02/01/2011

3.976. O Natal não trouxe o prometido caderno de encargos para o Hotel no Rachadouro...

mas no dia 5.1.2011 tivemos a opinião (irónica) do Dr.Rui Rasquilho no blogue do JERO:
M 329 - UMA ALBERGARIA SIM UM HOTEL DE CHARME NÃO...

UMA COISA PEQUENA POR FAVOR

Em primeiro lugar, o Mosteiro tinha muita pedra. Pedra cortada vinda das pedreiras da Serra em carros puxados a bois pela margem esquerda do Alcoa. Perto do Baça os Monges orientavam os trabalhos de corte nos estaleiros. Fizeram-no durante quase um século ou sabe-se lá se mais. Segundo os planos da Ordem. Adaptando-os ao terreno escolhido para erguer a Casa Cisterciense.Os homens morriam sofridos na pedra, morriam os mestres que marcavam a pedra por ser a deles, morriam os monges que desejavam a pedra para construir o paraíso terrestre. Mas havia sempre nos mortos, os vivos, e a obra ia avançando. Os camponeses amanhavam. Desbravavam mais e mais para continuar a amanhar. E procriavam e desbravavam e amanhavam e recebiam do Mosteiro terras e vilas que não eram bem as suas. Os camponeses e os Reis gostavam do Mosteiro. Uns e outros sabiam que os monges eram o caminho da salvação.

Em segundo lugar o Mosteiro tem muita luz e nas janelas e rosáceas colocaram vidros sem cor. Na grande cabeceira virada a nascente a luz do Espírito Santo iluminava o altar e corria igreja além. Nas cabanas dos Coutos o vidro demorou a chegar para aligeirar as portadas, que protegiam do calor e do frio.

Em terceiro lugar o Mosteiro tem muita água a atravessar a floresta de carvalhos. Água para a rega, para a higiene, para o conforto dos enfermos. E na água dos rios havia peixes e nela os animais bebiam.

Em quarto lugar o tempo foi moendo a pedra, quebrando os vidros, secando as águas e tudo acontecia sob a luz por entre orações, preces, lágrimas e risos. De vez em quando a guerra atravessava a paz, avançava Mosteiro dentro e ofendia-o. Houve um tempo último em que os monges partiram. Reis e povo tomaram a pedra.

Em quinto lugar toda a memória se perdeu. Dir-se-ia que os monges haviam levado com eles um segredo e que nas vilas não existiam cidadãos e a verdade é que o agora chegou e cada casa é uma cela sem desígnio, sem regra, sem capacidade de reflexão. Sem memória, os herdeiros dos camponeses, opinam, opinam ,opinam e opinam. Levam um século a opinar, um Museu sim um Quartel não, um Centro de Estudos não, um Lar Residencial sim. Um Museu não, a Câmara Municipal sim. Uma Albergaria sim, um Hotel de Charme não. Um Armazém não ,uma Montra Arqueológica sim. Um órgão não, um piano sim. Qualquer coisinha pequena sim .Para grande chega o Mosteiro. Qualquer coisa maneirinha sim, um Museu de Cister não. Um Hotel nunca , outra coisa sim. Outra coisa não, outra coisa talvez sim.
Um Rossio amarelo sim!

Em sexto lugar, o Mosteiro tem muita pedra aparelhada vinda das pedreiras da Serra…

Perdão já tinha dito isto.
Rui Rasquilho.