28/04/2014

7.913.(28abril2014.8.8') Padre António Vieira


Nasceu 6fev1608
e morreu a 18julho 1697
***
24jan2010
Padre António Vieira, passados 4 séculos e perfeitamente actual
"Os pequenos são o pão quotidiano dos grandes..."
Ontem. no mágico espaço do Armazém das Artes, um conjunto de alunos da ESDICA, leram com encenação, vários textos ligados ao PÃO...
Prof.João Fatal leu um excelente texto do Padre António Vieira...
***

Musical: Padre Vieira do Tejo ao Amazonas

https://www.youtube.com/watch?v=YkrfGexRhkA&feature=youtu.be
Publicado a 06/01/2016
Apresentação musical de trechos dos sermões do Padre Antonio Vieira sobre politica, religião e costumes da época. O Padre Antonio Vieira é considerado o “Imperador da Língua Portuguesa” segundo Fernando Pessoa. Em uma única apresentação no MIS, um coral gregoriano, tenores e sopranos apresentam um projeto pioneiro sobre musica, história e literatura.
***
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=379891815542692&set=a.141711796027363.1073741828.100005656297527&type=1&theater
*
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=910839855602994&set=a.400068303346821.92725.100000309636991&type=1&theater
A CEGUEIRA DA GOVERNAÇÃO 
Príncipes, Reis, Imperadores, Monarcas do Mundo: vedes a ruína dos vossos Reinos, vedes as aflições e misérias dos vossos vassalos, vedes as violências, vedes as opressões, vedes os tributos, vedes as pobrezas, vedes as fomes, vedes as guerras, vedes as mortes, vedes os cativeiros, vedes a assolação de tudo? Ou o vedes ou o não vedes. Se o vedes como o não remediais? E se o não remediais, como o vedes? Estais cegos. Príncipes, Eclesiásticos, grandes, maiores, supremos, e vós, ó Prelados, que estais em seu lugar: vedes as calamidades universais e particulares da Igreja, vedes os destroços da Fé, vedes o descaimento da Religião, vedes o desprezo das Leis Divinas, vedes o abuso dos costumes, vedes os pecados públicos, vedes os escândalos, vedes as simonias, vedes os sacrilégios, vedes a falta da doutrina sã, vedes a condenação e perda de tantas almas, dentro e fora da Cristandade? Ou o vedes ou não o vedes. Se o vedes, como não o remediais, e se o não remediais, como o vedes? Estais cegos. Ministros da República, da Justiça, da Guerra, do Estado, do Mar, da Terra: vedes as obrigações que se descarregam sobre vosso cuidado, vedes o peso que carrega sobre vossas consciências, vedes as desatenções do governo, vedes as injustiças, vedes os roubos, vedes os descaminhos, vedes os enredos, vedes as dilações, vedes os subornos, vedes as potências dos grandes e as vexações dos pequenos, vedes as lágrimas dos pobres, os clamores e gemidos de todos? Ou o vedes ou o não vedes. Se o vedes, como o não remediais? E se o não remediais, como o vedes? Estais cegos.
in "Sermões"

***
21jun1662
Padre António Vieira é intimado a depor perante a Inquisição
RESPOSTA AOS 25 CAPÍTULOS
***

https://www.facebook.com/gipp.cful/photos/a.340582742692773.80987.340576179360096/688945104523200/?type=1
“Os homens não amam aquilo que cuidam que amam. Por quê? Ou porque o que amam não é o que cuidam; ou porque amam o que verdadeiramente não há. Quem estima vidros, cuidando que são diamantes, diamantes estima e não vidros; quem ama defeitos, cuidando que são perfeições, perfeições ama, e não defeitos. Cuidais que amais diamantes de firmeza, e amais vidros de fragilidade: cuidais que amais perfeições angélicas, e amais imperfeições humanas. Logo os homens não amam o que cuidam que amam. Donde também se segue, que amam o que verdadeiramente não há; porque amam as coisas, não como são, senão como as imaginam, e o que se imagina, e não é, não o há no mundo”.
 Sermões
***

https://www.facebook.com/559343457434706/photos/a.559507790751606.1073741828.559343457434706/840214606014255/?type=1&theater
“O livro é um mudo que fala,
um surdo que responde, 
um cego que guia, 
um morto que vive.”
© Brooke Shaden - Imagem
http://pt.wikipedia.org/wiki/Dia_Mundial_do_Livro_e_do_Direito_de_Autor

***
[...] É a guerra aquele monstro que se sustenta das fazendas, do sangue, das vidas, e quanto mais come e consome, tanto menos se farta. É a guerra aquela tempestade terrestre que leva os campos, as casas, as vilas, as cidades, os castelos, e talvez em um momento sorve os reinos e monarquias inteiras. É a guerra aquela calamidade composta de todas as calamidades, em que não há mal algum que ou não se padeça ou não se tema, nem bem que seja próprio e seguro: – o pai não tem seguro o filho; o rico não tem segura a fazenda; o pobre não tem seguro o seu suor; o nobre não tem segura a sua honra; o eclesiástico não tem segura a imunidade; o religioso não tem segura a sua cela; e até Deus, nos templos e nos sacrários, não está seguro. [...]
via Eulália Valentim
***
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=820779001268516&set=a.462529847093435.111436.462489187097501&type=1&theater
Nós somos o que fazemos. O que não se faz não existe. Portanto, só existimos nos dias em que fazemos. Nos dias em que não fazemos apenas duramos.
***
Para aprender não basta só ouvir por fora, é necessário entender por dentro.
Ler mais:
http://www.portaldaliteratura.com/autores.php?autor=142

Publicado por Fidelizarte Lda

 ***
via http://citadino.blogspot.pt/2012/10/os-ladroes-do-poder-e-os-ladroes-da.html

Os Ladrões do Poder e os ladrões da penúria – ontem, tal como hoje...


Padre António Vieira - Sermão do Bom Ladrão

"Não são ladrões apenas os que cortam as bolsas. Os ladrões que mais merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e as legiões, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais, pela manha ou pela força, roubam e despojam os povos.

Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos; os outros furtam correndo risco, estes furtam sem temor nem perigo.

Os outros, se furtam, são enforcados; mas estes furtam e enforcam."
***
Via http://www.citador.pt/textos/a-cegueira-da-governacao-antonio-vieira
A Cegueira da GovernaçãoPríncipes, Reis, Imperadores, Monarcas do Mundo: vedes a ruína dos vossos Reinos, vedes as aflições e misérias dos vossos vassalos, vedes as violências, vedes as opressões, vedes os tributos, vedes as pobrezas, vedes as fomes, vedes as guerras, vedes as mortes, vedes os cativeiros, vedes a assolação de tudo? Ou o vedes ou o não vedes. Se o vedes como o não remediais? E se o não remediais, como o vedes? Estais cegos. Príncipes, Eclesiásticos, grandes, maiores, supremos, e vós, ó Prelados, que estais em seu lugar: vedes as calamidades universais e particulares da Igreja, vedes os destroços da Fé, vedes o descaimento da Religião, vedes o desprezo das Leis Divinas, vedes o abuso do costumes, vedes os pecados públicos, vedes os escândalos, vedes as simonias, vedes os sacrilégios, vedes a falta da doutrina sã, vedes a condenação e perda de tantas almas, dentro e fora da Cristandade? Ou o vedes ou não o vedes. Se o vedes, como não o remediais, e se o não remediais, como o vedes? Estais cegos. Ministros da República, da Justiça, da Guerra, do Estado, do Mar, da Terra: vedes as obrigações que se descarregam sobre vosso cuidado, vedes o peso que carrega sobre vossas consciências, vedes as desatenções do governo, vedes as injustças, vedes os roubos, vedes os descaminhos, vedes os enredos, vedes as dilações, vedes os subornos, vedes as potências dos grandes e as vexações dos pequenos, vedes as lágrimas dos pobres, os clamores e gemidos de todos? Ou o vedes ou o não vedes. Se o vedes, como o não remediais? E se o não remediais, como o vedes? Estais cegos. 

 in "Sermões"
































***
O Amor FinoO amor fino não busca causa nem fruto. Se amo, porque me amam, tem o amor causa; se amo, para que me amem, tem fruto: e amor fino não há-de ter porquê nem para quê. Se amo, porque me amam, é obrigação, faço o que devo: se amo, para que me amem, é negociação, busco o que desejo. Pois como há-de amar o amor para ser fino? Amo, quia amo; amo, ut amem: amo, porque amo, e amo para amar. Quem ama porque o amam é agradecido. quem ama, para que o amem, é interesseiro: quem ama, não porque o amam, nem para que o amem, só esse é fino. 

 in "Sermões"

















***
Em Portugal cada um Quer TudoE quando os homens são de tal condição, que cada um quer tudo para si, com aquilo com que se pudera contentar a quatro, é força que fiquem descontentes três. O mesmo nos sucede. Nunca tantas mercês se fizeram em Portugal, como neste tempo; e são mais os queixosos, que os contentes. Porquê? Porque cada um quer tudo. Nos outros reinos com uma mercê ganha-se um homem; em Portugal com uma mercê, perdem-se muitos. Se Cleofas fora português, mais se havia de ofender da a metade do pão que Cristo deu ao companheiro, do que se havia de obrigar da outra metade, que lhe deu a ele. Porque como cada um presume que se lhe deve tudo, qualquer cousa que se dá aos outros, cuida que se lhe rouba. Verdadeiramente, que não há mais dificultosa coroa que a dos reis de Portugal: por isto mais, do que por nenhum outro empenho. 
(...) Em nenhuns reis do mundo se vê isto mais claramente que nos de Portugal. Conquistar a terra das três partes do mundo a nações estranhas, foi empresa que os reis de Portugal conseguiram muito fácil e muito felizmente; mas repartir três palmos de terra em Portugal aos vassalos com satisfação deles, foi impossível, que nenhum rei pôde acomodar, nem com facilidade, nem com felicidade jamais. Mais fácil era antigamente conquistar dez reinos na Índia, que repartir duas comendas em Portugal. Isto foi, e isto há-de ser sempre: e esta, na minha opinião, é a maior dificuldade que tem o governo do nosso reino. 

 in 'Sermões'































***
Todo o Amor é ImaginárioOs homens não amam aquilo que cuidam que amam. Por quê? Ou porque o que amam não é o que cuidam; ou porque amam o que verdadeiramente não há. Quem estima vidros, cuidando que são diamantes, diamantes estima e não vidros; quem ama defeitos, cuidando que são perfeições, perfeições ama, e não defeitos. Cuidais que amais diamantes de firmeza, e amais vidros de fragilidade: cuidais que amais perfeições Angélicas, e amais imperfeições humanas. Logo os homens não amam o que cuidam que amam. Donde também se segue, que amam o que verdadeiramente não há; porque amam as coisas, não como são, senão como as imaginam, e o que se imagina, e não é, não o há no mundo. 

in "Sermões"


















***

Via Citador:
Nós somos o que fazemos. O que não se faz não existe. Portanto, só existimos nos dias em que fazemos. Nos dias em que não fazemos apenas duramos."


"Se nos vendemos tão baratos, porque nos avaliamos tão caros?"


"Muitos não têm o coração dentro em si, senão fora de si e muito longe. Fora de si, porque não cuidam em si e muito longe de si, porque todos os seus cuidados andam só atentos e aplica­dos às coisas temporais e mundanas que amam."


"Dizem que temos valor (os portugueses), mas que nos falta dinheiro e união; e todos nos prognosticam os fados que naturalmente se seguem destas infelizes premissas."


"O amor acredita-se no supérfluo: quem ama pouco, contenta-se com o que basta: quem ama muito, contenta-se com o que sobeja; e quem ama mais que muito, nem com o que basta nem com o que sobeja se contenta, ainda sobe mais, ainda passa mais adiante."


"Todos os que na matéria de Portugal se governaram pelo discurso, erraram e se perderam."


"O livro é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive."


"Nenhum segue mais leis que as da conveniência própria. Imaginar o contrário é querer emendar o mundo, negar a experiência e esperar impossíveis."


"A propriedade da quantidade é poder-se sempre dividir e a propriedade do amor é querer-se sempre dar todo."


"A vaidade entre os vícios é o pescador mais astuto, e que mais facilmente engana os homens."***
Texto da Maria Elisa Ribeiro
(via Facebook)
UM "AR" DA LITERATURA PORTUGUESA.

PADRE ANTÓNIO VIEIRA (1608-1697)
Chamou-lhe Fernando Pessoa, no poema “ANTÓNIO VIEIRA”, “IMPERADOR DA LÍNGUA PORTUGUESA!” Queremos melhor maneira de começar a falar deste vulto da Literatura Portuguesa? Impossível!
Enveredemos, por conseguinte, por este caminho, que não vamos nada mal…
P.e VIEIRA pertenceu ao segundo período clássico da nossa literatura, o período Barroco, (século XVII), e tornou-se conhecido pelos SERMÕES, pelas CARTAS, por ser o defensor declarado e corajoso da identidade dos Índios da região amazónica e pelo aprimoramento da LÍNGUA PORTUGUESA, que CAMÕES, no século anterior, já tinha “começado a tratar pelo seu nome”, digamos assim. O “Apóstolo dos índios”, como ficou conhecido, pela defesa das etnias amazónicas, exploradas pelos gananciosos colonos portugueses, principalmente, bateu-se, mesmo a despeito da Inquisição que lhe não dava descanso, pela manutenção da cultura e liberdade destes povos, que muitos brancos consideravam como animais de carga, no caminho da exploração para fins de enriquecimento pessoal. Chamemos as coisas pelo seu nome: explorados como escravos!
Padre da Companhia de Jesus, pregador de temperamento impressionável e impulsivo, teólogo de forte formação humanística, “apóstolo” de causas que ainda hoje temos como justíssimas, diplomata com um elevado sentido de patriotismo, político adepto das doutrinas mercantilistas que já estavam a fazer prosperar, nesse longínquo século XVII, potências como a Inglaterra e a Holanda… digamos que falou até a voz lhe doer!
Não isento de uma certa utopia, no que diz respeito à grandiosidade da PÁTRIA, caiu, estranhamente, nas profecias do “BANDARRA”, que preconizavam para PORTUGAL a integração num novo IMPÉRIO, o 5º IMPÉRIO (SOBRE ESTA TEMÁTICA, DEBRUÇAR-ME-EI QUANDO FALAR DE FERNANDO PESSOA).
Foi o P.e VIEIRA cultor de uma majestosa LÍNGUA PORTUGUESA, que só voltou a conhecer momentos de esplendor com ALMEIDA GARRETT, no século XIX. “TOCADA COM PINÇAS”, a nossa língua viu os verbos enriquecidos no lugar próprio, os adjectivos apropriados às situações, os pronomes usados como devem, ainda hoje, ser usados, as situações mais naturais ou mais escabrosas tratadas a propósito, a língua enriquecida com novas palavras advindas do período dos descobrimentos… enfim, tudo tratado pelo seu nome, em SERMÕES e CARTAS, que enriqueceram e modernizaram o estilo e a forma da língua pátria.
Célebre aquele pequenino texto sobre o valor do índio, pessoa-humana, como se verá, a seguir: ”Arranca o estatuário uma pedra dessas montanhas, tosca, bruta, dura, informe (…) e começa a formar um homem (…) ondeia-lhe os cabelos, alisa-lhe a testa, rasga-lhe os olhos, afila-lhe o nariz, abre-lhe a boca. Avulta-lhe as faces, torneia-lhe o pescoço, estende-lhe os braços, espalma-lhe as mãos, divide-lhe os dedos, lança-lhe os vestidos, aqui desprega, ali arruga, acolá recama; e fica um homem perfeito, e talvez um santo, que se pode pôr no altar.”
Vocabulário apropriado, uno nas suas intenções, conciso, claro e ordenado de acordo com a ideia inicial: a de que o índio é uma pedra bruta, (como somos todos nós!) que, depois de “bem trabalhado” até pode vir a ser um santo!
Mas, para que isso pudesse acontecer, era necessário que os PREGADORES se esmerassem no vocabulário e na maneira mais sã de passar a MENSAGEM aos colonos embrutecidos, que os consideravam seres inferiores e às custas dos quais podiam enriquecer, explorando-os como escravos.
Viviam-se tempos perigosos por causa da Inquisição. Já desde o reinado de D. João III, da 1ª DINASTIA, era perigoso discordar ou, de qualquer modo, enfrentar, esta “Polícia religiosa “ dos tempos escuros da Idade Média, que se prolongou no tempo e no país. Falar contra os membros do CLERO, como fez GIL VICENTE, no século XVI, era um acto de honestidade e coerência de princípios que se podia pagar, muito caro, de preferência nas masmorras dos jesuítas. Se bem nos lembrarmos do célebre “SERMÃO DA SEXAGÉSIMA” e da temática do mesmo, que era abertamente contra os padres incultos e venais, fácil nos será compreender por que é que o P.e VIEIRA foi preso tantas vezes e andou fugido outras tantas, sem que este sermão, apesar de tudo, seja o mais elucidativo das ideias de VIEIRA, contra um certo clero, que pactuava com os grandes e os ricos.
BOILEAU, ensaísta francês, dizia: ”A ARTE TEM UMA FINALIDADE EDUCATIVA (…) A OBRA DE ARTE DEVE SER COMPREENSÍVEL, BASEADA NA VERDADE E NE RAZÃO. SÓ A VERDADE É BELA.”
Aplica-se que nem uma luva, esta frase ao que Vieira pensava ser, melhor, dever ser, a arte do púlpito. No SERMÃO de SANTO ANTÓNIO, pregado em 1654, em S. Luís do Maranhão, pouco antes de uma nova vinda a PORTUGAL, Vieira começou por uma frase dos Evangelhos, dirigida aos padres que não sabiam expor as suas ideias e que, por conseguinte, não “levavam” a MENSAGEM onde era necessária: ”Vós estis sal terrae”, (S.MATEUS,5)- “Vós(pregadores da palavra sagrada) sois o sal da terra”. A partir deste pensamento, desatou a “zurzir” contra os maus pregadores, incultos, vaidosos, por vezes com suja aparência, que não permitiam que “o sal” cumprisse a sua missão de impedir a corrupção dos alimentos …Era mais do que evidente o jogo de METÁFORAS, que resultou numa deliciosa ALEGORIA dos padres que não ajudavam a impedir a corrupção do alimento das almas, que era a palavra de DEUS. Deste sermão saíram as regras do discurso argumentativo, segundo VIEIRA. Um bom texto argumentativo deveria obedecer a uma divisão em quatro partes principais, a saber: EXÓRDIO, INVOCAÇÃO, CONFIRMAÇÃO e PERORAÇÃO.
Não errarei ao dizer que nunca, na nossa Língua, se tinha visto um PORTUGUÊS tão claro, tão natural, tão próprio e tão fluente como o de VIEIRA; de tal modo que, ainda hoje, esta matéria faz parte dos programas do ENSINO SECUNDÁRIO. Por tal motivo, devem estes alunos estar atentos às aulas de Português, pois este meu texto é uma achega, muito incompleta, uma vez que se dirige a outro tipo de leitores.
PADRE VIEIRA exerceu funções de exímio diplomata em cidades como ROMA, PARIS, RUÃO, HAIA, AMSTERDÃO e por todo o BRASIL. Tal como ele vivia para a dignificação dos índios e dos desprotegidos, assim deveriam viver outros missionários. É célebre uma ideia sua, a este respeito, quando afirma: “Os que saem a semear são os que vão pregar à Índia, à CHINA, ao Japão; os que semeiam sem sair, são os que se contentam em pregar na Pátria… Ah, pregadores! Os de cá, achar-vos-eis com mais “paço”; os de lá, com mais “passos” ! É de reparar que, nesta frase, Vieira joga com as palavras HOMÓFONAS paço (REAL) e passos (DE CAMINHAR) …
Lidos, os seus textos são um deslumbramento! Como seria de os classificar, se os tivéssemos podido ouvir?
E concluo, amigos, com o seguinte: conta-se que o filósofo ÉSQUINES, da antiguidade clássica, estava, certo dia a ler aos seus discípulos, um texto de DEMÓSTENES, seu adversário. No fim, estes aplaudiram, freneticamente. E em vez de os repreender, ÉSQUINES exclamou:
- QUE FARÍEIS, SE TIVÉSSEIS PODIDO OUVIR A PRÓPRIA “FERA”?”
BIBLIOGRAFIA:
HISTÓRIA DA LITERATURA PORTUGUESA, livro II, de ANTÓNIO JOSÉ BARREIROS, 5ª edição, DISTRIBUIDORA PAX, 1974 .
***

23 de Dezembro de 1667: A Inquisição condena o padre António Vieira à reclusão e ao silêncio

Notável prosador e o mais conhecido orador religioso português, o Padre António Vieira nasceu em 1608, em Lisboa, filho primogénito de um modesto casal burguês, e faleceu na Baía em 1697. Quando tinha apenas seis anos, os seus pais mudaram-se para a Baía, no Brasil, tendo aí iniciado os seus estudos.
Os jesuítas tinham sido desde sempre os portadores da cultura e civilização no Brasil, com relevo especial para os Padres José de Anchieta e Manuel de Nóbrega. Assim sendo, cursou Humanidades no colégio da Companhia de Jesus, onde revelou bem cedo dotes excecionais. Aos 15 anos, motivado pela sua fé na Virgem das Maravilhas na Sé baiana e por um sermão que ouviu sobre as torturas do Inferno, Vieira teve o seu famoso "estalo" e decidiu ingressar na Companhia de Jesus. Ante a oposição dos pais, Vieira fugiu de casa e prosseguiu a sua formação, em que predominavam as Humanidades Clássicas (principalmente o latim), a Filosofia e a Teologia, com especial relevo para a Sagrada Escritura. Guiado pelos pressupostos e práticas jesuíticas, que apontavam para o objetivo primordial da salvação do próximo através da pregação, exerceu a sua função evangelizadora junto dos indígenas de uma aldeia onde passou algum tempo.
Todavia, cedo regressou à capital de forma a continuar a sua formação. Ao entrar no segundo ano do seu noviciado, assistiu à brusca invasão dos holandeses na Baía, tendo de refugiar-se no interior da capitania. Começara, então, a Guerra Santa entre Portugal e os inimigos de Deus, a que Vieira não ficou alheio durante mais de 25 anos. Descrevendo estes eventos calamitosos do ano de 1624, na "Carta Ânua" ao Padre Geral em Roma, Vieira deixou claro que a sua atividade não se limitaria a ser meramente religiosa, pois os preceitos jesuíticos, que apontavam para a emulação e o instinto de luta, levavam-no a bater-se pela justiça.
Em 1625 António Vieira fez votos de pobreza, castidade e obediência e, propondo-se missionar entre os ameríndios e escravos negros, estudou a "língua geral" (tupi-guarani) e o quimbundo. Foi nomeado professor de Retórica no colégio dos Padres em Olinda, onde permaneceu dois ou três anos, tendo depois voltado à Baía com o fito de seguir os cursos de Filosofia e Teologia. Ordenado padre em dezembro de 1634, depressa se avolumou a sua fama de orador e se celebrizaram os seus sermões que refletiam as vicissitudes da Baía, em luta contra os holandeses, e criticavam a ganância, a injustiça e a corrupção. Em 1641, restaurada a independência, Vieira acompanhou o filho do governador, que vinha trazer a adesão do Brasil a D. João IV, à Metrópole. Em Lisboa, começou a pregar em S. Roque e logo o seu talento se espalhou pela cidade. Segundo o testemunho de D. Francisco Manuel de Melo, a afluência às pregações era tal que, como se de provérbio se tratara, corria a frase: "Manda lançar tapete de madrugada em S. Roque para ouvir o Padre António Vieira". Cativa o favor de D. João IV, que não tardou em convidá-lo a pregar na capela real, onde ele proferiu o seu primeiro sermão no dia 1 de janeiro de 1642. Dois anos depois foi nomeado pregador régio. Nos numerosos sermões desta época da sua vida, Vieira não se cansava de animar o auditório a perseverar na luta desigual com Castela e propunha medidas concretas para a solução de problemas, inclusive de ordem económica. A sua situação privilegiada dentro da corte teria contribuído para que fosse encarregue de diversas missões diplomáticas na Holanda, França e Itália, como foi o caso do casamento do príncipe Teodósio. Em 1644, António Vieira proferiu os votos definitivos, depois de ter feito o terceiro ano de noviciado em Lisboa. A Companhia de Jesus começou a ver com maus olhos a sua influência nos destinos do país, ameaçando-o de ser expulso da Companhia. A pedido da mesma, voltou ao Brasil em 1653, para o estado do Maranhão e aí assumiu um papel muito ativo nos conflitos entre jesuítas e colonos, como paladino dos direitos humanos, a propósito da exploração dos indígenas. No ano seguinte pregou o Sermão de Santo António aos Peixes. Foi expulso do Maranhão pelos colonos, em 1661, e regressou a Lisboa.De novo na capital, D. João IV, seu protetor, havia falecido e D. Afonso VI, instigado pelos inimigos do orador, desterrou-o para o Porto e, mais tarde, para Coimbra. Perfilhando as novas expectativas sebastianistas que encontrou no reino, que se baseavam no juramento de D. Afonso Henriques, nas cartas apócrifas de São Bernardo, nas profecias atribuídas a São Frei Gil e nas famosas trovas de Bandarra, escreveu o Sermão dos Bons Anos, em 1642. Foi nesta altura que a Inquisição o prendeu sob a acusação de que tomava a defesa dos judeus, acreditava nas possibilidades de um Quinto Império e nas profecias de Bandarra. Durou largo tempo o processo, porque a Inquisição não se dava por satisfeita e impunha que reconhecesse os seus erros, a que o padre jesuíta se recusou, e talvez se não salvasse da fogueira, se a Companhia o abandonasse à sua sorte, e o papa Alexandre VII não interviesse a recomendar-lhe que se retractasse. A sentença do tribunal foi proferida a 23 de Dezembro de 1667. Condenando Vieira a perder a voz activa e passiva, proibindo-lhe a predica, e ordenando lhe que se recolhesse a um colégio de noviços, ele ouviu a sentença de pé e imóvel durante duas horas com o olhar fito num crucifixo do tribunal, e isto depois de 27 meses de cárcere incomunicável.  Entretanto, a situação política alterou-se. Destituído D. Afonso, subiu ao trono D. Pedro II. António Vieira foi amnistiado e retomou as pregações em Lisboa. Em 1669 parte para Roma como diplomata e obtém grande sucesso como pregador, combatendo o Tribunal do Santo Ofício. Na Cidade Eterna, continuou a defesa acérrima dos judeus e ganhou grande reputação, encantando com a sua eloquência o Papa Clemente X e a rainha Cristina da Suécia. Regressou a Portugal em 1675; mas, agora sem apoios políticos e desiludido pela perseguição aos cristãos-novos (que tanto defendera), retirou-se de vez para a Baía em 1681 onde se entregou ao trabalho de compor e editar os seus Sermões. A sua prosa é vista como um modelo de estilo vigoroso e lógico, onde a construção frásica ultrapassa o mero virtuosismo barroco. A sua riqueza e propriedade verbais, os paradoxos e os efeitos persuasivos que ainda hoje exercem influência no leitor, a sedução dos seus raciocínios, o tom por vezes combativo, e ainda certas subtilezas irónicas, tornaram a arte de Vieira admirável. As obras Sermões, Cartas e História do Futuro ficam como testemunho dessa arte.
Padre António Vieira. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013.
wikipedia(imagens) 
 https://estoriasdahistoria12.blogspot.com/2018/12/23-de-dezembro-de-1667-inquisicao.html?fbclid=IwAR38o88RhAAvOV9Mc8xL2pxUxwKa2W4-WFn0R-7SMR8t83DKtJOTEhwScd0
***

21 de Junho de 1662: O Padre António Vieira é intimado a depor no Tribunal da Inquisição, dando origem à "Resposta aos 25 Capítulos" da acusação que contra ele é instituída.



Notável prosador e o mais conhecido orador religioso português, o Padre António Vieira nasceu em 1608, em Lisboa, filho primogénito de um modesto casal burguês, e faleceu na Baía em 1697. Quando tinha apenas seis anos, os seus pais mudaram-se para a Baía, no Brasil, tendo iniciado os seus estudos.
Os jesuítas tinham sido desde sempre os portadores da cultura e civilização no Brasil, com relevo especial para os Padres José de Anchieta e Manuel de Nóbrega. Assim sendo, cursou Humanidades no colégio da Companhia de Jesus, onde revelou bem cedo dotes excecionais. Aos 15 anos, motivado pela sua na Virgem das Maravilhas na baiana e por um sermão que ouviu sobre as torturas do Inferno, Vieira teve o seu famoso "estalo" e decidiu ingressar na Companhia de Jesus. Ante a oposição dos pais, Vieira fugiu de casa e prosseguiu a sua formação, em que predominavam as Humanidades Clássicas (principalmente o latim), a Filosofia e a Teologia, com especial relevo para a Sagrada Escritura. Guiado pelos pressupostos e práticas jesuíticas, que apontavam para o objetivo primordial da salvação do próximo através da pregação, exerceu a sua função evangelizadora junto dos indígenas de uma aldeia onde passou algum tempo.
Todavia, cedo regressou à capital de forma a continuar a sua formação. Ao entrar no segundo ano do seu noviciado, assistiu à brusca invasão dos holandeses na Baía, tendo de refugiar-se no interior da capitania. Começara, então, a Guerra Santa entre Portugal e os inimigos de Deus, a que Vieira não ficou alheio durante mais de 25 anos. Descrevendo estes eventos calamitosos do ano de 1624, na "Carta Ânua" ao Padre Geral em Roma, Vieira deixou claro que a sua atividade não se limitaria a ser meramente religiosa, pois os preceitos jesuíticos, que apontavam para a emulação e o instinto de luta, levavam-no a bater-se pela justiça.
Em 1625 António Vieira fez votos de pobreza, castidade e obediência e, propondo-se missionar entre os ameríndios e escravos negros, estudou a "língua geral" (tupi-guarani) e o quimbundo. Foi nomeado professor de Retórica no colégio dos Padres em Olinda, onde permaneceu dois ou três anos, tendo depois voltado à Baía com o fito de seguir os cursos de Filosofia e Teologia. Ordenado padre em dezembro de 1634, depressa se avolumou a sua fama de orador e se celebrizaram os seus sermões que refletiam as vicissitudes da Baía, em luta contra os holandeses, e criticavam a ganância, a injustiça e a corrupção. Em 1641, restaurada a independência, Vieira acompanhou o filho do governador, que vinha trazer a adesão do Brasil a D. João IV, à Metrópole. Em Lisboa, começou a pregar em S. Roque e logo o seu talento se espalhou pela cidade. Segundo o testemunho de D. Francisco Manuel de Melo, a afluência às pregações era tal que, como se de provérbio se tratara, corria a frase: "Manda lançar tapete de madrugada em S. Roque para ouvir o Padre António Vieira". Cativa o favor de D. João IV, que não tardou em convidá-lo a pregar na capela real, onde ele proferiu o seu primeiro sermão no dia 1 de janeiro de 1642. Dois anos depois foi nomeado pregador régio. Nos numerosos sermões desta época da sua vida, Vieira não se cansava de animar o auditório a perseverar na luta desigual com Castela e propunha medidas concretas para a solução de problemas, inclusive de ordem económica. A sua situação privilegiada dentro da corte teria contribuído para que fosse encarregue de diversas missões diplomáticas na Holanda, França e Itália, como foi o caso do casamento do príncipe Teodósio. Em 1644, António Vieira proferiu os votos definitivos, depois de ter feito o terceiro ano de noviciado em Lisboa. A Companhia de Jesus começou a ver com maus olhos a sua influência nos destinos do país, ameaçando-o de ser expulso da Companhia. A pedido da mesma, voltou ao Brasil em 1653, para o estado do Maranhão e aí assumiu um papel muito ativo nos conflitos entre jesuítas e colonos, como paladino dos direitos humanos, a propósito da exploração dos indígenas. No ano seguinte pregou o Sermão de Santo António aos Peixes. Foi expulso do Maranhão pelos colonos, em 1661, e regressou a Lisboa.De novo na capital, D. João IV, seu protetor, havia falecido e D. Afonso VI, instigado pelos inimigos do orador, desterrou-o para o Porto e, mais tarde, para Coimbra. Perfilhando as novas expectativas sebastianistas que encontrou no reino, que se baseavam no juramento de D. Afonso Henriques, nas cartas apócrifas de São Bernardo, nas profecias atribuídas a São Frei Gil e nas famosas trovas de Bandarra, escreveu o Sermão dos Bons Anos, em 1642. No dia 21 de Junho de 1662, o  Padre António Vieira foi intimado a depor no Tribunal da Inquisição, dando origem à “Resposta aos 25 Capítulos” da acusação que contra ele fora instituída. A Inquisição  acusava-o de tomar a defesa dos judeus, acreditar nas possibilidades de um Quinto Império e nas profecias de Bandarra. Durou largo tempo o processo, porque a Inquisição não se dava por satisfeita e impunha que reconhecesse os seus erros, a que o padre jesuíta se recusou, e talvez se não salvasse da fogueira, se a Companhia o abandonasse à sua sorte, e o papa Alexandre VII não interviesse a recomendar-lhe que se retractasse. A sentença do tribunal foi apenas proferida a 23 de Dezembro de 1667. Condenando Vieira a perder a voz activa e passiva, proibindo-lhe a predica, e ordenando lhe que se recolhesse a um colégio de noviços, ele ouviu a sentença de pé e imóvel durante duas horas com o olhar fito num crucifixo do tribunal, e isto depois de 27 meses de cárcere incomunicável.  Entretanto, a situação política alterou-se. Destituído D. Afonso, subiu ao trono D. Pedro II. António Vieira foi amnistiado e retomou as pregações em Lisboa. Em 1669 parte para Roma como diplomata e obtém grande sucesso como pregador, combatendo o Tribunal do Santo Ofício. Na Cidade Eterna, continuou a defesa acérrima dos judeus e ganhou grande reputação, encantando com a sua eloquência o Papa Clemente X e a rainha Cristina da Suécia. Regressou a Portugal em 1675; mas, agora sem apoios políticos e desiludido pela perseguição aos cristãos-novos (que tanto defendera), retirou-se de vez para a Baía em 1681 onde se entregou ao trabalho de compor e editar os seus Sermões. A sua prosa é vista como um modelo de estilo vigoroso e lógico, onde a construção frásica ultrapassa o mero virtuosismo barroco. A sua riqueza e propriedade verbais, os paradoxos e os efeitos persuasivos que ainda hoje exercem influência no leitor, a sedução dos seus raciocínios, o tom por vezes combativo, e ainda certas subtilezas irónicas, tornaram a arte de Vieira admirável. As obras Sermões, Cartas e História do Futuro ficam como testemunho dessa arte.
Padre António Vieira. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013.
wikipedia(imagens) 
Ficheiro:Padre António Vieira.jpg
Retrato do Padre António Vieira - Autor desconhecido, início do século XVIII
 https://estoriasdahistoria12.blogspot.com/2018/06/21-de-junho-de-1662-o-padre-antonio.html
***

13 de Junho de 1654: O Padre António Vieira prega o "Sermão de Santo António aos Peixes"

Peça oratória de Padre António Vieira, proferida três dias antes do jesuíta partir para Lisboa, na cidade de São Luís do Maranhão (Brasil) em 1654, na sequência dos litígios entre jesuítas e colonos do Brasil, por causa da escravização dos índios.
Construindo o sermão sob a forma de alegoria, Vieira faz considerações sobre virtudes e vícios humanos. Esta oratória apresenta uma construção literária e argumentativa notáveis. Fina ironia e forte sátira percorrem o texto assim como uma exuberante linguagem barroca, rica de sugestões alegóricas e de recursos estilísticos.
As partes constituintes do sermão são o exórdio, a invocação, a exposição ou informação, a confirmação e a peroração.
No exórdio, Pe. António Vieira parte do conceito predicável "Vós sois o sal da terra". E, tal como Santo António, também ele dirige a sua palavra aos peixes, dado que não é ouvido pelos homens.
Segue-se a invocação à Virgem Maria.
Durante a exposição ou informação, Pe. António Vieira explica as propriedades do sal e, por paralelismo, a importância das pregações para salvar os homens. Louva depois as virtudes dos peixes e repreende, em seguida, os seus vícios.
Na confirmação, apresenta as qualidades dos peixes: o santo peixe de Tobias tem o dom de sarar da cegueira e repelir os demónios; a rémora tem força e poder; o torpedo possui a faculdade de eletrizar; o quatro-olhos tem a capacidade de vigiar.
Na segunda parte da confirmação, Pe. António Vieira indica, primeiramente, numa visão de conjunto, os defeitos dos peixes. Em seguida, particulariza a crítica: os roncadores são convencidos e soberbos; os pegadores, parasitas e oportunistas; os voadores, ambiciosos e presunçosos; o polvo, hipócrita e traidor, contrapondo-se a Santo António, modelo de candura, sinceridade e verdade.
Na peroração ou epílogo, o pregador faz uma última advertência aos peixes. Exorta-os a sacrificarem a Deus o respeito e a reverência.
Antes de terminar o sermão, com um admirável hino de louvor, Pe. António Vieira confessa-se pecador, em oposição aos peixes.

Sermão de Santo António aos Peixes. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013.
wikipedia (Imagens)

Ficheiro:Padre António Vieira.jpg
Padre António Vieira
Santo António pregando aos peixes
Ficheiro:Santo Antonio 01b.jpg
 https://estoriasdahistoria12.blogspot.com/2019/06/13-de-junho-de-1654-o-padre-antonio.html?spref=fb&fbclid=IwAR3z7Be_sh4J49QH7ThGAC5AAibndvVY3dUVqreTsuJFIX2N8R9XRsw-rDc
***

06 de Fevereiro de 1608: Nasce o Padre António Vieira

Notável prosador e o mais conhecido orador religioso português, o Padre António Vieira nasceu em 1608, em Lisboa, filho primogénito de um modesto casal burguês, e faleceu na Baía em 1697. Quando tinha apenas seis anos, os seus pais mudaram-se para a Baía, no Brasil, tendo aí iniciado os seus estudos.
Os jesuítas tinham sido desde sempre os portadores da cultura e civilização no Brasil, com relevo especial para os Padres José de Anchieta e Manuel de Nóbrega. Assim sendo, cursou Humanidades no colégio da Companhia de Jesus, onde revelou bem cedo dotes excecionais. Aos 15 anos, motivado pela sua fé na Virgem das Maravilhas na Sé baiana e por um sermão que ouviu sobre as torturas do Inferno, Vieira teve o seu famoso "estalo" e decidiu ingressar na Companhia de Jesus. Ante a oposição dos pais, Vieira fugiu de casa e prosseguiu a sua formação, em que predominavam as Humanidades Clássicas (principalmente o latim), a Filosofia e a Teologia, com especial relevo para a Sagrada Escritura. Guiado pelos pressupostos e práticas jesuíticas, que apontavam para o objetivo primordial da salvação do próximo através da pregação, exerceu a sua função evangelizadora junto dos indígenas de uma aldeia onde passou algum tempo.
Todavia, cedo regressou à capital de forma a continuar a sua formação. Ao entrar no segundo ano do seu noviciado, assistiu à brusca invasão dos holandeses na Baía, tendo de refugiar-se no interior da capitania. Começara, então, a Guerra Santa entre Portugal e os inimigos de Deus, a que Vieira não ficou alheio durante mais de 25 anos. Descrevendo estes eventos calamitosos do ano de 1624, na "Carta Ânua" ao Padre Geral em Roma, Vieira deixou claro que a sua atividade não se limitaria a ser meramente religiosa, pois os preceitos jesuíticos, que apontavam para a emulação e o instinto de luta, levavam-no a bater-se pela justiça.
Em 1625 António Vieira fez votos de pobreza, castidade e obediência e, propondo-se missionar entre os ameríndios e escravos negros, estudou a "língua geral" (tupi-guarani) e o quimbundo. Foi nomeado professor de Retórica no colégio dos Padres em Olinda, onde permaneceu dois ou três anos, tendo depois voltado à Baía com o fito de seguir os cursos de Filosofia e Teologia. Ordenado padre em dezembro de 1634, depressa se avolumou a sua fama de orador e se celebrizaram os seus sermões que refletiam as vicissitudes da Baía, em luta contra os holandeses, e criticavam a ganância, a injustiça e a corrupção. Em 1641, restaurada a independência, Vieira acompanhou o filho do governador, que vinha trazer a adesão do Brasil a D. João IV, à Metrópole. Em Lisboa, começou a pregar em S. Roque e logo o seu talento se espalhou pela cidade. Segundo o testemunho de D. Francisco Manuel de Melo, a afluência às pregações era tal que, como se de provérbio se tratara, corria a frase: "Manda lançar tapete de madrugada em S. Roque para ouvir o Padre António Vieira". Cativa o favor de D. João IV, que não tardou em convidá-lo a pregar na capela real, onde ele proferiu o seu primeiro sermão no dia 1 de janeiro de 1642. Dois anos depois foi nomeado pregador régio. Nos numerosos sermões desta época da sua vida, Vieira não se cansava de animar o auditório a perseverar na luta desigual com Castela e propunha medidas concretas para a solução de problemas, inclusive de ordem económica. A sua situação privilegiada dentro da corte teria contribuído para que fosse encarregue de diversas missões diplomáticas na Holanda, França e Itália, como foi o caso do casamento do príncipe Teodósio. Em 1644, António Vieira proferiu os votos definitivos, depois de ter feito o terceiro ano de noviciado em Lisboa. A Companhia de Jesus começou a ver com maus olhos a sua influência nos destinos do país, ameaçando-o de ser expulso da Companhia. A pedido da mesma, voltou ao Brasil em 1653, para o estado do Maranhão e aí assumiu um papel muito ativo nos conflitos entre jesuítas e colonos, como paladino dos direitos humanos, a propósito da exploração dos indígenas. No ano seguinte pregou o Sermão de Santo António aos Peixes. Foi expulso do Maranhão pelos colonos, em 1661, e regressou a Lisboa.De novo na capital, D. João IV, seu protetor, havia falecido e D. Afonso VI, instigado pelos inimigos do orador, desterrou-o para o Porto e, mais tarde, para Coimbra. Perfilhando as novas expectativas sebastianistas que encontrou no reino, que se baseavam no juramento de D. Afonso Henriques, nas cartas apócrifas de São Bernardo, nas profecias atribuídas a São Frei Gil e nas famosas trovas de Bandarra, escreveu o Sermão dos Bons Anos, em 1642. Foi nesta altura que a Inquisição o prendeu sob a acusação de que tomava a defesa dos judeus, acreditava nas possibilidades de um Quinto Império e nas profecias de Bandarra. Durou largo tempo o processo, porque a Inquisição não se dava por satisfeita e impunha que reconhecesse os seus erros, a que o padre jesuíta se recusou, e talvez se não salvasse da fogueira, se a Companhia o abandonasse à sua sorte, e o papa Alexandre VII não interviesse a recomendar-lhe que se retractasse. A sentença do tribunal foi proferida a 23 de Dezembro de 1667. Condenando Vieira a perder a voz activa e passiva, proibindo-lhe a predica, e ordenando lhe que se recolhesse a um colégio de noviços, ele ouviu a sentença de pé e imóvel durante duas horas com o olhar fito num crucifixo do tribunal, e isto depois de 27 meses de cárcere incomunicável.  Entretanto, a situação política alterou-se. Destituído D. Afonso, subiu ao trono D. Pedro II. António Vieira foi amnistiado e retomou as pregações em Lisboa. Em 1669 parte para Roma como diplomata e obtém grande sucesso como pregador, combatendo o Tribunal do Santo Ofício. Na Cidade Eterna, continuou a defesa acérrima dos judeus e ganhou grande reputação, encantando com a sua eloquência o Papa Clemente X e a rainha Cristina da Suécia. Regressou a Portugal em 1675; mas, agora sem apoios políticos e desiludido pela perseguição aos cristãos-novos (que tanto defendera), retirou-se de vez para a Baía em 1681 onde se entregou ao trabalho de compor e editar os seus Sermões. A sua prosa é vista como um modelo de estilo vigoroso e lógico, onde a construção frásica ultrapassa o mero virtuosismo barroco. A sua riqueza e propriedade verbais, os paradoxos e os efeitos persuasivos que ainda hoje exercem influência no leitor, a sedução dos seus raciocínios, o tom por vezes combativo, e ainda certas subtilezas irónicas, tornaram a arte de Vieira admirável. As obras Sermões, Cartas e História do Futuro ficam como testemunho dessa arte.

Padre António Vieira. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013.
wikipedia(imagens) 

 https://estoriasdahistoria12.blogspot.com/2019/02/06-de-fevereiro-de-1608-nasce-o-padre.html?fbclid=IwAR2KA7viHr9RKFhFREB_lFFfBDRvuZv03dlnVGYCp_p60f57sPfhC2h2BTE
***