2018
400 anos do início
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Uma das guerras mais destrutivas da história europeia, a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) sequer é considerada estritamente como somente um conflito por algumas correntes historiográficas; mais do que isso, seria uma profunda crise que abateria o século XVII em suas bases. Isso o marcaria, em geral, como um período de regressão e decadência comprimido entre dois séculos gloriosos.
O início da guerra ocorreu na chamada “defenestração de Praga”, ocorrida em 23 de maio de 1618. Nesta ocasião, três representantes do imperador Fernando II (1578-1637), da Casa Habsburgo, foram jogados pela janela de um palácio ao tentarem impor o fechamento da assembleia dos estados em Boêmia. Meses depois, Fernando II conseguiria derrotar os rebeldes, mas sua decisão de abolir o compromisso da liberdade de culto – estabelecido ainda em 1555 na chamada Paz de Augsburgo - intimidaria muitos príncipes alemães protestantes e seus aliados na Europa, como Suécia, Dinamarca e Holanda, principalmente após a ocupação da região chave do Palatinado pelas tropas do imperador, em 1621.
Defenestração de Praga. Ilustração de Johann Philipp Abelinus (entre 1635-1662).
Somente em 1629, contudo, quando o Sacro Império Romano retomou todas as terras concedidas aos protestantes desde 1555 ao promulgar o Édito de Restituição, é que o confronto ameaçou atravessar as fronteiras do Sacro Império Romano Germânico e tornar-se um conflito generalizado. Logo no ano seguinte, o rei sueco Gustavo II (1594-1632) liderou um enorme exército numa invasão ao Império, iniciando uma fase mais favorável à causa protestante que duraria até a morte do próprio rei na batalha de Lutzen, em 16 de novembro de 1632.
Outra fase vantajosa apenas surgiria quando a divisão religiosa do conflito fosse atenuada pela entrada da França católica na aliança contra o Sacro Império Romano, em 1634, por motivos puramente geopolíticos. Somando mais de 100.000 soldados para a aliança protestante, a causa anti imperial devastaria e pilharia as terras germânicas o suficiente para fazer com que, em 1641, o novo imperador – Fernando III (1608-57) – tivesse que começar a fazer concessões significativas, como anular o Édito de Restituição promulgado por seu pai. Uma vez que a principal aliada do Sacro Império Romano, Espanha, enfrentava rebeliões em Catalunha e Portugal, estando impossibilitada de fornecer auxílio, as condições para a negociação da paz já foram possíveis a partir de 1645. Os tratados de paz, chamados em seu conjunto de Paz de Vestfália, já estariam sendo assinados em 1648, muito embora Espanha e França ainda continuassem em seus próprios conflitos até 1659.
Cerca de quatro milhões de pessoas morreriam durante as três décadas de conflito. O Sacro Império Germânico, especificamente, sofreria um notável retrocesso econômico com a enorme perda de vidas, juntamente com a destruição da maior parte de seu rebanho e colheitas; tal instabilidade se provaria ser de longo prazo, impossibilitando uma eventual unificação nacional alemã em paralelo às das outras nações. Do ponto de vista político, a Guerra dos Trinta Anos alterou por completo o eixo da Europa: enquanto a influência da Casa Habsburgo decaiu significativamente, a entrada decisiva da França já na parte final do conflito estabeleceu a base da supremacia absolutista de Luís XIV, o Rei Sol, principalmente após a paz favorável com Espanha em 1659. O fim da Guerra dos Trinta Anos, assim, pode pôr em prática um “equilíbrio de poder” entre as potências europeias que duraria mais de dois séculos.
Bibliografia:
CARNEIRO, Henrique. “Guerra dos Trinta Anos”. In: MAGNOLI, Demétrio (org.) História das Guerras. São Paulo: Contexto, 2006.
https://www.infoescola.com/historia/guerra-dos-trinta-anos/***
via Wikipédia:
Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) é a denominação genérica de uma série de guerras que diversas nações europeias travaram entre si a partir de 1618, especialmente na Alemanha, por motivos variados: rivalidades religiosas, dinásticas, territoriais e comerciais.
As rivalidades entre católicos e protestantes e assuntos constitucionais germânicos foram gradualmente transformados numa luta europeia. Apesar de os conflitos religiosos serem a causa direta da guerra, ela envolveu um grande esforço político do Império Sueco e da França para procurar diminuir a força da dinastia dos Habsburgos, que governavam a Monarquia de Habsburgo (futuro Império Austríaco). As hostilidades causaram sérios problemas econômicos e demográficos na Europa Central e tiveram fim com a assinatura, em 1648, de alguns tratados (Münster e Osnabrück) que, em bloco, são chamados de Paz de Vestfália.
Os conflitos religiosos ocorridos na Alemanha e solucionados em 25 de setembro de 1555 com a assinatura da Paz de Augsburgo inauguraram um período no qual cada príncipe podia impor sua crença aos habitantes de seus domínios. O equilíbrio manteve-se enquanto os credos predominantes restringiam-se às religiões católica e luterana, mas o advento do calvinismo complicaria o cenário. Considerada uma força renovadora, a nova linha religiosa conquistou diversos soberanos. Os jesuítas e a Contrarreforma, por outro lado, contribuíram para que o catolicismo recuperasse forças. Assim nasceu o projeto expansionista dos Habsburgos, idealizado por Fernando, duque de Estíria, que fora educado pelos jesuítas. O perigo ameaçava tanto as potências protestantes no norte como a vizinha França.
À medida que o conflito se desenhava, a luta estava sendo influenciada por muitos outros temas colaterais, tais como as rivalidades e ambições dos príncipes alemães e a teimosia de alguns dirigentes europeus, sobretudo dos franceses e suecos, em abater o poderio do católico Sacro Império Romano-Germânico, o instrumento político da família dos Habsburgos.
Esta conjuntura fora desencadeada na segunda metade do século XVI pelas fraquezas do Tratado de Augsburgo, um acordo concluído em 1555 entre o Sacro Império católico e a Alemanha luterana.
As tensões religiosas agravaram-se na Alemanha no decurso do reinado do imperador Rodolfo II (1576-1612), período durante o qual foram destruídas muitas igrejasprotestantes. As liberdades religiosas dos crentes protestantes foram limitadas, nomeadamente as relativas à liberdade de culto; os oficiais do governo lançaram as bases do Tratado de Augsburgo, que criou condições para o refortalecimento do poder católico.
Com a fundação da União Evangélica em 1608, uma aliança defensiva protestante dos príncipes e das cidades alemãs, e a criação, no ano seguinte, da Liga Católica, uma organização semelhante mas dos católicos romanos, tornava-se inevitável o recurso à guerra para tentar resolver o conflito latente, o qual foi desencadeado pela secção da Boêmia da União Evangélica.
No Reino da Boêmia (atual República Checa), teve início uma disputa pela sucessão do trono, que envolveu católicos e protestantes. Fernando II de Habsburgo, com a ajuda de tropas e recursos financeiros da Espanha, dos germânicos católicos e do papa, conseguiu derrotar os protestantes da Boêmia.
Os protestantes, que constituíam a maior parte da população, estavam indignados com a agressividade da hierarquia católica. Os protestantes exigiam de Fernando II, o rei da Boêmia e futuro imperador do Sacro Império Romano-Germânico, uma intercessão em seu favor. Todavia, as reivindicações foram totalmente ignoradas pelo rei, pois este era um fervoroso católico e um potencial herdeiro do poder imperial dos Habsburgos. Fernando II estabeleceu o catolicismo como único credo permitido na Boêmia e na Morávia. Os protestantes boêmios consideraram o ato de Fernando como uma violação da Carta de Majestade. Isso provocou nos boêmios o desejo de independência.
A resposta da maioria protestante não se fez esperar: em 23 de maio de 1618, descontentes com os católicos que destruíram um de seus templos, invadiram o palácio real em Praga e defenestraram dois dos seus ministros e um secretário, fato que ficou por isso conhecido como "Defenestração de Praga", tendo despoletado a sublevação protestante. Assim começava a guerra, que abrangeu as revoltas holandesas depois de 1621 e concentrou-se em um confronto franco-Habsburgo após 1635.