12/12/2017

3.679.(12.12.12.12.12") a política internacional nos países do SAHEL

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Mali
http://uniralcobaca.blogspot.pt/2017/10/786012outubro201777-mali.html
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Sahel (do árabe ساحل, sahil, que significa "costa" ou "fronteira") é uma faixa de 500 a 700 km de largura, em média, e 5 400 km de extensão, entre o deserto do Saara, ao norte, e a savana do Sudão, ao sul; e entre o oceano Atlântico, a oeste, e ao mar Vermelho, a leste. O Sahel atravessa os seguintes países (de oeste ...
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avante
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12ouTUbro2017
Manifestações no Mali contra tropas francesas
LUSA
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Manifestantes exigiram na segunda-feira, 9, na cidade de Kidal, no Nordeste do Mali, a retirada dos militares franceses da região. Foi o terceiro protesto em menos de uma semana no bastião dos antigos rebeldes independentistas tuaregues.
«Manifestámo-nos e continuaremos a manifestar-nos porque as tropas francesas devem sair», declarou um dos organizadores dos protestos, Ali Ag Mahmoud, que denunciou brutalidades dos soldados contra a população civil.
As manifestações decorreram em frente ao quartel da Missão das Nações Unidas no Mali (Minusma) em Kidal, que abriga também forças da operação francesa Barkhane. Foram exibidos cartazes com dizeres como «Barkhane fora» e «Saiam de Kidal» e atiradas pedras contra viaturas dos militares.
A operação Berkhane foi lançada no seguimento da intervenção militar francesa no Mali, em 2013, alegadamente para combater grupos jihadistas. Mobiliza 4000 militares em cinco países do Sahel – Mauritânia, Mali, Burkina Fasso, Níger e Chade. Está equipada com aviões de transporte, caças, helicópteros e drones, blindados e viaturas de apoio logístico.
A par dos expedicionários gauleses, encontram-se no Mali 15 mil capacetes azuis da ONU.
Apesar desta presença militar, grandes zonas de território escapam ao controlo governamental. As forças malianas, francesas e onusinas são, aliás, atacadas por jihadistas de diversas organizações, umas ligadas à Al-Qaida, outras ao autodenominado Estado Islâmico, que actuam em toda a região sahelo-saariana.
No início de Outubro, no Níger, morreram cinco soldados nigerinos e quatro membros de forças especiais norte-americanas, que sofreram um ataque, «provavelmente terrorista», durante uma «patrulha de rotina» perto da fronteira com o Mali.
O Africom, o comando militar dos EUA para África, confirmou as baixas no que disse ser uma missão de «capacitação e assistência» às forças armadas do Níger, um fiel aliado de Paris e Washington.
Força G5 Sahel
Em meados do ano, por pressão da França e Alemanha, foi criada uma força militar conjunta daqueles cinco estados africanos, a força G5 Sahel. Com sede em Sévaré, no centro do Mali, terá 5000 efectivos e prepara as primeiras operações para este mês.
O financiamento da força africana, que ficará inteiramente operacional no primeiro trimestre de 2018, não está garantido: a União Europeia prometeu 50 milhões de euros e os seus estados membros outros 50 milhões, mas calcula-se que custe mais de 400 milhões euros anuais.
Por iniciativa francesa, uma delegação do Conselho de Segurança visitará de 19 a 23 deste mês o Mali, a Mauritânia e o Burkina Faso, para avaliar a situação política e militar.
Os EUA não integram esta missão ao Sahel. A sua embaixadora na ONU, Nikki Haley, viaja ao Sudão do Sul e à República Democrática do Congo, para se inteirar das operações de paz das Nações Unidas nos dois países. É que o presidente Donald Trump está relutante em financiar operações de paz – prefere as acções de guerra e as ameaças, da Coreia do Norte à Venezuela, de Cuba ao Irão…

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8jun2017
http://www.avante.pt/pt/2271/internacional/145640/
By Carlos Pereira
Mais tropas no Sahel

Aumenta a presença de tropas africanas e estrangeiras na faixa do Sahel, em África.


A União Europeia confirmou que planeia gastar 50 milhões de euros para financiar o estabelecimento de uma força militar conjunta africana no Sahel com o objectivo expresso de «combater o terrorismo», entre outras «ameaças».


A alta representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Federica Mogherini, anunciou a «ajuda», em Bamako, a capital do Mali, na segunda-feira, 5. Precisou que as tropas vão também combater a imigração ilegal e os tráficos transfronteiriços.


Do ponto de vista da diplomata, «a estabilidade e o desenvolvimento da região do Sahel são cruciais tanto para a África como para a Europa». E sublinhou que a «contribuição» financeira de Bruxelas estará disponível «rapidamente», aguardando o empenho dos parceiros africanos.


A força militar será integrada por tropas da Mauritânia, Mali, Chade, Burkina Faso e Níger, grupo conhecido por G5 do Sahel. Os respectivos governos aprovaram em Março um plano para constituir um contingente de cinco mil membros, incluindo soldados, polícias e civis. A decisão já tinha sido adoptada em finais de 2015, numa cimeira em Djamena, a capital chadiana.


O ministro maliano dos Negócios Estrangeiros, Abdoulaye Diop, disse agora que os líderes dos cinco países decidiram que a nova força terá 10 mil membros e que estará operacional no final de 2017. Explicou que os chefes de Estado do G5 do Sahel, reunidos em Riad durante a recente visita do presidente Donald Trump, dos EUA, à capital da Arábia Saudita, decidiram duplicar os efectivos da força militar «para demonstrar o seu compromisso» na segurança da vasta área a Sul do Sahara.


Nem Mogherini nem Diop esclareceram o papel da monarquia saudita – a par de Israel, a grande aliada no Médio Oriente do imperialismo norte-americano – no treino e armamento da nova força militar africana.


Força senegalesa


Já operam no Mali e nos países vizinhos, hoje, uma força francesa de três mil soldados, desde Janeiro 2013, e a missão de paz das Nações Unidas, a Minusma, com 12 mil militares, desde Julho desse ano.


O pretexto da intervenção foi travar a rebelião de grupos jihadistas da al-Qaeda aliados ao movimento independentista tuaregue, no Norte maliano. Embora contidas num primeiro momento, as acções de guerra aumentaram a partir de 2015 e alastraram ao centro e ao Sul do Mali, apesar dos acordos de paz entretanto assinados.


Em meados de Maio último, foi tornado público que o Senegal, fiel aliado do Ocidente, vai enviar uma força militar de intervenção rápida para a região central maliana. O novo chefe das operações de manutenção da paz da ONU, Jean-Pierre Lacroix, em visita ao Mali, justificou a medida com «a situação de insegurança» que prevalece. Apesar do «mandato robusto» da Minusma e dos seus esforços, segundo o alto responsável onusino, «falta-lhe capacidade» operacional.


A missão de paz no Mali é considerada a mais perigosa das operações activas das Nações Unidas. E a mais mortífera desde a missão na Somália, em 1993-95, com mais de 70 capacetes azuis mortos.
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25maio2017
http://www.avante.pt/pt/2269/internacional/145459/
A guerra perdida da França no Mali
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Emmanuel Macron vai continuar a ingerência da França em África e quer alargar a intervenção estrangeira no continente, em linha com a política neocolonial de Paris nas últimas décadas.

Chegado ao Eliseu, o novo presidente francês reafirmou a opção pelo intervencionismo militar em África e pediu maior participação da Alemanha no combate ao «terrorismo internacional».

Na sua primeira viagem ao estrangeiro, Macron foi a Berlim prestar vassalagem a Angela Merkel. Dias depois, deslocou-se ao Mali para visitar o contingente militar francês em Gao, no Norte.

A França tem cerca de 4000 soldados na faixa sahel-saariana, 1700 dos quais em Gao, hoje uma das suas maiores bases militares em África.

Na histórica cidade nas margens do Níger, o presidente gaulês foi recebido pelo seu homólogo maliano, Ibrahim Boubacar Keita, um fiel aliado. Macron afirmou que «a Alemanha sabe que se joga aqui uma parte da segurança da Europa e do nosso futuro». E apelou a uma maior intervenção alemã: «Que o terrorismo islamista prospere na zona do Sahel é, evidentemente, um risco para a Europa. A França garante [militarmente] a segurança europeia no Mali e noutros teatros de operações, mas outros países podem fazer mais em termos de missões de apoio, de equipamento. Espero que a participação alemã, já perceptível, se intensifique».

Berlim é o principal contribuinte da missão militar de manutenção da paz das Nações Unidas no Mali (Minusma), que conta com 12 mil efectivos, a maior parte oriundos de países africanos.

Com demagogia, Macron reconheceu em Gao que «o terrorismo prospera sobre a miséria» e que, para o travar, «o melhor antídoto» é o progresso das condições de vida do povo. Enfatizou que, na luta contra o jihadismo, «tudo o que se faça no terreno será efémero se, ao mesmo tempo, não se investir de forma decidida em infra-estruturas, em educação, em saúde». Mas, escreve o jornal El País, não anunciou qualquer medida para o desenvolvimento. 

Violência agrava-se

A intervenção militar francesa no Mali arrancou em Janeiro de 2013, no início do mandato de François Hollande, com a Operação Serval. Foi ampliada a toda a região do Sahel, com tropas em cinco países (Mali, Burkina-Faso, Mauritânia, Níger e Chade), mudando de designação em 2014 para Operação Barkhane.

Teve por objectivo declarado derrotar os grupos jihadistas, aliados dos independentistas tuaregues, que controlavam o Norte e ameaçavam avançar para Sul e entrar na capital, Bamako.

Em 2015, foi assinado em Argel um acordo de paz com algumas das organizações rebeldes, mas a sua aplicação tem sido difícil e as acções armadas não cessaram.

Não obstante a presença de numerosas forças estrangeiras – as tropas francesas e de outros países ocidentais, incluindo os Estados Unidos, e os capacetes azuis da Minusma –, a situação está a deteriorar-se.

Segundo a Federação Internacional das Ligas de Direitos do Homem, o primeiro trimestre deste ano confirma a tendência observada em 2015 e 2016 de «um agravamento contínuo e sem precedentes da violência no Mali».
A França está a perder a guerra no Mali.
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11dez2017
António Abreu 
(PCP...foi candidato a PR)
e António Guterres...reCORdo os 2 a saltarem para 1 mesa da cantina do ISTécnico, 1969...A mobilizarem para a manif...
https://www.abrilabril.pt/depois-da-tragedia-humanitaria-o-perigo-de-uma-intervencao-militar-dos-eua-no-sahel

Depois da tragédia humanitária, o perigo de uma intervenção militar dos EUA no Sahel

A situação destes países é dramática mas alguns deles dispõem de importantes riquezas que atraem os EUA e a França. O ferro é explorado na Mauritânia, o ouro no Mali, no Burkina e na Mauritânia.
António Abreu: «A situação destes países é dramática mas alguns deles dispõem de importantes riquezas que atraem os EUA e a França. O ferro é explorado na Mauritânia, o ouro no Mali, no Burkina e na Mauritânia.»

A propósito da luta antiterrorista

No passado dia 4 de Novembro, o secretário-geral da ONU, António Guterres, convidou o Conselho de Segurança «a ser ambicioso na escolha que precisa fazer. Um forte apoio político ao Sahel G5 (Grupo dos cinco) e o apoio material e operacional compatível com os desafios que defrontam são fundamentais».
E justificava: «A pobreza, o subdesenvolvimento e as mudanças climáticas têm contribuído para crises humanitárias e de segurança. Bem como instituições frágeis, a exclusão e a marginalização de alguns grupos que são explorados por extremistas e terroristas. As fronteiras porosas podem facilitar o tráfico de seres humanos, drogas e armas, e outras atividades criminosas.»
O G5 é composto pelo Mali, Níger, Burkina Faso, Chade e Mauritânia (não inclui a Nigéria), que criaram uma força militar conjunta para combater uma crescente ameaça jihadista na região do Sahel, na África Ocidental. Esta força é dirigida pelos EUA (aspirante a força ocupante prolongada) e pela França (potência ex- e neocolonial) e composta por 5 mil militares.
Em meados de Maio deste ano, foi tornado público que o Senegal, fiel aliado do Ocidente, iria enviar uma força militar de intervenção rápida para a região central maliana. O novo chefe das operações de manutenção da paz da ONU, Jean-Pierre Lacroix, em visita ao Mali, justificou a medida com «a situação de insegurança» que se mantinha. Apesar do «mandato robusto» da Minusma (da ONU) e dos seus esforços, segundo o alto responsável da ONU «falta-lhe capacidade» operacional
Em Junho já operavam no Mali e nos países vizinhos uma força francesa de três mil soldados, desde Janeiro 2013, e a missão de paz das Nações Unidas, a Minusma, com 12 mil militares, desde Julho desse mesmo ano.
O pretexto da intervenção foi travar a rebelião de grupos jihadistas da Al-Qaeda aliados ao movimento independentista tuaregue, no Norte maliano. Embora contidas num primeiro momento, as acções de guerra aumentaram a partir de 2015 e alastraram ao centro e ao Sul do Mali, apesar dos acordos de paz entretanto assinados.
A missão de paz no Mali é considerada a mais perigosa das operações activas das Nações Unidas. E a mais mortífera desde a missão na Somália, tendo registado em 1993-95, mais de 70 capacetes azuis mortos.
Ainda em Junho, a França já tinha apresentado um projecto de resolução ao Conselho de Segurança da ONU pedindo-lhe para financiar o Sahel G5 e para ser concedida à força um mandato de grande escala para «usar todos os meios necessários» com vista a realizar a sua missão de neutralização de «militantes islâmicos, narcotraficantes e traficantes de pessoas».
O ministro maliano dos Negócios Estrangeiros, Abdoulaye Diop, disse agora que os líderes dos cinco países decidiram que a nova força terá 10 mil membros e que estará operacional no final de 2017. Explicou que os chefes de Estado do G5 do Sahel, reunidos em Riad durante a recente visita do presidente Donald Trump à capital da Arábia Saudita, decidiram duplicar os efectivos da força militar «para demonstrar o seu compromisso» na segurança da vasta área a Sul do Sahara.
E, no passado dia 30 de Novembro, a embaixadora norte-americana na ONU, prometeu 50 milhões de dólares para financiar as operações militares do Sahel G5.
Uma vez mais, muito dinheiro para armas. Mas pouca disponibilidade para investir no crescimento das economias, que crie empregos e promova o desenvolvimento e o combate à fome e às desigualdades, única forma segura de combater o terrorismo e os conflitos militares.
A população das ilhas do Lago Chade foi tomada pelo Boko Haram, inicialmente ramo africano da Al-Qaeda, que a pilhou e recrutou, sem piedade, para o grupo terrorista. As autoridades do Chade, por exemplo, proibiram o uso de barcos de pesca no Lago Chade por poderem transportar terroristas, agravando as situações de fome existentes.
Não há coordenação dos quatro países que acedem ao lago na luta antiterrorista e nestes países já há casos de pastores e criadores de gado que se matam uns aos outros para disputarem pastagens. Algumas potências ocidentais apoiam com armas a luta antiterrorista quando o que estão é a facilitar a base do seu recrutamento, por não privilegiarem o combate à fome. O recrutamento de crianças pelos terroristas espalhou-se também à Nigéria com promessas aliciantes que não seriam cumpridas.

O papel da França e da guerra de 2011 contra a Líbia

A situação destes países é dramática mas alguns deles dispõem de importantes riquezas que atraem os EUA e a França. O ferro é explorado na Mauritânia, o ouro no Mali, no Burkina e na Mauritânia. Todos estes países têm em graus diversos, agricultura de subsistência que num caso ainda permite alguma exportação, pecuária e pesca. A seca e a perda de água do Lago Chade condicionam estas actividades. O Chade e o Burkina Faso são aqueles onde a tragédia humanitária vai mais longe.
Macron há dias em Ouagadougou, capital do Burkina Faso, referiu que «hoje em dia, na África, há africanos que fazem outros escravos africanos. Essa é uma realidade. E há europeus que beneficiam dessa miséria na Europa, o que é inaceitável. Em ambos os casos, são crimes. Estamos lutando contra ambos os casos».
No entanto, o que Macron não mencionou é que o poder «suave» da UE tem servido como um factor de «atracção» irresistível para muitos desses migrantes, que no pior dos casos, acabam por ser escravizados. Os africanos saem da África porque muitos deles realmente acreditam que a UE é um paraíso terrestre, não apenas em comparação com seus próprios países, mas em geral, e que todos os seus problemas serão resolvidos no momento em que deixarem o «continente negro» e puserem o pé no continente europeu.
Paris devia assumir a maior parte da culpa das condições domésticas atrozes da África francófona. A política neo-imperial criou elites nacionais fiéis aos interesses franceses e quando elas não fizeram o que a França esperava delas para garantir o acesso das suas grandes empresas aos mercados, aos recursos e ao trabalho, então rapidamente as fizeram cair e substituíram-nas por elites rivais com golpes apoiados pela França ou pela intervenção militar francesa directa.
Pode ser surpreendente para algumas pessoas descobrirem que a França ainda controla de facto as políticas monetárias e, portanto, económicas, de 14 países «anteriormente» colonizados por si em África através dos francos da África Ocidental e da África Central, que proporcionam a obtenção de riquezas e a enorme influência de Paris sobre importante parte de África e, portanto, tornando-a, de facto, num poder africano.
Além disso, a França sempre manteve uma rede de bases dispersas nas suas anteriores colónias, com uma «pegada militar» que tem aumentado ao longo dos últimos anos. A Operação Serval do Mali transformou-se numa missão – a Operação Barkhane – para todos os G5 da região do Sahel.
Voltando à questão da origem da crise de emigração nos «G5» e de outros países da África Ocidental e Central, importa não esquecer que provavelmente nunca teria havido um surto terrorista no Nordeste do Mali pelo Ansar Dine ou no nordeste da Nigéria pelo Boko Haram se a guerra da NATO contra a Líbia de 2011 não tivesse existido.
Foi este facto, mais do que qualquer outro, que contribuiu para o colapso da "antiga" ordem geopolítica do pós-Guerra Fria em África e o surgimento de uma situação caótica em que as crises regionais conduzidas por actores não estatais são a norma em alguns destes estados de grande crescimento populacional (Níger) ou já sobrepovoados (Nigéria).
Mas isto não valida intervenções estrangeiras, como as que os EUA e a França estão a preparar, devendo caber aos países africanos o confrontar os traficantes de seres humanos e outros criminosos que operam nas suas comunidades. E os europeus devem fazer o mesmo em solo francês com as pessoas que aí beneficiam desta miséria, assim como os americanos deveriam ser mais proactivos no combate ao tráfico de drogas e de pessoas nos seus próprios bairros.

O papel dos EUA

Os soldados americanos deslocados para a África Ocidental vêm principalmente de unidades militares de elite, como os navy seals e os boinas verdes, que realizam as operações mais secretas e ilegais de Washington em todo o mundo: assassinatos, ataques antiterroristas, reconhecimento especial, guerra não convencional, operações psicológicas e treino de tropas estrangeiras.
Em 2008, o Congresso dos EUA aprovou uma lei que proibiu o apoio militar americano aos governos que usassem crianças como soldados. Mas o presidente Barack Obama obteve uma excepção para o Chade, argumentando que era «no interesse nacional» dos Estados Unidos treinar e equipar os militares do Chade.
Isto depois de se ter generalizado o recrutamento de crianças pelos terroristas, que se espalhou também à Nigéria com promessas aliciantes que não foram cumprido.
O presidente dos EUA, Barack Obama, anunciou há dois anos que os EUA pretendiam enviar cerca de 300 militares americanos para os Camarões para lidar com ameaças extremistas do «Boko Haram». Estes militares iriam, e foram, realizar tarefas como a recolha de informações…
O papel destas forças em toda a região foi destacada por relatórios recentes sobre o assassinato em Junho de um sargento dos Boinas Verdes, num complexo habitacional da embaixada dos EUA no vizinho Mali, suspeito de ter sido ser executado por dois navy seals (comandos norte-americanos para operações muito especiais) não identificados. As tropas de elite fazem parte das operações antiterroristas dos EUA no Mali, levando a cabo uma missão semelhante à realizada pelos soldados de elite no Níger.
Mas no dia 6 de Novembro, dois dias depois do apelo do secretário-geral da ONU, foram mortos no Niger quatro «boinas verdes» e quatro soldados nigerianos, de uma unidade comum, numa emboscada do Boko Haram. Todo este cenário poderia suscitar uma intervenção forte dos 800 homens das unidades de elite que lá estão estacionados. A administração norte-americana disse que estavam no Níger só para treinar e apoiar a vigilância.
Mas, numa declaração aparentemente desassombrada no passado dia 31 de Outubro à Reuters, o Ministro da Defesa do Níger, Kalla Mountari, já tinha revelado que 12 comandos e 30 soldados nigerianos «chegaram à fronteira do Mali e neutralizaram alguns bandidos», alguns momentos antes da emboscada. Descrevendo a versão americana de não intervenção em combate como fraudulenta. «Eles [o contingente dos EUA-Nigéria] contactaram a população, obtiveram informações e foi dentro do país, como se não esperassem, que o ataque ocorreu».
Em Washington, o secretário da defesa, James Mattis, reuniu-se à porta fechada com o senador John McCain, que dirige a Comissão das Forças Armadas no Senado e pediu explicações ao Pentágono sobre o caso. Ficaram questões por esclarecer como, por exemplo, as razões de o corpo de um dos militares abatidos não ter sido imediatamente recolhido.
Este episódio ilustra claramente que os Estados Unidos estão a liderar o percurso para uma ofensiva militar na região.
Parece provável que, mesmo que o Boko Haram seja derrotado, as razões para a violência insurrecional se vão manter devido à fome e às carências de todo o tipo da grande maioria da população de países como o Chade.
De acordo com as Nações Unidas, este país tem sido afectado por uma crise humanitária, desde pelo menos 2001. A partir de 2008, o Chade recebeu mais de 280 mil refugiados da região de Darfur, no Sudão, além de mais de 55 mil da República Centro-Africana, enquanto mais de 170 mil pessoas se deslocaram internamente.
A escalada militar americana no Sahel assenta na concepção imperialista de Washington de garantir os grandes recursos económicos de África para a elite capitalista americana, em competição directa com seus rivais europeus que mantêm importantes interesses económicos nas suas antigas colónias no continente.
Nas resoluções sobre estas matérias no conselho de segurança da ONU, os EUA actuam de maneira a impedir a liderança deste processo, por exemplo, por parte da França. Mas mais importante ainda, o empenho de Washington para o domínio geoestratégico na África Ocidental é motivado por preocupações sobre a crescente influência económica da China na região, que intervém na perspectiva de garantir o retorno dos seus investimentos mas também condições para o desenvolvimento local.
Pequim garantiu, por exemplo, acordos com o governo nigeriano em 2008 para explorar depósitos de petróleo do país, adquirindo o bloco Agadem perto da fronteira com o Chade. Nos termos desse acordo, a China National Petroleum Company (CNPC) estatal chinesa planeou a construção de uma refinaria de 3200 quilómetros e um gasoduto que produziria 20 mil barris por dia. Mas acordos semelhantes têm vindo a ser firmados com outros países.
No âmbito de diferentes tipos de reuniões do Fórum sobre Cooperação China-África, a China tem sublinhado que pretende trabalhar com os países africanos para o desenvolvimento de um novo tipo de parceria estratégica marcada pela igualdade e confiança mútua na política, na cooperação e relações económicas e intercâmbios e no enriquecimento cultural mutuamente vantajosos.
A China é o maior parceiro comercial de África desde 2009. Os investimentos da China superaram os 100 biliões de dólares em 2016.
Em 2017, o comércio entre as duas partes pode atingir os 180 biliões de dólares.
Os investimentos chineses no continente africano diversificaram-se nas áreas de negócios, desde a construção, mineração até as indústrias emergentes como manufacturas, finanças, tecnologia de informação e internet
Estando já debilitada na África Oriental, a administração norte-americana encara como intolerável este tipo de intervenção da China, o que só conseguiria através do poder militar.

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7jul2017...Público
Sahel significa “fronteira” e em África ganha a forma de gigantesca cintura de aridez onde cabem 22 países. Sinónimo de sofrimento prolongado, o Sahel é marcado pela seca, pela crónica falta de alimentos, por guerras e conflitos ancestrais. Para complicar, com a crise líbia, o deserto do Sara passou a esconder terroristas e gangues do crime organizado internacional. Dez milhões de pessoas, entre as quais 1,4 milhões de crianças, dependem 100% da ajuda internacional. Em linha horizontal, o Sahel vai da Mauritânia à Eritreia e inclui países com títulos extremos, como o Níger (o país mais pobre do mundo) e o Mali (que tem a maior taxa de natalidade do planeta). “O problema do Sahel é o nosso problema”, diz Ángel Losada, o embaixador espanhol que é o actual Representante Especial da União Europeia para o Sahel. Está a três horas da Europa e é um problema que só aumenta. Em 1950, havia 30 milhões de pessoas no Sahel e em 2000 havia 367 milhões. Hoje há quase 500 milhões e as previsões dizem que em 2050 o número vai duplicar.










Esta segunda-feira, os chefes de Estado do G5, a recém-criada aliança que junta Mauritânia, Mali, Burkina Faso, Níger e Chade, reuniram-se em Bamako para uma reunião extraordinária. O embaixador Losada esteve em Lisboa para um seminário no Ministério dos Negócios Estrangeiros sobre o Sahel, que juntou vários embaixadores da União Europeia, e logo a seguir partiu para o Mali. Um dos planos do G5, que a UE apoia, é a criação de um exército comum regional para lutar contra o crime organizado e o terrorismo.
O Sahel é uma prioridade europeia recente. Quais foram os progressos nestes três anos da nova estratégia?
Primeiro, temos de colocar o Sahel no topo das agendas internacionais. Ou seja, explicar que a segurança na Europa depende muito da segurança no Sahel. Com a crise na Líbia, as relações de vizinhança mudaram. Mas a estratégia europeia para o Sahel não é nova. O posto só tem três anos, mas a política é de 2011. O posto foi criado depois da crise no Mali. O meu predecessor negociou o processo de paz no Mali e com isso ganhou uma visão mais alargada do problema. A União Europeia foi a primeira a adoptar uma estratégia para o Sahel. Agora, há 16! A do FMI e muitas outras.
A nossa estratégia centra-se na ideia de que não há segurança sem desenvolvimento e não há desenvolvimento sem segurança. E dirige-se a cinco países, que para os europeus são o núcleo duro do Sahel: Mauritânia, Mali, Burkina Faso, Níger e Chade. No G5, todos estão conscientes de que se não houver paz no Mali, não há paz no Sahel. Não se pode olhar de forma isolada ou nacional para questões como a segurança ou o contra-terrorismo, a luta contra o tráfico de droga.
https://www.publico.pt/2017/02/07/mundo/entrevista/o-sahel-concentra-todas-as-crises-do-mundo-1761024
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2jul2017..DN
Os líderes de cinco países do Sahel (G5) - Mali, Níger, Burkina Faso, Mauritânia e Chade -, reunidos na capital maliana (Bamako) com o Presidente francês, Emmanuel Macron, acordaram um orçamento de 423 milhões de euros para combater os 'jihadistas' na região.
"Cada um dos nossos países vai contribuir com 10 milhões de euros", revelou o Presidente do Mali, Ibrahim Boubacar Keita, durante uma conferência de imprensa conjunta com Macron, admitindo que "a questão do financiamento foi a que ocupou a maior parte do tempo dos trabalhos" desta cimeira.
"O financiamento total ascende a 423 milhões de euros", avançou o líder do Mali, citado pela agência de notícias francesa AFP.
A União Europeia (UE) já prometeu 50 milhões de euros para a força conjunta do G5, dando início a "um compromisso de longo prazo", informou o Presidente francês, indicando que uma conferência de doadores vai ser realizada nos próximos meses.
Macron disse ainda que tem "grandes esperanças" de que, a 13 de julho, o Conselho Franco-Alemão permita que ambos os países anunciem "compromissos conjuntos em torno desta aliança".
Em 21 de junho, o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou uma resolução que "saúda" a implantação desta força, mas não lhe concedeu um mandato, nem fundos.
Horas antes de Ibrahim Boubacar Keita anunciar o valor total necessário para esta iniciativa, o Presidente francês prometeu ajudar a força conjunta do G5 a obter financiamento, mas pediu-lhes eficácia no combate aos 'jihadistas'.
"Cabe-vos e aos vossos exércitos convencer que o G5 pode ser eficaz, respeitando as convenções humanitárias. Os resultados devem estar na ordem do dia para convencer os nossos aliados", disse Macron, na abertura da Cimeira do G5 Sahel.
Falando perante os homólogos do Mali, Ibrahim Boubacar Keita, do Chade, Idriss Déby Itno, da Mauritânia, Mohamed Ould Abdelaziz, do Burkina Faso, Roch Marc Christian Kaboré, e do Níger, Mahamadou Issoufou, o Presidente francês saudou "uma dinâmica e um movimento de fundo que França tem orgulho de acompanhar".
A força do G5, integrada por 5.000 militares dos cinco países, vai juntar-se à operação francesa Barkhane e à missão da ONU no Mali no combate aos 'jihadistas' no Sahel.
O ministro dos Negócios Estrangeiros maliano, Abdoulaye Diop, tinha no sábado apontado para um orçamento total de 450 milhões de dólares (394 milhões de euros).
https://www.dn.pt/lusa/interior/paises-do-sahel-com-orcamento-de-423-me-para-combater-jihadistas-8608014.html