20/08/2015

9.977.(20ag2015.7.7') Padre Manuel Bernardes

Nasceu a 20ag1644
e morreu a 17ag1710
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Nome maior da literatura barroca, autor de "Luz e Calor" e "Nova Floresta".
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http://www.portaldaliteratura.com/autores.php?autor=144

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http://auladeliteraturaportuguesa.blogspot.pt/2009/06/padre-manuel-bernardes.html
 Aos trinta anos, ingressou na Congregação do Oratório de S. Filipe Néri,
imerso no silêncio claustral, a meditar e a compor sua obra moralista.
Enlouqueceu dois anos antes de falecer, em 1710.
Sua existência, apenas marcada por duas datas, e sua obra opõem-se
diametralmente às do Padre António Vieira. Infenso à vida activa e ao
 atrito social, era um contemplativo e místico por natureza, e as
obras que escreveu, reflectem nitidamente essa condição. Dotado
de inquebrantável fé religiosa, que o recolhimento conventual estimulava
 e nutria, escreveu suas obras com os olhos voltados para o plano
transcendente, embora não esquecesse de os dirigir igualmente
 para os seus semelhantes, dentro e fora dos mosteiros. Por isso,
ao se comunicar com o leitor, no afã pedagógico de guiá-lo na estrada
 que levaria à bem-aventurança, não esquece jamais de molhar
 a pena com a ungida contemplação espiritual em que se compraz.
Quer ensinar o homem a encontrar Deus pelo culto das virtudes morais
 mais autênticas nele, precisamente as que lhe conferem a condição
 de criatura humana.
Sua numerosa obra, em que se espelham especiais qualidades
de escritor e pensador cristão, escreveu-a com esse único destino:
 Nova Floresta (5vols., 1706, 1708, 1711, 1726, 1728), Pão Partido em
Pequeninos (1694), Luz e Calor (1696), Exercícios Espirituais (1707),
Últimos Fins do Homem (1726), Armas da Castidade (1737) Sermões e
 Práticas (2 vols., 1711), Estímulo prático para seguir o bem e fugir o mal (1730).
A Nova Floresta é a obra mais conhecida do Padre Manuel Bernardes,
 entre outras razões porque nela o escritor atingiu o apogeu de suas
 faculdades literárias. Ao mesmo tempo, assina la a realização plena
do seu processo: os tópicos de que trata estão dispostos em
ordem alfabética: Alma Racional, Amizade, Amor Divino, Apetites, Armas,
Astúcia, Avareza, etc., por vezes conjugando num só tópico matérias
afins: Abstinência. Jejum; Alegria. Tristeza; Anos. Idade. Tempo; etc.
Cônscio do poder insinuativo e modificador das palavras, como bom
conceptista que era, o Padre Manuel Bernardes procura atingir o máximo
 de efeito com o mínimo de recursos: baixa até o leitor, conta-lhe um "caso",
 um "exemplo", de origem religiosa, ou bíblica, histórica ou mesmo popular,
 e dele extrai as ilações que julga fundamentais para a formação moral do
verdadeiro cristão.
Para consegui-lo, o escritor despoja a linguagem de tudo quanto lhe parece
 supérfluo, como quem procurasse um andamento e um tom próximos da
fala confessional, mas sem perder dignidade, altura e brilho, Utilizando
rico vocabulário e uma sintaxe dita, clara, clássica, onde raramente despontam
hipérbatos e semelhantes recursos barrocos, simplifica a doutrina a fim de q o
 leitor comum possa senti-la, interpretá-la e assimilá-la. Ajuda-o nessa tarefa
de falar aos simples a ingenuidade crédula com que atribuía foros de verdade a
 meras lendas e ficções. Por outro lado, certas notações "realistas" denunciam um
 sacerdote interessado na vida exterior, embora por vias inteiramente indirectas,
 como o sionário.
Pela fluidificação da linguagem, em que não é estranho o influxo conceptista e latino,
 pela elegância, espontaneidade, precisão e vernaculidade, o Padre Manuel
 Bernardes tornou-se um autentico modelo da prosa literária seiscentista.
 Pelo estilo, realizou um anseio geral no tempo, e pela reclusão claustral,
um ideal de vida contemporâneo, qual seja, a ascese de tipo medieval.


Massaud Moisés, A Literatura Portuguesa 
Editora Cultrix, São Paulo
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Via Citador:

http://www.citador.pt/frases/citacoes/a/padre-manuel-bernardes
A amizade que reserva segredos não chega a ser íntima nem verdadeira.
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O hipócrita é um santo pintado; tem as mãos postas, mas não ora; o livro na mão, mas não lê; os olhos no chão, mas não se desestima.
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O desprezo pelas leis é o mais seguro presságio da decadência de um governo, pois que a ordem apenas existe quando se executam.
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Não tens inimigo mais poderoso, mais astuto, mais emperrado e mais doméstico do que o teu amor-próprio. Se queres errar frequentemente sentencia pelo seu voto.
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Assim como o amor de Deus é raiz de todas as virtudes, assim o amor-próprio é a de todos os vícios.
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Entre todas as virtudes somente a humildade se ignora a si mesma: como traz os olhos baixos, e fitos no abismo do seu nada, não reflecte sobre o seu conhecimento, porque o verdadeiro humilde não presume que o seja.
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A fama de uma mulher casada ou donzela há-de ser tratada como o vidro cristalino; porque se inteiro resplandece, com os hálitos da boca se empana e com os toques da mão estala.
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Três correios ou mensageiros tem a morte, a saber: a desgraça, a doença e a velhice. A desgraça anuncia que a morte está escondida; a doença diz que ela já aparece; e a velhice diz que já chega.
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A mão bem despegada dos bens terrenos não é a que dá esmolas do supérfluo, senão a que desvia faltas do necessário.
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Que é a língua humana? Feira de maldades; fera indomável; risco doméstico e contínuo.
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Promulgar leis, e não propugnar por essas leis, fazendo que se guardem, mais é vitupério do legislador do que administração da república.
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Aos olhos do invejoso, ainda não podendo olhar direitos, nada lhes escapa, nem do bem nem do mal da pessoa alvejada: do bem para detraírem, do mal para se alegrarem.
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Que é o inferno? Reino da morte viva.
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A indulgência nímia, em lugar de arrancar os pecados, os semeia.
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Que coisa é o homem neste mundo? Comediante no tablado, hóspede na estalagem, uma candeia exposta ao vento, padecente caminhando para o suplício.
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Com bom regimento pode até o pouco bastar para muitos; sem ele, nem a poucos alcança o muito.
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in Nova Floresta
Amizade procedida de comer, beber, e passear juntos, não merece nome de tal, nem pode ter firmeza.