27/11/2017

8.131.(27noVEMbro2017.7.7') Myanmar...Birmânia...Rohingya

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14dez2017

São 300 por dia. 12 por hora. Pelo menos nove mil rohingyas morreram no Estado de Rakhine, na Birmânia, entre 25 de agosto e 24 de setembro, segundo as contas dos Médicos Sem Fronteiras

"Como 71,7% das mortes relatadas foram causadas pela violência, cerca de 6.700 rohingyas, nas estimativas mais conservadoras, foram mortos, incluindo pelo menos 730 crianças menores de cinco anos", de acordo com as investigações feitas pelos Médicos Sem Fronteiras (MSF).
Segundo os MSF, os resultados dos estudos mostram que "os rohingyas foram alvo" de violência generalizada.
Os resultados indicam também que "a violência generalizada que começou a 25 de agosto, quando os militares da Birmânia, a polícia e milícias locais lançaram 'operações de varredura' em Rakhine, em resposta aos ataques do Exército de Salvação Arakan Rohingya".
Desde então, mais de 647.000 rohingyas fugiram da Birmânia para Bangladesh.
"Nós encontrámo-nos e falámos com sobreviventes da violência em Mianmar, que agora estão abrigados em acampamentos superlotados e insalubres no Bangladesh", disse o médico Sidney Wong, diretor médico dos MSF.
"O que descobrimos foi assombroso, tanto pelo número de pessoas que relataram que um membro da família morreu devido à violência, como por causa das formas terríveis pelas quais elas disseram que os parentes foram mortos ou gravemente feridos. O pico das mortes coincide com o lançamento das mais recentes 'operações de varredura' das forças de segurança de Mianmar, na última semana de agosto", disse Wong.
No início de novembro, os MSF realizou seis estudos retrospetivos de mortalidade em diferentes setores dos acampamentos de refugiados em Cox's Bazar, no Bangladesh, na fronteira com a Birmânia.
A população total das áreas abrangidas pelas investigações foi de 608.108 pessoas, 503.698 haviam fugido da Birmânia após o dia 25 de agosto e 100.464 eram crianças menores de 5 anos.
A taxa geral de mortalidade de pessoas nas famílias investigadas, no período entre 25 de agosto e 24 de setembro, foi de oito em cada 10 mil pessoas por dia.
Isso equivale à morte de 2,26% (entre 1,87% e 2,73%) da população estudada. Se essa proporção for aplicada à população total que chegou desde 25 de agosto aos campos cobertos pelas investigações, isso sugere que entre 9.425 e 13.759 rohingya morreram nos primeiros 31 dias após o início da violência, incluindo pelo menos 1.000 crianças menores de cinco anos.
No geral, os tiros foram a causa em 69% das mortes relacionadas com a violência, seguidos de pessoas queimadas até morrerem nas suas casas (9%) e espancadas até a morte (5%).
Entre as crianças com idade inferior a cinco anos, mais de 59% das que foram mortas durante esse período foram alvo de tiros, 15% foram queimadas até a morte em casa, 7% foram espancadas até a morte e 2% morreram devido a explosões de minas terrestres.
"O número de mortes provavelmente está subestimado, já que não estudamos em todos os acampamentos de refugiados em Bangladesh, e porque as investigações não contabilizam as famílias que nunca chegaram a sair de Mianmar", afirmou Sidney Wong.
"As pessoas ainda estão a fugir de Mianmar para o Bangladesh e aqueles que conseguem atravessar a fronteira ainda relatam ter sido vítimas de violência nas últimas semanas", acrescentou Wong.
Para os Médicos Sem Fronteiras, a assinatura de um acordo entre os Governos de Mianmar e o Bangladesh para o retorno dos refugiados é prematura.
"Os rohingyas não devem ser forçados a retornarem e sua segurança e direitos precisam de ser garantidos antes que tais planos possam ser seriamente considerados", vincam os MSF.
Em meados de agosto, o Exército de Salvação Rohingya de Arakan (ARSA) atacou posições das forças de segurança birmanesas e esses ataques desencadearam uma repressão devastadora pelo exército e polícia, forçando os rohingyas, uma minoria muçulmana, a fugir do estado birmanês de Rakhine para o Bangladesh.
com Lusa

http://visao.sapo.pt/actualidade/mundo/2017-12-14-So-num-mes-morreram-pelo-menos-9-mil-rohingyas-na-Birmania
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27noVEMbro2017
cânticos em rangum

https://www.dn.pt/mundo/interior/milhares-de-catolicos-birmaneses-acolhem-papa-com-bandeiras-e-canticos-em-rangum-8946220.html
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princípio de noVEMbro2017

A vida dentro de um acampamento de refugiados Rohingya

https://www.youtube.com/watch?v=lyZiIdFAayQ
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Myanmar
https://www.youtube.com/watch?v=Pv2GhseYJwY
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27noVEMbro2017
Uma curta declaração à TSF sobre a visita do Papa Francisco a Myanmar. Quem faz o que o exército birmanês está a fazer aos Rohingya não é budista, por mais que o pretenda.
É a primeira visita do líder da Igreja Católica a um país cuja população é 90 por cento Budista, os católicos são minoritários, cerca de 700 mil pessoas e que está a ser considerada como um dos momentos mais delicados a nível diplomático do pontificado do papa.Francisco reviu a agenda desta visita para incluir um encontro com o poderoso chefe do exército e uma reunião com representantes de várias religiões e foi aconselhado a não usar a palavra: rohingya.
O professor Paulo Borges , docente de Filosofia da Religião na Universidade de Lisboa , considera que o Papa Francisco está numa posição muito delicada, mas acredita que com "a sabedoria que lhe é própria saberá encontrar o caminho do meio, que é muito apreciado pelos budistas, evitando os extremos" para condenar a perseguição a uma minoria étnica, mas ao mesmo tempo, "usando uma linguagem inequívoca" sobre aquilo que realmente pensa sobre toda a situação. É por isso que Paulo Borges diz que "não gostava de estar no lugar do Papa Francisco que é uma posição muito delicada "

https://www.tsf.pt/internacional/interior/-nao-gostaria-de-estar-no-papel-de-francisco-8944915.html
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13seTEMbro2017
Os muçulmanos rohingyas são das minorias mais perseguidas no mundo. Ao fim de séculos estabelecidos na ex-Birmânia, vêem-se a fugir da região que sempre foi sua. Quem são e o que está em causa?
Em Myanmar, os confrontos entre as autoridades e os paramilitares rohingyas já fizeram milhares de mortos. Há décadas que a minoria muçulmana é perseguida, torturada e assassinada na ex-Birmânia e o conflito agravou-se nos últimos dias: em duas semanas, mais de 123 mil rohingyas fugiram do país rumo ao Bangladesh para escapar à violência. Em março, a ONU já falava numa “limpeza étnica“. Organizações como a Amnistia Internacional também já se manifestaram para que seja feita uma investigação.

De um lado um lado temos um governo que se recusa a reconhecer uma etnia fortemente presente no país; do outro, temos um milícia — que não representa a população rohingya — que exige um “Estado muçulmano democrático” onde já existe um país: Myanmar.

Quem são os rohingyas?

Os rohingyas pertencem uma etnia minoritária que existe em Myanmar há séculos. Atualmente, mais de um milhão de pessoas de etnia rohingya vive no país, nomeadamente no estado de Rakhine, no oeste. Têm uma linguagem própria, que não é reconhecida pelo Estado. Os confrontos entre grupos rohingyas e as autoridades são uma constante. Em Rakhine, a etnia rohingya representa mais de um terço da população e, ainda assim, entra em choque com outros grupos da região, predominantemente budistas.
Com uma história tão enraizada em Myanmar, a origem dos rohingyas é mais difícil de analisar do que o governo leva a crer. Do lado do Estado, argumenta-se que os rohingyas descendem de grupos de agricultores naturais do Bangladesh. Contudo, chegaram à região no séc. XIX, quando Myanmar era uma província ultramarina britânica, dentro da região administrativa da Índia. Os rohingyas foram para lá levados enquanto mão-de-obra barata. Muitos Rohingya garantem ser descendentes de mercadores muçulmanos. Mas, no fundo, são um misto de etnias.
Uma grande comunidade de refugiados rohingyas vive atualmente no Bangladesh e na Malásia, onde acabam a trabalhar ilegalmente ou desviados para redes de escravatura.

Como surgiu o conflito?

Primeiro é preciso entender que o governo recusa reconhecer os rohingyas como cidadãos de pleno direito de Myanmar, alegando que são naturais do Bangladesh. O órgão das Nações Unidas para os refugiados e outros grupos defensores dos direitos humanos já acusaram os dirigentes de Myanmar de “limpeza étnica”, com base na violência e assassínio de aldeias inteiras.
Quando Myanmar se tornou independente em 1948, os rohingyas foram autorizados a candidatarem-se para receber cartão de cidadão, o que lhes garantiria alguns direitos. Alguns chegaram mesmo ao Parlamento. Mas um golpe de estado militar em 1962 fez com que os rohingyas perdessem este estatuto e fossem considerados estrangeiros — assim, receberam todos um cartão de cidadão específico para estrangeiros.
O golpe de estado de 1962 levou ao poder o general Ne Win, que tinha sido primeiro-ministro da Birmânia (atual Myanmar), e que viria a ocupar o cargo mais duas vezes até passar a ser o chefe de Estado. Ne Win levou a cabo uma série de reformas quando chegou ao poder, marcadas por políticas de extremo nacionalismo, marxismo e budismo, apesar de ele próprio rejeitar interesses em ideologias e religião. Criou um partido, O Caminho Birmanês Para o Socialismo (CBPS), que em 1964 foi formalmente declarado o único partido legal no país.
Em 1982 foi aprovada uma nova lei de cidadania. Entre outras coisas, dizia que os rohingyas só podiam preencher o formulário para ter cartão de cidadão caso conseguissem falar uma língua oficialmente reconhecida e provassem que os seus antecessores viviam no país antes da independência. Mas a maioria nunca sequer teve acesso à papelada necessária para satisfazer os requisitos e foi considerada apátrida.
economia foi inteiramente nacionalizada com base numa política de autosuficiência que levou o país a um isolacionismo político e económico. Como em todas as economias fechadas, o mercado negro cresceu para responder às necessidades da população e, a rápido passo, o governo caiu em bancarrota. A dívida pública da então Birmânia atingia os 3,5 mil milhões de dólares (2,9 mil milhões de euros) e as reservas do país tinham no máximo uns 35 milhões de dólares (29 milhões de euros).
Em 1987, Ne Win retirou de circulação as notas de 100, 75, 35 e 25 quilates e deixou apenas em circulação as de 45 e 90, por serem os únicos números divisíveis por 9, o número que o próprio considera dar sorte. Por esta alteração fiduciária, milhares de estudantes universitários perderam as poupanças que tinham para as propinas. Seguiram-se protestos por todo o país, que culminaram na demissão de Ne Win.
Mas o que começou por ser um movimento estudantil acabou por mobilizar todos os setores da população. Em setembro, as forças armadas retomaram o poder e revogaram a Constituição de 1974. Foi instaurado um Conselho de Restauração da Lei e Ordem.
Quando o exército dispara, não tem por hábito disparar para o ar. Dispara para matar”– Ne Win
O objetivo das forças armadas, “em defesa dos interesses da população”, era impor medidas mais drásticas para pôr fim aos protestos, tal como a lei marcial. As tropas do general Saw Maung (que agora governava o país) patrulharam cidades de norte a sul, disparando indiscriminadamente contra qualquer um que protestasse.
Não se sabe ao certo quantas pessoas terão morrido porque muitos dos corpos eram cremados. Estima-se que só na primeira semana foram mortos cerca de 1000 estudantes, monges e crianças, e outras 500 pessoas à porta da embaixada norte-americana. No fim do mês de setembro eram já 3000 mortes estimadas.

Qual a posição de Aung San Suu Kyi?

Oficialmente, Aung San Suu Kyi é Conselheira de Estado de Myanmar, mas é considerada a líder de facto e a cara da nação. Estudou na Índia e no Reino Unido e acabou a viver em Nova Iorque, onde trabalhou nas Nações Unidas. Acabaria por voltar a Myanmar em 1988, coincidindo com a queda do general Ne Win. A 26 de agosto de 1988, discursou perante meia milhão de manifestantes na capital, exigindo um governo democrático. Contudo, em setembro a junta militar tomaria poder.
Nesse mês, ajudou a fundar a Liga Nacional para a Democracia, de onde 
seria expulsa por ser demasiado emotiva nos confrontos, apesar de a mesma rejeitar a violência e apregoar valores budistas. Foi colocada em prisão domiciliária em 1989.
As suas visões políticas e os textos que escrevia apelando ao voto democrático e transparente chamaram a atenção da oposição. Em 1990, a mesma junta militar convocou eleições legislativas, de onde a Liga Nacional para a Democracia saiu vencedora. No entanto, a junta rejeitou os resultados e anulou as eleições. A atenção internacional estava captada, de tal forma que a postura pacífica de Suu Kyi lhe valheu o prémio Nobel da Paz em 1991. Essa postura serviu de alavanca para a sua posição política. Em 2007 admitiu: “Eu não sigo a não-violência por razões morais, mas por razões políticas e práticas”.
Ao longo de 21 anos, esteve detida em prisão domiciliária um total de 15 anos, até ser libertada em 2010, um ano depois de o então presidente norte-americano, Barack Obama, ter pessoalmente apelado à libertação de todos os presos políticos, especialmente de Aung San Suu Kyi. A libertação, contudo, foi efetivada dias depois de uma eleição legislativa que voltava a garantir o governo da junta militar. As eleições de 2012 garantiram-lhe um lugar no parlamento — e o seu partido ocupou 43 dos 45 lugares disponíveis.
Toda esta postura pacífica tem sido colocada em causa por ativistas e líderes internacionais, exatamente porque Aung San Suu Kyi evita tocar no tema da etnia rohingya.
Depois dos protestos em Rakhine em 2012 e mais tarde no início da crise de refugiados rohingyas em 2015 (e até hoje), Suu Kyi reforçou em conferências de imprensa que “não tinha a certeza” se os rohingyas podiam ser considerados cidadãos de Myanmar. Numa entrevista dada à BBC, não condenou a violência contra a minoria étnica e rejeitou que fossem vítimas de “limpeza étnica”, além de insistir que as tensões eram causadas por um “clima de medo causado pela perceção mundial de que o poder islâmico é muito real”.
Perante estas posições, Dalai Lama chegou a apelar a que Suu Kyi fizesse “mais pelos rohingyas em Myanmar”, após duas reuniões privadas com ela.

A milícia islâmica

Aung San Suu Kyi alega que a violência “vem dos dois lados”, mas que é “em resposta aos grupos extremistas”. Refere-se ao Exército Arakan Rohingya (ARSA), uma mílicia insurgente estabelecida no estado de Rakhine que surgiu após os protestos de 2012. O grupo reivindicou vários ataques contra forças estatais, mas garante que o seu único objetivo é “estabelecer um estado muçulmano democrático” onde hoje existe Myanmar.
Apesar de algumas reformas no início do governo de Suu Kyi, os rohingyas continuaram a ser uma etnia não reconhecida no país, ao contrário do que acontece com outras 135 etnias. Não conseguem ter acesso aos mesmos recursos e serviços a que os cidadãos budistas têm, nem sequer podem abandonar as suas aldeias em Rakhine sem autorização prévia do governo.
As estimativas colocam o número de refugiados rohingyas no Bangladesh entre as centenas de milhares. A primeira-ministra do Bangladesh, Sheikh Hasina, garantiu à BBC que a sua posição é muito clara: “Eles [governo] deviam considerar esta situação com humanidade porque estas pessoas, as crianças, as mulheres… Estão a sofrer”.
Estas pessoas pertencem a Myanmar, há 100 anos ou mais que estão lá. Como podem negar que são cidadãos?”, perguntou Hasina
Amnistia Internacional fala em meio milhão de rohingyas deslocados e não documentados. O governo bengali autoriza, por vezes, que os rohingyas vivam em tranquilidade perto das fronteiras em campos improvisados. Outras vezes, contudo, deporta-os para Myanmar, onde a violência os espera.


Os outros países da região também não são uma solução. A Indonésia, por exemplo, chegou a proibir os pescadores de ajudar os rohingyas nas travessias de barco. Porém, chegou a haver manifestações no país — a maior nação maioritariamente muçulmana no mundo — em apoio aos rohingyas.
Myanmar não facilita a saída dos rohingyas do país. As fronteiras estão cobertas de minas desde a década de 90 e os acidentes com rohingyas feridos ou mortos por minas têm aumentado. O Bangladesh diz que o exército de Myanmar enterrou mais minas recentemente — uma alegação que os militares negam.
Têm surgido vários apelos nas Nações Unidas para a resolução do problema, em especial do Bangladesh e dos Estados Unidos. A primeira-ministra do Bangladesh, Sheikh Hasina, tem visita agendada a um campo de refugiados rohingyas e já fez saber que espera que “Myanmar resolva o problema que causou”. Já a Casa Branca apelou para que Myanmar respeite a lei internacional e acabe com a crise humanitária antes que ela se agrave.

Esta quarta-feira, 13 de setembro, soube-se que Aung San Suu Kyi vai faltar à Assembleia Geral das Nações Unidas, no mesmo dia em que o exército de Myanmar volta a defender que só ataca insurgentes islâmicos e não civis diretamente. O Conselho de Segurança deve reunir ainda durante a tarde desta quarta-feira para discutir a situação.

http://observador.pt/2017/09/13/quem-sao-os-rohingya-e-por-que-fogem-de-myanmar/
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14seTEMbro2017
Infográfico com a região habitada pela minoria Rohingya em Myanmar

Organizações internacionais estimam que quase meio milhão de rohingyas já fugiram para Bangladesh

Organizações internacionais estimam que quase meio milhão de rohingyas já fugiram para Bangladesh
Quem são os rohingya?
Os rohingya são uma minoria étnica muçulmana de Myanmar, predominantemente alocada no estado de Rakhine, no oeste do país. Seus membros não são oficialmente reconhecidos pelo governo como cidadãos, e há décadas a maioria budista birmanesa é acusada de submetê-los a discriminação e violência.
Considerados pela Organização das Nações Unidas e pelos Estados Unidos uma das minorias mais perseguidas, milhares de rohingya fogem de Myanmar e Bangladesh todos os anos, na tentativa de chegar à Malásia e à Indonésia, ambas de maioria muçulmana.
Por que os rohingya são apátridas?

Antes da atual crise, mais de 10% dos apátridas do mundo viviam em Myanmar. A agência da ONU para refugiados Acnur estima atualmente em 10 milhões o total de apátridas, embora frisando que é difícil obter cifras exatas devido à própria natureza desse status.

Entenda o conflito em torno dos rohingya em Myanmar

País budista liderado pela Nobel da Paz Suu Kyi está sendo acusado de genocídio de uma minoria muçulmana. Porém, analistas colocam motivações política e econômica à frente das causas religiosas.
Em 2014 a ONU saudou as reformas econômicas no país, mas expressou "séria apreensão" quanto às vicissitudes da comunidade rohingya. A organização exigiu para eles acesso à cidadania, assim como a todos os serviços públicos. No entanto, até agora o governo birmanês tem recusado a cidadania à minoria composta por 1,1 milhão de pessoas, que classifica como imigrantes ilegais da vizinha Bangladesh.
Myanmar também rechaça o uso do termo "rohingya" em qualquer resolução das Nações Unidas, alegando que ele aumenta as dificuldades de Naypyidaw em abordar a questão. O governo estaria disposto a conceder cidadania à minoria muçulmana se esta se identificar como bengali – opção que os rohingya, por sua vez, consideram inaceitável.
Em agosto de 2017, a Comissão Consultiva do Estado de Rakhine, encabeçada pelo ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan, divulgou um relatório de 63 páginas, apontando o problema da cidadania como o maior obstáculo à paz em Rakhine.
"Se essa questão não for abordada, causará significativo sofrimento e insegurança humana, ao mesmo tempo em que freia o desenvolvimento econômico e social de todo o estado." A comissão instou o governo em Naypyidaw a "estabelecer uma estratégia e cronograma claros para o processo de verificação de cidadania".
Além disso, as autoridades birmanesas devem esclarecer o status daqueles a que for recusada a cidadania, em conformidade com os padrões internacionais. A comissão especificamente recomendou, ainda, que seja revista a lei de cidadania de 1982, que tem uma classificação complicada de cidadão, muitas vezes atrelada à etnia.
Quando o conflito se tomou um rumo violento?
Em 2012, choques entre os rohingya e nacionalistas budistas causaram numerosas mortes, forçando dezenas de milhares da minoria muçulmana a fugir para Bangladesh, Malásia, Tailândia e Indonésia. Desde então, cerca de 200 mil deslocados estão vivendo em acampamentos em Rakhine.
Em outubro de 2016, militantes rohingya atacaram pontos de controle de segurança, matando numerosos policiais. As forças de segurança birmanesas reagiram lançando operações antiterrorismo contra os rebeldes. Segundo grupos de direitos humanos, como a Human Rights Watch e a Anistia Internacional, essas operações envolveram matança arbitrária, estupro sistemático, incêndio de casas e expulsão de moradores.
A ONU registrou que, em consequência, cerca de 87 mil rohingyas fugiram para Bangladesh. Após a mais recente onda de violência, começada em 25 de agosto, contudo, a Organização Internacional para as Migrações (OIM) calcula que outros 400 mil procuraram refúgio no país vizinho, com mais 10 mil a 20 mil chegando a cada dia.
O que tem feito Aung San Suu Kyi, prêmio Nobel da paz e considerada líder política de facto de Myanmar, em relação ao suposto genocídio dos rohingya?
Segundo autoridades dos Estados Unidos, Suu Kyi afirmou estar tomando medidas para conseguir ajuda humanitária às áreas habitadas pela minoria islâmica, tendo concordado quanto à necessidade de assistência imediata e intensificada para a região, sobretudo pela Cruz Vermelha Internacional.
Até então, diversas ONGs, inclusive a Human Rights Watch, vinham condenando como injustificável e errado o silêncio da líder sobre a violência étnico-religiosa. Até mesmo o Dalai Lama instou a democracia birmanesa a encarar a questão dos refugiados no país.
No entanto Suu Kyi se confronta com um dilema: na qualidade de ícone dos direitos humanos de gabarito internacional, seu dever é erguer a voz em apoio aos rohingya, denunciando as atrocidades do governo e da maioria budista, assim como dos instigadores muçulmanos. Por outro lado, ela quer evitar pagar pela iniciativa com a perda do apoio interno dos budistas.
A perseguição dos rohingya é basicamente um conflito religioso, como parece à primeira vista?
Alguns analistas afirmam que a crise é mais motivada por questões políticas e econômica. Entre eles está Siegfried O. Wolf, diretor de pesquisa no South Asia Democratic Forum (SADF), sediado em Bruxelas.
"Relações interreligiosas são muito complexas em Myanmar. Muçulmanos, especialmente os rohingya, são confrontados com a islamofobia profundamente arraigada de uma sociedade e Estado predominantemente budistas. Os fundamentalistas alegam que a cultura budista nacional estaria ameaçada pelos muçulmanos, ainda mais devido ao fato de Myanmar estar cercado por vários países islâmicos, como Bangladesh, Malásia e Indonésia."

A esse, prossegue Wolf, se acrescenta o aspecto econômico: "O estado de Rakhine é uma das áreas mais pobres do país, apesar de ser rico em recursos naturais. Assim, os rohingya são considerados um lastro econômico adicional para o estado, ao competirem pelos poucos empregos e oportunidades de negócios disponíveis."
http://www.dw.com/pt-br/entenda-o-conflito-em-torno-dos-rohingya-em-myanmar/a-40517106