23/11/2015

2.814.(23noVEM2015.13.55') Angélique Namaika

Nasceu a
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“A vida destas mulheres foi destruída pela brutal violência do deslocamento. A Irmã Angélique prova que uma única pessoa pode fazer uma enorme diferença na vida das famílias separadas pela guerra. Ela é uma verdadeira heroína humanitária”,
 disse o alto comissário das Nações Unidas para Refugiados, António Guterres.
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Foto de Diógenes Brandão.
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27set2013

http://www.acnur.org/t3/portugues/noticias/noticia/angelique-namaika-gestos-e-acoes-que-curam-feridas-abertas-pela-violencia-no-congo/
BRASÍLIA,  (ACNUR) – O sorriso aberto e franco no rosto é uma de suas marcas registradas. Aos 46 anos, a freira congolesa Angélique Namaika não deixa que a dura realidade da cidade de Dungu, na Província Oriental da República Democrática do Congo (RDC), apague sua esperança no futuro.  A bordo de sua bicicleta, ela percorre diariamente as ruas empoeiradas da vila onde mora, região devastada por 30 anos de guerra civil, para dar apoio às mulheres vítimas da violência relacionadas ao conflito interno do Congo.
O trabalho desta freira católica, que por meio do seu Centro para Reintegração e Desenvolvimento já apoiou mais de duas mil mulheres congolesas, acaba de ser reconhecido pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), que a concedeu o prestigiado Prêmio Nansen para Refugiados. O prêmio será concedido na próxima segunda-feira, dia 30 de setembro, em Genebra.
Freira desde 2000, Angélique optou por dedicar sua vida às mulheres congolesas obrigadas a deixar suas casas para escapar da violência de grupos rebeldes armados, como o Exército de Resistência do Senhor (LRA, em inglês), originário de Uganda. O conflito no Congo já deslocou cerca de 2,6 milhões de pessoas, e aproximadamente 320 mil seguem nesta situação na Província Orientale.
Entre as jovens ajudadas pela Irmã Angélique estão muitas ex-prisioneiras do LRA, vítimas da violência de gênero – como o estupro, por exemplo. Quando conseguem escapar do cativeiro, essas mulheres precisam enfrentar o trauma e a discriminação por parte da própria comunidade para tentar se reintegrar à sociedade.
Atualmente, 150 mulheres são atendidas pelo Centro para Reintegração e Desenvolvimento, associação da qual a Irmã Angélique é co-fundadora. Desde que o centro foi criado, em 2008, mais de 2 mil mulheres já foram atendidas. Elas frequentam aulas de alfabetização e aprendem um ofício, como costura ou culinária. Juntas, encontram a força necessária para recuperar a autoestima e reconstruir suas próprias histórias.
Leia a seguir os principais trechos de uma entrevista concedida pela irmã Angélique Namaika para jornalistas brasileiros, que também contou com a participação do ACNUR.
A senhora passou por uma situação semelhante às das mulheres assistidas pelo Centro para Reintegração e Desenvolvimento. Como foi essa experiência?
Angélique Namaika: Fui forçada a deixar minha comunidade em 2009, por quatro meses, após um ataque do LRA. Fui para Zungi e fugi quase 100 quilômetros, mata adentro. No primeiro dia estava muito assustada, porque não sabíamos para onde estávamos indo. Fugimos para um lugar com muitas arvores, mas não havia nada para comer. Tínhamos que sair em busca de comida, sempre com o temor de ser capturados pelo LRA. Quando chovia tínhamos uma preocupação a mais, porque tudo ficava molhado ao nosso redor. Eu ficava muito angustiada e cantava uma música para mim mesma, rezando e pedindo pela ajuda de Deus. Só depois de quatro meses conseguimos retornar para Dungu.
Quais os principais abusos reportados pelas mulheres vítimas do conflito no Congo?
Angélique Namaika: Em primeiro lugar, abuso sexual. Assim que elas são capturadas, as jovens são dadas aos rebeldes como esposas. Ainda sofrem violência física, como espancamento. Uma delas têm seus lábios mutilados. Mulheres e meninas também são submetidas a trabalhos forçados. Alguns meninos voltam com as mãos amputadas.
Como fazer para que o mundo tenha conhecimento dessa situação?
Angélique Namaika: Parte do meu trabalho é dedicada a divulgar esta situação. Já tive encontros com políticos e formuladores de políticas nos países vizinhos ao Congo, e participei recentemente, em Genebra, dos Diálogos sobre Fé e Proteção promovidos pelo ACNUR. Tive ainda a oportunidade falar no Conselho de Segurança da ONU sobre o problema, falando que as mulheres congolesas precisam de ajuda.
Por que você optou por seguir no Congo em vez de pedir refúgio em outro país?
Angélique Namaika: Amo meu país. Nós, freiras da minha congregação, buscamos ficar nos nossos próprios países. Escolhi ser freira porque foi uma decisão de Deus. Quando eu tinha nove anos, vi uma freira ajudando as pessoas e decidi que também iria me tornar uma freira. Deus ouviu isso.
De que forma sua história pessoal contribui para o seu trabalho com essas mulheres?
Angélique Namaika: Minha situação como deslocada interna me inspirou a entendê-las e a querer ajudar. Quando vejo essas mulheres, lembro que eu não tinha ninguém que me ajudasse. Então, vou todos os dias aos lugares onde elas estão. Uma coisa muito importante é que elas estejam juntas com outras mulheres. Assim, elas podem ser ouvidas e dividir suas experiências. Suas histórias são horríveis, e elas são muito vulneráveis.
Poderia contar uma das histórias das mulheres ajudadas pelo Centro para Reintegração e Desenvolvimento?
Angélique Namaika: Uma garota foi sequestrada aos 14 anos e passou um ano e meio capturada, vivendo na selva. Quando saiu, estava grávida e não encontrou apoio, e ficava no mercado local de Dungu pedindo ajuda. Fui procurada por moradores da cidade e encontrei a menina. Inicialmente, ajudei-a com comida e atendimento médico. Vi também que ela precisava se tornar independente para reconstruir sua vida. Ensinamos a fazer pão e a costurar. Outro problema é que ela foi rejeitada pela mãe, que dizia que ela era culpada por ter sido raptada pelo LRA. Busquei reconciliá-la com sua família, mas a jovem estava tão desorientada que deixou o bebê comigo e voltou para a selva. Um mês depois, quando ela voltou para Dungu, ela foi aceita novamente por sua família. Ela e sua mãe se reconciliaram e hoje estão bem. A boa noticia é que a jovem se casou e tem um segundo filho. Ela trabalha fazendo pães e ganha recursos suficientes. Ela está feliz.
Como a senhora recebeu a notícia de ter sido a ganhadora do Prêmio Nansen para Refugiados?
Angélique Namaika: Foi uma surpresa para mim. E me deixou muito feliz! Estou muito agradecida. Uma vez, chorei porque estava fazendo meu trabalho sozinha. Quando ganhei o prêmio, pensei: ‘Então o mundo sabe sobre esse pequeno trabalho que eu faço?’. Então vi que esse trabalho não é só meu, ele também é de Deus, que me dá coragem para seguir ajudando essas mulheres. Esse prêmio também é delas, e vai ajudar no trabalho que elas estão fazendo. Eu peço a Deus para não ficar orgulhosa, mas seguir agindo de forma simples e ajudando essas mulheres. Agradeço muito às equipes do ACNUR e vejo que não estou sozinha. Se eu conseguir ajudar apenas uma mulher, já será um sucesso. Peço a Deus que me mantenha uma pessoa simples e que possa continuar ajudando essas mulheres. 

Por Júlia Tavares, de Brasília.
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Irmã Angélique cresceu sabendo que queria ajudar as pessoas. Quando criança, admirava uma freira alemã chamada Irmã Tone, que cuidava dos doentes na sua aldeia. Por muitas décadas, Irmã Tone foi a inspiração para o trabalho de Irmã Angélique. Comprometida a ajudar ao próximo, no ano de 2000 ela fez seus votos religiosos e entrou para a Igreja Católica.
© ACNUR
http://www.acnur.org/t3/portugues/informacao-geral/premio-nansen/irma-angelique-namaika-ganhadora-do-premio-nansen-2013/
A ganhadora do Prêmio Nansen 2013 é a Irmã Angélique Namaika, uma freira congolesa que atua 
na remota região nordeste da República Democrática do Congo (RDC) ajudando milhares de mulheres vítimas da brutal violência sexual e de gênero praticada pelo Exército de Resistência do Senhor (LRA,
 em inglês) e outros grupos.
À frente do Centro para Reintegração e Desenvolvimento, a Irmã Angélique Namaika já ajudou a transformar a vida de mais de duas mil mulheres e meninas que foram forçadas a deixar suas casas 
e sofreram abusos, principalmente pelo grupo rebelde LRA. Muitas destas mulheres trazem histórias 
de sequestro, trabalho forçado, espancamento, assassinato, estupro e outras violações de direitos humanos.
Estima-se que aproximadamente 350 mil pessoas tenham sido forçadas a deixas suas casas na região
 de Dungu – e 70% delas devido a atividades relacionadas com o LRA ou com ameaça de ataques. A brutalidade do LRA é bastante conhecida, e depoimentos de mulheres mostram a terrível natureza 
de seu abuso. A abordagem individual adotada pela Irmã Angélique no seu trabalho ajuda as vítimas
 a se recuperarem de seus traumas. Além do abuso que sofreram, essas mulheres e crianças vulneráveis são frequentemente condenadas ao ostracismo por suas próprias famílias e comunidades. É necessário um tipo especial cuidado e carinho para ajudá-las a curar suas feridas reconstruir suas vidas despedaçadas.
A própria Irmã Angélique foi deslocada pela violência em 2009. Ela sentiu na pele o trauma de fugir de casa. Isso faz parte da lista de motivações que a levam a trabalhar dia após dia percorrendo muitos quilômetros em sua bicicleta, por estradas esburacadas, para chegar a todos os necessitados.

Nessa remota parte do nordeste do Congo, a irmã dedicou sua vida a ajudar mulheres e crianças deslocadas a serem novamente aceitas por suas comunidades, curar suas feridas, e se tornarem autossuficientes.
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19set2013
via público


Freira congolesa recebe prémio do ACNUR por apoio às vítimas de Kony

http://www.publico.pt/mundo/noticia/congolesa-recebe-premio-do-acnur-por-apoio-as-vitimas-do-exercito-de-resistencia-do-senhor-1606369
O horror vivido por milhares de meninas e mulheres às mãos do Exército de Resistência do Senhor (LRA, na sigla em inglês), liderado por Joseph Kony - procurado por crimes de guerra pelo Tribunal Penal Internacional -, é ainda uma realidade. Na República Democrática do Congo (RDC), os sequestros, violações ou assassinatos destas vítimas são bem conhecidos. Angélique Namaika, uma freira congolesa, sabe de cor o que os homens do LRA são capazes e as marcas que a sua violência deixa.
Ouviu o testemunho de mais de duas mil meninas e mulheres e ajudou-as a tentar recuperar uma vida que consideravam perdida. O seu trabalho foi agora reconhecido com o Prémio Nansen 2013 atribuído pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), que distingue uma mulher que “não permite que nada atrapalhe o seu caminho”.
Crianças soldado, meninas tornadas escravas sexuais, mulheres espancadas e assassinadas são alguns dos crimes mais violentos atribuídos ao Exército de Resistência do Senhor na República Democrática do Congo (RDC), Uganda ou Sudão. A presença constante de violência força muitas famílias a procurar refúgio noutras regiões do seu país ou em países vizinhos.
O ACNUR cita o relatório lançado na terça-feira sobre a violência exercida pelo LRA na região nordeste da RDC para reforçar a importância do trabalho de Angélique Namaika. Segundo o documento, desde 2008, milhares de pessoas têm sido forçadas a deixar a província Orientale. Pelo menos 320 mil congoleses foram forçados a refugiar-se. O relatório do ACNUR concluiu que “a violência praticada pelo LRA tem gerado traumas agudos e duradouros tanto nas pessoas que foram sequestradas pelo grupo como nas centenas de milhares de deslocadas que ainda temem voltar para casa”.
Angélique Namaika foi também vítima do LRA, liderado pelo ugandês Joseph Kony, lembra o ACNUR no comunicado onde anuncia o vencedor deste ano do Prémio Nansen. Há quatro anos, a irmã foi forçada a abandonar a sua casa em Dungu, na RDC, devido à violência do grupo de Kony. “Deste trauma tira parte da sua motivação para realizar o seu trabalho quotidiano com as mulheres congolesas em necessidade”, sublinha a nota.
Na RDC, a freira dirige o Centro para Reintegração e Desenvolvimento e desde 2003 tem dado apoio a meninas e mulheres vítimas de grupos naquela região africana mas também da discriminação por parte da sua própria comunidade, devido aos abusos a que foram submetidas.
Regresso à normalidade
O ACNUR distinguiu a consagrada congolesa pelo trabalho que tem desenvolvido junto destas mulheres, ao apoiá-las na criação de pequenos negócios ou no regresso à escola. “Depoimentos das mulheres atendidas pela irmã Angélique mostram o notável efeito do seu trabalho em promover uma reviravolta nas suas vidas, já que muitas delas a chamam de ‘mãe’”.
No anúncio da atribuição do prémio, esta terça-feira, António Guterres, alto comissário das Nações Unidas para os Refugiados, falou da irmã congolesa como uma mulher que “trabalha incansavelmente para ajudar mulheres e meninas extremamente vulneráveis em virtude do trauma, pobreza e deslocamento forçado”. 
“Os desafios são enormes, o que torna sua actuação das mais notáveis. E ela não permite que nada atrapalhe o seu caminho”. Angélique Namaika ouviu ainda o elogio de Guterres de que é “uma verdadeira heroína humanitária”.
O prémio atribuído à freira será uma ajuda para as pessoas deslocadas em zonas como Dungu recomeçarem as suas vidas. “Jamais vou parar de fazer tudo o que estiver ao meu alcance para dar-lhes esperança e uma hipótese de viver de novo”, disse Angélique Namaika ao saber que tinha sido distinguida, cita o ACNUR.
Angélique Namaika vai receber o prémio no próximo dia 30, numa cerimónia em Genebra. Dois dias depois da entrega da distinção, a freira vai ser recebida pelo Papa Francisco, no Vaticano. Para o encontro, a irmã tem já preparados alguns pedidos. Vai pedir o “perdão de Joseph Kony” e que Francisco “intervenha para que a paz possa voltar” à RDC, contou em declarações à BBC.
O prémio Nansen do ACNUR é atribuído desde 1954. Tem o nome de Fridtjof Nansen, explorador polar, cientista, Prémio Nobel da Paz e o primeiro alto comissário para Refugiados da Liga das Nações. O prémio pretende distinguir o trabalho de indivíduos, organizações ou grupos que ajudaram pessoas forçadas a abandonar as suas casas ou países.
Em 2012, o prémio foi atribuído a Hawa Aden Mohamed, fundadora e directora do Centro de Educação para a Paz e Desenvolvimento Galkayo, em Puntland, na Somália.