Os call centers e a exploração descentralizada
08-Feb-2010
Zeinal Bava, com Alberto João Jardim pela mão, esteve no final da semana passada no Funchal para inaugurar mais um call center da Portugal Telecom (PT). Na realidade, já está a funcionar desde Novembro do ano passado, mas os "corta-fitas" têm as suas agendas. Com a edificação de mais esta catedral do trabalho intensivo e da precariedade laboral, são já 22 os call centers ao serviço da PT em todo o país.
Mas o presidente executivo da PT não foi só trocar elogios com Alberto João e desenvolver uma operação de marketing para o arquipélago. Aproveitou também a ocasião para dizer que, com este novo empreendimento, mais de metade dos call centers da PT estão localizados fora de Lisboa, materializando o suposto objectivo de "descentralização" da empresa neste domínio.
Funchal, Beja, Bragança, Évora Castelo Branco ou Santo Tirso: não faltam, de facto, localizações "descentralizadas" para os call centers da PT, sempre justificadas com a "criação de emprego no interior" e com o "compromisso com o desenvolvimento do país". Mas esta versão reclama outras verdades.
A instalação destas unidades nos pontos do país em que a crise e o desemprego mais desesperam as pessoas não é apenas bondade. A PT e outras empresas sabem que assim vão conseguindo facilidades dos poderes locais (na obtenção de terrenos e imóveis, por exemplo) para continuar o seu negócio. E, mais importante, nesta alteração da forma como fazem o "atendimento aos clientes", agora quase exclusivamente assegurado por fileiras de homens e mulheres de auscultadores na cabeça, poupam milhões à custa do desespero. Por isso, procuram locais onde o desemprego é massivo e as alternativas à migração quase nulas: um terreno ainda mais aberto para a imposição dos baixos salários e de condições de trabalho cada vez mais precárias.
É por isso que , apesar da promessa de "200 postos de trabalho até ao final do ano", não é difícil adivinhar que da existência deste novo call center não resultará qualquer aumento do número de funcionários da PT. Este negócio é gordo, mas nunca para os trabalhadores: as empresas de trabalho temporário têm aqui uma parte importante do seu filão, que consiste em roubar metade do salário aos trabalhadores, oferecendo apenas a oportuna desvinculação a quem as deveria contratar. Uma pesquisa rápida, parece confirmar que a regra se mantém no Funchal.
Descartáveis e baratos, estes "colaboradores" - a linguagem moderna evita delicadamente as formulações mais clássicas - desempenham muitas vezes funções de elevada responsabilidade e exigência, sempre sujeitos a ritmos obscenos e sob vigilância permanente: foram estes os "postos de trabalho" que Zeinal Bava anunciou na Madeira, à semelhança do que fez em Santo Tirso e em todos os locais onde se vão instalando estes centros de atendimento. Mais ou menos descentralizados, os call centers são, na verdade, locais de concentração de precários e quase sempre zonas de exclusão para os direitos laborais.
Tiago Gillot