01/05/2011

4.490.1maio2011.12h21') Opinião do João Paulo no último Região de Cister


Falência


O economista João Ferreira do Amaral, em 2002, previu: “Para Portugal, a permanência na moeda única constituirá um obstáculo permanente ao nosso desenvolvimento”. Segundo ele, a moeda única, quer na fase de aproximação através da política de convergência nominal, quer na fase de realização, desde 1999, tem prejudicado fortemente a economia portuguesa. Fez-lhe perder mais de 20% da sua competitividade externa e fez descer as taxas de juro numa altura em que a situação da economia portuguesa aconselhava que subissem. O resultado é um enorme endividamento da nossa economia em relação ao exterior.

Infelizmente, Portugal será o único país da União Europeia em recessão até 2012. Más notícias para todos. Sem crescimento não há maneira de pagar a dívida externa, ou seja o endividamento vai aumentar ainda mais.

Tudo está preparado para se criar um entendimento alargado entre PS, PSD e CDS a seguir às eleições de 5 de Junho. Enquanto observamos a grave situação do país, verificamos que estes três partidos estão mais interessados na campanha eleitoral, esquecendo os verdadeiros problemas existentes. Mais do mesmo, pois estiveram todos no governo ao longo destes anos e muito ajudaram à presente situação gravíssima em que nos encontramos.

As notícias que lemos nos jornais sobre a forma como tentaram resolver o problema do défice ao longo dos anos são trágicas. Manuela Ferreira Leite, por exemplo, no governo de Durão Barroso, vendeu dívidas fiscais ao Citigroup para baixar o défice de 2003. Esse negócio já nos custou 300 milhões de euros em juros a 17,5%.


Cavaco Silva foi o primeiro a usar as parcerias público privadas (PPP) na ponte Vasco da Gama. Na altura disseram que aquela ponte não ia ter custos para o erário público. O seu Ministro das Obras Públicas da altura, Ferreira do Amaral, faz agora parte da administração da Lusoponte, que já recebeu 400 milhões de euros de compensações porque o tráfego não atingiu o esperado. Se o trânsito fosse superior, o Estado nada recebia. A Lusoponte ficou ainda com os direitos de exploração sobre qualquer outra ponte que venha a ser construída sobre o rio Tejo. Estamos conversados.

Querem mais exemplos de boa gestão? Alberto João Jardim “escondeu” 184 milhões de euros de dívidas na Madeira, segundo afirma o Tribunal de Contas. Assim compreendemos melhor as obras nos estádios do Nacional e do Marítimo. Grande país este! Assim vamos mesmo ao fundo!

Em 1892, há 119 anos, o jornal “The Economist” escrevia: “Tem sido evidente desde há bastante tempo que Portugal estava a viver acima dos seus meios. Mais tarde ou mais cedo era inevitável que acabasse em bancarrota”. Foi a última vez que entrámos em bancarrota, que implicou uma reestruturação da dívida. A primeira foi em 1560, quando D.Catarina mandou suspender o pagamento de juros da Casa da India.

Agora, com os prazos eleitorais, as medidas adicionais impostas (não me venham falar em “negociadas”) pelo FMI, BCE e União Europeia, entrarão em vigor em Setembro. Só têm 4 meses para mostrar resultados em 2011, logo terão de ser duríssimas.