e morreu a 19nov1968
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Joaquim Vieira Natividade
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Releio
JORNADA A UM MUNDO DE BELEZA ETERNA
impresso a 6jun1948 na Tipografia Alcobacense
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reeditado pelo movimento cívico REBATE
de que fui membro
em abril 2000
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p18
os ideais de justiça, de generosidade e de amor. Só a existência de um ideal superior de beleza pode criar o desprezo pelo que é falso, reles, efémero, fugaz, por tudo o que perverte, embrutece e dissolve.
O mundo da beleza não é ainda o refúgio das almas tímidas e desiludidas, um retiro de vencidos, entregues ao devaneio estático e estéril. É a forja onde se retemperam as almas para as nobres lutas da vida, e enorme de fazer a sociedade um pouco mais justa, e de tornar mais fortes os débeis laços da solidariedade humana.
Só a alegria de ter encontrado a consciência de si próprio pode dar aos homens de hoje, que batalhe pelo triunfo dos nobres ideais da vida, a coragem moral para enfrentar com desprezo as gargalhadas dos cínicos e as pedradas dos fariseus.
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a extraordinária pág.23:
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É nas veredas onde florescem a madressilva, a giesta, o espinheiro e as rosas bravas; é na flora variada dos nosso bosques, na orla dos campos, na charneca de mato rasteiro e áspero, com esse aroma, vivificante e másculo, da vegetação silvestre; ou nos regatos e nos charcos onde o núfar flutua, e os lírios bravos trèmulamente se espelham nas águas claras que a brisa encrespa - que se nos patenteia toda a poesia da terra.
É nas manhãs de primavera, quando a neve se desfaz, o sol refulge nas tenras folhas de onde orvalho goteja e o mundo alado dos insectos despertas para as alegrias do dia; é nas tardes, já sonolentas, de claridade doirada, quando a neblina adoça os contornos das colinas distantes, violáceas e nostálgicas, e em que as flores, cansadas da carícia rude das abelhas e das borboletas, do beijo do sol e do roçar da brisa, se curvam estonteadas, e quando a própria terra, úbere imenso, parece arfar, exausta, do labor de nutrir as raízes que a sugam; ou então, na paz bíblica do anoitecer, quando o silêncio desce sobre os campos, como uma bênção, e uma doce melancolia nos invade - é nesses momentos que nos domina o encantamento da Natureza, e que mais se exalta em nós a admiração enternecida por tudo quanto é puro, nobre, singelo e amorável.
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p39
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A cor e o perfume são, sem dúvida, os mais nobres atributos da flor, e tanto nos impressionam que amiude mal nos apercebemos, pelo menos nas corolas mais pequeninas, da graciosidade infinita da forma, onde o trabalho de arquitectura e de escultura floral da natureza atinge, todavia, extraordinários requintes de harmonia, de perfeição e equilíbrio.
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p42 a 45
Apesar de tudo quanto os poetas, os sábios e os filósofos disseram, no decorrer dos séculos, em honra da flor, é para recear que tudo ou quase tudo ficasse por dizer ainda. Na sua simplicidade virginal, ela intriga os sábios, extenua os filósofos, derrota os poetas, e sorri-se talvez da sua filosofia, dos nossos versos e da nossa ciência.
Continuemos, apesar disso, a admirá-la enternecidamente e a manter vivo esse culto que nem o frio decorrer dos milénios, nem a morte dos velhos deuses pagãos, nem o abalar ou o derruir das civilizações ousaram extinguir ou amortecer.
Tão extraordinária poesia emana, por exemplo, do mistério da polinização, que Darwin, o sábio e severo Darwin, ao descrever a vida amorosa das plantas, não teve pejo, como cientista, em convidar os silfos e os gnomos para ouvirem a sua flauta, em doce melodia, as sorridentes esperanças e os sofrimentos de amor das flores do prado.
O velho Anacreonte, poeta latino e sensual que se coroava de rosas antes de esvasiar uma taça do capitoso vinho de Lesbos, conta que Vénus, nos jardins do Olimpo, ao acudir a Cupido que uma abelha picara, deixou cair e quebrar a ânfora em que guardava os seus divinos perfumes, os quais, orvalhando as pétalas das rosas, para sempre as perfumaram.
Dois mil e quatrocentos anos separam o poeta grego do naturalista inglês e, no entanto, a mesma admiração comovida e juvenil pela beleza brota espontânea dos versos do epicurista e do compêndio austero do sábio.
Por muito que caminhássemos, por muito mais longe que fôssemos na nossa jornada, novos mundos de beleza encontraríamos, beleza que incessantemente de renova e transfigura.
Após a festa esplendorosa da floração, que inunda os campos de perfume e de cor, vêm os carinhos e as alegrias da maternidade, os desvelos sem fim do que disseminar das sementes. A vida da planta anula, cumprida a lei suprema de perpetuar a espécie, cessou, por inútil. Mas ela vai renascer no germe que previdentemente lançou à terra, e nova beleza vai surgir ao afago tépido da Primavera, prolongando o cântico infinito da poesia da terra.
Foi Tolstoi quem escreveu que a beleza é na sua essência a vida, e essa beleza reside decerto no indecifrável mistério que encerra, nos seus desígnios inalteráveis e incompreensíveis. Na vida vegetal, prolonga-se e alarga-se o drama e o mistério da nossa própria vida.
A flor é apenas uma centelha fugaz da beleza Universal e Imortal, e embora haja precedido o homem sobre a terra, para ele só parece foi criada, pois só ele pôde contemplá-la à luz do Espírito, a esse clarão subtil, torturante, ardente, eterno, que mais que os mundos que gravitam no infinito espaço, parece ser, com a própria essência do Universo, a suprema maravilha da Criação.
Não é, pois, o Sol que ilumina o vasto Mundo da beleza Eterna.
Esse mundo só é visível à luz da chama mística que dentro de nós existe; chama estranha, que uma vez insuflada num mísero antropóide, o ergueu às culminâncias sublimes da Humanidade, e que, levantando mais alto a vida, nos deu a felicidade suprema de sentir e compreender a beleza, nas suas formas mais puras e simples, ou nas suas manifestações mais grandiosas; beleza cujo culto enternecido nos enobrece e redime, fortalecendo o amor pela terra, e exaltando de nós o anseio de simpatia, de concórdia e de compreensão entre os homens.
Chama paradoxal e caprichosa, a que nem o oiro, nem a força, conseguem dar mais brilho, antes bruxuleia, tímida, hesitante, ao roçar grosseiro do egoismo e da injustiça, e quase se extingue quando a alma humana baixa até ao lodo impuro da animalidade; mas que refulge, altiva, límpida, feliz, com um sorrisos de amor, ou um débil estremecimento de bondade, e se torna radiante, esplendorosa, triunfal, com o heroismo do sacrifícios, a grandeza da renúncia ou a graça divina do perdão.
via web
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Muita postagem no unir sobre o insigne alcobacense
http://uniralcobaca.blogspot.pt/2014/07/83785jul20141313-reavivando-joaquim.html
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