síntese da intervenção
EM TORNO DA ARTE DE CISTER
António Filipe Pimentel
(Universidade de Coimbra)
As origens da implantação da Ordem Cisterciense em Portugal confundem-se com as origens da própria definição de Portugal como estado e nação e com a construção da mancha do respectivo território, em cuja ocupação desempenharia um excepcional papel, testemunhado pela densa grelha definida pelos seus mosteiros. Por outro lado, a evolução sofrida pela congregação, ao nível da vivência da regra que professava e a intimidade da sua ligação, seja às classes privilegiadas, seja à própria Coroa, justificariam um investimento patrimonial consolidado e de longa duração, seja na qualidade de consumidora, seja mesmo de produtora, que alcançaria situá-la, entre os séculos XII e XVIII, na medula da cultura visual desenvolvida em Portugal, em relação à qual se pode dizer que opera, no decurso dos séculos, uma síntese total e eficaz. Nesse sentido, uma abordagem diacrónica da arte cisterciense ostenta a virtude rara de constituir um observatório dos próprios ritmos do processo global: sobre cuja rede, de infinitos cruzamentos, necessariamente se inscreve, do mesmo passo que sobre ela mesma estabelece contínuas inter-relações. E nisso — mais que na óbvia relevância intrínseca do seu legado patrimonial — assenta a sua riqueza essencial.