03/01/2017

2.583.(3jan2017.15.15') Derek Parfit

Nasceu a 11dez1942, Chengdu, China
e morreu a 1jan2017, Oxford, Inglaterra
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http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/1846.pdf
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Livro:
"Razões e Pessoas"
Razões e pessoas
http://www.dimanoinmano.it/pt/cp95893/filosofia/filosofia-contemporanea/ragioni-e-persone
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Livro:
"Sobre o que importa"
http://lolaeafilosofia.blogspot.pt/2016/01/o-ensaio-que-nao-ganhou.html
A Teoria de Derek Parfit



Derek Parfit[4] foi um dos primeiros teóricos contemporâneos a explorar a relação entre identidade e ética explicitamente nos artigos: "Personal Identity" e especialmente

"Later Selves and Moral Principles". Em “Reasons and Persons”, Derek Parfit defende uma visão reducionista da identidade pessoal. De acordo com um reducionista, as pessoas não são nada para além da existência de certos estados mentais e/ou físicos e suas várias relações.

Parfit acredita que a identidade pessoal pode ser reduzida a um conjunto de critérios que são necessários para se supor que as pessoas existem. Ou seja os fatos sobre pessoas e identidade pessoal consistem em fatos mais particulares sobre cérebros, corpos e uma série de eventos físicos e mentais inter-relacionados.

Os argumentos de Parfit a favor do reducionismo são impressionantes e importantes mas os nossos propósitos centram-se na forma como o autor defende a surpreendente conclusão de que a relação de identidade não é de facto o que importa na sobrevivência.

Assim em Reasons and Persons Parfit afirma: "na visão reducionista, a existência de cada pessoa depende apenas da existência de um cérebro e um corpo, a realização de determinados atos, o pensamento de certos pensamentos, a ocorrência de certas


3 - Identidade Pessoal: O conceito de identidade pessoal refere-se à identidade numérica única de uma pessoa através do tempo.

4 - Derek Parfit (nascido a 11 de Dezembro de 1942) é um filósofo britânico que se especializa em identidade pessoal, racionalidade, ética, e as relações entre estas. Parfit trabalhou na Universidade de Oxford durante toda a sua carreira académica, e como Emeritus Senior Research Fellow em All Souls College, Oxford. É também um professor visitante de Filosofia nas universidades de Nova York, Harvard, e Rutgers, e foi galardoado em 2014 com o Prémio Rolf Schock.



Que sentido para o conceito de Identidade Pessoal?

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experiências, e assim por diante."[5] Assim como não são capazes de pensar que um clube social tem qualquer estatuto ontológico para além da existência de seus membros e suas relações com o outro, também as reivindicações reducionistas afirmam que o que possibilita a existência das pessoas são os vários eventos físicos e psicológicos que a caracterizam. Assim, Parfit acredita que "o fato da identidade de uma pessoa ao longo do tempo apenas consiste na realização de fatos mais particulares." [6]

Desta forma, Parfit acredita que os fatos sobre a identidade pessoal consistem apenas em fatos mais específicos sobre a continuidade psicológica e / ou conexão, e assim que a identidade pessoal pode ser reduzida a essa continuidade e / ou a uma conectividade.

Para começar, ele sugere, por vezes, que o critério de identidade pessoal mais plausível é o critério psicológico. Este critério sustenta que, para X ser idêntico a Y, eles devem ser exclusivamente psicologicamente contínuos. Continuidade psicológica é, potencialmente, uma ramificação, um-muitos, ou seja, ela pode conseguir ramificar-se entre mim-agora e mais de uma pessoa no futuro. Mas a identidade é uma relação de equivalência - é reflexiva e simétrica - por isso detém uma relação só possível de um-um.

Além disso, uma vez que a identidade pessoal consiste apenas nesta continuidade psicológica quando se tem em conta critérios como uma “não-ramificação”, ou “um-um”, a identidade pessoal é, como Parfit diz, “A identidade pessoal não é o que importa. O que importa fundamentalmente é a Relação R, com

qualquer causa.” [7].
Parfit está consciente de que a sua visão da identidade pessoal é, contrária à normal visão do senso comum, e que, se a sua visão estiver correta, muitos de nós temos falsas crenças sobre a identidade pessoal. Para além disso, como muitos dos nossos pontos de vista sobre questões relacionadas com a moralidade são baseadas no nosso conhecimento sobre a identidade pessoal, é possível que a visão reducionista de Parfit abale as nossas crenças morais. No entanto, considera que, se essas mudanças acontecessem, elas representariam uma melhoria em relação às nossas crenças anteriores e noções morais.






5 - Parfit, Reasons and Persons, pp. 211

6 - Idem, p. 210.

7 - Parfit, Idem, p. 217.




Que sentido para o conceito de Identidade Pessoal?
From Above


Sendo apanágio da Filosofia o desacordo crítico, Mark Johnston, professor de Filosofia em Princeton, rejeita a noção constitutiva de identidade pessoal de Parfit em: Human Concerns Without Superlative Selves e propõem uma tese que defende a preservação do significado de personalidade (como facto de nível superior) através de um argumento a que o próprio chama de "Argument from Above".

Johnston refere que Parfit cometeu a falácia da composição pois: "mesmo que os fatos de nível inferior [que no seu conjunto formam a identidade] não tenham importância em si mesmos, o facto de nível superior pode importar. Se isso acontecer, os fatos de nível inferior terão, por sua vez, um significado derivado. Assim, eles vão ter significado, não em si mesmo, mas sim porque são eles que constituem o fato de nível mais alto.” [8]. O que importa fundamentalmente é a Relação R, com qualquer causa. Esta relação é o que importa mesmo quando, como no caso em que uma pessoa mantém a relação R com duas outras pessoas, a Relação R não provê a identidade pessoal" Parfit defende-se dizendo que não é a personalidade em si própria que tem significado, mas sim os factos em que a pessoalidade consiste e que lhe concedem o seu significado.

Para ilustrar esta diferença com o Johnston, Parfit faz uso de um exemplo de um paciente com danos cerebrais que se torna irreversível a nível do inconsciente, assumindo através dele que a sua opinião é a mais plausível.

No exemplo, o paciente está, certamente, ainda vivo, sendo esse fato separado do fato de que o seu coração ainda esteja a bater e que outros órgãos ainda estejam a funcionar. No entanto o facto de o paciente estar vivo não é um facto independente ou obtido separadamente dos outros fatos.

O paciente estar vivo, embora irreversivelmente inconsciente, consiste e deriva simplesmente dos outros fatos ( é ao constatarmos que os órgãos internos estão ainda em funcionamento que concluímos que o paciente ainda está vivo).

Parfit explica esta conclusão através do "Argument from Below" . Podemos arbitrar o valor do coração e dos outros órgãos que ainda estão a trabalhar sem ter que atribuir-lhes um significado derivado, como a perspectiva de Johnston ditaria.

Parfit acredita que seu argumento é mais plausível neste exemplo através dos seguintes pontos cruciais: se o fato X ( superior) consiste inteiramente em fatos mais particulares, então X não é um fato independente ou obtido separadamente. E X é também, em relativamente a esses outros fatos, apenas um fato conceptual. Pois é um fato que resulta da aplicação dos nossos conceitos. A questão, então, é a seguinte: por que razão um fato meramente conceptual deve importar, quando os fatos de nível inferior não importam?

A afirmação de que se X consiste inteiramente em fatos mais particulares que, X é, portanto, apenas um fato conceitual não é sustentada por nenhum argumento, podendo ser até contestada. Se consideramos o caso de uma estátua inteiramente constituída por mármore, seguindo a lógica do exemplo apresentado por Parfit, todos os fatos sobre a estátua consistiriam inteiramente em fatos sobre a massa do mármore. No entanto, nem todos os fatos sobre a estátua são apenas fatos conceptuais, e não é


8 - Mark Johnston, Human Concerns Without Superlative Selves.



Que sentido para o conceito de Identidade Pessoal?


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racional afirmar que todos os fatos da estátua consistem em fatos da massa do mármore.

Assim, parece-nos que nem todos os factos que consistem inteiramente em fatos inferiores , são fatos conceituais, e talvez esta seja a verdadeira origem do desacordo entre Johnston e Parfit: são os fatos sobre a identidade pessoal semelhantes aos fatos sobre o ser "vivo" ou ainda como os fatos sobre estátuas? Se existem diferentes tipos de factos completamente constituídas (alguns conceptuais, outros não), então para que a teoria de Parfit esteja correta a "identidade" é meramente conceptual.


Paradoxo do Navio de Teseu



Como vimos anteriormente, segundo Parfit, materialista e reducionista constitutivo, a identidade é um facto, distinto de factos sobre corpos, fenómenos e estados psicológicos mas não independente destes, ou seja, apenas um facto sobre a nossa linguagem [9]. Não sendo, portanto, uma nova informação sobre a realidade, pois o contrário implicaria a existência de algo como egos cartesianos, algo a que este se opõe, já que não existe qualquer evidência da existência destes. [10]

Deste modo, é possível fazer uma leitura interessante do paradoxo do navio de Teseu baseada no artigo The unimportance of Personal Identity de Derek Parfit, em que este contempla um problema semelhante, quase que uma reformulação deste paradoxo, mudando apenas o navio de Teseu por cérebros humanos. Quando Parfit apresenta a sua versão deste paradoxo o seu objetivo é demonstrar que as teorias que baseiam a identidade numérica única de um objeto nos seus constituintes físicos são contraditórias. Reflitamos a realidade da sua argumentação.

Portanto, começaremos por apresentar uma formulação deste paradoxo: [11] [12]

" (1) Versão Simples:

Seja A = O navio em que Teseu começou a sua viagem.


Seja B = O navio em que Teseu terminou sua viagem.

A questão não é apenas se "A=B?"; suponha que Teseu havia deixado uma peça original do barco A no barco B. Uma peça de A é o suficiente para fazer A idêntico a B? Se não, seria idêntico a B supondo que ele havia deixado duas peças e assim
9 - Parfit, The Unimportance of Identity, p.23

10 - “O pensamento é distinto da matéria," dizes tu [Descartes]. Mas que provas tens tu? É pois a matéria é divisível e concreta, e o pensamento não? [...] Fracos, intemperados pensadores! A gravidade não é madeira, nem areia, nem metal, nem pedra; movimento, vegetação, vida também não são coisas, e ainda assim vida, vegetação, movimento, e gravitação, são atribuídos à matéria.” O Dicionário Filosófico de Voltaire, Voltaire (1764)
11 - Cohen, Identity, Persistence, and the Ship of Theseus, 2004

12 - S. Marc Cohen, Professor Emeritus do departamento de Filosofia da Universidade de Washington
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https://pt.wikipedia.org/wiki/Derek_Parfit
Wikipédia:
 foi um filósofo britânico que se especializou em problemas de identidade pessoalracionalidade e ética, e as relações entre si, destes problemas filosóficos. Trabalhou na Universidade de Oxford em todas as áreas de sua carreira académica, e era um senior pesquisador Emeritus da faculdade "All Souls College" em Oxford. Também foi professor visitante de Filosofia na Universidade de Nova YorkUniversidade de Harvard e da Universidade de Rutgers. Era casado com a filósofa Janet Radcliffe Richards.
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O PROBLEMA DA IDENTIDADE PESSOAL EM DEREK PARFIT E PAUL RICOEUR THE PROBLEM OF PERSONAL IDENTITY IN DEREK PARFIT AND PAUL RICOEUR João Batista Botton* Resumo O texto apresenta e discute o confronto de Paul Ricoeur com a obra de Derek Parfit acerca do problema da identidade pessoal. Pretende-se, através do cotejo entre a tese do esvaziamento de sentido da identidade atribuída a Parfit e a teoria da identidade narrativa de Ricoeur, extrair desse confronto enriquecimentos valiosos para a consideração do problema. Pela apresentação das experiências de pensamento (puzzling cases) através das quais Parfit estabelece a equivocidade do estatuto de relevância da questão da identidade, são examinados os pressupostos teóricos de sua tese. Esses pressupostos, por sua vez, são confrontados com a posição Ricoeuriana, que pretende demonstrar a impossibilidade da redução da pessoa ao tipo de procedimento impessoal utilizado por Parfit no estabelecimento de seus experimentos. Finalmente, examina-se o tipo de dificuldades e limitações que a tese cética de Parfit pode oferecer às pretensões de Ricoeur de construir um modelo de identidade baseado em categorias narrativas. Palavras-Chave: Identidade; Pessoa; Narrativa; Si-mesmo.
(seguem-se 11 páginas) 
http://sites.unifra.br/Portals/1/ARTIGOS/numero_05/Ricoeur_02.pdf
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https://forumdediscursus.wordpress.com/tag/derek-parfit/







Uma Solução para MAP





















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erek Parfit é um dos filósofos britânicos mais importantes da atualidade. Seu livro Reasons and Persons (Razões e Pessoas, 1984) já pode ser considerado um marco da filosofia contemporânea. Nessa obra, Parfit apresenta uma rica análise sobre problemas meta-éticos, cujas soluções ajudariam à tomada de decisão sobre temas como superpopulação, aborto, qualidade de vida, etc. Lá, encontra-se também a proposta de uma nova teoria mais abrangente sobre o bem-estar – conhecida por Teoria X – para qual se exigiria atender quatro requisitos básicos, desenvolvidos ao longo do livro: o problema da não identidade; evitar as conclusões repugnante e absurda; além de resolver o Paradoxo da Mera Adição (Mere Addition Paradox, ou MAP). No sentido de ajudar a resolver o referido paradoxo e, por conseguinte, colaborar na viabilização da Teoria X, o presente artigo vem propor uma nova interpretação para esta aporia que, se for plausível, poderá facilitar sua solução, enquanto supera a Conclusão Repugnante (The Repugnant Conclusion), encaminhando assim metade dos trabalhos para a elaboração da teoria almejada.
Uma solução para o Paradoxo da Mera Adição foi agora acrescentada na seção de Ética em Filosofia Contemporânea de Discursus.
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Via Graça Silva
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http://dailynous.com/2017/01/02/derek-parfit-1942-2017/
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Derek Parfit has few memories of his past and almost never thinks about it, a fact that he attributes to an inability to form mental images.

HOW TO BE GOOD

http://www.newyorker.com/magazine/2011/09/05/how-to-be-good