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A Iluminação Pública em Alcobaça
A iluminação pública como sinónimo de civilização, conforto e segurança é um projecto historicamente recente. A cidade iluminada dos bairros aristocráticos e burgueses, do passeio público e dos edifícios da administração contrastava com a cidade escura das classes populares. Em Portugal, Lisboa é a primeira cidade a beneficiar de um plano de iluminação pública, obra avançada no ano de 1780 pelo intendente Pina Manique. Por motivos de segurança, os candeeiros multiplicam-se e manda-se que sejam acesos independentemente de fazer luar. No ano de 1840, só para iluminar a cidade de Lisboa existiam 2.328 candeeiros que consumiam entre 12.000 a 13.000 almudes de azeite por ano.
Em 1854, a vereação de Leiria solicitava à sua congénere de Lisboa a cedência de 40 candeeiros para queima de azeite, em virtude do gás, que passa a iluminar a capital, os deixar sem préstimo. Vinte e quatro anos volvidos, o arrematante da iluminação demandava uma pensão maior para manter acesos por toda a noite os candeeiros de Leiria. A Câmara decide então restringir a iluminação pública. Apenas nos meses de Janeiro, Fevereiro, Novembro e Dezembro se autoriza que os candeeiros se mantenham acesos em permanência, devendo nos restantes meses ser acesos apenas nas noites em que não faça luar.
A iluminação pública só chega a Alcobaça no final da década de 70. Na sessão camarária, de 10 de Dezembro de 1877, autoriza-se a compra de 22 candeeiros e respectivas consolas para servir a vila de Alcobaça e o povoado da Nazaré durante a época balnear. Os custos elevadíssimos da queima de azeite levam à procura de soluções alternativas.
A concorrência de oleaginosas como a purgueira vai, gradualmente, desalojar o azeite da iluminação dos espaços públicos.
Jacome Ratton, nas suas “Recordações…”, propunha a substituição do azeite na iluminação e indústria pelo óleo de baleia”.
Segundo deliberação da vereação alcobacense, de 9 de Junho de 1846, o azeite destinado à iluminação da cadeia municipal passa a ser traçado com ⅓ de óleo de peixe.
A ideologia e moral da sociedade oitocentista não repugnava submeter os prisioneiros ao cheiro fétido da queima de óleo de peixe num recinto fechado.
Os ritmos de mudança são assimétricos.
As matérias de queima para iluminação convivem nas próprias áreas urbanas estabelecendo a distinção entre centro e periferia. Queimam-se velas de sebo, azeite de oliveira e de purgueira, resinas, petróleo e gás, até a energia pura da electricidade erradicar o processo da queima para a obtenção de luz.
Em Alcobaça, o industrial Joaquim Ferreira de Araújo Guimarães já tem a funcionar, desde o final do século XIX, uma turbina de alimentação e um dínamo para produção de energia eléctrica. No contrato de arrendamento de um moinho de farinação contíguo à sua casa de habitação pode ler-se que: “Da corrente d’agua que serve de motor ao moinho arrendado e que também serve de motor ao dynamo da luz eléctrica estabelecida no mesmo prédio não poderão os rendeiros (…) utilizar-se como motor do moinho desde o anoutecer até à meia noute e também da meia noute em diante, nas noutes em que for necessária luz para o clube e para casa d’ella senhoria alem da meia noute, pois que n’aquelas horas toda a corrente d’agua será empregada na produção de luz eléctrica”.
No ano de 1889, a Avenida da Liberdade recebe a energia eléctrica.
Mas o benefício da electricidade só se divulga na capital a partir da primeira guerra. A irradiação da luz eléctrica pelo território nacional encalhou nas barreiras de um país rural de povoamento disperso.
A cobertura eléctrica plena só chega na década de 90.
António Valério Maduro