Há 12 anos que temos pressionado a maioria PSD...
Este texto do grande alcobacense é uma bela arma...
Acho que falta a ligação que tenho feito ao insigne Joaquim Vieira Natividade...
quarta-feira, 20 de Janeiro de 2010
M166- A MATA DO VIMEIRO
A Mata do Vimeiro
Mais uma das candidaturas de Alcobaça às 7 Maravilhas Naturais de Portugal
O maior espaço de mata de folhosas dos Coutos de Alcobaça no século XVIII localizava-se em torno do lugar do Gaio (Vimeiro), com uma circunferência calculada que ultrapassava a légua e meia.
Estas matas estavam adstritas à Granja/Quinta do Vimeiro. Como nos elucida o Corregedor de Alcobaça, no seu relatório sobre as matas do Mosteiro, estas confinam umas com as outras, dividindo-se “naturalmente pela sua configuração em talhões”. Temos então quatro matas que se abraçam. A mata do Gaio, a da Roda, a da Ribeira e a das Mestras ou Mestas. A sua área total compreende 366,71 hectares, ocupando destes a mata do Gaio 109,45 hectares, a da Roda 103,40, a do Canto e da Ribeira 57,49 e a das Mestras 96,37.
O relatório do corregedor dá-nos preciosas indicações sobre a natureza e qualidade deste coberto florestal. Diz-nos que as matas são “quasi todas de madeira de carvalho e tem muito pouco sobro”. A excepção vai para a mata das Mestras (Santa Catarina), em que o carvalho português surge consociado com o sobreiro em proporção equivalente.
Com a saída da Ordem cisterciense em 1833 a integridade das matas deixa de ser garantida tornando-se um alvo fácil dos barões do liberalismo. A gestão capitalista do solo ao procurar o lucro imediato rompe com o antigo ordenamento senhorial.
As matas sofrem duras intervenções com os cortes para o arsenal da marinha, a actividade dolosa dos carvoeiros, a extracção da casca para a indústria de curtumes, a procura de lenhas pelos povos, as clareiras abertas na mata que os camponeses aproveitam para amanho, uma política predatória que começa a inviabilizar a recuperação natural da mata.
Nas décadas de 40 e 50 do século XIX esta floresta conhece uma das maiores sangrias deixando à mata do Gaio apenas 366 carvalhos. Esta hecatombe ecológica dita a mudança do regime de exploração. Do alto fuste passa-se ao sistema de talhadio. A monocultura, outrora sustentável, ameaça, agora, exaurir o solo. As revoluções (cortes) de 20 em 20 anos esgotam os nutrientes, a esmoita e as raspas da camada superficial também contribuem para a atrofia do carvalhal, o oídio dá uma ajuda a este cenário de decrepitude, as toiças morrem e as feridas na mata avolumam-se irremediavelmente. As suas madeiras vão ainda sentir os graves derrotes decorrentes da conjuntura económica da primeira guerra mundial (que de igual forma vai castigar o olival monástico das faldas da Serra dos Candeeiros), a concorrência de novas espécies como o pinheiro-bravo, o pinheiro manso, o castanheiro, o eucalipto e, por último, a pressão da pomicultura.
O que resta das antigas matas do Vimeiro tem de ser preservado, usufruído e animado. Estes espaços têm de ser cuidados não só para serem rentáveis economicamente, mas para se disponibilizarem como zonas de recreio numa aproximação salutar entre o homem e a natureza. O património florestal é também um património da humanidade e a pequenez do homem é evidente face à majestade de um carvalho secular.
António Maduro
M166- A MATA DO VIMEIRO
A Mata do Vimeiro
Mais uma das candidaturas de Alcobaça às 7 Maravilhas Naturais de Portugal
O maior espaço de mata de folhosas dos Coutos de Alcobaça no século XVIII localizava-se em torno do lugar do Gaio (Vimeiro), com uma circunferência calculada que ultrapassava a légua e meia.
Estas matas estavam adstritas à Granja/Quinta do Vimeiro. Como nos elucida o Corregedor de Alcobaça, no seu relatório sobre as matas do Mosteiro, estas confinam umas com as outras, dividindo-se “naturalmente pela sua configuração em talhões”. Temos então quatro matas que se abraçam. A mata do Gaio, a da Roda, a da Ribeira e a das Mestras ou Mestas. A sua área total compreende 366,71 hectares, ocupando destes a mata do Gaio 109,45 hectares, a da Roda 103,40, a do Canto e da Ribeira 57,49 e a das Mestras 96,37.
O relatório do corregedor dá-nos preciosas indicações sobre a natureza e qualidade deste coberto florestal. Diz-nos que as matas são “quasi todas de madeira de carvalho e tem muito pouco sobro”. A excepção vai para a mata das Mestras (Santa Catarina), em que o carvalho português surge consociado com o sobreiro em proporção equivalente.
Com a saída da Ordem cisterciense em 1833 a integridade das matas deixa de ser garantida tornando-se um alvo fácil dos barões do liberalismo. A gestão capitalista do solo ao procurar o lucro imediato rompe com o antigo ordenamento senhorial.
As matas sofrem duras intervenções com os cortes para o arsenal da marinha, a actividade dolosa dos carvoeiros, a extracção da casca para a indústria de curtumes, a procura de lenhas pelos povos, as clareiras abertas na mata que os camponeses aproveitam para amanho, uma política predatória que começa a inviabilizar a recuperação natural da mata.
Nas décadas de 40 e 50 do século XIX esta floresta conhece uma das maiores sangrias deixando à mata do Gaio apenas 366 carvalhos. Esta hecatombe ecológica dita a mudança do regime de exploração. Do alto fuste passa-se ao sistema de talhadio. A monocultura, outrora sustentável, ameaça, agora, exaurir o solo. As revoluções (cortes) de 20 em 20 anos esgotam os nutrientes, a esmoita e as raspas da camada superficial também contribuem para a atrofia do carvalhal, o oídio dá uma ajuda a este cenário de decrepitude, as toiças morrem e as feridas na mata avolumam-se irremediavelmente. As suas madeiras vão ainda sentir os graves derrotes decorrentes da conjuntura económica da primeira guerra mundial (que de igual forma vai castigar o olival monástico das faldas da Serra dos Candeeiros), a concorrência de novas espécies como o pinheiro-bravo, o pinheiro manso, o castanheiro, o eucalipto e, por último, a pressão da pomicultura.
O que resta das antigas matas do Vimeiro tem de ser preservado, usufruído e animado. Estes espaços têm de ser cuidados não só para serem rentáveis economicamente, mas para se disponibilizarem como zonas de recreio numa aproximação salutar entre o homem e a natureza. O património florestal é também um património da humanidade e a pequenez do homem é evidente face à majestade de um carvalho secular.
António Maduro