio de carinho e felicidade e desejo, ela o comparava a um outro homem. Um grande sentimento de humilhação assaltou-o. Viu-se como uma figura ridícula, como um menino fazendo gracinhas para as tias, como um sentimental nervoso e ingênuo discursando para plebeus e idealizando seus próprios desejos ridículos: era de fato o sujeito presunçoso que vira refletido no espelho. Instintivamente, deu as costas para a luz, com receio de que Gretta percebesse a vergonha que lhe queimava o rosto.
  Procurou manter o tom frio de interrogatório, mas quando voltou a falar a voz saiu com um tom humilde e inócuo.
__Imagino que você esteve apaixonado por esse Michael Furey, Gretta—ele disse.
__Fui feliz ao lado dele, naquela época—ela disse.
   Tinha a voz velada e triste. Gabriel, dando-se conta de que seria inútil tentar levá-la na direção em que pretendera, acariciou a mão da mulher e disse, igualmente triste:
__ E ele morreu de quê, Gretta, tão jovem? Foi tuberculose?
__Acho que ele morreu por mim—ela respondeu.
   O´Shea fez pequenas modificações na sua versão de 2012 (editora Hedra):
__ O que ele fazia na vida?—perguntou Gabriel, ainda com ironia.
__ Trabalhava no gasômetro—ela disse.
   Gabriel sentiu-se diminuído pelo fracasso de sua ironia e pela evocação da figura do morto, um garoto que trabalhava no gasômetro. Enquanto ele revivia as lembranças da vida íntima do casal, cheio de ternura e alegria e desejo, ela o comparava mentalmente com um outro homem. Uma grande sensação de insegurança o assaltou. Via-se como uma figura ridícula, um menino fazendo gracinhas para as tias, um sentimental nervoso e ingênuo, discursando para plebeus e idealizando seus próprios desejos ridículos, o sujeito presunçoso que vira refletido no espelho. Instintivamente deu as costas para a luz com receio de que ela visse a vergonha que lhe queimava a fronte.
    Procurou manter o tom frio de interrogatório mas quando voltou a falar a voz soou humilde e inócua.
__ Imagino que você esteve apaixonada por esse Michael Furey, Gretta—ele disse.
__ Fui feliz ao lado dele naquela época—ela disse.
   Tinha a voz velada e triste. Gabriel, dando-se conta de que seria inútil tentar levá-la na direção em que pretendera, acariciou a mão dela e disse, igualmente triste:
__ E ele morreu de quê, Gretta, tão jovem? Foi tuberculose?
__Acho que morreu por mim—ela respondeu.
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Na versão de Guilherme da Silva Braga (L&PM, 2012):
__ O que ele fazia na vida?, perguntou Gabriel, ainda de maneira irônica.
__ Trabalhava no gasômetro, ela respondeu.
    Gabriel sentiu-se humilhado pelo fracasso da ironia e pela evocação dessa imagem dos mortos—um garoto no gasômetro. Enquanto sentia-se repleto de memórias da vida secreta do casal, cheio de ternura e alegria e desejo, ela o comparava com outro. Sentiu-se invadido por uma consciência vergonhosa em relação a si próprio. Viu-se como uma figura ridícula, como o estafeta das tias, como um sentimentalista nervoso e bem-intencionado que discursava para o vulgo e idealizava as próprias luxúrias farsescas, como o pobre sujeito patético que tinha vislumbrado no espelho. Instintivamente virou as costas em direção à luz para que ela não percebesse a vergonha que lhe abrasava o rosto.
   Tentou manter o tom frio de interrogação, mas quando falava a voz saía humilde e indiferente.
__ Parece que você era apaixonada por esse Michael Furey, Gretta, disse.
__ Nós éramos muito próximos naquela época, respondeu ela.
    A voz parecia velada e triste. Gabriel, percebendo que seria inútil tentar levá-la até onde pretendia, acariciou-lhe uma das mãos e disse, também com tristeza na voz:
__ E do que ele morreu tão jovem, Gretta? De tísica?
__Acho que morreu por minha causa.
(...)
ANEXO
já o primeiro parágrafo de Os mortos mostra como a tradução de Joyce sempre é cercada de contradições e complicações. Lily, a jovem serviçal que recebe os convidados da tradicional festa das irmãs Kate e Julia (e sua sobrinha Mary Jane) Morkan, é filha de quem?
Galindo traduz assim a primeira frase do conto: “Lily, a filha do zelador, estava literalmente perdendo a cabeça”.
Também assim o entendia o primeiro tradutor de DUBLINENSES no Brasil, Hamilton Trevisan:  “Lily, a filha do zelador, estava literalmente esgotada”.
Em 1993, na sua versão de DUBLINENSES, José Roberto O´Shea, no entanto, verteu assim o início do conto mais famoso do livro: “Lily, a filha da empregada, não conseguia ficar sentada um minuto sequer”.
No ano passado, O´Shea publicou nova versão da sua tradução. E o trecho de abertura aparece ali da seguinte forma: “Lily, a filha do zelador, estava literalmente exausta”.
Então poderíamos crer que, enfim, estava assentado que Lily é mesmo a filha do zelador. Mas no mesmo ano  apareceu a versão de Guilherme da Silva Braga, onde lemos: “Lily, a filha da zeladora, não tinha literalmente um segundo de sossego”.
No original: “Lily, the caretaker’s daughter, was literally run off her feet.”
Mais adiante, ainda no primeiro parágrafo, não creio que Galindo foi muito feliz ao caracterizar o arranjo que as solteironas fizeram para as senhoras na festa:
“…tinham transformado o banheiro do primeiro andar num CAMARIM para as senhoras
Na versão de Trevisan: “…tinham pensado nisso e convertido em VESTIÁRIO o banheiro de cima”.
Na primeira versão de O´Shea: “… tinham convertido o banheiro do segundo andar numa espécie de TOALETE feminina”; na segunda versão:  “…tinham pensado nisso e convertido o banheiro do segundo andar num TOALETE feminino”.
Na versão de Braga: “…tinham pensado nisso e convertido o banheiro no andar de cima em um VESTIÁRIO feminino.”
No original: “But Miss Kate and Miss Julia had thought of that and had converted the bathroom upstairs into a ladies’ dressing-room.”
Outro detalhe da tradução. O problema do nome de um dos personagens, o sr. Browne, aludido jocosamente por ele. Galindo traduz da seguinte forma: “Bom, senhora Morkan, tomara que eu esteja bem ´marrom´ na sua opinião porque, sabe como é, eu me chamo ´brown´, não é mesmo?”—o que, convenhamos, é uma solução fraquinha, fraquinha.
Trevisan solucionou (ou não solucionou, melhor dizendo) assim a blague: “Ora,senhorita Morkan, espero  que eu pelo menos seja bem dourado para senhora, pois, como sabe, sou todo Brown.”
Em 1993, O´Shea (que, aliás, chama a atenção para o trecho em nota de rodapé), solucionou assim: “Espero, Miss Morkan, que a senhora ache que eu esteja bem dourado, pois sou ´Browne´ da cabeça aos pés”.  Em 2012: “Espero, Miss Morkan, que a senhora ache que eu esteja bem dourado, pois sou ´bronzeado´ da cabeça aos pés.”
Na versão de Braga: “Bem, sra. Morkan, espero que pelo menos eu esteja moreno o suficiente, pois como a senhora sabe eu sou moreno até no nome!”
No original: “-Well, I hope, Miss Morkan, said Mr Browne, that I’m brown enough for you because, you know, I’m all Brown…”
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[1] “É preciso que se diga direta e imediatamente que àquela época Stephen sofreu a influência que mais lhe marcou a vida. O espetáculo do mundo conforme apresentado por sua inteligência com todos os detalhes sórdidos e enganosos alinhado ao espetáculo do mundo apresentado pelo monstro que o habitava, agora guindado a um estágio razoavelmente heróico, também costumava levá-lo a um desespero tão súbito que só podia ser aplacado por meio da composição de versos melancólicos. Estava prestes a considerar os dois mundos alheios entre si—por mais dissimulados que fossem ou por mais que expressassem o mais completo pessimismo—, quando encontrou, valendo-se de traduções pouco procuradas, o espírito de Henrik Ibsen. Compreendeu tal espírito instantaneamente (…) as mentes do velho poeta nórdico e do jovem celta inquieto se encontravam num momento de radiante simultaneidade. Stephen foi cativado primeiramente pela nítida excelência da arte: não demorou muito para ele afirmar, mesmo com escasso conhecimento do tratado, obviamente, que Ibsen era o melhor dramaturgo do mundo (…) Ali e não em Shakespeare ou Goethe estava o sucessor do primeiro poeta dos europeus, ali, somente como em Dante, uma personalidade humana se unira a um estilo artístico que em si mesmo constituía quase um fenômeno natural: e o espírito da época promovia uma união mais imediata com o norueguês que com o florentino.” (trecho de Stephen Herói, tradução de José Roberto O´Shea, editora Hedra)
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13 de Janeiro de 1941: Morre, em Zurique, o escritor irlandês James Joyce, autor de "Ulisses".

James Augustine Aloysius Joyce (1882-1941), escritor irlandês nascido em Rathmines, nos subúrbios de Dublin, numa época em que o nacionalismo irlandês se aproximava da sua fase mais intensa. Filho mais velho de John Stanislaus Joyce, que o influenciou decisivamente, Joyce teve uma educação católica; frequentou uma escola de Jesuítas e continuou a sua formação na universidade de Dublin (1898-1902). Afastada a perspetiva do sacerdócio, renunciou à religião católica. Em 1902 viajou para Paris para estudar medicina, onde permaneceu durante um ano a escrever poesia e a desenvolver a sua reflexão estética. Durante essa estadia em Paris conheceu John Millington Synge. Regressou à Irlanda por ocasião da morte da mãe em abril de 1903; durante algum tempo deu aulas numa escola privada irlandesa, facto que evocou no segundo capítulo de Ulysses (1922). Em 1904 deixou a Irlanda com Nora Barnacle, sua companheira até ao fim da vida. O seu encontro em 16 de junho de 1904 ficou registado no seu longo romance Ulysses, cuja ação decorre precisamente naquele dia. Apesar do longo exílio de Joyce, Dublin permaneceu o cenário privilegiado das suas obras. Deu aulas de inglês em Trieste, onde viveu com grandes dificuldades económicas até 1915. A coletânea de contos Dubliners, terminada (à exceção de um conto) em 1905, só foi publicada em 1914. Naquela obra Joyce combinou um estilo realista objetivo com efeitos simbólicos e miméticos para traduzir num tom coloquial os dramas da vida quotidiana de Dublin. Os contos transmitem a convicção do autor de que o conhecimento profundo das vivências humanas se revela frequentemente nos seus aspetos mais triviais. Dubliners valeu a Joyce o elogio de Ezra Pound. Joyce começou entretanto a escrever Stephen Hero, um extenso romance autobiográfico interrompido e posteriormente abreviado. Composto entre 1904 e 1914, o romance só foi publicado em 1916 com o título A Portrait of the Artist as a Young Man. A Primeira Guerra Mundial levou o escritor a abandonar Trieste em 1915 e a fixar-se em Zurique, onde viveu com a mulher e os dois filhos. Durante esse período Joyce trabalhou no seu romance Ulysses, publicado em Paris em 2 de fevereiro de 1922. A obra desencadeou reações violentas; as 1000 cópias da primeira edição venderam-se rapidamente mas a condenação de Ulysses foi igualmente intensa. O romance só voltou a ter uma edição legal nos Estados Unidos em 1934 e só foi publicado novamente no Reino Unido em 1936. A originalidade de Ulysses revela-se sobretudo ao nível das inovações linguísticas e no modo de representação da experiência humana. A obra relata um dia na vida de três habitantes de Dublin; as personagens correspondem a figuras centrais da Odisseia de Homero e os 18 capítulos do romance são análogos aos episódios da epopeia de Homero, embora a sequência narrativa não seja idêntica. O protagonista do romance de Joyce é Leopold Bloom, um judeu de origem húngara, que vive em Dublin, e o dia é 16 de junho de 1904. A elaboração formal de Ulysses visava a criação imaginativa de um indivíduo cujas experiências Joyce considerava irredutíveis aos modos convencionais de representação literária. O escritor tentou reproduzir diretamente a corrente de consciência formada pelos pensamentos das personagens, uma técnica inspirada no romancista francês Dujardin. O monólogo interior traduzia a complexa vivência do sujeito pela aproximação da linguagem ao pensamento e à experiência humana. A dimensão universal do protagonista é reforçada pela analogia com Ulisses, herói lendário da Odisseia de Homero. O modo inovador de representar a experiência moderna na cidade moderna culminou com Finnegans Wake (1936), onde Joyce multiplicou as complexidades do seu romance anterior. Esta obra relata uma noite na vida de H. C. Earwicker, que dorme ao longo de todo o romance. A experiência do protagonista é transmitida ao leitor através da sua vivência onírica reproduzida ao nível da linguagem pelas associações livres da sua consciência, pela fusão de palavras e ainda pelo cruzamento do Inglês com outras línguas europeias. A musicalidade narrativa do romance tem sido atribuída pelos críticos à sensibilidade auditiva de Joyce, que compensava os seus problemas de visão causados por um glaucoma. A sobreposição de níveis de sentido em Finnegans Wake reproduz a técnica de Lewis Carroll no poema "Jabberwocky", inserido na obra Through the Looking-Glass (1872). Joyce escreveu uma peça, Exiles (1918) e publicou três volumes de poesia: Chamber Music (1907), Gas from a Burner (1912) e Pomes Penyeach (1927). Os seus Collected Poems foram publicados em 1936. Em 1920 James Joyce mudou-se novamente para Paris, onde viveu até à invasão da França pelas tropas alemãs em 1940. Regressou a Zurique, onde morreu a 13 de janeiro de 1941. A obra de Joyce, e especialmente Ulysses, ocupa um lugar decisivo na evolução da literatura moderna.


James Joyce em 1918

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16 de Junho de 1904: James Joyce narra um dia da vida de Leopold Bloom em "Ulisses"

O enredo de Ulisses, um marco na moderna literatura mundial e um dos mais célebres romances do irlandês James Joyce,  desenrola-se num só dia, o 16 de Junho de 1904. Daí nasceu o Bloomsday, uma celebração organizada por fãs de Joyce de cerca de 60 países do mundo. A imaginação é ainda mais intensa em Dublin, capital da Irlanda, onde os acontecimentos da narrativa são reconstituídos e um itinerário percorre toda a cidade.
Em Ulisses há aparentemente a simples história do dia-a-dia do típico irlandês Leopold Bloom. Ele prepara  o seu pequeno almoço, sai para comprar o  jornal, vai ao pub e assim por diante.
À hora do almoço é tradição parar no pub Davy Byrne, na rua Duke, para uma taça de burgundy (vinho de Bordéus) e uma sanduíche de queijo gorgonzola, exactamente como Bloom fazia. À tarde, o hotel Ormond é o lugar ideal para uma cerveja, onde Bloom era tentado pelas raparigas que serviam bebidas na sala de reuniões Sirens.
Os anos posteriores a 1904 tornaram  impossível a exacta reconstituição do itinerário do protagonista. A casa de Bloom na rua Eccles 7, já não existe e o quarteirão da luz vermelha (Nighttown), em que o alucinante capítulo Circe tem lugar, foi arrasado. Restam apenas sinais das suas ruas.
As celebrações do Bloomsday incluem também leituras de Ulisses, concursos de sósias de James Joyce e várias outras actividades literárias.
James Joyce (1882–1941) foi talvez o mais influente e célebre escritor do século XX. Era mestre do inglês e explorador singular dos seus recursos linguísticos. Ulisses inscreve-se entre as grandes obras da literatura universal e utiliza diversas técnicas e estéticas literárias radicais.
O ano de 1922 foi fundamental na história do modernismo da literatura de língua inglesa, pois há a publicação deUlisses e também do poema The Waste Land de T. S. Elliot. No enredo, Joyce  vale-se de um fluxo de consciência, turbilhão de impressões, sensações e raciocínios que se desenrolam em nível superficial. Essa modalidade estética é também conhecida como monólogo interior, mecanismo segundo o qual os pensamentos da personagem são apresentados de maneira nem sempre sincrónica. Trata-se do oposto do solilóquio, procedimento em que a personagem expõe oral e logicamente as suas reflexões.
O livro situa as personagens da Odisseia de Homero na Dublin moderna. Parodia Odisseu (Ulisses), Penélope e Telémaco em Leopold Bloom, sua esposa Molly Bloom e Stephen Dedalus. O livro explora diversas áreas da vida de Dublin, estendendo-se por toda a sua degradação e monotonia.
Torna-se, assim, um estudo detalhado da cidade. Joyce afirmava que, se Dublin fosse destruída por alguma catástrofe, poderia ser reconstruída tijolo por tijolo, usando como modelo a sua obra. Para atingir este nível de precisão, chegou a empregar uma edição de 1904 do Thom’s Directory - uma obra que listava os proprietários e possuidores de cada imóvel residencial ou comercial da cidade. Ele também tinha amigos que ainda viviam na cidade e pedia informações e esclarecimentos.
O livro é composto por dezoito capítulos, cada um abrangendo aproximadamente uma hora do dia. Começa por volta das oito horas da manhã e termina em algum ponto após as duas da madrugada do dia seguinte. Cada um dos dezoito capítulos emprega o seu próprio estilo literário. Cada um deles também  refere-se a um episódio específico da Odisseia de Homero e tem associado a si uma cor, ciência ou órgão humano. Esta combinação de escrita caleidoscópica com uma estrutura extremamente formal e esquemática é uma das maiores contribuições do livro para o desenvolvimento da literatura modernista do século XX.
Outro ponto é o uso da mitologia clássica como a armação para a construção do livro. O foco permanece quase obsessivo nos detalhes exteriores. Isto paradoxalmente num livro em que boa parte dos acontecimentos ocorre no interior das mentes das personagens. O leitor é convidado a entrar na mente de Leopold Bloom e ouvir cada um de seus pensamentos, não importando o quão triviais se revelem ou o quão esporadicamente apareçam. Num instante poderia estar a pensar na sua mulher, em outro sobre a necessidade de comprar sabonetes.
Fontes: Opera Mundi
wikipedia (imagens)
Capa da primeira edição de Ulisses

 
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