16/10/2015

2.126.(16ouTU2015.13.31') Daniel Dennett

Nasceu a 28ab1942
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biografia
http://cultura.culturamix.com/filosofia/daniel-dennett

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advogado do diabo
http://super.abril.com.br/historia/advogado-do-diabo
"O filósofo americano Daniel Dennett diz que a crença em Deus já não tem funções positivas. Hoje, ela é só um obstáculo ao desenvolvimento"
Para o filósofo americano Daniel Dennett, ateu e evolucionista radical, acreditar em um ser superior é mais do que simples perda de tempo: pode ser uma tremenda irresponsabilidade. Em nome deste ou daquele deus, argumenta o filósofo, muita coisa errada acontece no mundo todos os dias - da proibição do uso de preservativos à violação dos direitos humanos. Por que, então, tantas pessoas acreditam? Segundo Dennett, por ignorância. E porque, pela falta de informação científica, elas encontram na fé o caminho mais curto (ou mais fácil) para driblar o sofrimento pessoal.

Formado em Harvard e doutorado em Oxford, o filósofo hoje é codiretor do Centro de Estudos Cognitivos da Universidade Tufts, nos EUA. Escreveu, entre outros, os livros A Perigosa Ideia de Darwin (Editora Rocco) e Quebrando o Encanto (Editora Globo), em que discute o choque entre ciência e religião. Dennett acredita que, diferentemente de outros tempos, quando foi fundamental para que os homens atingissem coesão social e pudessem dar sentido à própria existência, a crença em Deus perdeu suas funções positivas. Hoje, ela representaria apenas uma barreira para o desenvolvimento humano. Por e-mail, ele respondeu às seguintes perguntas:
Deus existe? Qual é a prova mais contundente de que Ele existe ou não?Deus significa tantas coisas que essa pergunta é impossível de ser respondida. Para alguns, Ele é apenas um nome para a beleza do Universo, e não tem nada a ver com forças sobrenaturais. Esse Deus, obviamente, existe. O que não existe é um agente sobrenatural que responde às nossas preces ou supervisiona e guia a evolução das coisas. A humanidade acredita em Deus há milhares de anos. Só que, agora, já sabemos por quê. Até aqui, foi natural para o homem acreditar em algo divino, uma espécie de infância da evolução humana. Mas nós nos tornamos maiores do que Deus.
A Teoria da Evolução é uma prova da inexistência de Deus?Antes da Teoria da Evolução, era compreensível atribuir a Deus a existência de um design inteligente na natureza. Depois dela, tudo mudou. Hoje, podemos provar como surgiram formas de vida tão variadas e complexas. A teoria de Darwin é uma explicação muito melhor para isso do que Deus. Não precisamos mais nos render à tentação de acreditar em um ser superior que criou tudo. Agora essa ideia parece incoerente.
Apesar da ciência, ainda é possível acreditar no sopro divino - o momento em que o Criador deu vida até ao mais insignificante dos micro-organismos?É claro que é possível, assim como se pode acreditar que um super-homem veio para a Terra há cerca de 530 milhões de anos e ajustou o DNA da fauna cambriana, provocando a famosa explosão de vida daquele período. Mas não há razão para crer em fantasias desse tipo.
Deus é a explicação mais fácil para o que o homem não consegue compreender?
É a explicação mais fácil até que se conheçam as respostas da ciência. Depois que você se informa, a hipótese de Deus torna-se incrivelmente improvável.
Acreditar em Deus é bom ou ruim para a humanidade? Por que tanta gente acredita? E qual é o futuro da crença?
Se tivermos sorte, a crença em Deus vai desaparecer aos poucos, mas provavelmente nunca vai acabar. Muitas pessoas que dizem acreditar não têm qualquer compromisso com este ou aquele Deus, elas apenas acham que acreditar é bom. Trata-se daquilo que chamo de "crença na crença". Mas acreditar é ruim, porque atravanca a evolução humana. Quando a maioria entender isso, a ideia de Deus tenderá a se extinguir.
Como seria a humanidade se a crença em Deus simplesmente não existisse?
Mais feliz, menos torturada pela culpa.
O senhor admite a hipótese de estar errado em suas convicções?Já admiti essa possibilidade, é claro, como todo mundo. Passei anos e anos analisando cuidadosamente essa questão da fé. Mas acabava chegando sempre à mesma conclusão: Deus não existe.
As religiões mudaram bastante nos últimos 100 ou 200 anos. Por quê?Como a humanidade aprendeu muito sobre tudo, e superou a xenofobia em certo grau, nos tornamos capazes de refletir sobre nossas tradições e de identificar nelas os "defeitos" que precisam ser reparados. Assim, universalmente, a humanidade foi mudando seus conceitos. O Velho Testamento, por exemplo, aceita o trabalho escravo, o infanticídio, o marido que bate na esposa, a punição com a pena de morte. Hoje, sabemos mais sobre o mundo e sobre nós mesmos.
Por que as pessoas recorrem a Deus nos momentos de dificuldade, mesmo aquelas que não demonstram qualquer religiosidade no dia-a-dia?Por que elas simplesmente perdem a razão. Quando sofrem, as pessoas acabam se apegando a fantasias. Não defendo perturbar a paz de quem acredita ou roubar desse indivíduo o alívio que a crença em Deus possa representar para seus sofrimentos. A não ser que essa crença conduza a algum tipo de ação imoral. Levar pessoas de bem a fazer coisas ruins é uma especialidade das religiões.
Daniel Dennett
• Tem 67 anos. Nasceu em Boston, nos EUA, mas passou boa parte da infância em Beirute, no Líbano - onde o pai trabalhou como espião, durante a 2ª Guerra Mundial.

• É especialista em dois ramos complicados do conhecimento filosófico: a filosofia da mente (relacionada às ciências cognitivas) e a biofilosofia (ligada à biologia evolutiva).

• Membro da Academia Americana de Artes e Ciências desde 1987, encabeça o "ranking" dos críticos ferozes à crença em Deus - ao lado de Richard Dawkins e Steven Pinker.
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Querido, sensual, doce, engraçado

Posted Mar 2009
http://www.ted.com/talks/dan_dennett_cute_sexy_sweet_funny/transcript?language=pt
Eu percorro o mundo inteiro a fazer palestras sobre Darwin. Normalmente, falo sobre a estranha inversão do raciocínio de Darwin. Aquele título, aquela frase, veio de um dos primeiros críticos, e esta é uma passagem que adoro e que gostaria de vos ler.
00:28"Na teoria com a qual temos de lidar, o artífice é a Ignorância Absoluta, "de tal forma que podemos enunciar como princípio fundamental de todo o sistema, "que, para fazermos uma máquina bela e perfeita, "não é necessário sabermos fazê-la. "Esta proposição, analisada cuidadosamente, "exprime, de forma condensada, a pretensão essencial da Teoria "e exprime, em poucas palavras, todo o significado do Sr. Darwin "que, por uma estranha inversão de raciocínio, "parece pensar que a Ignorância Absoluta está qualificada "para tomar o lugar da Sabedoria Absoluta na consecução de capacidade criativa".(Risos)
01:09Exatamente. (Risos) Exatamente. É uma estranha inversão. Um panfleto criacionista tem esta página maravilhosa: "Teste Dois: "Conhece algum edifício que não tenha tido um construtor? SIM — NÃO"Conhece alguma pintura que não tenha tido um pintor? SIM — NÃO "Conhece algum carro que não tenha tido um fabricante? SIM — NÃO "Se respondeu 'SIM' a alguma destas perguntas, dê pormenores". (Risos)
01:38Aha! Quer dizer, isto é mesmo uma estranha inversão de raciocínio. Parece razoável pensar-se que o 'design' requer um 'designer' inteligente. Mas Darwin mostra que isso é falso.
01:54No entanto, hoje vou falar-vos da outra estranha inversão de Darwin, que é igualmente enigmática ao princípio, mas de certa forma igualmente importante. É razoável pensar que adoramos bolo de chocolate porque é doce. Os rapazes gostam destas raparigas porque elas são sensuais. Adoramos bebés porque são tão queridos. E, claro, divertimo-nos com anedotas porque são engraçadas.
02:31Isto está tudo ao contrário. E Darwin mostra-nos porquê. Comecemos com os doces. Gostamos de doces porque desenvolvemos um detetor de açúcar, porque o açúcar tem muita energia, e estamos programados para o preferir, dito de forma simplista, e é por isso que gostamos de açúcar. O mel é doce porque gostamos dele, e não "gostamos de mel porque é doce". Não há nada de intrinsecamente doce no mel. Se olhassem para moléculas de glicose até ficarem cegos, não iriam ver a razão pela qual são doces. Teriam que olhar para o nosso cérebro para perceber porque são doces. Por isso, se pensam que primeiro houve a doçura, e depois evoluímos para gostar de doçura, estão a perceber ao contrário; está errado. É exatamente ao contrário. A doçura nasceu com os mecanismos que evoluíram.
03:32Também não há nada de intrinsecamente sensual nestas jovens. E ainda bem que não há porque, se houvesse, então a Mãe Natureza teria um problema: Como conseguiria fazer com que os chimpanzés acasalassem? (Risos) Podiam pensar: "Ah! há uma solução: alucinações!" (Risos) Isso seria uma forma de o fazer, mas há uma forma mais rápida. Programem os chimpanzés para gostar daquele aspeto, e, segundo parece, eles gostam. É tudo quanto há a dizer. Ao longo de 6 milhões de anos, nós e os chimpanzés evoluímos de forma diferente. Perdemos o pelo corporal, estranhamente; por qualquer razão, e eles não. Se não tivéssemos perdido, provavelmente isto seria o pico da sensualidade. (Risos)
04:38O nosso gosto pela doçura é um instinto que evoluímos para preferir alimentos altamente energéticos.Não foi feito para gostar de bolo de chocolate. O bolo de chocolate é um estímulo "supernormal". Este termo deve-se a Niko Tinbergen, que fez uma experiência famosa com gaivotas, em que descobriu que, se aumentasse a mancha laranja no bico da gaivota as crias da gaivota iriam bicá-la ainda mais. Era um hiper-estímulo para elas e elas adoravam-na. O que acontece com o bolo de chocolate, é que é um estímulo supernormal para mexer com a nossa programação. Há muitos estímulos supernormais. O bolo de chocolate é um deles. Há muitos estímulos supernormais para a sensualidade.
05:19Até há estímulos supernormais para coisas queridas. Aqui está um bom exemplo. É importante que gostemos de bebés e que as fraldas sujas não nos incomodem Os bebés têm que atrair o nosso afeto e o nosso cuidado, e é o que fazem. Já agora, um estudo recente mostra que as mães preferem o cheiro das fraldas sujas do seu bebé. A natureza funciona aqui a muitos níveis. Mas, se os bebés não tivessem o aspeto que têm, se tivessem este aspeto, seria isto que acharíamos adorável, ue pensaríamos: "Meu deus, apetece-me tanto abraçá-lo". Esta é a estranha inversão.
06:03Por fim, relativamente às anedotas. A minha resposta é, a mesma história, é a mesma história. Esta é a mais difícil, a que não é óbvia. Por isso é que a deixei para o fim. E não vou poder dizer muito acerca dela. Mas devem pensar de forma evolucionária, têm que pensar que é preciso fazer o trabalho difícil. É um trabalho sujo, alguém tem que o fazer - É muito importante darem-nos uma recompensa poderosa quando temos sucesso. Acho que encontrámos a resposta, eu e alguns dos meus colegas. É um sistema neuronal programado para recompensar o cérebro por fazer um mero trabalho rotineiro. A nossa frase feita para este ponto de vista seria que isto é a alegria da depuração. Não vou ter tempo para explicar muitos detalhes, mas vou dizer apenas que alguns tipos de depuração obtêm a recompensa. O que estamos a fazer é usar o humor como uma sonda neurocientífica ligando e desligando o humor, rodando o botão para uma dada piada: isto tem piada... oh, isto tem ainda mais piada... agora vou rodar um pouco mais... isto não tem piada. Desta forma, podemos aprender qualquer coisa acerca da arquitetura do cérebro. da arquitetura funcional do cérebro.
07:24Matthew Hurley foi o primeiro autor disto. Chamámo-llhe Modelo de Hurley. É um cientista informático, Reginal Adams é psicólogo, e aqui estou eu. Estamos a juntar tudo isto num livro. Muito obrigado.(Aplausos)
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Via Graça Silva:
dennett

sobre Determinismo e Libertismo

Publicado em Outubro 16, 2015Páginas Filosofia 
Dennett: O determinismo não é um problema. O que queremos é liberdade, e liberdade e determinismo são inteiramente compatíveis. De facto temos mais liberdade se o determinismo for verdadeiro do que se não for.
REASON: Porquê?
Dennett: Porque se o determinismo for verdadeiro, então existe menos aleatoriedade. Existe menos imprevisibilidade. Para haver liberdade precisamos da capacidade de fazer juízos confiáveis acerca do que se passará a seguir, de forma a basear a nossa acção neles.
Imagine que tem de atravessar um capo e tem relâmpagos por perto. Se o mundo é determinado, então existe alguma esperança de saber onde o relâmpago vai cair. Podemos obter informação antecipadamente e depois programar a nossa corrida. É muito melhor do que ter de confiar num processo aleatório. Se é aleatório, então estamos à sua mercê. (…)
O fatalismo é a ideia de que algo vai acontecer não importa o que se faça. O Determinismo é a ideia que o que se faz depende. O que acontece depende do que sabemos, o que sabemos depende do que aprendemos e por aí em diante – mas o que se faz conta, tem relevância. Existe uma grande diferença entre isto e o fatalismo. O Fatalismo é o Determinismo sem o «eu». (…) Quero quebrar o mau hábito de colocar o determinismo e a inevitabilidade em conjunto. Inevitabilidade significa inescapabilidade, e se pensarmos acerca do que escapar/evitar significa, então compreendemos que num mundo determinista existe imensa evitação. A capacidade para evitar tem evoluído ao longo dos milhões de anos. Existem bons evitadores agora. Não existe nenhum conflito entre ser um evitador e viver num mundo determinista. (…)
REASON: O que quer dizer quando chama aos seres humanos «máquinas de escolher»?
Dennett: Essa expressão é na verdade de Gary Drescher, um teórico da Inteligência artificial. Ele distingue «máquinas de escolher» de «máquinas de situação-acção». Estas são construídas com um conjunto de regras que dizem «Se estiver na situação x, faça A», «Se estiver na situação y, faça B», e por aí fora. É como se tivéssemos uma lista na carteira para consultar sempre que fosse necessário tomar decisões importantes. Se existirem as condições para uma decisão particular, então agiríamos. Não saberíamos porquê. A regra afirma apenas faz.
Uma «máquina de escolher» é diferente, pois olha para o mundo e vê opções, e diz «Se faço isto, o que acontecerá?», «Se faço aquilo, o que acontecerá?», «Se fizer outra coisa o que acontecerá?». Ela constrói uma antecipação do resultado provável de cada acção, e depois escolhe com base no valor ou desvalor desse resultado.
Elas são ambas máquinas, mas uma delas é muito mais livre do que a outra, já que escolhe as suas acções na base dos seus valores, e escolhe o que valoriza baseado no que sabe.
Excerto de uma entrevista de Daniel Dennett à revista REASON a propósito da edição do seu livro «A liberdade evolui»; entrevista conduzida por Ronald Bailey e que pode ser encontradaaqui.