Nasceu a18jun1861...Mogadouro
e morreu a 9jun1908...Lisboa
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José Francisco Trindade Coelho
https://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Francisco_Trindade_Coelho
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Hotel Trindade Coelho
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Henrique Trindade Coelho (Lisboa, 1885-Lisboa, 1934) revelou uma profunda dedicação às letras. Como jornalista, destacou-se com os seus brilhantes artigos publicados no jornal A Pátria. Enveredou pela carreira diplomática, exercendo os cargos de ministro de Portugal em Roma (1927) e no Vaticano (1929). Teve uma breve passagem pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, pasta que assumiu de 27 de Julho a 16 de Agosto de 1929, no V Governo da Ditadura. Entre outras obras, publicou "Os Meus Amores" (1891), "Carvões" (Poesia, 1907), "Amores Novos" (1911), "Ferro em Brasa" (Ensaios políticos, 1913) e "Prosas e Versos de Belchior da Nóbrega" (1920).
https://www.goodreads.com/book/show/6394584-os-meus-amores
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Nesse dia, os dois pequenitos tinham jurado que haviam de ir ao rio. Assim eles tivessem uma coisa boa!… Mas que tentação para ambos, o rio! Ainda lhes soavam aos ouvidos, com todo o seu entono vibrante de ameaça, aquelas terríveis palavras com que a mãe os intimidara, um dia que lhe apareceram em casa tarde e às más horas.
― Ouvistes? ― ralhara-lhes a mãe. ― Olhai se ouvistes! Se voltais ao rio, mato-vos com pancada! Andai lá…
Ih! como ela dissera aquilo, Mãe Santíssima! Colérica, ameaçadora, com a mão em gume sobre as suas cabecitas loiras… Lembravam-se de haver tremido, cheios de susto, muito chegados um ao outro, humildes sob aquela ameaça terminante. E então, nesse dia, eles não tinham ido ao rio. Aos pássaros, sim… ― lá estavam as calças rotas do Manuel a dizê-lo ― … aos pássaros é que eles tinham ido. Ao rio era bom! a mãe que o soubesse…
Ah, mas então não os deixassem dormir naquele quarto! Logo de manhã, mal abriam as janelas, a primeira coisa que viam era o rio, uma corrente muito lisa e esverdeada, serpeando entre os renques baixos dos salgueiros. Lá estava a ponte velha, donde os rapazes se atiravam despidos, de cabeça para baixo, e então o barquinho branco do fidalgo, ― lindo barquinho! ― sempre à espera que o fidalgo o desamarrasse para passar à grande quinta que tinha na margem de lá.
De modo que o primeiro desejo que logo pela manhã assaltava os dois rapazes era o de irem por ali abaixo, muito madrugadores, tão madrugadores como os melros, meterem-se dentro do barco, desprendê-lo da praia, e deixá-lo ir então por onde ele quisesse, contanto que fosse sempre para diante… Quando fechavam as janelas para se deitar, a sua vista seguia, mesmo através da escuridão da noite, a linha que ia dar ao barco. Era o seu ― «adeus até amanhã!» ― àquele pequeno objecto que valia tesouros, que para os dois valia mais que tudo, tudo…
Ah! tivessem eles assim um barquinho, que não queriam mais nada…
Título: Os Meus Amores
Autor: Trindade Coelho
Data Original de Publicação: 1891
Data de Publicação do eBook: 2018
Imagem da Capa: Milheiral, de Carlos Reis
Revisão: Ricardo Lourenço e Cláudia Amorim
ISBN: 978-989-8698-36-0
Texto-Fonte: Os Meus Amores. Paris-Lisboa: Livraria Aillaud & C.ª, 1901.
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09 de Junho de 1908: Morre o escritor português Trindade Coelho, autor de "Os Meus Amores".
Escritor e jurista, José Francisco Trindade
Coelho nasceu a 18 de junho de 1861, em Mogadouro, e suicidou-se a 9 de junho de
1908, em Lisboa. Órfão de mãe aos 6 anos, partiu com o pai para o Porto, onde
fez os estudos liceais num colégio interno, e depois para Coimbra, onde
frequentou o curso de Direito, colaborou em jornais e revistas e se casou,
conhecendo grandes dificuldades financeiras. Após ter exercido a advocacia
durante algum tempo, em 1886, graças ao empenho de Camilo junto do seu amigo
Tomás Ribeiro, então ministro de Estado, foi nomeado delegado do procurador
régio no Sabugal, transitando depois para Ovar e, em 1889, para Lisboa. Depois
de uma passagem por África, regressou à capital e foi colocado em Sintra. Em
1895, foi finalmente nomeado juiz em Lisboa. Paralelamente à carreira jurídica,
desenvolveu uma intensa atividade jornalística: fundou, ainda em Coimbra,
Porta-Férrea e O Panorama Contemporâneo; em Portalegre, a
Gazeta de Portalegre e o Comércio de Portalegre; em Lisboa, a
Revista Nova; colaborou em muitos outros periódicos, como O
Progressista, O Imparcial, Tirocínio, Beira e Douro, Jornal
da Manhã, Portugal, Novidades e O Repórter. Publicou
diversas obras didáticas (desde manuais pedagógicos, como o ABC do Povo,
de 1901, adotado oficialmente nas escolas públicas, até ao guia de cidadania
Manual Político do Cidadão Português, de 1905, entre muitos outros
títulos). Em 1907, durante a ditadura de João Franco, foi exonerado do lugar de
delegado do procurador régio. Esse dissabor, acrescido das desilusões com a
Justiça acumuladas durante toda a vida e da doença nervosa de que padecia,
levá-lo-ia ao suicídio, no ano seguinte.
Celebrizou-se pelo livro de memórias In Illo
Tempore (1902) e, sobretudo, pelo volume de contos rústicos Os Meus
Amores (1891), eivado de saudosismo e de reminiscências da infância vivida
em Trás-os-Montes, onde foi de encontro ao desejo neogarrettista de regresso às
origens nacionais, expresso no artigo inaugural da Revista Nova, de 1893:
"necessário é retemperar-nos nas camadas onde essas qualidades [fundamentais do
nosso génio] mais perfeitamente se mantêm, indo às províncias do país buscar
para os desfalecimentos do espírito a saúde e o vigor que para as enfermidades
do corpo vamos pedir às brisas salgadas do mar e ao ar fortificante dos campos,
mergulhando e realentando-nos nesse fecundo veio, que, depois de Garrett,
ninguém mais soube sondar e seguir". Com esta obra singela, foi juntar-se ao
grupo daqueles que, nas décadas finais do século XIX, cultivavam o conto
rústico. Os seus contos evocam, com uma notável delicadeza de estilo e uma
sedutora simplicidade, cenas da vida campestre, paisagens, pessoas e mesmo
animais. Numa sucessão de obras - como Os Meus Amores, À
Lareira, Abyssus-Abyssum, entre outras -, Trindade Coelho cultiva
sempre o seu poder descritivo, dando especial relevo à natureza.
Fontes: Infopedia
wikipédia (imagens)

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