Debate sobre o futuro do Hospital das Caldas sem presença da população
Novembro 18th, 2010 in Jornal das Caldas. Edição On-line O actual responsável não se pronunciou sobre a ampliação ou a construção de um novo hospital
Num debate que supostamente serviria para esclarecer se a população pretendia um hospital novo ou a ampliação do actual, a sociedade civil não apareceu como era esperado e os intervenientes apresentaram argumentos para ambas as soluções sem que saísse uma posição conjunta.
A pessoa que acabou por ser mais esclarecedora e que fez um resumo do debate foi Luís Ribeiro, presidente da mesa da Assembleia Municipal, que vincou exactamente a ausência de população.
“Tenho pena que aqueles que mais mereciam pelos cuidados prestados no Hospital não estejam aqui em peso e estejam aqui alguns grupos de médicos, políticos, mas os utentes não estão aqui em força. Era destes que deveríamos ouvir as opiniões para não se criar aqui capelinhas”, disse.
Luís Ribeiro constatou também das intervenções de José Marques Serralheiro a favor de um hospital novo, e de Mário Gonçalves a favor da ampliação das actuais instalações, mas confessou não estar esclarecido de ambas as posições.
“Há dez anos atrás ninguém falava de um Hospital novo. Antes falava-se na ampliação do actual hospital e gastou-se uma enormidade de dinheiro. Mas há muitos anos que oiço o dr. José Marques Serralheiro a defender a construção de um Hospital novo. Eu também gostava de ter um hospital novo assim como muitas coisas boas para as Caldas. Mas continuo a não perceber se vai ou não vai responder às necessidades da população da região. Isso iria ajudar-nos a compreender se devemos continuar a insistir num Hospital novo ou se podemos aproveitar o hospital actual e seguir o caminho que há muitos anos começámos a trilhar. Eu não saio daqui esclarecido”, afirmou.
Outro dos participantes, Jorge Mangorrinha, manifestou que o futuro do hospital “podia passar por uma ponderação que incluísse vários factores”, defendendo que “tem sentido recuperar a sua origem programática e enquadrá-la numa forte ligação às termas, independentemente de ser ampliado ou não”.
“A nova entidade física seria repensada como hospital que integraria uma componente reumatológica no seio das existentes Potenciar este centro urbano como parque de saúde, integrando aspectos patrimoniais, de cultura e Natureza, é apostar numa sociedade criativa, desde logo nos conceitos que se tem para o futuro de uma cidade. É preciso que a economia criadora seja valorizada através, por exemplo, da acção junto do património e do reforço das identidades locais, que tem consequências efectivas no desenvolvimento”, referiu.
Durante este debate organizado pelo Conselho da Cidade e que teve lugar no CCC, assistiu-se também às posições de antigos directores do Centro Hospitalar, que apresentaram aquilo que fizeram, tendo o actual não se pronunciado sobre ambas as posições apresentadas e que há muito se debatem.
Da parte de alguns clínicos presentes, foi notória a intenção de quererem um Hospital novo em vez da ampliação, mas enquanto duraram as intervenções nenhum tomou posição firme nesse sentido.
Recorde-se apenas que em 2003 esteve quase para arrancar a segunda fase de ampliação, com verba inscrita em PIDDAC, mas devido à intenção de se querer uma nova unidade para o Oeste, este projecto foi retirado das opções governamentais.
Carlos Barroso
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Centro urbano deveria ser potenciado como um parque de saúde
Jorge Mangorrinha, ex-vereador do Planeamento Urbanístico das Caldas da Rainha, acha que se deve potenciar o centro urbano como parque de saúde, integrando aspectos patrimoniais, de cultura e Natureza, apostando numa sociedade criativa.
“É preciso que a economia criadora seja valorizada através, por exemplo, da acção junto do património e do reforço das identidades locais, que tem consequências efectivas no desenvolvimento”, defendeu, numa apresentação feita na abertura do debate promovido pelo Conselho da Cidade.“A diversidade cultural, a multiplicidade de usos urbanos e a difusão de tecnologias de comunicação rasgam as fronteiras do quotidiano dos lugares”, referiu na sua alocução.
“Em 2010, afinal o que quer ser esta cidade? Nela, qual o papel dos vários temas sujeitos a este ciclo de debates? Será que pode ser uma cidade hospitalar ou de saúde, uma cidade com termas ou termal, uma cidade de cultura e turística? Qual o papel da revisão do PDM na assunção de um conceito identitário único ou misto para a cidade?”, foram as questões que o ex-vereador deixou no ar.
Doutorado em Urbanismo e investigador em Termalismo e Ordenamento Turístico, Jorge Mangorrinha deu o exemplo da cidade inglesa de Bath, em Inglaterra, que sobreviveu exportando a sua imagem de cidade termal, entre 1976, quando as suas termas fecharam por inquinação das águas, até à abertura do novo balneário termal, em 2006.
“Isto foi possível porque manteve a sua imagética urbana e turística associada a essa identidade, mesmo sem ter nesse largo período um balneário em funcionamento”, reforçou.
Na sua opinião, serão as decisões futuras que irão condicionar o percurso desta cidade: “será que é uma cidade fechada em si mesma, ou uma cidade que dialoga, a uma outra escala, com a região envolvente, dando as mãos a outros municípios na partilha de equipamentos, sejam eles de saúde ou industriais, por exemplo?”.
O investigador quer que as entidades públicas ouçam a população e as forças vivas. “Há que escutar os sons da cidade, os seus risos e dores. E sabemos como muito desses sons emitidos são ignorados por alguns actores da cidade. Escutar é entender. Entender para transformar”, disse.
Jorge Mangorrinha defende que as Caldas da Rainha podiam ter há muitas décadas apostado em eixos estratégicos, com base nas suas características e heranças naturais e culturais.
São estes o eixo das águas, das termas ao mar, o eixo patrimonial, das Caldas a Óbidos, o eixo comercial, das termas ao caminho-de-ferro e o eixo ecológico, coincidente com a zona intermédia do Perímetro de Protecção Termal, “onde se deveriam ter preservado reservas estratégicas de terrenos”.
Actores locais devem decidir melhor solução
Sobre a questão da construção de um novo hospital, Jorge Mangorrinha socorreu-se de elementos históricos relacionados com a construção do actual edifício, na década de 50.
Em 1958 o jornal Diário Popular noticiava que a população discordava da pretensão em construir o Hospital na Mata, já que a própria Misericórdia possuía terrenos em redor do Hospital de Santo Isidoro, “na periferia da cidade, como convém”.
No entanto, foi decidido que este deveria complementar ao Hospital Termal, daí a sua localização no centro da cidade.
“Essa articulação do novo hospital com o hospital termal, apesar de um recuo relativamente à iniciativa de final do século XIX, suportou-se também na ideia de se criar nas Caldas um Centro Nacional de Reumatologia, mas tal nunca viria a acontecer”, comentou o especialista.
Quanto ao futuro deste edifício defende que podia passar por uma ponderação que incluísse vários factores, “mas acho que tem sentido recuperar a sua origem programática e enquadrá-la numa forte ligação às termas, independentemente de ser ampliado ou não”.
Na sua opinião, deve-se aproveitar esta singularidade como elemento programático “porque a relação com o termal é um factor inteligente de optimização das preexistências e dos investimentos públicos que em 50 anos ali foram realizados”.
A nova entidade física seria repensada como hospital que integraria uma componente reumatológica, que ainda hoje seria único.
Jorge Mangorrinha lembrou que neste momento o Ministério da Saúde decidiu-se pela ampliação do hospital, mas defende que “cabe aos actores locais defenderem a melhor solução junto de quem de direito”.