19/03/2019

2.298.(19mar2019.8.8') Fernão Lopes

Nasceu a
e morreu a
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19 de Março de 1434: D. Duarte concede uma tença anual a Fernão Lopes para redigir a Crónica Geral do reino e tomar o lugar de "guardador das escrituras" da Torre do Tombo

São escassos os dados biográficos conhecidos sobre Fernão Lopes. Os testemunhos documentais de que dispomos informam, sobretudo, sobre os cargos que ocupou ao serviço dos primeiros reis da dinastia de Avis. Por certidões de 1418, sabe-se que exercia as funções de "guardador das escrituras do Tombo" e "escrivão dos livros" de D. João I e D. Duarte. Foi "escrivão da puridade" do infante D. Fernando, a partir de 1422, e, em 1437, lavrou o testamento do infante martirizado em Tânger, como "tabelião geral" do reino. Em 1457, D. Afonso V substituiu-o nas suas funções por Gomes Eanes de Zurara, sendo de 1459 a última notícia relativa à sua vida. Enquanto cronista oficial sob as cortes de D. João I, D. Duarte e regência de D. Pedro, redigiu as crónicas de D. Pedro, D. Fernando e D. João I. As suas funções simultâneas como guardador das escrituras e cronista-mor do reino acabam por favorecer o seu legado como historiador, visto que a composição das crónicas dependeu do conhecimento e seleção do material a que tinha acesso.
Data de 1434, segundo Damião de Góis, a sua investidura por D. Duarte do cargo de cronista do reino, ao ser-lhe confiada a missão de colocar em crónica "as estórias dos reis que antigamente em Portugal foram", bem como os "grandes feitos e altos do mui virtuoso" rei D. João I, seu pai. Desta crónica geral, além do testemunho do seu sucessor, não havia nenhum vestígio até serem encontrados os manuscritos da Crónica de Portugal de 1419, que têm sido considerados de sua autoria. Com efeito, as alusões de Fernão Lopes, nas suas crónicas, a textos anteriores sobre os primeiros reis, assim como o conteúdo e circunstâncias de composição destes manuscritos, parecem corresponder a esse projeto historiográfico mais amplo de que fora incumbido o cronista. Mas é acima de tudo pelas crónicas de D. Pedro, de D. Fernando e de D. João I (que chegaram até nós por apógrafos do século XVI) que o talento e excecionalidade como historiador e como escritor, relativamente aos cronistas medievais, se afirmou. Não se trata para o cronista de refundir textos historiográficos anteriores, mas de elaborar em novos moldes a narração do devir histórico, individualizando os protagonistas na sua compleição psicológica denunciada em ato, encenando os episódios históricos no mesmo momento da sua ocorrência, emprestando tanto quanto possível verosimilhança ao encadeamento dos factos. É no prólogo da Crónica de D. João I que o cronista expõe o seu objetivo e método de historiar inovador. O seu desejo é "em esta obra escrever verdade sem outra mistura", para o que faz concorrer toda a gama de documentos possível, desde narrativas a documentos oficiais, confrontando-os entre si para assegurar a veracidade dos registos existentes: "Oh com quanto cuidado e diligência vimos grandes volumes de livros, de desvairadas linguagens e terras, e isso mesmo púbricas escrituras de muitos cartários e outros lugares (...). Nem entendais que certificamos cousa, salvo de muitos aprovada, e per escrituras vestidas de [...]".

A Crónica de D. João I

A Crónica de D. João I foi escrita por Fernão Lopes, por volta de 1450, e constitui, após as crónicas de D. Pedro e de D. Fernando, a terceira e mais perfeita das três grandes crónicas compostas pelo primeiro cronista régio. Esta crónica, impressa pela primeira vez em Lisboa, em 1644, foi deixada incompleta por Fernão Lopes, sendo de sua autoria a primeira (o interregno entre a morte de D. Fernando e a eleição de D. João I) e a segunda parte (o reinado de D. João I até 1411), não se sabendo se terá legado manuscritos para a terceira parte, redigida pelo seu sucessor, Gomes Eanes de Zurara, conhecida como Crónica da Tomada de Ceuta. É no prólogo da Crónica de D. João I que o cronista expõe o seu objetivo e método de historiar inovador. O seu desejo é "em esta obra escrever verdade sem outra mistura", para o que faz concorrer toda a gama de documentos possível, desde narrativas a documentos oficiais, confrontando-os entre si para assegurar a veracidade dos registos existentes. Ao mesmo tempo, esta crónica estabelece, de certa forma, o ponto de chegada das duas crónicas precedentes, na medida em que estas preparam os acontecimentos que culminam com a sublevação popular e consequentemente, com a entronização de D. João I. A primeira parte da crónica descreve a insurreição de Lisboa na narração célere dos episódios quase simultâneos do assassinato do conde Andeiro, do alvoroço da multidão que acorre a defender o Mestre e da morte do bispo de Lisboa. Ao longo dos capítulos, fundamenta-se a legitimidade da eleição do Mestre, consumada nas cortes de Coimbra, na sequência da argumentação do doutor João das Regras, enquanto desfecho inevitável imposto pela vontade da população. Nesta primeira parte, o talento do cronista na animação de retratos individuais, como os de D. Leonor Teles ou D. João I, excede-se na composição de uma personagem coletiva, o povo, verdadeiro protagonista que influi sobre o devir dos acontecimentos históricos. Na segunda parte, o ritmo narrativo diminui, tratando-se agora de reconhecer o rei saído das cortes, e é de novo pela ação do povo que a glorificação do monarca é transmitida, como, por exemplo, no modo como o acolhe a cidade do Porto. Um outro momento de maior relevo é consagrado, nesta parte, à narrativa da Batalha de Aljubarrota, embora não ecoe o mesmo tom de exaltação com que, na primeira parte, colocara em cena o movimento da massa popular.
Fernão Lopes. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2014.

wikipedia (imagens)

Crónica de El-Rei D. João. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2014.
Ficheiro:Fernao Lopes.jpg
Fernão Lopes
Fernão Lopes no "Painel do Arcebispo", pertencente aos "Painéis de São Vicente de Fora", atribuídos a Nuno Gonçalves (séc. XV).
Ficheiro:Painéis de São Vicente, Painel do Arcebispo, Fernão Lopes.jpg

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